A namorada de Severo Snape

A namorada de Severo Snape



Hogwarts, 1975. Último trimestre. Os alunos presentes no salão principal observavam a cena que já tinha se tornado comum. Sean Avery segurava Narcisa Boggs antes que esta pulasse no pescoço da pequenina Helen Silver, que por sua vez era arrastada pelo irmão, Cameron, para a mesa da Lufa- lufa. Ao menos uma vez por semana a cena se repetia; e poderia ser ainda mais freqüente se as duas garotas da Sonserina estivessem no mesmo ano. A linda e mal-humorada loura de olhos claros - Narcisa - estava no sexto ano, enquanto Helen, com sua cara de enfezada habitual, estava no quinto. Desde que a menina entrara para Hogwarts, seu irmão, Cameron, perdia parte do seu tempo tentando aplacar a ira da garota. A tarefa era mais difícil porque se encontravam em casas diferentes: ironicamente, ele era da Lufa-lufa, casa desprezada pelos escolhidos de Salazar Slytherin.



Mas o sentimento que unia os dois era de uma intensidade maior que qualquer disputa entre casas e era normal ver Helen passar horas sentada à mesa da Lufa-lufa, conversando com algum dos amigos do irmão. De início ela não arrumava muitas brigas na Sonserina, convivia bem com os colegas de casa. As discussões só aconteciam quando algum dos colegas começava a falar mal de trouxas. Assim como alguns de seus colegas, casos raros na Sonserina, Helen era filha de um bruxo e uma trouxa e tais conversas irritavam-na profundamente. Os problemas de verdade começaram quando Cameron passou a fazer parte do time de quadribol de sua casa. O capitão do time da Sonserina, que na época era Lucius Malfoy, fizera uma falta tão grave no garoto que o deixou na enfermaria por semanas. A menina se doeu pelo irmão e aprontou seu primeiro barraco. Apesar dos três anos de instrução que os separavam (nessa época ela estava no 2º ano), Helen conseguiu fazer com que Malfoy se fizesse companhia ao seu irmão na ala hospitalar. A vingancinha trouxe junto a primeira detenção e a birra eterna de Narcisa, namorada de Malfoy.



Naquele dia a briga não era diferente: insultos, arranhões e puxões de cabelo. As duas aboliram os duelos com varinha desde a última detenção, em que tiveram que ajudar os elfos-domésticos a preparar o jantar de Dias das Bruxas enquanto todos se divertiam na festa. A confusão também acabava da mesma maneira, com Cameron levando Helen bastante contrariada para a mesa da Lufa-lufa e alguns amigos de Narcisa tentando acalmar a garota, agora que Malfoy não estudava mais na escola. Do outro lado do salão, na mesa da Grifinória, um grupinho de quatro rapazes do sexto ano comentava a briga:



- Será que elas não vão mudar de táticas nunca? Alguém precisa ensinar a Helen a dar um bom soco no olho... - Sirius, um garoto moreno de mais de quase 1m90, opinou.



- Então você tá do lado da baixinha? - Remo Lupin se mostrou interessado.



- Claro que não. Cê ta doido? Eu que não me meto em briga do lado de lá. - e apontou pra mesa onde tinha acontecido a confusão - Quero distância daquele povinho. Só acho que essas brigas tão começando a ficar muito sem graça... Elas tão perdendo a imaginação.



O garoto ao lado de Sirius sorriu enquanto limpava as lentes dos óculos. Tiago Potter era seu melhor amigo. Embora os quatro andassem sempre juntos, Sirius e Tiago tinham uma ligação mais forte, como se fossem irmãos. Então ele recolocou os óculos e se levantou:



- Bem, eu tenho Estudo dos Trouxas agora. Encontro vocês mais tarde, no almoço.



- Hmmmm... E aí? O esforço tá valendo a pena? Já aprendeu como conquistar a florzinha escarlate? - Sirius tirou uma com o amigo, que nutria uma paixão platônica por Lílian Evans, uma ruivinha do 5º ano da Grifinória nascida trouxa.



Tiago fez uma careta para o amigo e rumou para a sala de aula. Sirius voltou a olhar pra mesa da Sonserina.



- Que que houve? Mais briga? - Pedro, um garoto gordinho e baixo demais para seus 16 anos perguntou, notando o interesse do amigo retornar à mesa "inimiga".



- Nada. - respondeu Sirius com o olhar fixo em um dos alunos da casa verde e prata, um garoto de cabelos sebosos e nariz adunco chamado Severo Snape. - Nada. Vamos para a aula de adivinhação?



Os outros dois garotos acenaram com a cabeça afirmativamente e saíram do salão.



* * *



- Então vocês marcaram um encontro?



Sirius e Tiago caminhavam sozinhos em direção ao picadeiro onde costumavam ter aulas de Trato das Criaturas Mágicas.



- Não tem encontro nenhum, Sirius. Já te falei que só combinei de encontra- la depois da aula para irmos à biblioteca. Estou com algumas dificuldades em Estudo dos Trouxas e ela disse que podia me ajudar.



- Sei, dificuldades... Sabe que essa é uma boa estratégia? Mas a biblioteca, Tiago? Com a Madame Sandys regulando o volume de voz de vocês o tempo todo? Imagina então o barulho de um beijo de língua. - e começou a fazer ruídos que nem de longe se pareciam com um beijo.



Tiago queria protestar, mas acabou dando risada do amigo. Sirius tinha muita facilidade com as garotas. O próprio Potter tivera seus momentos de glória com as meninas, principalmente quando entrou para o time de quadribol, três anos antes. Mas desde que começara a gostar de Lílian as coisas deixaram de ser tão fáceis. Ele a achava incrivelmente bonita e se perguntava a todo instante como demorara tanto tempo para perceber que ela existia. Estavam a poucos metros do picadeiro, quando a menina lhe acenou. A aula estava quase terminando:



- Bem, para a próxima aula quero que façam um estudo detalhado sobre as quimeras. Ainda não tenho certeza de que poderemos fazer a aula prática, preciso de autorização do diretor e de uma parede invisível antiincêndio. - o Professor Kettleburn franzia as sobrancelhas, provavelmente imaginando o estrago que um monstro daqueles poderia causar.- Estão dispensados.



Lily deu uma última palavra às amigas e foi encontrar-se com os rapazes. Os olhos verde-esmeralda brilhavam tanto que poderiam ser vistos a uma distância considerável.



- Pronto, Tiago?



Ele respondeu com um aceno positivo de cabeça. Não sabia muito bem por que, mas ficava extremamente tímido perto da garota.



- Sirius também precisa de aulas de reforço?



- Não, que é isso, imagina... Eu nem faço Estudo dos Trouxas - e num tom de voz que só Tiago pôde ouvir - e estragar o momento Love Story de vocês, imagina...



Então quando o garoto ia começar a se afastar, uma cena o segurou por mais alguns instantes:



- Ei, aquela ali não é a Silver?



- É, sim. - Lílian respondeu - Essa aula é junto com o pessoal da Sonserina.



- Ela tá conversando com o Snape? - foi a vez de Tiago perguntar. - Eu achava que ela odiava a Sonserina inteira!



- Ah, não! Ela não é tão impopular assim. - a garota deu um sorriso suave. - O pessoal do quinto ano até que suporta ela bem. E o Snape tá sempre por aqui depois da aula. Se eu não me engano ele dá aulas de reforço em poções pra ela.



- Pelo visto essa desculpa tá na moda... - Tiago fuzilou Sirius com o olhar ao ouvir o comentário, mas Lílian parecia não ter entendido.



- Como?



- Nada, não! É que isso me deu uma boa idéia...



* * *



- Pois podem apostar no que eu digo: o Snape tá de olho na Silver. Isso se eles já não estiverem juntos, mas ninguém sabe ainda.



Os quatro garotos estavam agora reunidos na sala comunal. Remus Lupin, Tiago Potter Sirius Black e Pedro Pettigrew costumavam se sentar naquele canto escondido da sala para poder programar as aventuras e peças a pregar em seus inimigos. Desde o primeiro ano tinham uma forte aversão aos alunos da Sonserina - como os alunos de todas as casas, aliás - e, principalmente, a Severo Snape, que vivia se intrometendo nos assunto do grupinho.



- Não seria uma má idéia. - disse Lupin pensativo - Quem sabe um não dá jeito no mal-humor do outro?



- Dar jeito? Eles iam é formar o Casal Insuportável! - Pedro abominou a idéia.



- Tá, dane-se o resultado. Que é que isso tem a ver com a gente, Almofadinhas? Mas Pedro não deixou que Black respondesse:



- Tá na cara, Pontas. Vão ser azucrinação e intromissão em dobro!



- Não é nada disso, Rabicho. Na verdade eu tava pensando que nós poderíamos aprontar uma com o seboso através da namoradinha dele.



- Não tô gostando disso - Lupin era sempre o mais sensato. - A menina não tem nada a ver com o mau-caratismo do Snape.



- E você tá fazendo suposições. Nunca ouvi ninguém falar que eles estivessem namorando. Além disso, Snape era amigo do Malfoy: duvido que ficasse do lado da Silver contra a Boggs - completou Tiago.



- Mas é exatamente por isso que eles não revelam nada, entende? Se ele o interesse nela pra todo mundo, os amiguinhos dele, Avery, Lestrange, Mcnair, passariam a isola-lo, como fazem com a garota.



Lupin e Tiago olharam um para o outro trocando expressões: ambos achavam que o amigo estava louco. Sirius enfureceu-se:



- Estou lhes dando a chance de se vingar da última que Snape nos aprontou e vocês ficam fazendo pouco. Pois muito bem, se não querem me ajudar, eu vou fazer o serviço sozinho!



- Peraí, Sirius. Não é bem assim. - Tiago deteve o amigo - Detestamos aquele seboso tanto quanto você. Mas como é que você pretende fazer isso?



Sirius lançou um olhar maroto para os companheiros:



- Aulas de reforço!



* * *



Aluado, Rabinho, Pontas e Almofadinhas levaram quase um mês planejando tudo. Sirius queria uma vingança perfeita para as três noites de detenção que os amigos levaram por canta da intromissão de Snape em uma de suas armações. Para isso o plano seria meticulosamente articulado, para que toda e qualquer falha fosse evitada. Além do mais, não tinham certeza absoluta de que houvesse algo entre Helen Silver e Severo Snape; tudo não passava de suposições. O primeiro passo era colher os dados: Tiago ficou encarregado de conseguir informações sobre Helen com Lílian - ela devia saber alguma coisa, pois tinham algumas matérias juntas -; Lupin, que tinha uma admiradora na Lufa-lufa, cuidaria de determinar a influência do irmão sobre a garota, assim como o relacionamento dela com os alunos da casa, uma vez que Helen passava mais tempo com eles que com os sonserinos. Para Pedro sobrara a pior parte: vigiar a garota dentro da Sonserina.



- Por que justamente eu? - o rosto gorducho do rapaz estava vermelho de indignação.



- Ora, Rabicho, você sabe muito bem que é o único que conseguiria entrar na Sonserina sem que ninguém percebesse. Imagine se eu ou o Sirius tentássemos entrar em nossas formas de cervo ou cachorro... Agora, quem notaria um pequeno ratinho escondido nos vãos das camas?



- Um gato! Esqueceu-se que a Silver tem um gato? Eu não tô afim de morrer! Sou muito jovem.



- Um quarto de garotas, Rabicho. Imagina o que você vai poder ver... - Remo tentou fazer a tarefa parecer mais divertida.



- São sonserinas, Remo! E eu não gostaria nem de sonhar no que a Silver faria comigo se descobrisse que andei vendo coisas...



Sirius, que até então escutava em silêncio, começou a falar:



- Sabe, Tiago, eu estava pensando em trocar minha vassoura...



- Trocar a vassoura?! Mas você a comprou no ano passado! - Tiago replicou atônito com declaração de Sirius, esquecendo-se completamente do assunto Silver-Snape.



- É, mas eu li no Qual Vassoura que lançaram uma Silver Arrow especial para batedores. Com amortecedores de impacto, cabo menos escorregadio. Eu estava pensando em comprá-la e dar a minha Shooting Aster pro nosso amigo Pedro. - os olhos de Rabicho brilharam - Mas se ele tem medo de gatos e meninas de 15 anos, então também deve ter medo de altura, não acham? - e jogou o olhar cínico em cima da figura de Rabicho, que parecia que ia ter uma convulsão de tão indeciso.



- Eu-eu topo. Mas já vou avisando: a primeira investida que aquele gato esquisito der pra cima de mim, eu paro com a espionagem.



- Então acho que já está tudo acertado...



- Peraí, Black. Você ainda não falou qual vai ser a sua parte nessa história.



- Ora, eu fico no corpo-a-corpo. Vou falar diretamente com a garota.



Rabicho arregalou os olhos: Almofadinhas estava definitivamente louco.



* * *



- Silver, ei, Silver. - uma voz ofegante chamava a menina.



- Oh, é você. Não tinha te visto. Aqui estão...



- Depois, depois você me entrega - a voz cansada do garoto demonstrava que tinha corrido para alcançar a menina. - Eu-eu poderia te encontrar mais tarde?



- Claro! - ela sorriu com prazer. Se sorrisse com mais freqüência, talvez pudessem dizer que era bonitinha. Nada comparado à beleza de Narcisa, claro. - No lugar de sempre?



- No lugar de sempre.



* * *



Hogwarts entrava no penúltimo mês daquele ano letivo. O verão começava a dar mostras de que não tardaria a chegar e os alunos lotavam os jardins para aproveitarem as cores e os cheiros da primavera. Somente os marotos ainda desperdiçavam parte do tempo livre dentro da sala comunal, que nessa época costumava ficar vazia, perfeita para as conversas secretas dos rapazes:



- Bem, Lílian comentou que Silver é ótima aluna de Trato das Criaturas Mágicas. Inclusive, o gato de quem Rabicho estava com tanto medo não é um gato comum: é um shadowcat.



- Um shadowcat? - Remo estava admirado. - Eles são raros. A pelagem prateada dá a impressão de que podem ser facilmente notados, mas eles têm a habilidade de desaparecer nas sombras. E, ao contrário da maioria dos gatos, tem afeição pelo dono, não pela casa onde moram.



- Comem ratos do mesmo jeito, não vejo a diferença. - Rabicho emburrou a cara.



Sirius não lhe deu atenção: "Interessante! Trato das Criaturas Mágicas... E você, Aluado?"



- Nada que já não soubéssemos. É grudada no irmão e se dá muito bem com o pessoal da Lufa-lufa. A Margot me contou que a Annie Preston, namorada do Cameron, gosta muito dela e vice-versa; são bastante amigas. Mas o que mais me saltou aos olhos mesmo foi o fato de que a maior parte do pessoal da Lufa-lufa acha que o chapéu seletor errou na hora de sortear a casa de Helen, mas ninguém se atreve a dizer isso a ela. Parece que a Narcisa fez isso uma vez, quando as duas ainda usavam magia pra duelar, e o resultado não foi muito bom (o que exatamente aconteceu com a Narcisa fica por sua conta, leitor!).



- Casa errada, é? Com aquele gênio? - Rabicho parecia torcer o nariz para todas as informações obtidas pelos colegas.



- Ora, Rabicho, talvez você possa dizer então por que ela é uma verdadeira sonserina? Acompanhou ela durante todo o mês, não foi? - Sirius interpelou- o.



- É, foi, nos meus horários vagos... E quando eu conseguia achá-la. Ô menininha que gosta de sumir. Por vezes eu tava na cola dela, me distraía um nadinha pra comer um farelinho de bolo no chão e a danada sumia.



Os outros três faziam cara de que não estavam acreditando no que estavam ouvindo:



- É, Pontas, acho que você estava certo. Ainda não está na hora de trocar a minha vassoura.



- Peraí, esse não foi o acordo que fizemos...



- Com certeza, perder ela de vista não fazia parte do acordo. Não tem absolutamente nada de interessante pra contar? Não viu ela com o Snape nenhuma vez? Não assistiu a uma das tais aulas de reforço?



Rabicho emburrou outra vez. "Bom, o Snape raramente fala com ela. E geralmente tem mais gente na roda."



- Eu tô falando de olhares, seu mosca-morta. Será que você não viu nenhuma troca de olhares entre os dois? Algo do tipo, "me encontre lá fora"?



- Como é um olhar do tipo "me encontre lá fora", Almofadinhas? - Tiago arranjou tempo para tirar uma com o amigo, que não respondeu; continuou com os olhos negros fixos na figura redonda de Pedro Pettigrew:



- Não, não notei nada.



- Mas também, que estupidez a minha. Colocar logo você pra identificar se existe algo entre aqueles dois... - Black parecia bastante irritado.



- Ah, olha quem tá falando? Você não fez nada até agora.



- Lógico, estava esperando que vocês trouxessem as informações, para escolher a melhor maneira de agir. - e então, retomando a calma. - Mas nem tudo está perdido. As informações que Pontas e Aluado trouxeram podem facilitar a aproximação. Primeiro, vou freqüentar mais a mesa da Lufa-lufa. Assunto com o Cameron não me falta: vou perguntar a opinião dele sobre o time da Corvinal. Quadribol sempre dá bons papos. Quando sentir que dá, passo para a segunda fase: chegar perto da Helen. E já sei exatamente como fazer isso...



Os outros três fizeram cara de interrogação:



- Seguindo o exemplo do nosso Pontas aqui - e sorriu para Tiago. - Aulas particulares sobre Trato das Criaturas Mágicas.



- Isso não faz sentido... Você tá no sexto ano e ela no quinto. Querendo ou não você já sabe mais que ela...



- Eu me garanto.



- Tá, entendemos. Só que ainda tem dois pontos em que você ainda não pensou - disse Aluado. - O primeiro: e se você não for o tipo de cara que ela gosta?



Nesse momento entraram na sala comunal duas garotas do quinto ano. Sirius cumprimentou-as: - Olá, garotas!



- Olá! - as duas responderam entre risadinhas abafadas e subiram correndo as escadas que levavam aos dormitórios.



- Então qual é a outra dúvida? - perguntou Sirius com o semblante auto- confiante de sempre, após a resposta que ele não precisou dar.



- Bem, supondo que dê certo, e você consiga humilhar Snape tirando a namorada dele... É esse o seu plano, não é? - Black confirmou com a cabeça. - O que é que você vai fazer com ela depois disso?



Sirius não havia pensado nisso. "Sei lá! Isso não é importante!"



- É, sim. Pelo que eu pude perceber, ela pode não ter muito amigos na Sonserina, mas na Lufa-lufa tem... Você vai conquistar a inimizade de uma casa inteira!



- Mas, bem, eu não tô pensando em aprontar com ela. Eu dou um jeito, garanto. Nenhuma das minhas ex-namoradas me detesta! - e Black tinha tido várias desde que chegara a Hogwarts.



- É, pode ser. - Rabicho se intrometeu. - Mas nenhuma delas tinha o gênio da Silver.



- Fiquem tranqüilos. Eu vou me sair bem dessa. E o Snape vai sofrer a vingança mais doce de todos os tempos!



* * *



- Você entendeu direito, Rabicho? - Tiago Potter repassava o plano com o colega de casa que confirmou com a cabeça. Sirius e Remus vigiavam. - Bem, aí vêm elas. Pode se transformar. Agora!



Então, um pequeno e gordo rato branco entrou no corredor por onde seguiam três garotas; duas da Lufa-lufa e uma da Sonserina (adivinhem quem!). As duas primeiras gritaram e saíram correndo para o lado oposto de onde o rato vinha, mas a pequena Helen ficou olhando. Esperou que o bichinho chegasse mais perto e - vupt! - segurou-o pela cauda. As outras duas garotas olhavam- na com cara de nojo e os três meninos, ainda escondidos sob a capa da invisibilidade de Tiago Potter, acompanhavam a cena surpresos. "E agora? O plano furou...", Remo sussurrou para os amigos. Sirius tinha a cara mais perplexa de todos: jamais imaginara uma situação como essa. A garota continuava olhando o rato, como que o medindo, então uma das garotas que a acompanhava falou:



- Larga isso, Helen! Vai saber onde esse rato passou! - ao comentário da menina, Rabicho se balançou, tentando protestar.



- Na verdade, acho que ele pode dar um belo almoço pro meu gato. - Helen constatou.



Se o ratinho já tinha esperneado antes, agora então ele tentava de todas as maneiras soltar-se da mão da menina. Não precisou ficar nesse movimento muito tempo; Sirius saiu rapidamente (porém de forma discreta) de debaixo da capa da invisibilidade e tirou o amigo das mãos da aluna da Sonserina.



- Ei, de onde você surgiu? E me dá isso aqui. É o jantar do meu gato.



- E você pensa que pode sair dando os bichinhos de estimação dos outros de comida pro seu gato? - e olhando para o ratinho branco em suas mãos: "Você está bem, Rabicho?"



- Rabicho? Que nominho feio, hein? - ela olhou com desdém. - Não sabia que você tinha um rato. Devia tomar mais cuidado. Há muitos gatos circulando pela escola... - e voltando-se para as meninas: "Vocês duas vão continuar aí?"



Achando que finalmente o território estava seguro, com o rato no bolso de Sirius, as duas aproximaram-se:



- Puxa, obrigado por tirar essa coisa de perto da gente!



- É, você é muito corajoso! - Sirius conteve o sorriso de orgulho; seu plano tinha dado certo. Ou não?



- Corajoso?! - exclamou Helen. - Ele tirou o rato das minhas mãos. E além do mais o rato é dele. Você é um descuidado, isso sim. Olha só pra esse rato... Ele tem que fazer exercício, sabia? Se continuar com essa barriga e andando por onde bem entender, vai acabar virando comida. - e voltando-se outra vez para as garotas. - Vamos?



As duas olhavam um tanto frustradas pela indelicadeza e insensibilidade da colega. Elas estavam falando com Sirius Black, o batedor da Grifinória, um dos garotos mais bonitos e populares da escola. Sirius por sua vez, olhava incrédulo para Helen e, se não fosse de sua natureza raciocinar rápido poderia ter deixado aquela oportunidade passar:



- Escuta, Helen...



- Helen? - ela olhou desconfiada, só o irmão e alguns poucos amigos tratavam-na pelo nome. Normalmente todos chamavam-na de Silver. Sirius percebeu que tentara ser íntimo muito rápido e corrigiu:



- Silver... É que, bem, pelo visto você entende de animais... Quem sabe você não poderia me ajudar com o Rabicho aqui. Faz pouco tempo que ganhei, sabe? Presente de aniversário do Tiago. Não sei de onde ele tirou que eu devia ter um rato... De qualquer forma, não posso deixar o pobre coitado morrer, né? E aí, me ajuda?



A menina olhou outra vez para Pedro, que estava agora na palma da mão de Sirius. "Mas eu não entendo muito de ratos..."



- Quem leva jeito com um, leva jeito com todos. E percebi que ele gostou de você.



Uma das garotas da Lufa-lufa chiou:



- Ah, não parecia, não. Só faltou ele tentar morder a Helen. - mas Sirius consertou rapidamente:



- Ah, mas isso foi porque ela falou que ia dar ele pro gato dela comer. Qualquer um ficaria desesperado com um destino tão trágico - as garotas riram, mas Silver continuava concentrada no ratinho. Notando o interesse dela, o rapaz continuou: "E Tiago me disse que ele tem alguns poderes, só que eu ainda não conseguir descobrir quais."



- Ih, acho que ele tá enganado. Tenho certeza de que não é um rato mágico. - então Helen chegou mais perto do garoto. - Ele se parece com um rato comum, mas mesmo assim, não sei, tem algo de errado com ele. - os meninos começaram a entrar em pânico debaixo da capa. Será que ela conhecia animais tão bem assim? Ela continuou seu pequeno tratado sobre os primos de Mickey Mouse...



- Bem, deve ser um desses ratos dos laboratórios trouxas. Eles vivem fazendo experiências com os coitadinhos. - ela tomou Pedro delicadamente das mãos de Sirius e começou a acariciar o bichinho. - Tá, tudo bem, eu topo - e esboçou um sorriso, enquanto devolvia Rabicho para as mãos do suposto dono.



Sirius se animou: "E quando podemos começar?", disse olhando-a nos olhos. Ela desviou o rosto, sentindo-se incomodada. As amigas começaram a dar risinhos abafados.



- Sei lá, acho que depois da minha aula de poções eu tenho algum tempo livre. As duas últimas aulas de amanhã. A gente se encontra na biblioteca, pode ser?



- Claro! - Sirius continuava com o sorriso estampado no rosto: o resultado fora melhor do que imaginara.



* * *





Os encontros de Helen e Sirius foram motivo para muitas piadas entre os garotos do 6º ano da Grifinória. No entanto o alvo do deboche não era o batedor do time de quadribol, mas Pedro Pettigrew. Cada nova aula de como cuidar de um bichinho de estimação era uma experiência dolorosa para o coitado. A menina insistia que o rato estava fora de forma, e que deveria fazer exercícios. A primeira tentativa foi com uma pequena gaiola com um aro dentro (como aqueles que os trouxas usam para seus ramsters). Mas Pedro era muito preguiçoso e então Helen achou que deveriam tentar uma nova forma de incentivá-lo:



- Quem sabe colocando um pedacinho de queijo no alto da grade ele não dá uns pulinhos? - mas como Rabicho estava sempre muito bem alimentado com a comida de Hogwarts, continuava não se interessando pelas peripécias da garota para chamar sua atenção. - Desisto. Juro que não entendo. Achei que carregasse seu rato sempre com você. Já conversamos sobre isso - disse ela emburrada.



- E carrego! - Sirius olhou feio para o ratinho, que nem se incomodou.



- Pois, para mim, ele anda é passando muito tempo na cozinha do castelo. Se eu fosse você... - então ela parou de repente e abriu um sorriso como Sirius nunca vira igual - Já sei, me espere aqui.



Alguns minutos depois ela voltou carregando uma bola de pelos prateados. Sirius compreendeu de imediato e sorriu. Mas o pequeno animago, em sua forma de rato, já dava provas de que estava desesperado:



- Sirius, este aqui é o Eros. Pra quem eu ia dar o Rabicho de comida... Eu pensei que se o seu rato não quer ir atrás de comida...



- ...então seu gato pode fazer isso por ele, acertei?



- É. Prometo que ele não vai comer Rabicho, já passei as instruções.



- E quem me garante que ele te entende?



- Se isso acontecer, eu te compro outro. - Sirius sorriu para o amigo. Não podia deixar de achar aquilo tudo engraçado. - Mas ele nunca me desobedeceu antes.



- Ainda tem um problema... O castelo tem muitos cantinhos no qual Rabicho pode se abrigar e sem que seu gato possa alcançá-lo, Silver.



- Hmmm, tô vendo que você precisa de reforço em Trato das Criaturas Mágicas - disse ela em tom de desaprovação. - Eros é um shadowcat e se você prestasse atenção às aulas, saberia que eles podem desaparecer e mudar de tamanho nas sombras. A não ser que seu ratinho escolha um canto muito bem iluminado, meu gato pode alcançá-lo em qualquer parte do castelo.



- Então... - Sirius olhou mais uma vez para Rabicho que ainda estava dentro da gaiolinha.



Ora, Rabicho podia se safar dessa... Ele sorriu e abriu a portinha. Mas Pedro não saiu de dentro. Helen então colou o gato sobre a mesa, que passou a enfiar uma das patas por entre as frestas. De repente, Rabicho saiu desesperado pela portinha e "voou" por entre os cadernos e livros que estavam em cima da mesa. O gato de Helen o seguiu a toda, provocando alvoroço (ao contrário de Rabicho, que era pequeno, Eros saiu esbarrando e empurrando tudo o que encontrou pela frente). Helen levou uma advertência pela bagunça, fato que não a abalou nem um pouco; estava acostumada a advertências e detenções. Assim foram as outras aulas. Enquanto, Eros caçava Rabicho (que conseguia aumentar em alguns minutos seu tempo de fuga a cada aula); Helen e Sirius ficavam conversando. No início ela era meio ríspida no tratamento, mas Sirius realmente tinha jeito com as garotas. No final daquele mês, ele já a estava chamando pelo primeiro nome.

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