Capítulo único





 


Memories of Time




Tão pequena


Minha perdição chegava a Hogwarts, quase sorri ao enxergá-la nervosa diante do Chapéu Seletor. Um trasgo montanhês uniria o Trio de Ouro pouco depois, para meu desgosto (ou sorte, não sei bem dizer). Revirei os olhos dúzias de vezes ao perceber seu braço erguido diante de uma pergunta minha. Sabe-tudo insuportável! Pôs fogo em minhas vestes quando a vassoura de Potter movia-se aos solavancos, enfeitiçada, durante uma partida de Quadribol. No futuro – eu já deveria saber – ela incendiaria a mim.


 


Tão inocente


A menininha de cabelos cheios observava o charlatão Lockhart viciosamente. Paixonite infantil tão tola. Não sei se sentia ciúmes por alguém tão jovem, talvez me despertasse apenas um senso de proteção quase paternal. Bem camuflado, evidentemente. Relembro meu tormento após o ataque do basilisco. Ela petrificou-se pelo olhar da cobra, e eu ao olhá-la naquele estado. Senti medo, embora não transparecesse. As horas de sono perdidas para preparar o antídoto de mandrágoras foram compensadas ao vê-la sorrindo outra vez, satisfeita por Potter ter cumprido sua missão na Câmara.


 


Tão inteligente


Uma sensação de desespero me dominou quando cheguei à sala de Lupin e vi no Mapa em sua mesa o ponto que demarcava o nome dela: estava na Casa dos Gritos acompanhada de um assassino foragido. Atravessei os terrenos da Escola, como se minha vida dependesse disso.


Você é a bruxa mais inteligente da sua idade, Hermione. Black disse e, por mais que eu odiasse concordar com ele em algo, o maldito estava certo. Ela havia descoberto que Lupin era um lobisomem, com contribuição minha, é claro.


 


Tão bela


Meu sorriso por zombar de seus dentes enormes, após feitiço lançado por Draco Malfoy, morreu quando a vi às lágrimas. A fiz chorar pela primeira vez. Odeio admitir que me senti culpado, mas não demonstraria, então desapareci apressadamente de suas vistas, com a capa a farfalhar às minhas costas.


O Baile de Inverno seria outro martírio. Ela estava com Viktor Krum: sorria-lhe e rodopiava guiada por ele. Merlin, como estava linda!


 


Tão corajosa


Enfrentou Comensais da Morte no Ministério Magia e a rigidez da Umbridge. Enfrentou a si mesma, e só então percebi que a princesinha de Gryffindor cresceu. Em pensar que ali ela descobria-se apaixonada por mim, embora me confessasse somente anos depois. Quiçá ali eu estivesse me apaixonando também.


 


Tão forte


“Promete-me que, independente do que acontecer hoje, confiará em mim?” – perguntei, vendo-a assentir, confusa – “Quero ouvi-la, Hermione.” – nela vi a surpresa, por chamá-la pelo primeiro nome.

“Confio em você, senhor.”

Beijei-a, feliz por vê-la corresponder, sedenta pelo contato, sabendo que minutos depois ela possuiria motivos para odiar-me. Foi quando o beijo teve seu encerramento, os deuses eram pouco generosos comigo, afinal não me permitiam parar o tempo diante daquele ato tão sublime.

A ficha então caiu. Precisava correr.

“Cuide de Flitwick, procurarei o Diretor. Não saia daqui.” – mera desculpa para protegê-la da fúria de Comensais que invadiam o castelo.

Estava feito. Dumbledore morrera pelas minhas mãos na Torre de Astronomia. Precisei fugir. Não só de Hogwarts, de mim também. Estaria sozinho outra vez. Ou talvez já estivesse sozinho o tempo todo.


 


Tão minha


Quando enfim passei a vê-la como mulher. A mulher que me salvou quando a Morte estava prestes a beijar-me saudosamente. Salvou-me de morrer, do escapismo, da infelicidade. Do meu passado. Desejei seu corpo, sua alma. A guerra acabou, e minha vida recomeçou quando enxerguei seus olhos castanhos brilharem diante dos meus. Relembro o passado com nostalgia, mas fico feliz por enterrá-lo definitivamente, ou ao menos a parte mais dolorosa dele. Tantas lembranças que eu poderia afogar, para sempre, numa penseira ou meramente substituí-las por outras melhores. Hermione tornaria isso simples, estava escrito em seus olhos.


Fim.




Notas:


- Uma coletânea bobinha de drabbles SS/HG, contendo exatamente o limite dado pelo Lucas no Challenge, 600 palavras. Deu trabalho, mas finalizei. Não que tenha gostado tanto assim do resultado, mãããs...


- Cada uma delas representa um livro, a partir do POV do Severus sobre ela, o que eles compartilharam nesse período e como tudo foi crescendo até o final feliz (sou brega mesmo, eu sei q). Se eu fosse a J. K. deixaria o Severus com a Hermione, falei /rs


- Tive a ideia de fazer essa análise livro a livro pela música que dá título à coletânea de drabbles: 'Memories of time', do Dreamtale, uma banda finlandesa de power metal que adoro.


 



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