O presente



Seria apenas mais uma manhã de sábado...exceto por um detalhe: era seu aniversário de 11 anos e seria mais especial do que esperava.


Isabela, de pele morena, cabelos e olhos cor de mel acordou muito agitada naquela manhã.


–Mãaaaaae...- gritava enquanto descia as escadas - Cadê? Cadê o livro mãe? Você comprou né?! Você conseguiu o último livro do Harry Potter pra mim, certo?!


– Bom dia pra você também filha. - ouviu-se uma voz grossa de um homem alto, magro, de cabelos pretos e olhos verdes vindo da sala.


– Bom dia papai!!


– Isa querida... - dessa vez foi a voz suave da sua mãe vindo da cozinha. - Claro que comprei, coloquei no pé da sua cama junto com o presente que sua vó lhe mandou. Você não...


Mal sua mãe terminou aquela frase e Isabela já tinha subido meio lance da escada.


– Temos que controlar essa menina amor!


– Eu sei querido... agora espere até ela ver o que tem dentro do livro!


Foi dito e feito, três segundos após o término daquela frase só se ouvia os gritos.


– Isso só pode ser brincadeira! Aaaaaaaaaaaaa..... mãaaaae.... - desceu as escadas correndo - Sério? É isso mesmo? Eu não estou sonhando?


– Não Bela. Chegou hoje de manhã. - respondeu a mãe.


– E porque não me acordou? Queria ter visto a coruja que trouxe a carta.


– Queria fazer uma surpresa...


– E vocês já responderam? Eu vou poder ir?


– Bom...


–Bom..??? Mãae deixa eu ir! É Hogwarts!!


– Calma menina! Agora deixa sua mãe falar. -disse o pai.


– Como eu ia dizendo... nós ficamos um pouco assustados, afinal, não achávamos que Hogwarts realmente existisse...


– Eu falei que existia, eu falei!


– Se interromper mais uma vez eu proíbo sua mãe de te deixar ir para essa escola de magia.


– Calma querido.


– Calma nada, desde que acordou ela não faz outra coisa que não seja gritar!


– Desculpa. Não falo mais nada. Continue por favor mãe...


– Eu e seu pai conversamos por um tempo e decidimos deixar você ir.


Isabela abriu a boca para falar, mas antes que saísse qualquer coisa


seu pai disse:


– Com condições, claro!


– Quais? - perguntou rapidamente.


– Vai ter que continuar tirando notas boas lá, nos mandar uma coruja toda semana e quero ir lá para ver essa escola.


– O senhor não pode pai.


– Por quê?


– Porque você é um trouxa.


– Um o que?


– Trouxa , uma pessoa que não é dotada de magia, sendo assim, ao se aproximar de Hogwarts o senhor veria só um castelo abandonado.


– Só me faltava essa agora.


– Mãe, você respondeu a carta?


– Respondi.


– O que você disse?


– Disse que poderia ir, mas queria conversar com a diretora ou o diretor substituto...


– Aah, quem será o novo professor de Defesa contra Artes das Trevas??


– Bela, - disse o pai - sei que você está muito empolgada, mas teria como você parar de falar nisso um pouco?


– Tudo bem papai, vou voltar para o quarto, ainda nem abri o presente da vovó, ao ver a carta eu desci correndo.


Quando chegou ao quarto pegou o presente no chão e sentou com ele no colo. Não tinha reparado o quanto lindo era o embrulho, o que será que tinha ali? Balançou a caixa, mas não deu para descobrir. Quando abriu viu que era uma caixinha e ao abrir a caixinha uma música começava a tocar e no fundo da caixinha havia um colar.


Para sua surpresa sua avó havia lembrado. Ela lhe deu um colar com uma coruja. Colocou-o na hora, deixou a caixinha sobre a cômoda e foi ler novamente sua carta.


Leu e releu, depois de um tempo decidiu comparar sua carta à do Harry e percebeu que só dois nomes haviam mudado:


 


“ Diretora: Minerva McGonagall


Prezada Srª. Zimerer,


Temos o prazer de informar que a V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.


O ano letivo começa em 1º de Setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.


Atenciosamente,


Flitwick “


Diretor Substituto


Depois passando o olho pela lista de material uma frase em negrito lhe chamou a atenção:


 


" Alunos interessados no jogo de quadribol devem trazer vassouras".


 


Não se conteve.


– Mãaaaaee... - mais uma vez gritava enquanto descia as escadas.


– Pelo amor de Deus! Sua sorte é que o seu pai saiu. O que aconteceu agora?


– Os alunos do 1º ano podem levar vassouras. A gente vai poder jogar quadribol. Deixa eu jogar? Deixa eu levar uma vassoura?


– O.K querida, agora evite falar disso perto do seu pai.


– Tá, não falo... obrigada,obrigada,obrigada.


Ela voltou ao quarto, pegou o sétimo livro e começou a ler. Duas horas depois seu pai bateu na porta do quarto e chamou-a para comer alguma coisa.


Sem hesitar, ela se levantou e foi, pois não tinha comido nada no café da manhã e no almoço. Após o lanche voltou para o quarto onde leu por mais um bom tempo... quando parou foi tomar banho e dormir.


Acordou com seu pai batendo na porta chamando-a para o almoço, dizendo que já dormiu demais. Levantou, trocou de roupa, escovou os dentes e sentou-se a mesa para almoçar.


– Sei que não querem que eu fale sobre isso... - começou - mas hoje chegou mais alguma carta?


– Não Bela. - foi o pai quem respondeu.


– Ah... - fez cara de desânimo - tudo bem... deve demorar mesmo.


– Bela..


– Oi mãe,


– Quando terminar lave a louça por favor, eu e seu pai vamos sair.


– Tá, mas aonde vão?


– Supermercado.


– Tá, mas tem que ser agora mesmo? Assim que eu terminar?


– Sim querida.


– Aneiim, - reclamou.


– Sem reclamar!!


Ao terminar o almoço seus pais saíram e ela foi lavar a louça. Dessa vez não foi para o quarto, foi para sala, ligou a tv e ficou ali por um tempo. A verdade é que só seu corpo estava naquela sala. Sua cabeça estava em Hogwarts... sua futura escola.


Ficou horas imaginando de qual casa seria, se Hagrid estaria lá esperando para leva-los de barco, – seus pais haviam chegado em casa - como seriam seus amigos, os professores, e as passagens? Será que ainda existiam? Ficou tanto tempo no sofá que não viu o tempo passar.


Quando se deu conta o cheiro de café já tinha invadido a casa e o que estava pronto era o lanche. Já ia subindo as escadas quando seu pai lhe perguntou:


– Não vai lanchar?


– Não, obrigada, estou sem fome.


– Você que sabe, mas depois não fique reclamando...


Ela balançou a cabeça concordando e subiu as escadas. Entrou no quarto, pegou sua bolsa da escola e foi fazer tarefa, haviam três, o que demorou bastante tempo.


Sua segunda-feira foi normal como se nada tivesse acontecido.


Chegando em casa ela jogou a mochila no sofá e sentou com o maior desânimo quando ouviu sua mãe lhe chamando. Ao chegar na cozinha uma coruja que estava em cima da mesa lhe estendeu a pata para que ela desamarrasse a carta.


Em seguida leu:


“ Prexados Sr e Srª Zimerer,


respondendo a carta dos senhores...


Nós realmente temos os costumes de visitar os pais que não pertencem a Hogwarts quando seus filhos possuem magia.


Sendo assim, a diretora de Hogwarts (McGonagall) estará na casa de vocês assim que receber esta coruja (provavelmente dentro de três dias).


Atenciosamente,


Flitwick


(diretor substituto) “


 


A felicidade foi tamanha que nem comeu, voltou correndo para o quarto com a carta na mão, sentou na cama e encarou o relógio. Não aguentando só observar ela voltou a ler o livro que havia ganhado.


Horas depois desceu com fome, lanchou, voltou para o quarto, tomou um banho e voltou a encarar o relógio.


– Só três dias... - pensava - em três dias ela estará aqui..


Deitada na cama abraçada com o relógio ela adormeceu. Na manhã seguinte acordou com sua mãe entrando no quarto:


– Acorde Bela! Você recebeu aquela carta, mas ainda sim vai para aquela escola. Ainda estamos no meio do ano.


– Que horas são?


–Levanta e aproveita e olha no re... O que? Como você quebrou esse relógio? Tá explicado porque não levantou hoje! Como você o quebrou?


– Acho que adormeci com ele na cama e ele caiu.


– Por que estava com ele na cama?


– Não sei, talvez na esperança do tempo passar mais rápido.


– Olha, eu sei que você está ansiosa, mas fique calma, você vai para Hogwarts, isso já está decidido. Agora vá se arrumar ou você vai perder a primeira aula.


Ela levantou, se arrumou e foi para a escola. A manhã nunca passou tão devagar como naquele dia.


E assim foi. Acordava, se arrumava e ia. Se pudesse ela movia o relógio, afinal, ela era uma bruxa, podia fazer isso...


Na verdade não, tudo que ela sabia não adiantava sem varinha. Fechou os olhos e desejou por um instante ter um vira-tempo. Como lhe seria útil!


O dias estavam tão monótonos que nem percebeu que já era dia 23 e estava indo embora no fim da tarde depois de um longo dia na escola.


Ao abrir a porta de casa ela levou um susto.


– Boa tarde Isabela, ou já seria noite? - disse uma mulher da pele clara, um pouco enrugada pela idade, olhas claros e óculos meia lua - Suponho que já me "conheça".


Ela ficou para por um tempo até tomar "coragem" e conseguir falar:


– Boa tarde McGonagall. Conheço sim. O livro Harry Potter fez muito sucesso no mundo dos trouxas.


– Mundo este que não te pertence mais e é sobre isso que vim falar.


Isabela permaneceu calada por um tempo em seguida perguntou:


– Onde aprendeu português Srª McGonagall?


– Ah minha cara... eu realmente não sei português, isso não passa apenas da ilusão de um feitiço que aliás está sendo muito útil.


– Como?


– Tudo que vocês falam são em português mas eu escuto em inglês e vice-versa.


– Está me dizendo que só conseguimos nos comunicar por causa de um feitiço? - indagou o pai.


– Porque tanto espanto Sr. Zimerer? - perguntou McGonagall - Sou uma bruxa e pensei que o Senhor soubesse que falávamos inglês pois Hogwarts fica na Inglaterra.


– Esqueci desse pequeno detalhe. - interferiu Isabela.


– Pequeno detalhe? - seu pai se levantou do sofá - Claro, pequeno detalhe, o que é você sair do Brasil com 11 anos e ir morar na Inglaterra? - disse com ironia.


– Controle-se querido. Tenho certeza que a McGonagall nos explicará tudo. - disse a mãe antes que a confusão aumentasse - Por favor, continue...


– Obrigada. Bom... Hogwarts é na Inglaterra sim, é realmente longe, mas posso lhe garantir que é o melhor para a sua filha. Poucos são os casos como o dela, onde a magia não se revela quando mais nova, mas ela vai aparecer e ela precisa aprender a controlá-la ou pode ser prejudicial a todos vocês.

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