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“Ele te deixou porque não queria dever a você nada?” pergunta Peeta com descrença. “Sim. Não espero que você entenda. Você sempre teve o suficiente. Mas se você vivesse em Seam, eu não teria de explicar,” digo. “E não tente. Obviamente sou muito turvo para compreender.” “É como o pão. Como eu nunca pareço pargar a dívida com você por aquilo,” digo. “O pão? O quê? De quando éramos crianças?” diz. “Acho que podemos deixar isso. Quero dizer, você só me trouxe de volta da morte.” “Mas você não me conhecia. Nós nunca tínhamos nos falado. Além disso, é o primeiro presente que é sempre o mais difícil de pagar. Eu não estaria nem ao menos aqui se você não tivesse me ajudado então,” digo. “Por que você fez, de qualquer maneira?” “Por quê? Você sabe o porquê,” Peeta diz. Dou com minha cabeça um leve e doloroso agito. “Haymitch disse que demoraria bastante para te convencer.” “Haymitch?” pergunto. “O que ele tem a ver com isso?” “Nada,” Peeta diz. “Então, Cato e Thresh, huh? Acho que é esperar demais que eles se destruam simultaneamente?” Mas o pensamento apenas me irrita. “Acho que nós gostaríamos de Thresh. Acho que ele seria nosso amigo no Distrito Doze,” digo. “Estão vamos esperar que Cato mate Thresh, assim não teremos de fazer isso,” diz Peeta cruelmente. Não quero nem um pouco que Cato mate Thresh. Não quero que ninguém mais morra. Mas essa não é absolutamente o tipo de coisa que vencedores dizem na arena. Apesar dos meus esforços, posso sentir as lágrimas se acumulando nos meus olhos. Peeta olha para mim com preocupação. “O que é? Você está sentindo muita dor?” Dou a ele outra resposta, porque é igualmente verdadeira, mas pode ser levada como um breve momento de fraqueza em vez de uma fraqueza terminal. “Quero ir para casa, Peeta,” digo queixosamente, como uma criança pequena. “Você vai. Prometo,” ele diz, e se inclina para me dar um beijo. “Quero ir para casa agora,” digo. “Não me diga. Volte a dormir e sonhe com casa. E você vai estar lá de verdade antes que você saiba,” ele diz. “Ok?” “Ok,” sussurro. “Acorde-me se me precisar para vigiar.” “Estou bem e descansado, graças a você e a Haymitch. Além disso, quem sabe quando isso vai durar?” diz. O que ele quer dizer? A tempestade? A breve trégua que ela trás para nós? Os próprios Games? Não sei, mas estou muito triste e cansada para perguntar. É de tarde quando Peeta me acorda. A chuva se tornou torrencial, mandando fluxos de água através do nosso teto, onde houve apenas goteiras. Peeta colocou o pote de caldo sob a pior e reposicionou o plástico para desviar a maior parte de mim. Sinto-me um pouco melhor, capaz de sentar sem ficar tão tonta, e estou absolutamente faminta. Assim está Peeta. Está claro que ele esperou eu acordar para comer e está ávido para começar. Há pouco restou muito. Dois pedaços de ervas, uma pequena mistura de raízes, e um punhado de frutas secas. “Deverias racionar?” Peeta pergunta. “Não, vamos acabá-lo. As ervas estão ficando velhas, de qualquer jeito, e a última coisa que precisamos é ficar doente por causa de comida estragada,” digo, dividindo a comida em duas pilhas iguais. Tentamos comer devagar, mas ambos estamos com tanta fome que terminamos em dois minutos. Meu estômago não está satisfeito. “Amanhã é dia de caçar,” digo. “Eu não vou ser de muita ajuda nisso,” Peeta diz. “Nunca cacei antes.” “Eu mato e você cozinha,” digo. “E você pode sempre colher.” “Queria que existisse algum arbusto de pão por aí,” diz Peeta. “O pão que me mandaram do Distrito 11 ainda estava quente,” digo com um suspiro. “Aqui, coma esses.” Dou a ele duas folhas de hortelã e coloco algumas na minha boca.
É difícil até para ver a projeção no céu, mas é claro o suficiente para saber que não houve mais mortes hoje. Então Cato e Thresh não saíram ainda. “Para onde Thresh foi? Quero dizer, o que há do outro lado do círculo?” Pergunto a Peeta. “Um campo. Até o ponto que você pode ver é cheio de ervas tão altas quanto meus ombros. Não sei, talvez algumas delas tenham sementes. Há partes de diferentes cores. Mas não há trilhas,” diz Peeta. “Aposto que algumas delas têm sementes. Aposto que Thresh sabe quais, também,” digo. “Você foi lá?” “Não. Ninguém realmente queria seguir Thresh naquelas ervas. Tem uma sensação sinistra lá. Toda vez que olho para o campo, tudo em que consigo pensar são coisas escondidas. Cobras, animais raivosos, e areia movediça,” Peeta diz. “Pode haver qualquer coisa lá.” Não digo a Peeta, mas suas palavras me lembram das advertências que dão a nós sobre não ir além da cerca no Distrio 12. Não posso evitar, por um momento, compará-lo a Gale, que veria aquele campo como uma potencial fonte de comida tanto quanto uma ameaça. Thresh certamente viu. Não é que Peeta seja frágil, exatamente, ele provou que não é covarde. Mas há coisa que você não questiona tanto, acho, quando sua casa sempre cheira como uma fornada de pães, enquanto que Gale questiona tudo. O que Peeta pensaria das brincadeiras irreverentes que passam entre nós quando quebramos a lei todo dia? Iria chocá-lo? As coisas que dissemos sobre Panem? As desgraças de Gale contra o Capitol? “Talvez haja um arbusto de pão naquele campo,” digo. “Talvez seja por isso que Thresh pareça melhor alimentado agora do que quando começamos os Games.” “Ou isso ou ele tem generosos patrocinadores,” diz Peeta. “Pergunto-me o que nós teríamos de fazer para conseguir que Haymitch nos mande algum pão.” Levanto minhas sobrancelhas antes de me lembrar que ele não sabe sobre a mensagem que Haymitch nos enviou há duas noites. Um beijo igual a um pote de caldo. Não é o tipo de coisa que posso deixar escapar, tampouco. Dizer meus pensamentos em voz alta seria confessar para a audiência que esse romance foi fabricado para brincar com suas simpatias e isso resultaria em nenhuma comida. De alguma forma aceitável, eu tenho de começar tudo de volta no caminho certo. Algo simples para começar. Estendo a mão e tomo a dele. “Bem, ele provavelmente usou muito recurso ajudando-me a te desacordar,” digo de forma travessa. “Sim, sobre aquilo,” diz Peeta, entrelaçando seus dedos nos meus. “Não tente algo como aquilo novamente.” “Ou o quê?” pergunto. “Ou... ou...” Ele não pode pensar em nada bom. “Só me dê um minuto.” “Qual é o problema?” digo com um sorriso. “O problema é que nós dois estamos vivos. O que apenas reforça a ideia na sua cabeça de que você fez a coisa certa,” diz Peeta. “Eu fiz a coisa certa,” digo. “Não! Só não, Katniss!” Seu aperto fica mais forte, machucando minha mão, e há raiva real em sua voz. “Não morra por mim. Você não vai me fazer qualquer favor. Certo?” Estou assustada com sua intensidade, mas reconheço uma excelente oportunidade de conseguir comida, então eu tento continuar. “Talvez eu tenha feito por mim mesma, Peeta, você já pensou nisso? Talvez você não seja o único que... que se preocupe com... o que seria se...” Eu me atrapalho. Não sou tão boa com as palavras como Peeta. E enquanto estou conversando, a ideia de perder Peeta de verdade me atinge novamente e percebo o quanto não quero que ele morra. E não é sobre os patrocinadores. E não é sobre o que vai acontecer em casa. E não é só porque eu queira ficar sozinha. É ele. Eu não quero perder o garoto com o pão. “Se o quê, Katniss?” ele diz suavemente.
Eu gostaria de fechar as persianas, bloquear esse momento dos olhos curiosos de Panem. Mesmo que isso signifique perder comida. O que quer que eu esteja sentindo, não é problema de ninguém além de mim. “Esse é exatamente o tipo de tópico que Haymitch me disse para me afastar,” digo evasivamente, embora Haymitch nunca tenha dito nada do tipo. De fato, ele provavelmente está me amaldiçoando agora mesmo por deixar a bola cair durante tal mudança emocional. Mas Peeta de algum modo percebe. “Então tenho apenas de preencher os vazios eu mesmo,” diz, e se move para mim. Esse é o primeiro beijo em que ambos estamos totalmente conscientes. Nenhum de nós manco por doença ou dor ou simplesmente inconsciente. Nossos lábios nem queimando de febre ou gelados. Esse é o primeiro beijo com o qual sinto uma agitação dentro do meu peito. Quente e curiosa. Esse é o primeiro beijo que me faz querer outro. Mas eu não consigo. Bem, eu consigo um segundo beijo, mas é apenas um suave na ponta do meu nariz, porque Peeta está distraído. “Acho que seu machucado está sangrando de novo. Venha, deite-se, é hora de se deitar, de qualquer maneira,” diz. Minhas meias estão secas o bastante para usá-las agora. Faço Peeta colocar sua jaqueta de volta. O frio úmido parece me cortar até meus ossos, então ele deve estar meio congelado. Insisto em ficar na primeira vigia, também, embora nenhum de nós pense que alguém virá nesse tempo. Mas ele não vai aceitar a menos que eu esteja com o saco, também, e estou com tantos calafrios que é inútil discutir. Em contraste com duas noites atrás, quando sentia que Peeta estava a milhões de milhas de distância, estou impressionada com seu imediatismo agora. Quando nos assentamos, ele puxa minha cabeça para usar seu braço como travesseiro, e o outro fica sobre mim protetoramente mesmo quando ele vai dormir. Ninguém me segurou dessa forma por um longo tempo. Desde que meu pai morreu e eu parei de confiar na minha mãe, os braços de ninguém me fizeram sentir segurança. Com a ajuda dos óculos, observo as cotas de água batendo no chão da caverna. Rítmica e tranquila. Várias vezes, eu cochilo brevemente e então acordo de repente, culpada e furiosa comigo mesma. Depois de três ou quatro horas, não posso evitar, tenho de acordar Peeta porque não posso manter meus olhos abertos. Ele não parece se importar. “Amanhã, quando estiver seco, vamos encontrar um lugar tão alto nas árvores em que ambos possamos dormir em paz,” prometo enquanto caio no sono. Mas amanhã não é melhor em termos de tempo. O dilúvio continua como se os Gamemakers tencionassem nos lavar. O trovão é tão poderoso que parece tremer o chão. Peeta está considerando sair da caverna para procurar por comida, mas digo a ele que nessa tempestade seria inútil. Ele não será capaz de ver um metro ante seus olhos e apenas conseguirá ficar molhado até os ossos. Ele sabe que estou certa, mas a mordida nos nossos estômagos está se tornando dolorosa. O dia se transforma em noite e não há pausa no tempo. Haymitch é nossa única esperança, mas nada é iminente, ou por falta de dinheiro – tudo vai custar uma quantia exorbitante – ou porque ele está insatisfeito com nossa performance. Provavelmente o último. Eu seria a primeira a admitir que não estamos exatamente fascinantes hoje. Privados de comida, fracos de ferimentos, tentando não reabrir as feridas. Estamos sentados aconchegados um no outro no saco de dormir, sim, mas principalmente para nos manter quentes. A coisa mais excitante que fazemos é cochilar. Não estou muito certa de como aumentar o romance. O beijo na noite passada foi ótimo, mas trabalhar para outro vai levar alguma premeditação. Há garotas no Seam, algumas garotas comerciantes, também, também, que navegam nessas águas facilmente. Mas nunca tive muito tempo ou uso para isso. De qualquer forma, só um beijo não é mais suficiente, porque se fosse nós teríamos comida noite passada. Meus instintos me dizem que Haymitch não está procurando apenas afeição física, ele quer algo mais pessoal. O tipo de coisa que ele estava tentando conseguir que eu contasse sobre mim quando estávamos praticando para a
entrevista. Sou podre nisso, mas Peeta não é. Talvez a melhor aproximação seja fazer com que ele fale. “Peeta,” digo suavemente. “Você disse na entrevista que tinha uma queda por mim desde sempre. Quando o sempre começou?” “Ah, vamos ver. Acho que no primeiro dia na escola. Tínhamos cinco anos. Você usava um vestido de lã vermelho e seu cabelo... estava em duas tranças em vez de uma. Meu pai apontou para você quando estávamos esperando para o alinhamento,” Peeta diz. “Seu pai? Por quê?” pergunto. “Ele disse, ‘Vê aquela garota? Quis casar com a mãe dela, mas ela fugiu de mim com um mineiro de carvão’,” Peeta diz. “O quê? Você está brincando!” exclamo. “Não, verdade,” Peeta diz. “E eu disse, ‘Um mineiro de carvão? Porque ela quis um mineiro de carvão se poderia ter você?’ E ele disse, ‘Porque quando ele canta... até os pássaros param para escutar’.” “Isso é verdade. Eles param. Quero dizer, eles paravam,” digo. Estou impressionada e surpreendentemente movida, pensando no padeiro dizendo isso a Peeta. Golpeia em mim minha própria relutância em cantar, minha própria demissão de música pode não ser porque eu pensava que era uma perda de tempo. Pode ser porque me lembra tanto meu pai. “Então naquele dia, na assembléia musical, a professora perguntou quem sabia a canção do vale. Sua mão subiu logo no ar. Ela te levantou no banco e você cantou para nós. E juro, todos os pássaros do lado de fora da janela ficaram em silêncio,” Peeta diz. “Ah, por favor,” digo, rindo. “Não, aconteceu. E logo quando sua música terminou, eu soube – bem como sua mãe – que eu estava perdido,” Peeta diz. “Então, pelos próximos onze anos, tentei criar coragem para falar com você.” “Sem sucesso,” acrescento. “Sem sucesso. Então, de algum modo, meu nome sendo escolhido na colheita foi uma sorte,” diz Peeta. Por um momento, estou quase estupidamente feliz e depois confusão me varre. Porque nós deveríamos estar fazendo isso, fingir estarmos apaixonados não é estarmos apaixonados. Mas a história de Peeta tem um fundo de verdade. Essa parte sobre meu pai e os pássaros. E eu cantei no primeiro dia na escola, embora não me lembre da música. E o vestido de lã vermelho... havia um, passado para Prim depois da morte do meu pai. Isso explicaria outra coisa, também. Por que Peeta apanhou para me dar o pão naquele dia terrível. Então, se todos aqueles detalhes são verdade... poderia ser tudo verdade? “Você tem uma... memória fora do comum,” digo hesitante. “Eu me lembro de tudo sobre você,” diz Peeta, colocando uma mecha solta do meu cabelo atrás do meu ouvido. “Era você quem não prestava atenção.” “Estou prestando agora,” digo. “Bem, não tenho muita concorrência aqui,” ele diz. Quero me afastar, fechar as portas outra vez, mas sei que não posso. É como se eu ouvisse Haymitch sussurrando no meu ouvido. “Diga! Diga!” Engulo com força e as palavras saem. “Você não teve muita concorrência em qualquer lugar.” E dessa vez, sou eu quem se inclina. Nossos lábios mal se tocam quando um som metálico do lado de fora nos faz pular. Meu arco sobe, a flecha já preparada para voar, mas não há outro som. Peeta espreita através das pedras, e então dá um berro. Antes que eu possa pará-lo, ele se abaixa na chuva, então estende algo para mim. Um paraquedas prateado amarrado a uma cesta. Abro-a de uma vez e o que há dentro é um banquete – pães, queijo de cabra, maçãs, e o melhor de tudo, uma terrina com um ensopado de cordeiro junto com arroz. O prato que eu disse a Caesar Flickerman que era a coisa mais impressionante que o Capitol tinha a oferecer.
Peeta volta para dentro, seu rosto iluminado como o sol. “Acho que Haymitch finalmente ficou cansado de nos observar morrer de fome.” “Também acho,” respondo. Mas na minha cabeça posso ouvir as palavras presunçosas, senão levemente exasperadas, “Sim, isso é o que eu estava procurando, querida.” 23 Cada célula do meu corpo quer que eu mergulhe no cozido e coma até me satisfazer, jogando punhado atrás de punhado em minha boca. Mas a voz de Peeta me para. "É melhor irmos com calma nesse cozido. Lembra-se da primeira noite no trem? A comida farta me deixou doente e eu não estava nem mesmo morrendo de fome, então." "Você está certo. E eu poderia simplesmente inalar o negócio todo!" eu digo arrependidamente. Mas não o faço. Estamos muito sensíveis. Cada um de nós pega um rolinho, metade de uma maçã, e uma porção do tamanho de um ovo de cozido e arroz. Eu me forço a comer o cozido em pequeninas colheradas – eles nós mandaram até mesmo talheres e pratos – saboreando cada mordida. Quando terminamos, eu encaro ansiosamente o prato. "Eu quero mais." "Eu também. Te digo uma coisa. Esperamos uma hora, se continuar desse jeito, então nós nos servimos de novo," diz Peeta. "Acertado," eu digo. "Vai ser uma longa hora." "Talvez não tanto," diz Peeta. "O que foi que você estava dizendo logo antes da comida chegar? Algo sobre mim... nenhuma competição... melhor coisa que já aconteceu com você..." "Eu não me lembro dessa última parte," eu digo, esperando que esteja muito turvo aqui para as câmeras captarem meu rubor. "Ah, está certo. Isso era o que eu estava pensando," diz ele. "Chega mais, eu estou congelando." Eu abro espaço para ele no saco de dormir. Nós nos encostamos contra a parede da caverna, a minha cabeça em seu ombro, seus braços em volta de mim. Eu posso sentir Haymitch me cutucando para continuar com o ato. "Então, desde que tínhamos cinco, você nunca nem notou outras garotas?" Eu lhe pergunto. "Não, eu notei quase todas as garotas, mas nenhuma delas deixou uma impressão duradoura, só você," ele diz. "Tenho certeza de que seus pais ficariam animados, você gostando de uma garota de Seam," eu digo. "Dificilmente. Mas eu não poderia me importar menos. De qualquer forma, se voltarmos, você não será uma garota de Seam, você será uma garota da Vila dos Vitoriosos," ele diz. Está certo. Se vencermos, cada um irá ganhar uma casa na parte da cidade reservada para os vitoriosos do Hunger Games. Há muito tempo, quando os Games começaram, o Capitol construíra uma dúzia de casas chiques em cada distrito. É claro, no nosso apenas uma está ocupada. A maioria das outras nunca teve moradores. Um pensamento perturbador me atinge. "Mas então, o nosso único vizinho será Haymitch!" "Ah, isso vai ser bom," diz Peeta, apertando seus braços ao meu redor. "Você e eu e Haymitch. Muito acolhedor. Piqueniques, aniversários, longas noites de inverno ao redor da fogueira recontando velhos contos do Hunger Games." "Eu te disse, ele me odeia!" eu digo, mas não posso deixar de rir com a imagem de Haymitch se tornando meu novo amigo. "Só às vezes. Quando ele está sóbrio, eu nunca o ouvi dizer uma coisa negativa sobre você," diz Peeta. "Ele nunca está sóbrio!" eu protesto. "Está certo. Em quem estou pensando? Ah, sei. É Cinna quem gosta de você. Mas isso é principalmente porque você não tentou fugir quando ele botou fogo em você," diz Peeta. "Por outro lado, Haymitch... bem, se eu fosse você, eu evitaria Haymitch completamente. Ele te odeia."
"Eu pensei que você tinha dito que eu era a sua favorita," eu digo. "Ele me odeia mais," diz Peeta. "Eu não acho que as pessoas, de um modo geral, sejam suas coisas favoritas." Eu sei que o público apreciará nós nos divertindo às custas de Haymitch. Ele tem estado por perto há tanto tempo, ele é praticamente um velho amigo de alguns deles. E depois de seu mergulho de cabeça para fora do palco na colheita, todo mundo o conhece. A esta altura, eles terão arrastado-o para fora da sala de controle para entrevistas sobre nós. Não há como prever que tipo de mentiras ele inventou. Ele tem uma espécie de desvantagem porque a maioria dos mentores tem um parceiro, um outro vencedor para ajudá-lo, enquanto que Haymitch tem que estar pronto para entrar em ação a qualquer momento. Meio que como eu quando estava sozinha na arena. Eu me pergunto como ele está aguentando, com a bebida, a atenção, e o stress de tentar nos manter vivos. É engraçado. Haymitch e eu não nos damos bem em pessoa, mas talvez Peeta esteja certo sobre nós sermos parecidos, porque ele parece ser capaz de se comunicar comigo pelo sincronismo dos seus presentes. Como eu saber que tinha que estar perto de água quando ele a negou e como eu sabia que o xarope do sono não era apenas algo para aliviar a dor de Peeta e como agora eu sei que eu tenho que bancar o romance. Ele não fez muito esforço para se conectar com Peeta, na verdade. Talvez ele ache que uma tigela de caldo de carne seria apenas uma tigela de caldo de carne para Peeta, enquanto eu veria as restrições que viriam com ela. Um pensamento me atinge, e eu estou espantada que a pergunta tenha levado tanto tempo para aparecer. Talvez seja porque só recentemente comecei a ver Haymitch com um grau de curiosidade. "Como você acha que ele fez isso?" "Quem? Fez o quê?" Peeta pergunta. "Haymitch. Como você acha que ele ganhou os Games?" eu digo. Peeta considera isto por um bom tempo antes de responder. Haymitch é muito robusto, mas não tem um físico de se admirar como Cato ou Thresh. Ele não é particularmente bonito. Não da maneira que faz com que patrocinadores façam chover presentes para você. E ele é tão grosseiro, é difícil imaginar alguém unindo-se a ele. Há apenas uma maneira de Haymitch poder ter vencido, e Peeta diz bem quando eu mesma estou chegando a essa conclusão. "Ele foi mais esperto que os outros," diz Peeta. Aceno, então deixo a conversa acabar. Mas secretamente estou me perguntando se Haymitch ficou sóbrio o suficiente para ajudar Peeta e eu porque achou que poderíamos ter a inteligência para sobreviver. Talvez ele nem sempre tenha sido um bêbado. Talvez, no começo, ele tentou ajudar os tributos. Mas depois ficou insuportável. Deve ser um inferno ser mentor de duas crianças e depois vê-las morrer. Ano após ano após ano. Percebo que se eu sair daqui, isso se tornará o meu trabalho. Ser a mentora da menina do Distrito 12. A ideia é tão repelente, eu a empurro da minha mente. Cerca de meia hora se passa antes de decidir que tenho que comer de novo. O próprio Peeta está com muita fome para discutir. Enquanto eu estou servindo mais duas pequenas porções de cozido de carneiro e arroz, nós ouvimos o hino começar a tocar. Peeta pressiona seus olhos contra uma fenda na rocha para ver o céu. "Não haverá nada para ver hoje à noite," eu digo, muito mais interessada no cozido do que o céu. "Nada aconteceu ou nós teríamos ouvido um canhão." "Katniss," Peeta diz calmamente. "O quê? Devemos dividir outro rolinho, também?" Eu pergunto. "Katniss," ele repete, mas eu me encontro querendo ignorá-lo. "Eu vou dividir um. Mas eu vou poupar o queijo para amanhã," eu digo. Vejo Peeta olhando para mim. "O quê?" "Thresh está morto," diz Peeta.
"Ele não pode estar," eu digo. "Eles devem ter disparado o canhão durante o trovão e nós perdemos," diz Peeta. "Você tem certeza? Quer dizer, está chovendo canivetes lá fora. Eu não sei como você consegue ver alguma coisa," eu digo. Eu o afasto das rochas e espremo meus olhos para o céu escuro e chuvoso. Por cerca de dez segundos, eu vislumbro uma imagem distorcida de Thresh e então ele se vai. Bem assim. Eu desmorono pelas rochas, esquecendo momentaneamente da tarefa às mãos. Thresh está morto. Eu deveria estar feliz, certo? Menos um tributo a encarar. E um poderoso também. Mas eu não estou feliz. Tudo em que posso pensar é em Thresh me deixando ir, deixando-me correr por causa da Rue, que morreu com aquela lança em seu estômago... "Você está bem?" pergunta Peeta. Eu dou de ombros evasivamente e seguro meus cotovelos com as minhas mãos, abraçando-os perto do meu corpo. Eu tenho que enterrar a dor verdadeira, porque quem vai apostar em um tributo que fica choramingando a morte de seus adversários? Rue era uma coisa. Éramos aliadas. Ela era tão jovem. Mas ninguém vai entender a minha tristeza pelo assassinato de Thresh. A palavra me para bruscamente. Assassinato! Felizmente, eu não disse em voz alta. Isso não vai me ganhar nenhum ponto na arena. O que eu digo é, "É só que... se não ganhássemos... Eu queria que Thresh ganhasse. Porque ele me deixou ir. E por causa da Rue." "Sim, eu sei," diz Peeta. "Mas isso significa que estamos um passo mais perto do Distrito Doze." Ele empurra um prato de comida nas minhas mãos. "Coma. Ainda está quente." Eu dou uma mordida no cozido para mostrar que eu realmente não me importo, mas é como cola na minha boca e é um grande esforço engolir. "Significa também que Cato vai voltar a nos caçar." "E ele tem suprimentos de novo," diz Peeta. "Ele estará ferido, eu aposto," eu digo. "O que te faz dizer isso?" Peeta pergunta. "Porque Thresh nunca teria sucumbido sem uma luta. Ele é tão forte, quero dizer, ele era. E eles estavam em seu território," eu digo. "Que bom," diz Peeta. "Quanto mais Cato estiver ferido, melhor. Eu me pergunto como a Foxface está se virando." "Oh, ela está bema," eu digo irritada. Eu ainda estou com raiva que ela pensou em se esconder na Cornucópia e eu não. "Provavelmente será mais fácil pegar Cato do que ela." "Talvez eles irão se pegar nós poderemos simplesmente ir para casa," diz Peeta. "Mas é melhor termos cuidado extra com as vigilâncias. Eu cochilei algumas vezes." "Eu também," eu admito. "Mas não hoje." Nós terminamos nossa comida em silêncio e depois Peeta se oferece para ficar com a primeira vigilância. Eu me enterro profundamente no saco de dormir ao lado dele, puxando meu capuz sobre o meu rosto para escondê-lo das câmeras. Eu só preciso de alguns momentos de privacidade onde eu posso deixar qualquer emoção cruzar o meu rosto sem ser vista. Sob o capuz, eu silenciosamente digo adeus ao Thresh e agradeço-lhe pela minha vida. Eu prometo me lembrar dele e, se eu puder, fazer algo para ajudar sua família e a de Rue, se eu ganhar. Então eu escapo para o sono, confortável por uma barriga cheia e o calor constante de Peeta ao meu lado. Quando Peeta me acorda mais tarde, a primeira coisa que eu registro é o cheiro de queijo de cabra. Ele está segurando metade de um rolinho aberto com o negócio branco cremoso e coberto com fatias de maçã. "Não fique brava," diz ele. "Eu tive que comer de novo. Aqui está a sua metade." "Oh, bom,” eu disse, imediatamente dando uma mordida enorme. O queijo gordo e forte tem gosto daqueles que a Prim faz, as maçãs são doces e crocantes. "Hmm." "Fazemos uma torta de queijo de cabra e maçã na padaria," diz ele. "Aposto que é caro," eu digo.
“Caro demais para a minha família comer. A não ser que tenha ficado muito estragado. É claro, praticamente tudo o que comemos é estragado," diz Peeta, puxando o saco de dormir em torno dele. Em menos de um minuto, ele está roncando. Hum. Eu sempre assumi que os lojistas tinham uma vida mole. E é verdade, Peeta sempre teve o suficiente para comer. Mas é meio deprimente ter que viver sua vida de pão dormido, das fornadas duras e secas que ninguém mais queria. Uma coisa sobre nós, já que trago a nossa comida para casa diariamente, é que a maioria está tão fresca que você tem que se certificar de que ela não vai fugir. Em algum momento durante o meu turno, a chuva para, não gradualmente, mas de uma vez só. O aguaceiro acaba e há apenas os gotejamentos residuais de água dos galhos, a pressa do córrego agora transbordando abaixo de nós. Uma linda lua cheia emerge, e mesmo sem os óculos eu posso ver o lado de fora. Eu não consigo decidir se a lua é real ou apenas uma projeção dos Gamemakers. Eu sei que estava cheia pouco antes de sair de casa. Gale e eu assistimo-a subir à medida que caçavamos nas horas tardias. Quanto tempo eu estive fora? Suponho que se passaram cerca de duas semanas na arena, e houve aquela semana de preparação em Capitol. Talvez a lua tenha completado seu ciclo. Por alguma razão, eu quero muito que seja a minha lua, a mesma que eu vejo da floresta em torno do Distrito 12. Isso me daria algo para me agarrar no mundo surreal da arena onde a autenticidade de tudo deve ser duvidada. Quatro de nós restantes. Pela primeira vez, permito-me realmente pensar na possibilidade de que poderia voltar para casa. Para a fama. Para a riqueza. Para minha própria casa na Vila dos Vitoriosos. Minha mãe e Prim viveriam lá comigo. Nada mais de medo da fome. Um novo tipo de liberdade. Mas então... o quê? Como seria a minha vida diária? A maior parte dela foi consumida com a aquisição de comida. Tire isso e eu não tenho muita certeza sobre quem eu realmente sou, qual é a minha identidade. A ideia me assusta um pouco. Penso em Haymitch com todo o seu dinheiro. O que sua vida se tornou? Ele vive sozinho, sem esposa ou filhos, a maior parte de seus horas despertas ele está bêbado. Eu não quero acabar assim. "Mas você não estará sozinha," eu sussurro para mim mesma. Eu tenho minha mãe e Prim. Bem, por enquanto. E depois... eu não quero pensar no depois, quando Prim tiver crescido, minha mãe falecido. Eu sei que nunca vou me casar, nunca arriscarei trazer uma criança ao mundo. Porque se há uma coisa que ser um vitorioso não garante, é a segurança de seus filhos. Os nomes dos meus filhos iriam direto para as bolas de colheita como os de todo mundo. E eu juro que nunca vou deixar que isso aconteça. O sol eventualmente nasce, sua luz deslizando pelas fendas e iluminando o rosto de Peeta. Em quem ele vai se transformar se voltarmos para casa? O garoto desconcertante e de bom caráter que pode prolongas mentiras tão convincentes que toda a Panem acredita que ele é perdidamente apaixonado por mim, e, admito, há momentos em que ele me faz acreditar nisso? Pelo menos, seremos amigos, eu penso. Nada mudará o fato de que salvamos as vidas uns dos outros aqui. E além disso, ele será sempre o menino com o pão. Bons amigos. Qualquer coisa além disso, contudo... e sinto os olhos cinzentos de Gale observando eu observar Peeta, lá no Distrito 12. Desconforto me faz mover. Eu me aproximo mais e chacoalho o ombro de Peeta. Seus olhos se abrem sonolentamente e quando se concentram em mim, ele me puxa para um longo beijo. "Estamos perdendo tempo de caça," eu digo quando finalmente rompo o beijo. "Eu não chamaria isso de desperdício," diz ele se esticando bastante enquanto se senta. "Então caçamos de estômago vazio para nos dar uma vantagem?" "Nós não," eu digo. "Nós nos entupimos para nos dar poder de resistência." "Conte comigo," diz Peeta. Mas posso ver que ele fica surpreso quando divido o resto do cozido e do arroz e dou-lhe um prato completo. "Tudo isso?" "Nós ganharemos isso de volta hoje," eu digo, e ambos avançamos em nossos pratos. Mesmo frio, é uma das melhores coisas que eu já provei. Eu abandono o meu garfo e raspo os últimos
punhados de molho com o meu dedo. "Eu posso sentir Effie Trinket estremecendo com a minha educação." "Ei, Effie, veja isso!" diz Peeta. Ele joga seu garfo por cima do ombro e literalmente lambe o prato até ficar limpo com a língua, fazendo sons altos de satisfação. Então ele sopra um beijo pra ela e grita, "Nós sentimos sua falta, Effie!" Eu cubro a boca com a mão, mas estou rindo. "Pare! Cato pode estar logo do lado de fora de nossa caverna." Ele pega a minha mão. "O que me importa? Eu tenho você para me proteger agora," diz Peeta, puxando-me para ele. "Vamos," eu digo exasperada, desembaraçando-me do seu aperto, mas não antes que ele receba outro beijo. Uma vez que embalamos tudo e estamos do lado de fora de nossa caverna, o nosso humor muda para um sério. É como se, pelos últimos dias, protegidos pelas rochas e da chuva e da preocupação de Cato com Thresh, nos foi dado uma pausa, uma espécie de férias. Agora, embora o dia esteja ensolarado e quente, ambos sentimos que estamos realmente de volta nos Games. Eu entrego minha faca para Peeta, já que quaisquer armas que ele já possuíra se foram há muito, e ele desliza-as para seu cinto. Minhas últimas sete flechas - das doze eu sacrifiquei três na explosão, duas no banquete - chocalham um pouco perdidas na aljava. Eu não posso me dar ao luxo de perder mais. "Ele estará nos caçando agora," diz Peeta. "Cato não é um de esperar sua presa passar por perto." "Se ele estiver ferido-" eu começo. "Não importará," Peeta interrompe. "Se ele puder se mover, ele está vindo." Com toda a chuva, o córrego invadiu suas margens em vários metros de cada lado. Paramos lá para repor a nossa água. Eu verifico as armadilhas que montei dias atrás e fico sem nada. Não é de se estranhar com esse tempo. Além do mais, eu não vi muitos animais ou sinais deles nesta área. "Se queremos comida, é melhor voltarmos ao meu antigo território de caça," eu digo. "Você que manda. Apenas me diga o que você precisa que eu faça," diz Peeta. "Fique de olho," eu digo. "Fica nas pedras o tanto quanto possível, não há sentido em deixar-lhe pistas para seguir. E ouça por nós dois." Está claro, a este ponto, que a explosão destruiu a audição na minha orelha esquerda de vez. Eu andaria na água para cobrir as nossas pistas completamente, mas não tenho certeza se a perna do Peeta poderia aguentar a corrente. Embora os remédios tenham apagado a infecção, ele ainda está muito fraco. Minha testa dói ao longo do corte da faca, mas depois de três dias o sangramento parou. Eu uso uma bandagem em volta da minha cabeça, contudo, apenas no caso do esforço físico fazer ela voltar. À medida enquanto nos dirigimos ao lado do córrego, passamos pelo lugar onde eu encontrei Peeta camuflado nas ervas daninhas e lama. Uma coisa boa, entre a chuva e as margens inundadas, é que todos os sinais de seu esconderijo foram eliminados. Isso significa que, se for necessário, podemos voltar à nossa caverna. Caso contrário, eu não arriscaria com Cato atrás de nós. Os pedregulhos diminuem para rochas que eventualmente viram pedrinhas, e então, para meu alívio, estamos de volta para folhas de pinheiro e a inclinação gentil do chão da floresta. Pela primeira vez, percebo que temos um problema. Navegando pelo terreno rochoso com uma perna ruim - bem, você naturalmente irá fazer algum ruído. Mas mesmo na cama lisa de folhas, Peeta é barulhento. E eu quero dizer barulhento barulhento, como se ele estivesse pisando forte ou algo assim. Eu me viro e olho para ele. "O quê?" ele pergunta. "Você tem que mover-se mais silenciosamente,” eu digo. "Esqueça o Cato, você está espantando cada coelho em um raio de dezesseis quilômetros." "Sério?" ele diz. "Desculpe, eu não sabia."
Então, começamos de novo e ele está um pouquinhozinho melhor, mas mesmo com apenas uma orelha funcionando, ele está me fazendo pular. "Você pode tirar as suas botas?" eu sugiro. "Aqui?" ele pergunta ele incrédulo, como se eu tivesse lhe pedido para andar descalço sobre brasas ou algo assim. Eu tenho que me lembrar que ele ainda não está acostumado com a floresta que é o lugar assustador e proibido para além das cercas do Distrito 12. Eu penso em Gale, com seu piso de veludo. É assombroso o quão pouco som ele produz, mesmo quando as folhas caíram e é um desafio mover-se sem espantar a caça. Tenho certeza de que ele está rindo lá em casa. "Sim," eu disse pacientemente. "Eu também tirarei. Dessa forma, nós dois vamos ficar mais silenciosos." Como se eu estivesse fazendo barulho. Assim ambos nos livramos de nossas botas e meias e, enquanto há alguma melhora, eu poderia jurar que ele está fazendo um esforço para quebrar cada ramos que encontramos. Não é preciso dizer que, embora tenham se passado várias horas para chegar ao meu antigo acampamento com a Rue, eu não atirei em nada. Se a corrente se acalmasse, peixes poderiam ser uma opção, mas a correnteza ainda é muito forte. Enquanto paramos para descansar e beber água, eu tento encontrar uma solução. Idealmente, eu despejaria Peeta agora com alguma tarefa simples de coletar raízes e iria caçar, mas então ele ficaria com apenas uma faca para se defender contra as lanças e a força superior de Cato. Então o que eu realmente gostaria é tentar escondê-lo num lugar seguro, então ir caçar e voltar e recolhê-lo. Mas tenho a sensação de que seu ego não vai aceitar essa sugestão. "Katniss," diz ele. "Nós precisamos nos dividir. Eu sei que estou espantando a caça." "Só porque sua perna está machucada," eu digo com generosidade, porque, realmente, dá pra dizer que isso é apenas uma pequena parte do problema. "Eu sei," ele diz. "Então, por que você não segue em frente? Mostre-me algumas plantas para coletar e dessa maneira ambos seremos úteis." “Não se o Cato vier e te matar." Eu tentei dizer isso de uma maneira agradável, mas ainda soa como se eu achasse que ele é fraco. Surpreendentemente, ele apenas ri. "Olha, eu posso lidar com o Cato. Lutei com ele antes, não lutei?" É, e isso deu muito certo. Você acabou morrendo em uma orla de lama. É o que eu quero dizer, mas não posso. Ele realmente salvou minha vida ao lutar contra o Cato, afinal. Eu tento outra tática. "E se você subir em uma árvore e agisse como vigia enquanto eu caço?" eu digo, tentando fazer isso soar como um trabalho muito importante. "E se você me mostrar o que é comestível por aqui e ir nos buscar um pouco de carne?" diz ele, imitando meu tom. "Só não vá longe, no caso de precisar de ajuda." Eu suspiro e mostro-lhe algumas raízes para cavar. Nós precisamos mesmo de alimentos, sem dúvida. Uma maçã, dois rolinhos, e um pedaço de queijo do tamanho de uma ameixa não vão durar muito. Vou simplesmenter caminhar por uma curta distância e esperar que Cato esteja longe. Ensino-lhe um assobio de pássaro - não uma melodia como o da Rue, mas um assobio simples de duas notas - que podemos usar para nos comunicarmos que estamos bem. Felizmente, ele é bom nisso. Deixando-o com a mochila, eu saio. Eu sinto que tenho onze novamente, presa não à segurança da cerca, mas a Peeta, permitindo-me dezoito, talvez vinte e sete metros de espaço para caçar. Longe dele, porém, a floresta fica viva com sons de animais. Tranquilizada por seus assobios periódicos, permito-me derivar para mais longe, e logo tenho dois coelhos e um esquilo gordo para exibir. Eu decido que é o suficiente. Eu posso colocar armadilhas e talvez conseguir alguns peixes. Com as raízes de Peeta, isto será o suficiente por hora. Enquanto eu volto a curta distância, percebo que trocamos sinais faz um tempo. Quando o meu assobio não recebe nenhuma respostas, eu corro. Rapidamente, eu encontro a mochila,
um arrumado monte de raízes ao lado. A folha de plástico foi colocada no terreno onde o sol pode atingir a única camada de bagas que ela cobre. Mas onde está ele? "Peeta!" eu chamo em pânico. "Peeta!" Eu me viro para o farfalhar de folhas e quase mando uma flecha por ele. Felizmente, eu puxo meu arco no último segundo e fica preso em um tronco de carvalho a sua esquerda. Ele salta para trás, atirando um punhado de bagas na folhagem. Meu medo sai como raiva. "O que você está fazendo? Você deveria estar aqui, não correndo pela floresta!" "Eu encontrei algumas bagas correnteza abaixo," diz ele, claramente confuso com a minha explosão. "Eu assobiei. Por que você não assobiou de volta?" eu repreendo-o. "Eu não ouvi. A água está muito alta, acho," diz ele. Ele cruza e coloca suas mãos sobre meus ombros. É quando sinto que estou tremendo. "Eu pensei que Cato tinha te matado!" eu quase grito. "Não, eu estou bem." Peeta envolve seus braços em volta de mim, mas eu não respondo. "Katniss?" Eu empurro, tentando entender meus sentimentos. "Se duas pessoas concordam em um sinal, elas ficam por perto. Porque se um deles não responde, eles estão em apuros, está certo?" "Está certo!" ele diz. "Está certo. Porque foi isso que aconteceu com a Rue, e eu assisti ela morrer!" eu digo. Viro-me para longe dele, vou até a mochila e abro uma garrafa de água fresca, apesar de ainda ter um pouco na minha. Mas não estou pronto para perdoá-lo. Eu observo a comida. Os rolinhos e as maçãs estão intocados, mas alguém pegou definitivamente parte do queijo. "E você comeu sem mim!" Eu realmente não me importo, eu só quero algo pelo que ficar brava. "O quê? Não, eu não comi," diz Peeta. "Ah, e suponho que as maçãs comeram o queijo," eu digo. "Eu não sei o que comeu o queijo," Peeta diz devagar e claramente, como se estivesse tentando não perder a paciência, "mas não foi eu. Eu estive correnteza abaixo coletando bagas. Você gostaria de algumas?" Eu quero, na verdade, mas eu não quero ceder tão cedo. Mas eu ando até lá e olho para elas. Eu nunca vi esse tipo antes. Não, já vi. Mas não na arena. Estas não são as bagas da Rue, embora elas se pareçam. Também não são iguais as que eu aprendi sobre no treinamento. Eu me inclino e apanho algumas, rolando-as entre meus dedos. A voz de meu pai volta para mim. "Estas não, Katniss. Nunca estas. Elas são nightlock* . Você estará morta antes que atinjam o seu estômago." * a palavra ‘nightlock’ foi criada pela autora, usando a junção dos nomes ‘nightshade’ (jurubeba) + ‘hemlock’ (pinheiro do Canadá), ambas plantas extremamente venenosas. Bem então, o canhão dispara. Eu me viro bruscamente, esperando que Peeta colapse no chão, mas ele apenas levanta suas sobrancelhas. O aerobarco aparece a noventa metros, mais ou menos, de distância. O que sobrou do corpo emagrecido de Foxface é levantado no ar. Eu posso ver o brilho vermelho dos seus cabelos ao sol. Eu deveria ter sabido no momento em que vi o queijo desaparecido... Peeta pegou-me pelo braço, empurrando-me na direção de uma árvore. "Escale. Ele estará aqui em um segundo. Teremos uma melhor chance lutando contra ele de cima." Eu o paro, de repente calma. "Não, Peeta, ela foi matança sua, não do Cato.” "O quê? Eu nem sequer a vi desde o primeiro dia," diz ele. "Como eu poderia tê-la matado?" Em resposta, seguro as bagas.

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