Capítulo único





 


Tão Perto e Longe de Você


E lá estava ele dando crédito àquelas velharias trouxas de novo, à luz de velas, em um profuso clima de melancolia. A vitrola ultrapassada com os vinis de tempos que não voltariam mais ocupavam aquele dia sem graça nas Masmorras frias, e o então diretor de Hogwarts curvava sua cabeça sobre a mesa de mogno enquanto escutava a melodia iniciar-se.


Ele se sentia culpado, mas não o era. Dumbledore estava morto por suas mãos, pelo feixe luminoso de sua varinha – luz verde que trouxe apenas trevas, num paradoxo indecente –, e o ódio de boa parte do mundo bruxo o cobriria em maldição. Ainda mais...


A música enchia o ambiente, e ele desejava estar com ela.


Os acordes o consumiam, e ele sabia que jamais poderia voltar a estar com ela.


A voz se extinguia, o som dos instrumentos também. Era o fim da canção. Era o fim do calvário. Era o fim da amargura. Era o fim de seus vícios. Ou talvez não o fosse.


Logo ele não mais enxergaria a iluminação bruxuleante também. Seus sentidos o desamparavam pouco a pouco, e ele se renderia a um sono tranquilo, zelado por Morfeu.


Aquele dia se consumira igual à cera das velas relapsamente acesas, como se um sopro sobrenatural esvaísse a pouca iluminação que restava em seus aposentos. Mas no dia seguinte, quando seus olhos enxergassem a luz do amanhecer outra vez, a dor voltaria persistente, com a mesma intensidade.


E a melodia, já arranhada no disco de vinil, soaria novamente... Tão imperfeita quanto ele.


Fim.


 



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