Predições



- Capítulo um -
Predições

Harry Potter, um jovem de dezesseis anos, se encontrava numa sala sombria e cavernosa.
- M-Milorde - susurrou um homenzinho gordo e baixo -, o que o senhor pretende fazer...?
- Um plano engenhoso, Rabicho - disse uma voz fria e gélida vinda da boca de Harry. - Belatriz está, neste momento, me trazendo o que preciso.
O homem chamado Rabicho começou a resmungar baixinho, com desapontamento na voz. Harry pôde ouvir palavras como: "Belatriz..." e "Eu o ressucitei... eu".
- Você, Rabicho - retrucou Harry, numa voz tão fria que fez os poucos pêlos na nuca de Rabicho arrepiarem -, se mostrou um servo muito fiel ao seu lorde, isto não posso negar...
- Obrigado Milorde! - disse ele numa reverência
- Mas... - continuou Harry - você se superou em suas trapalhadas, Rabicho, como pôde deixar aquela ralé de bruxos do Ministério te verem?
- F-foi um acidente, M-Milorde - gaguejou se lamentando.
- Se você, Rabicho, continuar causando "acidentes" - ameaçou Harry -, eu...
Rabicho se encolheu, tremendo de medo, mas, uma porta atrás de Harry se escancarou.
Um homem louro e pálido, de olhos frios, entrara na sala.
- Belatriz conseguiu, meu lorde - disse em meio a uma reverência.
- Obrigado, Malfoy - e se virou para Rabicho. - Depois eu cuido de você...
Rabicho fez uma careta, mas continuou calado.
Uma mulher esquelética entrou no quarto, segurando uma varinha por cima do ombro, apontando-a para trás.
- Lorde, querido - e ela, com acenos de varinha, conjurou um corpo inconsciente, mas flutuando como um fantasma, para dentro do quarto.
- Ela está viva? - perguntou Harry, olhando pro corpo flutuante.
- Está, meu senhor, usei um feitiço estuporante, foi fácil, fácil.
- Será recompensada, Belatriz.
- Ah... e o que o senhor pretende com esta sangue-ruim, amo? - perguntou Malfoy, seus olhos frios e cinzentos virados para a garota.
- Ela será a isca do meu plano, Lúcio.
Harry se aproximou da garota que flutuava fantasmagóricamente, e olhou para seu rosto, que sangrava levemente.
- Bem-vinda, Srta. Granger - disse afastando os cabelos da garota de seu rosto.
Harry soltou uma gargalhada aguda e medonha; seguida de perto por uma forte explosão em sua cicatriz que o fizera acordar.


Harry Potter deu um salto repentino da cama, apalpou o escuro de seu quarto à procura de seus óculos redondos na mesa-de-cabeceira. Harry correu até o espelho. A imagem de um jovem de cabelos negros e rebeldes apareceu difusa no espelho. Esfregava furiosamente uma fina cicatriz em forma de raio na testa. Estava doendo, doendo como nunca. Seus olhos verde-vivos enxergando com dificuldade. Sua cabeça parecia que estava prestes a explodir.
Ele está feliz, pensou Harry com dificuldade, está satisfeito.
Harry cambaleou, agora havia sentido uma pontada tão forte, que desabou no chão.


Harry agora rastejava como uma cobra em um corredor mais sombrio que a câmara anterior.
- Onde está Rabicho? - sibilou Harry.
ARRR - alguém o atingingiu - ARRR - alguém o agarrara por cima, alguma coisa o arranhava.
- Gato maldito - disse ele se sacudindo violentamente, fazendo um gato laranja disparar pelo corredor.
O gato bufava ameaçadoramente, seus pêlos eriçados, estava pronto para atacar novamente.
Harry ia atacá-lo, mordê-lo, envenená-lo... mas.
- Fim da linha, Voldemort!
Um bruxo havia chegado à cena, apontava a varinha para Harry. Demorou um pouco para Harry perceber que o bruxo era ele mesmo.
- Harry Potter - disse ele naquela voz fria que não era dele.
Um jorro de luz verde saiu da ponta da varinha do Harry que estava de pé em sua frente; mas o Harry que rastejava no chão escapou por um cano ao seu lado.
- Vai atrás dele, Bichento - ordenou o Harry que mantinha a varinha em punho.
O gato laranja, de cara amassada e rabo de escovinha, esgueirou-se pelo cano atrás da cobra.
Harry rastejava veloz pelo cano, com o gato logo atrás, gato idiota, pensou Harry pegando um cano à esquerda, e deste pegando outro para a direita. Precisava despistá-lo. Saiu por um cano frio e lodoso, e escorregou por outro, saindo em um esgoto subterrâneo.
Harry ouviu passos distantes ecoarem naquele lugar malcheiroso.
- Estão me cercando - sibilou ele rastejando. - Acham que podem me pegar.
Harry olhou para os dois lados do túnel. Avistou um grupo de ratos do outro lado da margem do esgoto.
- Sei que está aí, Rabicho - trovejou Harry.
A dor voltou instantâneamente, alguém o sacolejava. O cutucava. O espancava.


- Ai! - exclamou Harry, abrindo os olhos e focalizando seu quarto novamente.
Ajeitou seus óculos, seu coração batia tão dolorosamente quanto sua cicatriz, que agora não somente doía... queimava.
- Que é que está acontecendo, garoto? - Harry ouviu a voz de seu tio falar a quilômetros de distância, embora pudesse ver seus traços difusos bem à sua frente.
A dor foi passando aos poucos, agora conseguia pensar, agora podia enxergar. Seus sentidos voltaram, e embora continuasse trêmulo e cada centímetro de seu corpo estivesse dolorido, ele se levantou, cambaleante e olhou à volta. Seu tio Válter estava de pé ao seu lado, com os cabelos e a bigodeira caprichosamente penteados, lhe lançando um olhar que Harry não foi capaz de decifrar. Sua tia Petúnia encontrava-se parada à porta, sua expressão, embora mais horrorizada que a do tio, se igualava à este. E, aos pés do garoto, Edwiges, sua coruja, branca como a neve, continuava a dar bicadinhas em seu dono; parecia preocupada com ele.
- E o que significa isso? - perguntou o tio.
- Eu... dormi - mentiu Harry.
- Dormiu? Deste jeito?
- É, estava cansado - disse ele, pouco convincente.
- No chão? - perguntou Válter, desconfiado.
- É... bem, eu...
- Não me parecia que estava dormindo. Petúnia e eu ouvimos uma barulheira aqui, e... você estava se debatendo no chão.
Harry olhou para o tio inocentemente.
- Eu acho... achoquetiveumpesadelo - disse ele, atropelando as palavras ao falar. Seria realmente um pesadelo?
- Pesadelo? - perguntou o tio, contraindo o rosto, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa - E quem é, Ra... - e pensou novamente. - Rabicho?
- Rabicho? - Harry tentou parecer surpreso. - Não faço a mínima idéia.
- Não seja tolo, moleque - retrucou Válter. - Você acabou de dizer este nome. Imagino que seja de gente de sua laia.
- Eu disse, é? Bem, eu não conheço ninguém com este nome. Será que vocês poderiam...? É que estou meio... ocupado...
Os olhinhos do tio se concentrou ao máximo nos do Harry. Parecia querer arrancar alguma coisa do garoto.
- O que você anda aprontando?
- Nada - insistiu Harry.
Passou um minuto de silêncio. Harry se sentiu incomodado com o tio. Até que finalmente, ele disse:
- O.k., se não quer contar... - e aproximou ainda mais seu rosto quase sem pescoço perto do garoto -, mas estou te avisando, moleque, mesmo que você tenha aqueles seus amiguinhos para te defender, não vou tolerar nenhuma anormalidade...
- ... debaixo de seu teto - completou Harry, irritado. - O.k., não estou aprontando nada, só vou arrumar minhas coisas; se me derem licença.
- Ótima idéia - disse Válter, ríspido, olhando à volta. - Está uma zona - e saiu com Petúnia, batendo a porta.
Harry continuou imóvel onde o tio o deixara, não sabia no que pensar ou o que fazer. Então mil coisas repassaram pela sua cabeça, como se fosse o trailer de um filme de terror.
Já tivera estas visões antes, e era como se ele fosse o próprio Lord Voldemort, o bruxo das trevas que assassinara seus pais, quando tinha ainda apenas um ano. Resultado: foi obrigado a viver 15 anos de sua vida com seus tios trouxas (como os bruxos chamam a quem não tem mágica no sangue), e seu primo, o Duda, que ajudara a infernizar a vida do garoto.
Harry Potter era famoso, e não era nada comum; pois ele, Harry, era um bruxo, um bruxo que cursava a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Harry raciocinou tudo lentamente: por ordens de Voldemort, Belatriz capturou Hermione Granger, a melhor amiga de Harry. E depois, Voldemort, transformado em cobra, perseguia Rabicho por um túnel... ele tinha feito alguma coisa de errado... talvez Rabicho tenha deixado escapar à alguém aonde Voldemort estava. E, Bichento, o gato de Hermione, tentava pegar Voldemort por...
- Ordens minhas... - exclamou Harry, confuso.
Mas Harry não lembrava daquele lugar subterrâneo, nunca estivera lá.
- Mas... isso não foi somente uma visão - disse a si mesmo, lentamente. - Não, porquê eu estava lá, mas estou aqui agora...
Harry pensou por uma fração de segundos se estaria enlouquecendo.
Hermione Granger estaria em perigo?
Não faça besteiras, Harry, disse uma voz em sua cabeça.
Então Harry se lembrou o que estivera tentando esquecer: aquele dia, no Departamento de Mistérios, no Ministério da Magia.
Por sua culpa ele está morto, pensou Harry com uma leve pontada no coração, você acreditou naquela visão idiota, e causou a morte de Sirius.
Harry caiu numa cilada de Voldemort que acabou resultando na morte de seu padrinho, Sirius Black. Mas Harry não ia deixar que sua tolice o tomasse conta desta vez.
- NEM HERMIONE E NEM MAIS NINGUÉM VAI MORRER POR MINHA CULPA - berrou Harry, fazendo Edwiges voar para fora da janela piando escandalizadamente. Perdera o controle consigo mesmo.
O garoto se jogou na cama, enfiando a cabeça no travesseiro, enquanto milhões de coisas (que nem ele sabia ao certo o que seriam no momento) passavam velozes por sua cabeça.
Levaria a visão, predição, ou o que fosse a sério?
A porta abriu com um leve estalo.
- Harry?
Ele levantou a cabeça. Viu a tia entrando no quarto.
- Posso saber o que está acontecendo? - perguntou Petúnia.
- Hum... - o garoto se levantou, enxugando discretamente as lágrimas que brotaram em seus olhos - Eu já disse à vocês, eu...
- Harry, eu impedi Válter de subir aqui para ralhar com você, portanto seja sincero comigo - falou ela, com severidade, e se sentando ao lado dele. - Com quem é que você estava gritando?
Harry permaneceu por um ou dois instantes calado. Tia Petúnia querendo conversar com ele?
- Eu... estava gritando comigo mesmo - disse finalmente.
- E por que?
Harry parou por mais um instante, pensando se contaria aquela história embaraçante à tia. Mas não precisou terminar de pensar; porque ela perguntou:
- É o seu padrinho? É por que ele morreu?
Harry olhou para a tia, agora realmente estava surpreso.
- Como é que você sabe?
- Ora, me contaram...
- Dumbledore? - perguntou ele franzindo a testa. - A senhora mantém contato com ele?
Ela confirmou com a cabeça.
- Sei que pode parecer triste, mas você tem que superar isso.
Harry olhou abobado para a tia. Por quê diabos estavam tendo aquela conversa.
- O.k., devo continuar numa boa, não é mesmo, morre minha família, e agora meus amigos. Por quê simplesmente eu não morro?!
- Não diga besteiras, garoto - falou severamente. - Você deveria agradecer! Sua mãe, apesar de tudo - e aqui sua voz tremeu -, ela era boa. Se sacrificou para salvá-lo, e aqui está você, desejando a morte.
Harry abriu a boca para falar, mas Petúnia continuou; parecia não querer ser interrompida.
"Sabe, eu chorei sim, quando ela morreu, mas fazer o quê? Você não pode ficar se culpando, e nem culpar aos outros p..."
- Mãe? - um garoto louro e forte, entrou no quarto.
- Que foi, Duda - perguntou ela, aborrecida.
- Por que a senhora está aqui com - e indicou Harry com a cabeça - ele.
- Não é da sua conta, Duda. - disse ela se levantando, expulsando o garoto do quarto e fechando a porta.
Harry sabia o porquê Petúnia tratava Duda deste jeito ultimamente. Certo dia ela o pegara no parque, fumando com sua turma de marginais. Harry ainda tinha acessos de riso quando se lembrava da cena em que Petúnia levara o filho para casa, puxando sua orelha. Desde então, Duda virou motivo de piadas até em sua turma.
- Bem - disse ela voltando à cama -, você teve alguma outra visão de alguém morrendo ou coisa do gênero? Dumbledore me contou - acrescentou ao ver a cara de Harry.
- Não, bem, eu tive sim uma visão... - e engoliu em seco. Petúnia, sua tia trouxa, seria a primeira a saber de sua visão. - Vi Voldemort - e olhou para ela, esperando qualquer careta à menção do nome; mas se lembrou que conversar com sua tia não era a mesma coisa que conversar com os Weasley ou outra família de bruxos qualquer -, vi que ele seqüestrava minha amiga da escola, a Hemione.
- E você avisou a garota?
- Não - disse ele, nervoso.
Era muito estranho contar todas aquelas coisas à pessoa que ele menos esperava que o ouviria um dia.
- Duda! - exclamou ela para a porta. - Eu sei que você está aí, vai circulando, senão ficará um mês sem televisão.
Duda soltou um bufo do outro lado da porta e desceu as escadas, batendo os pés.
- Não conte nada à ela por enquanto. Somente escreva para saber se está tudo bem.
- Acho que devo contar ao Prof. Dumbledore - concluiu Harry.
- Deixa que eu informo à ele - disse Petúnia com firmeza. - E veja se não saia procurando ela. Pode ser outra armadilha.
Petúnia se levantou.
- A propósito - disse ela, pegando alguma coisa no bolso do avental -, Feliz Aniversário - e jogou uma barra de chocolate enorme na cama.
Ela abriu a porta e ia saindo, quando Harry a chamou.
- Sim? - perguntou ela, contraindo os lábios
- Obrigado - esganiçou-se Harry.
Se a tia pretendia esconder o sorriso, não teve muito sucesso. Então saiu. Era bom para começar, o melhor presente que ela deu a ele até agora, pensou, olhando o chocolate. Mas Harry não pôde esconder de si mesmo, que o presente que ele mais gostou, foi a tia lhe desejando um Feliz Aniversário.
Então Harry se levantou, foi até a escrivaninha, molhou uma pena no tinteiro e começou a escrever num pergaminho.


Hermione,

Estou escrevendo para saber como vão as coisas aí?
Estudando, para variar, não é? Já recebeu os resultados dos N.O.M's?
Aposto que foi boa em tudo. Eu tirei quase as mesmas notas que o Rony,
levamos bomba em Poção para variar. O que tem feito?
Me diga como tem andado, o.k.?

Ps. Obrigado pelo bolo, você é uma cozinheira de mão cheia.

Abraços,
Harry.


Está boa, pensou ele. Então Harry olhou para a gaiola de Edwiges e se lembrou que a coruja saiu. Colocou, então, o pergaminho sobre a escrivaninha.
Harry se espreguiçou e decidiu ir dar uma volta para esvaziar a cabeça. O garoto não se esqueceu de levar o chocolate; adoraria que Duda pudesse ver.

O sol iluminava a rua dos Alfeneiros tão intensamente, que Harry se despejou à sombra de uma árvore, na pracinha de Surrey.
Os canteiros das muitas casas de Surrey eram perfeitamente bem cuidados pelos pomposos moradores de lá.
Harry correu os olhos pelos carros lustrosos que andavam comportadamente por ali. E ele avançava... corria pelo corredor subterrâneo...
- Nagini! - chamou ele. - Venha, cuide desta bola de pêlos.
- Miiiaaauuu - o gato amarelo alaranjado soltou um longo miado.
- Ei!
- Não, não...
- Ei, acorde!
- Não, não pode... NÃO! - sua cicatriz explodiu novamente.
- GAROTO, QUER FAZER O FAVOR DE ACORDAR!!!
Harry abriu os olhos, a noite já o invadia, continuava deitado à árvore da praça. E, ajoelhada ao seu lado, estava uma velhota de cabelos grisalhos, usava um vestido verde esmeralda. Tinha, no momento, um ar impaciente.
- Sra. Figg?

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