A carta




O senhor Evans deixou de lado a discussão e foi abrir a porta. Uma mulher de uns 30 anos estava parada na soleira. Tinha um ar severo e um rosto meio quadrado. Usava óculos e tinha os lábios finos, mas nada disso importava. Qual não foi a surpresa dos Evans ao ver a maneira como ela se vestia.


Usava um longo traje verde esmeralda com alguns detalhes negros e seus cabelos presos em um coque apertado estavam parcialmente escondidos por um grande chapéu cônico. O tipo de chapéus usados por bruxas, pensou Lílian.


- Boa noite. – A voz da mulher era severa como seu rosto. – É aqui a residência dos Evans?


Vendo que o marido ainda estava paralisado a senhora Evans tomou a frente.


- Sim – disse com a voz meio trêmula. – Eu sou Roberta Evans e essa é meu marido August Evans. Aquelas são nossas filhas Petúnia e Lílian. – Disse apontando para as meninas meio encolhidas num canto da sala.


A mulher permaneceu parada na entrada da casa olhando para as meninas. Nesse momento August se recuperou.


- Gostaria de entrar senhora?


- Ah sim claro. – Disse a estranha. – Acho que é a melhor opção em vista que teremos muitas coisas para falar.


O senhor Evans se afastou para que ela pudesse passar e todos juntos se dirigiram a sala.


- Sente-se, por favor. – Pediu Dona Roberta.


A mulher sentou-se na única cadeira enquanto os Evans sentaram-se no sofá. Ela admirava tudo com certa curiosidade.


- Túnia, Lily, - disse Roberta – acho melhor que vocês subam.


As meninas começaram a se levantar, mas a mulher as parou.


- Não, não, não vocês duas devem permanecer aqui. – Disse e depois olhou para os pais das garotas. – Senhores, eu me chamo Minerva McGonagall e sou professora e vice-diretora em uma escola chamada Hogwarts.


Lílian sentiu seu coração pular. Era verdade. Era verdade. Hogwarts existia e ela iria para lá. Só podia ser por isso que essa professora estava ali. Petúnia pareceu reconhecer o nome também e fez uma careta.


- Estou aqui para falar da filha de vocês. – Continuou Minerva.


A senhora Evans olhou para o sorriso de Lílian e a careta de Petúnia.


- Lílian ou Petúnia?


- Lílian. – Respondeu a professora e sorriu para a menina sentada no sofá. – A filha de vocês é muito especial e vocês devem levar a sério as coisas que eu irei lhes dizer. – Os pais da garota assentiram. – Senhores – ela fez uma pausa dramática – vocês acreditam em magia?


A reação deles foi automática. Eles olharam para sua filha e franziram a testa. Tinham convivido a vida toda com coisas estranhas acontecendo ao redor de Lílian, mas nunca haviam acreditado em magia. Então sua filha aparecia dizendo que bruxos existiam e na mesma noite uma mulher estranha de chapéu pontudo aparecia em sua casa falando justamente do mesmo assunto.


O pai de Lílian suspirou.


- Não sei se acredito em magia, mas sei que tem algo estranho acontecendo aqui.


- Entendo sua relutância e sei de que coisas estranhas você fala. – ela deu um sorrisinho. – Sua filha faz coisas acontecerem certo? – Os dois estavam paralisados, Lílian sorria e Petúnia ainda estava com uma careta mal humorada. – Objetos se mexem sozinhos, coisas mudam de cor e até mesmo flutuam.


Novamente o senhor Evans parecia incapaz de fazer algo.


- O que isso significa? – Perguntou a mãe de Lílian.


- Isso, significa que Lílian é uma bruxa.


Silêncio. Só quem já passou por situações como essa sabe dizer o quanto o silêncio pode ser significativo e desesperador. August olhava para sua filha como se ela fosse explodir e Roberta pasma mexia os lábios formando a palavra bruxa, mas Lílian, ah Lílian parecia tão feliz que poderia voar.


Minerva percebeu que a pequena era a única capaz de fazer algo e falou com ela.


- Lílian querida pode vir até aqui?


A garotinha levantou prontamente e caminhou até a professora que sorriu a encorajando. Minerva colocou as mãos dentro das vestes e puxou um envelope em papel pardo e endereçado em letras verdes. Lílian pegou o envelope. Na frente havia um brasão. Uma serpente, um leão, um texugo e uma águia, unidos em volta de um grande H. Lílian sentiu seus olhos arderem. Ali estava. A carta. Com as mãos tremendo abriu o envelope. Havia vários papeis lá dentro tirou o primeiro.


- Leia em voz alta, por favor, querida. – Pediu a professora.


Lílian deu um leve pigarro e leu:


 


ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS


Diretor: Alvo Dumbledore


(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Confederação Internacional de Bruxos).


 


Prezada Srta. Evans


Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista de livros e equipamentos necessários.


O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.


 


Atenciosamente


 


Minerva McGonagall


Diretora substituta.


 


Lílian terminou de ler e olhou para seus pais.


Ambos pareciam assustados e descrentes. Petúnia parecia irritada. Grande novidade.


- Magia? – Perguntou seu pai olhando para a mulher sentada na cadeira.


- Sim senhor Evans. Magia. Sua filha é uma bruxa e com seu consentimento ela poderá ir para Hogwarts e se formar em Magia e Bruxaria.


Os Evans pareciam simplesmente não saber o que fazer. August olhou desesperado para a mulher que lhe deu um sorriso corajoso.


- Senhora como saber se isso não passa de uma farsa? – Perguntou Roberta insegura.


- Senhores Hogwarts é uma das escolas de bruxaria mais bem conceituada do mundo. Eu leciono lá já faz 14 anos. Não há motivos para não acreditar na escola.


- Não era isso que eu queria dizer. – disse Roberta meio tímida. – Magia? Como espera que acreditemos nisso?


McGonagall riu.


- Era isso senhora? Mas isso é muito fácil de provar para vocês. Eu sou uma bruxa muito bem conceituada sabe? – E dizendo isso tirou de dentro das vestes uma varinha escura de uns 30 centímetros e olhou para Lílian. – Diga Srta. Evans, qual sua bebida favorita?


Lílian pensou um pouco e respondeu.


- Gosto de coca cola.


Com um aceno de varinha Minerva fez aparecer uma garrafa de Coca e alguns copos. Mais um aceno e a garrafa se abriu sozinha servindo cada uma das pessoas da sala.


Todos estavam em silêncio, mas os pais de Lílian não pareciam mais assustados, pareciam maravilhados e animados.


Minerva notou a expressão no rosto de August e lhe falou.


- Gosta de ler senhor Evans? – Ele assentiu. – Diga-me um livro que tem nessa casa.


- O Senhor dos Anéis. – Respondeu prontamente.


- Accio Senhor dos Anéis. – Disse a bruxa sorrindo e de repente o grosso livro estava flutuando pelas escadas indo parar na mão de Minerva.


- Acreditam agora? – Perguntou sorrindo.


Os Evans assentiram com a cabeça.


- Bom então vamos falar da educação da jovem Lílian. – A professora bateu palmas, empolgada. – Uma vez que ela aceite ir para Hogwarts ela deve permanecer o ano lá com permissão para sair durante os feriados de Natal e Páscoa. Lá os alunos ficam muito bem acomodados e a escola é bastante segura.


- Então é uma escola interna? – Perguntou o senhor Evans.


- Sim senhor. Lílian será permitida a ir?


August olhou para sua filha que sussurrou um, “por favor, papai” e então para sua esposa que assentiu com a cabeça.


- Se ela quiser poderá ir. – Disse e em seguida foi abraçado por uma Lily radiante.


- Bom então srta. Evans pegue a segunda folha da carta.


Lílian fez o que McGonagall pediu e retirou outra folha no mesmo papel e tinta verde que a primeira.


- Ai estão as coisas que você precisara comprar para cursar o primeiro ano.


Lílian olhou para lista.


- Onde compraremos essas coisas? – Perguntou enquanto passava a lista para seus pais.


- Vocês deverão ir até Londres, na Rua Charing Cross tem um pequeno bar chamado Caldeirão Furado. As pessoas que não são bruxas não são capazes de vê-lo, mas Lílian vai conseguir. Entrem no bar e peçam para que o dono do bar mostre o caminho para o Beco Diagonal.


- Espere senhora, vou pegar uma caneta e papel. – August saiu apressado e voltou uns minutos depois. – Pronto pode continuar.


- Tudo bem. – Minerva sorriu. – O Beco Diagonal é como um centro comercial para os bruxos. Lá vocês vão encontrar tudo o que precisam, mas antes vocês deverão ir ao banco Gringotes porque o nosso dinheiro é diferente do de vocês. Troquem o dinheiro e depois é só passar pelas lojas. Os livros na Floreios e Borrões, roupas na Madame Malkin, varinha no Olivaras e assim por diante. – Com um aceno de varinha ela vez surgir dois mapas. Um mostrava como chegar até o Caldeirão Furado, o outro era um detalhado mapa do Beco Diagonal.


Lílian foi até a cozinha beber água enquanto seus pais conversavam animados com a professora que marcava no mapa as lojas que eles precisariam visitar e explicava como funcionava o dinheiro bruxo. Petúnia continuava emburrada em um canto da sala e quando percebeu que Lílian estava olhando para ela subiu as escadas sem se despedir de ninguém.


Quando Lílian voltou a sala eles ainda estavam falando do dinheiro.


- ...então você irá gastar mais ou menos essa quantia em dinheiro Trouxa. – A professora passou ao senhor Evans um pedaço de papel com alguns números.


- Bem menos do que eu imaginei. – Respondeu o pai de Lílian sorrindo.


- Aconselho que de um pouco de dinheiro para sua filha caso ela precise durante o ano na escola também. – August e Roberta assentiram. – Bom acho que agora falta falar apenas do embarque. – A professora falou. – Os alunos vão para Hogwarts de trem. Ele parte no dia 1º de setembro às 11 horas da manhã na estação de King’s Cross. Essa parte não é a difícil de entender – disse enquanto o senhor Evans anotava. – A plataforma de embarque e a 9 ½.


Ao ouvir isso os Evans olharam para a mulher assustados.


- Mas essa plataforma não existe. – Disse Roberta.


- Ela existe, mas não esta visível. Entre as plataformas nove e dez existe uma parede. Vocês devem atravessá-la. – August olhou para Roberta, assustado. – Não fiquem assustados, a parede é encantada. Quando vocês tocarem ela vão passar direto, como se não tivesse parede nenhuma lá e pronto. Estarão na plataforma 9 ½.


A família assentiu.


- Bom isso é tudo. – Disse a professora batendo palmas novamente. – Ah já ia esquecendo. – Ela se virou para Lílian. – Eu recomendo que você compre uma coruja, pois assim poderá se comunicar com seus pais facilmente. E agora eu vou indo. Tenham uma boa noite. – E assim ela saiu deixando August, Roberta e Lílian meio que paralisados na cozinha.


Lílian não sabia o que fazer. Olhou para seus pais e eles pareciam atordoados. Minutos passaram e a Senhora Evans começou a esboçar um sorriso. Olhou para o marido e disse.


- Meu Deus! Isso realmente aconteceu?


O senhor Evans não disse nada. Olhou para Lílian e a abraçou. Ergueu-a em seu colo e começou a rodopiar pela cozinha.


- Minha menininha é uma bruxa. Minha pequena Lily pode fazer magia. – Ela parou de girá-la colocou-a no chão e se ajoelhou para poder olhar nos olhos dela. – Estou tão orgulhoso de você filha. Quem imaginaria? Temos uma bruxa na família. Uma linda bruxinha.


Lílian sentiu lagrimas de alegria em seus olhos e abraçou seu pai. Roberta se ajoelhou também e se juntou ao abraço.


- Obrigada pai. Obrigada mãe. – Lílian disse com a voz embargada. – Estou tão feliz por me deixarem ir. Tão feliz por não me acharem estranha. – O senhor Evans começou a rir.


- Lílian querida. Você sempre foi estranha e isso não é algo ruim. Nós amamos você e nós ainda amaríamos se você fosse verde e tivesse tentáculos. – Todos começaram a ir. – Minha pequena, estranha e adorável bruxinha.


Se dissessem que um dia Lílian se sentiria tão feliz por ser diferente ela não acreditaria. A noite havia sido louca, mas tudo que aconteceu apenas mostrava que magia realmente existia e que Severo havia dito a verdade. Amanha iria até o parque para lhe contar que havia recebido a carta.


- Vamos filha hora de dormir. – Sua mãe mandou.


Subiu as escadas e tomou um banho rápido. Vestiu seu pijama de bolinhas e foi para seu quarto. Com a luz acesa ela novamente olhou para a lista de materiais.


 


 


 


 


ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS


Uniforme:


Os estudantes do primeiro ano precisam de:


1- Três conjuntos de vestes comuns de trabalho. (pretas)


2- Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário.


3- Um par de luvas protetoras. (couro de dragão ou similares)


4- Uma capa de inverno (preta com fechos prateados)


As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome.


 


Lílian não havia gostado muito desse uniforme. Por que tanto preto? Lílian gostava de coisas coloridas.


 


Livros:


Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes:


Livro padrão de feitiços (primeira série) de Miranda Goshawk


História da Magia de Batilda Bagshot


Teoria da Magia de Adalberto Waffing


Guia de Transfiguração para iniciantes de Emerico Ewitch


Ervas Mágicas de Wendelin Godtrud


A sutil arte das poções de Ludovic Prindel


Guia de animais fantásticos de Gregório Spore


Como se defender das trevas de Nelinda Fradg


 


Pelos títulos podia ter uma idéia básica do que estudaria: História, poções, animais. Isso foi onde suas conclusões a levaram.


 


Outros materiais:


1 varinha mágica


1 caldeirão ( estanho, tamanho padrão 2)


1 conjunto de frascos


1 telescópio


1 balança de latão


Os alunos podem ainda trazer uma coruja ou um gato ou um sapo.


 


LEMBRAMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO NÃO PODEM USAR VASSOURAS PESSOAIS.


 


Será que essa ultima frase significava que bruxos realmente voavam em vassouras?


E se eles quisessem que Lílian voasse em uma vassoura? Com certeza ela iria cair e se quebrar toda. Desastrada do jeito que era.


As pálpebras da menina já estavam pesadas. Tinha sido um dia tão longo. Nem parecia que havia sido essa manhã que ela escapulira de casa para encontrar Snape. Tudo havia acontecido tão rápido. Agora ela sabia que era uma bruxa e que logo iria para uma escola com varias crianças iguais a ela.


Guardou o pergaminho no envelope e colocou-o debaixo do seu travesseiro. Apagou a luz, mas não conseguia dormir, por mais que estivesse com sono. Fechava os olhos e via luzes de todas as cores saindo de uma varinha. Ficou deitada sem dormir por um longo tempo, inventando feitiços e imaginando como seria Hogwarts. Como seriam os dormitórios e como seriam as pessoas. Será que teria amigos? Será que iria ter boas notas? Como seriam os professores? E o diretor?


Tantas eram as perguntas sem resposta que sua mente foi cansando cada vez mais. Finalmente dormiu e sonhou com corujas. Lindas corujas, pardas, negras e brancas que entregavam cartas em pergaminho amarelado com letras verdes.


 

 


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