Capítulo único





 


Subterfuge


Um corvo negro está impedido de sobrevoar os horizontes tortuosos que demarcam caminho até a lua. Ou até Luna, com todo brio e esplendor tão próprios de si, de luz branca que blinda ainda mais a visão deste cego por natureza. Aproxime-se, bela – não fique tão longe! –, pois quero para mim parte dessa claridade e a paz que brota de seus olhos sonhadores. Venha, querida menina, iluminar as íris escuras deste homem que se perde em cegueira incontinente. Faça com que inveje (ainda mais) você ou os que têm sua companhia, afinal meus desejos não deveriam nos afastar, mas nos unir como polos opostos de um ímã fabricado. Oh, sim, cobiço o que você é ou virá a ser. Invejo seu voo livre, pois minhas asas de corvo solitário estão quebradas pelas tempestades enfrentadas desde sempre. Restaram-me somente a postura altiva, o canto funéreo e o olhar vazio, métodos que utilizo para afastar todos de mim, inclusive você. E como isso me dói, pequena! Você, contudo, se mantém à parte do mundo com seus passos distraídos em direção a qualquer universo fantástico que sua mente idealize.


Ambiciono o imaterial em você, seu ser, sua aura angelical. Em resumo, preciso de sua essência avizinhando-se, pois é tudo que jamais serei ou vivenciarei. Nunca saberei ser romântico, pronunciar a palavrinha de quatro letras para mim é difícil demais (por que proferir ‘amor’ sufoca tanto?!), não tenho habilidades de conquistador ou atrativos físicos. Sou do tipo de homem que deveria interessá-la, pois a quero exatamente como é, o que em você é vício para os outros, para mim é virtude. Que posso fazer se você é minha última esperança de adoração? Invejo tudo e todos que você tem. Invejo o Potter por caminhar com você pelos terrenos de Hogwarts a alimentar testrálios, o Longbottom quando arranca um sorriso seu ou qualquer professor que está livre para conceder pontos à sua Casa por mérito seu; algo que nunca fiz. Diga – por favor, diga! – que não me odeia, se é que astros celestes travestidos de anjos podem odiar, antes que minh’alma se perca na noite outra vez. Mas, oh!, é a noite que você habita! Provavelmente numa delas que a conheci em todo seu esplendor...


Você é coberta por chama incandescente que não o fogo da luxúria. É brasa que não queima. Brilhe só pra mim, Luna! Se ousar fulgurar em outro espaço, já sabe que invejarei quem a contemplará. Nuvens, fiquem longe (tenho inveja e ciúmes de vocês aproximando-se dela!), pois também a ocultarão. E, anjo, se for para cair do céu, que seja em meus braços. Quando o amanhecer traz cor às paisagens, pergunto-me se vou morrer porque você se foi do céu, para passear por aí com outras estrelas (como as detesto!). Mas, Luna, nós nos pertencemos, por isso oro a qualquer divindade existente para que a noite retorne, pois nascemos para eternamente sermos um par de noctívagos que se complementam: um astro que ilumina e outro que precisa dessa luz.


Fim.


 


Tema (um dos sete pecados): inveja


Item: figura de linguagem (metáforas)


 



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Comentários (1)

  • Amanda Regiane

    Perfeita, Thai! Apaixonante do começo ao fim! Quero o Sev pra mim, comofaz? Parabéns! ♥ Sempre perfeita!

    2013-09-19
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