Ch 4 - Molly Weasley



Capítulo 4 - Molly Weasley
 


    2 anos atrás


    O garoto de cabelos negros e bagunçados, ainda magrelo - apesar de ter ganhado alguma definição muscular nesses dois anos como auror - e óculos levemente na moda - um presente de Gina - andava pelo Beco Diagonal sem se preocupar com a chuva fina que caía e o molhava inteiro.


    Estava leve e feliz. Tinha acabado de sair da Gemialidades Weasley e passado maravilhosos momentos com a namorada em uma das salas não acessíveis para clientes. Tinha sido... Perfeito. Maravilhoso. Como podia ele se imaginar algum dia novamente sem ela? Não podia.


    Uma semana atrás comprara a aliança. Faltava um momento certo, um cenário certo... Ele queria que o pedido fosse em uma surpresa tão perfeita quanto as que ela preparava para ele.


    Gina. Ia amá-la até o fim dos tempos, não tinha dúvidas disso. Nos três anos desde que tinham voltado a namorar, a amava cada dia mais e mais.


    _Ahhhhh!


    Um grito feminino não muito longe de onde ele tinha vindo. Harry não pensou duas vezes antes de tirar a varinha e voltar correndo na direção.


    _Shhh... Você precisa se acalmar, Wizley. Seus cabelos são tão lindos...


    Bem em frente as Gemialidades, um homem de estatura média e cabelos negros, de costas para Harry, falava com alguém que o auror não podia ver, mas não tinha dúvidas de quem era. Sua namorada.


    Como ele ousava fazer mal a ela? Quem ele achava que era? Não pensou duas vezes, nem sequer parar analisar o que acontecia. Apontou a varinha e gritou com ódio:


    _Estupore!


    O feitiço azul bateu nas costas do homem, que caiu estuporado imediatamente. A garota deu outro grito.


    _Harry! - Foi o grito de Gina.


    Mas o grito da namorada não veio de onde o homem estava, e sim de um local um pouco mais distante. Gina saia da porta das Gemialidades e olhava para o que estava acontecendo.


    De cabelos loiros e olhos azuis, com não mais que doze anos e na frente do homem estuporado, estava uma garota que Harry nunca tinha visto na vida.


 


 


    _Não adianta insistir, Harry, os pais não vão deixar a garota depor. O Stuart tem as costas quentes e eles estão com medo.


    Rony entrava na sala de interrogatório - o interrogatório normal e aprovado pelo Departamento de Execução das Leis Mágicas como o padrão a ser usado - onde Harry estava com o suspeito, que estava sob efeito de um feitiço de silêncio para não escutar a conversa.


    _Eu não posso nem imaginar o que ele ia fazer com ela, e eles querem deixá-lo sair livre, assim? - Falou irritado.


    O homem apenas olhava com um sorriso maníaco. Não tinha parado de sorrir um minuto sequer. Antony Stuart era o principal modelo das revistas de jovens bruxas, amado por nove em cada dez adolescentes, filho de William Stuart, o bruxo mais rico da Inglaterra.


    _Eles são pobres. E trabalham pro William. Talvez não seja só medo, talvez alguém já tenha pagado pelo silêncio deles. Não podemos fazer nada. Se tivéssemos o depoimento da garota ou você pudesse dizer algo a mais...


    O garoto-que-sobreviveu sabia. E se odiava por isso. O que ele tinha visto não provava nada, tinha agido muito rápido. O homem alegava que a garota tinha se assustado quando ele tinha a surpreendido com um "vu" de brincadeira, e que depois simplesmente a tentava acalmar.


    E ela se chamava Wizley, o que tinha confundido Harry. Era o primeiro nome dela. Stuart a conhecia, era filha de um funcionário do pai. O auror tinha o prendido ilegalmente, insistia, e quando o pai chegasse no Ministério se arrependeria disso.


    Harry olhou com ódio para o homem à sua frente. Desde que chegara ao Ministério tinha se deparado com situações como essa. Não tinha o que fazer, encaminharia o nome dele ao Departamento de Investigações e tentaria não pensar muito naquilo.


    Stuart apenas olhou ainda sorriso para Harry. E lambeu os lábios. O jovem auror soltou o homem com repulsa.


 


 


    Sequer duas horas depois recebeu pelo Escutador Falante - uma nova tecnologia que era testada pelos Aurores de Assalto, a elite de batalha do Ministério - um comunicando com a notícia que mudaria toda sua vida:


    A Toca tinha sido atacada. Molly Weasley estava morta.


 


 


    Ao chegar no local, não teria acreditado no que escutara se não fossem todos os bruxos estranho área e a garota correndo aos seus braços e preenchendo sua visão com cabelos ruivos. Gina chorava compulsivamente em seus ombros.


    _Harry... Oh, Harry... Minha mãe... Eu tava lá em cima... - E chorava, e soluçava.


    Rony aparatou vem em frente aos dois, e Harry viu quando o amigo correu para dentro da casa e um grito de angústia se fez ouvir.


    O garoto não sabia o que dizer. Apenas abraçou a namorada com força e afagou seus cabelos. Ficaram ali por vários minutos, ela alheia a todos os bruxos do Ministério - e um maldito repórter do Profeta Diário -, chorando e balbuciando coisas sem sentido nos ombros dele.


    Ele ia pegar o responsável, quem quer que fosse. Jurou para si mesmo, e deve ter falado em voz alta, pois sentiu o abraço da garota apertar e ela chorar ainda mais forte.


 


 


    Estava sozinho na cozinha com Rony e dois aurores do Departamento de Investigações - do qual o ruivo também fazia parte. Não deveria estar ali, mas uma permissão especial de Robert Gost, o Chefe do Departamento de Aurores, tinha dado ao Auror de Assalto o direito de fazer parte das investigações.


    _Não há traços de magia. Todos os feitiços protetores da casa estão ativos. A porta não foi arrombada. E a faca entrou pelas costas dela. Quem quer que tenha feito isso, era alguém que a Weasley confiava.


    Oito perfurações de faca pelas costas. Assim tinha morrido uma das mulheres mais formidáveis que Harry Potter já tinha conhecido, uma mulher que o acolhera no seio da própria família e que ele considerava quase como uma mãe.


    Uma faca, isso tinha matado Molly Weasley. Uma faca.


    Pensar naquela mulher forte e cheia de energia morrendo assim, sem sequer ter a chance de se defender... Era tão errado.


    Rony não falava nada. Apenas olhava para o corpo da própria mãe esticado no chão da cozinha.


    _Talvez o outro grupo tenha sorte rastreando as aparatações do lado de fora da área protegida, Rony - Harry falou sem muita convicção.


    Tinham pegado o depoimento de todos que tinham estado na área com registro de onde estavam antes de aparatar para a Toca. A esperança era conseguir rastrear a aparatação desconhecida de alguém. Mas era tanta gente que tinha ido e vindo... E mesmo que conseguissem rastrear, podia dar em qualquer local público ou isolado sem nenhuma outra pista para seguir.


    O pior de tudo era a sensação de impotência. Mais do que a senhora Weasley não conseguir se defender, Harry não tinha estado lá para ela. E agora ainda não podia fazer nada, só esperar os profissionais tentarem fazer algo. Ele salvara o mundo e ali estava, mais uma vez incapaz de proteger alguém que amava.


    Só então Hermione apareceu.


    _Rony - foi só o que falou antes de abraçar o noivo.


    E o coração de Harry se apertou ainda mais. A senhora Weasley não teria a chance de ver o filho mais novo se casar; o casamento estava marcado para daqui sete meses.


    Rony apenas continuou rígido enquanto Mione o abraçava. Mas o garoto-que-sobreviveu pôde ver a expressão do amigo ganhar um pouco de paz a mais.


    E sabendo que não podia fazer nada, foi cuidar daquela por quem ele ainda podia fazer algo: Gina.


 


 


    O assassinato de Molly Weasley foi capa do Profeta Diário, o que não era inesperado. A mulher que tinha derrotado Bellatrix Lestrange, braço direito de Voldemort, tinha sido assassinada com facadas nas costas dentro da própria casa.


    Mas o que Harry odiava mais na manchete - além da manchete em si - eram os comentários do "astro bruxo de maior sucesso de todos os tempos desde Harry Potter, Antony Stuart."


    "Se os aurores do Ministério não perdessem tempo prendendo inocentes no Beco Diagonal e realmente fizessem seu trabalho, esse tipo de coisa seria evitado."


    E sobre o fato de Harry Potter em pessoa estar nas investigações, "deve ser peso na consciência. Enquanto ele me perdia a mãe da namorada era assassinada na própria casa."


    Jogou o jornal no lixo com força, depois o queimou. Gina, que tinha dormido na casa dele aquela noite, não precisava ler aqueles absurdos. Mas em uma coisa Stuart estava certo: Harry não tinha estado lá para a senhora Weasley, preocupado demais remoendo o fato de ter que soltar Stuart.


 


 


    _Potter, tenho uma pista sobre Molly Weasley.


    Mesmo após dois anos sem escutar, soube de quem era a voz. E era uma das últimas do mundo que Harry queria ouvir falando o nome da senhora Weasley.


    Fazia mais de um mês desde o assassinato. Se virando para a porta da sala, Harry viu Draco Malfoy encostado na parede, as mãos no bolso, como quem não quer nada.


    Nunca o tinha visto no Ministério da Magia e não fazia ideia do que ele queria ali.


    _Não brinque com isso, Malfoy - Harry vociferou irritado, já apertando os pulsos e se preparando para atacar.


    _Tenho mais o que fazer que brincar com você, Potter. Um de meus... Associados, conseguiu um nome para você.


    Harry não ia entrar no jogo de Malfoy. Era isso que Sonserinos faziam, aproveitavam o momento de vulnerabilidade para atacar. Como na Batalha de Hogwarts.


    _Se você realmente tem informações, tenho certeza que o esquadrão que está investigando ficará feliz quando você contar para eles. Me deixe em paz.


    Malfoy não se moveu. Ao invés disso, sorriu. Harry sabia que não ia gostar da próxima coisa a sair da boca do rival. Não que já tivesse gostado alguma vez.


    _Algumas pessoas o Ministério da Magia não pode tocar, Potter. Pense em um jovem rico, famoso e com pai influente, por exemplo. O que aconteceria se alguém dissesse que ele, vamos dizer, esfaqueou oito vezes uma bruxa pelas costas, sem provas? Você acha que conseguiria permissão Departamento de Execução das Leis Mágicas para usar Veritaserum nele?


    Malfoy foi para a porta:


    _Ainda mais depois que um Auror de Assalto, a elite do Departamento de Execução de Leis Mágicas, acusou o pobre jovem de assediar uma garota em plena luz do dia? - E então ele saiu da sala.


    Harry ficou algum tempo estático, apenas olhando para a porta.


    Isso não fazia sentido nenhum. O que Antony Stuart ganharia com o assassinato de Molly Weasley?


    Isso era uma rixa pessoal contra Harry?


    Não, ele não poderia ser tão mesquinho... Poderia?


    Não, só podia ser uma armadilha de Malfoy. Ele sim, seria mesquinho o suficiente. Tinha sido salvo por Harry e provavelmente ainda pensava em alguma humilhação escolar. Sim, só podia ser isso.


    Voltou a trabalhar.


    Mas meia hora depois estava de capa de invisibilidade e uma bota especial para evitar sons de passos na porta da casa de Antony Stuart.


 


 


    Stuart estava limpo. E foi isso que fez Harry desconfiar. Limpo demais.


    Por uma semana o rapaz da mesma idade do auror não fazia mais nada do que ir para o trabalho, tirar algumas fotos, e voltar para casa.


    Era uma bela e enorme casa, à beira do Atlântico, com uma vista maravilhosa e uma magia para deixar o clima mais tropical. Além do mar tão próximo, uma grande piscina, eletrodomésticos trouxas - o que surpreendeu Harry -, sala de musculação - onde Stuart passava algumas horas do dia cuidando do corpo - e incontáveis belas moças que vinham quando o astro não mais que mandava uma coruja.


    Esse não era o perfil do homem que tentara assediar uma garota em pela luz do dia. Malfoy estava certo nisso. Ele era bom. Um sociopata perigoso.


    Harry sabia que estava deixando aquilo virar uma obsessão.


    Durante esses sete dias não saiu do lado do homem sequer uma vez, exceto quando ele se divertia com suas mulheres.


    Gina deveria estar preocupada, mas era para o bem dela que ele fazia isso. Para vingar a mãe dela.


    E para conseguir algum tipo de absolvição pelo que tinha acontecido graças a ele prender e soltar esse homem na sociedade. Graças a uma vingança que era direcionada a Harry.


    Ele não sabia como sabia aquilo. Era aquela certeza absoluta, aquela sensação de intuição. Aquele algo errado que rondava seus pensamentos cada vez que notava o quão perfeita era a vida do garoto.


    Como se ele soubesse que estava sendo observado.


    Foi só então que Harry entendeu:


    Stuart sabia de alguma forma que o auror estava observando cada ação sua. Era a única explicação possível.


    Como?


    Malfoy.


    Isso tudo era apenas mais uma brincadeira estúpida de Malfoy.


    Ele tinha sumido do mundo por sete dias graças a palavras do seu rival, tinha se deixado ser controlado em um momento de fraqueza, tinha se tornado obcecado com um ator que era sim um criminoso, e um da pior espécie, mas não um assassino.


    Malfoy tinha manipulado Harry.


    Estava saindo da sala de musculação, onde o astro malhava pela segunda vez do dia, e teria ido direto procurar o rival se não fosse por um detalhe:


    Pela primeira vez, o telefone tocou.


    Pegando um controle remoto que Harry não tinha notado antes - o que era uma falha terrível -, Stuart apertou um botão e falou:


    _Alô.


    A voz da resposta saiu de um alto-falante no canto da sala:


    _Potter está de volta ao Ministério.


    Stuart imediatamente saiu do aparelho que usava:


    _Finalmente. Não aguentava mais essa babaquice toda.


    _O senhor devia ter acusado ele de perseguição e acabado com a carreira dele.


    _Eu posso destruir a carreira dele quando quiser, ele é passado, eu sou o novo herói do povo. Você não entende o prazer de saber que ele estava aqui, respirando o mesmo ar que eu, se corroendo de dúvidas. E agora ele deve estar na sala dele se arrependendo de ter desconfiado de mim.


    _Não, eu não entendo. Mas temos um problema.


    Stuart tinha chegado na cozinha e pegava uma garrafa de água. Tinha altos falantes por toda a casa:


    _O que é?


    _Ainda não sabemos quem abriu a boca.


    _Você não disse que o Ralph tinha desaparecido?


    _Foi alarme falso. Usamos Veritaserum para confirmar. Ele foi encontrar a tia na Alemanha. A tia também confirmou a história sob efeito da poção da verdade.


    _Encontre o desgraçado que me traiu, e encontre rápido.


    _Sim, senhor. Mais alguma coisa?


    Bebeu água, com calma e então respondeu:


    _Como estão minhas queridas?


    _Sentindo sua falta. Estão em abstinência como você mandou.


    Stuart sorriu, um sorriso que Harry só tinha antes visto em Lestrange. Loucura, desejo de sangue, poder.


    _Ótimo. Elas vão se jogar aos meus pés e implorar para eu as possuir em troca da droga. Prepare uma pequena quantidade, estou indo visitá-las.


    O auror sentiu um embrulho no estômago, mas não foi nada comparado com o que viria a seguir.


 


 


    Em uma casa normal, às margens do rio Tâmisa, Harry nunca entendeu como não vomitou quando viu a cena à sua frente.


    Eram sete garotas, em estados deploráveis, implorando por coisas ainda mais deploráveis em troca do que chamavam de "docinho".


    Stuart tinha se encontrado com um capanga na porta que dera a ele alguns comprimidos.


    Harry chamou reforços pelo Escutante Falador o quanto antes, mas ainda teve de presenciar quando Antony as entregava a própria varinha e, ao invés de atacar o sequestrador - para dizer o mínimo - desarmado, elas faziam os truques de magia que ele pedia em troca do comprimido.


    Se controlou para não simplesmente prender o jovem. Malfoy, infelizmente, estava certo. Só com a palavra de Harry, que já tinha prendido Stuart "injustamente", o rapaz estaria de volta às ruas em alguns instantes. Claro, haviam as garotas, mas quem sabe o que os pais delas poderiam dizer para proteger o astro?


    "Elas estavam apenas em uma casa para jovens modelos aprendendo com ele, não sabíamos das drogas. Mas não queremos que elas deem depoimentos."


    E nisso Stuart alegaria que o vigia dava as drogas sem conhecimento dele, e pronto, Harry era um vilão perseguidor e o rapaz começaria outro show de horrores em outro lugar.


    Ou um processo se iniciaria para o Ministério conseguir que elas prestassem depoimento mesmo sem permissão dos pais, mas até sair a decisão, Antony Stuart já teria sumido do mapa.


    No quarto, as garotas, quando conseguiam um dos comprimidos, tomavam e iam para uma das camas de palha, entrando em algum tipo de êxtase.


    No momento em que a última recebeu a droga, Harry se preparou para atacar o rapaz. Dane-se as consequências, não ia deixar ele abusar delas.


    Mas o que ele fez foi ainda mais irreal.


    Ele foi até uma delas, se ajoelhou, e mordeu a garota no pulso.


    Ela deu um gemido de prazer enquanto ele se afastou e apenas observou o sangue - e a vida - dela escorrer do corpo.


    Ele era imundo.


    Harry não se aguentou. Chegou a levantar a varinha quando a porta de vidro que dava para uma varanda se quebrou e dois aurores passaram por ela. Estuporaram o rapaz imediatamente.


    O garoto-que-sobreviveu jogou a capa de lado e se ajoelhou ao lado da garota, curando a ferida e olhando para ela sem saber o que fazer.


 


 


    _Declaramos Antony Amadeus Stuart inocente de todas as acusações.


    Não. Harry não podia acreditar naquilo.


    Os detalhes do julgamento eram secretos - uma anormalidade, já que era um caso civil, mas conseguido de alguma forma - e apenas a decisão do Wizengamot tinha sido feita em uma audiência pública.


    Mais de trinta pessoas se espremiam na porta do tribunal para ver o veredito do julgamento da década e o burburinho foi imediato. Foi quando sentiu uma mão no bolso. Tentou a segurar, mas foi lento demais.


    Quando foi conferir se algo tinha sumido, encontrou um recado:


    "Corredor da direita. Esquerda. Direita. Direita. Agora. Molly Weasley."


    Seguiu o caminho.


    Tudo que pensava era que era uma armadilha, mas com a varinha na mão, torcia para ser mesmo. Precisava descontar sua raiva.


    Assim que virou o último corredor viu Malfoy.


    _Olá, Potter.


    Apontou a varinha:


    _Me dê um só motivo para eu não te prender agora, Malfoy.


    O rival pareceu sinceramente surpreso:


    _Me prender? Sob qual acusação? Não que eu acho que eu vá ficar preso, seus prisioneiros tem um belo histórico de permanecerem livres.


    Se segurou para não usar um feitiço explosivo no focinho do ex-Sonserino.


    _Você sabia de Stuart. O que mais será que você não sabe?


    Malfoy mostrou os dentes, em um sorriso e desafio:


    _E imagino que me prender vai me fazer falar tudo? Você continua tão idiota quanto antes, Potter. Você quer ou não saber o que tenho a dizer?


    Harry não respondeu. Malfoy suspirou:


    _Tem uma maneira de Stuart confessar. Legalmente.


    _Na última vez que conferir, a maldição da dor não era exatamente legal, Malfoy.


    _Ótimo piada. Deveria seguir carreira como comediante. Grandes chances de ser melhor do que a sua de auror.


    Harry bufou. Malfoy tirou uma pasta das vestes e jogou no chão:


    _Aqui estão os detalhes jurídicos e operacionais. Se você decidir ir adiante...


    O moreno mal acreditou quando viu Malfoy retirar uma máscara dourada das vestes e colocar no rosto.


    _...estarei no Departamento de Mistérios. Apenas diga "oitenta e um" na porta e espere.


    Quando o Inominável passou ao lado do Auror, ambos se olharam nos olhos e viram profundo ódio no fundo deles.


    O ódio de Harry logo seria liberado no mundo.


 


 


    Depois de ler o documento, Harry foi direto a Kingsley, que fingiu ler e disse que tudo fazia sentido, e nada mais que isso. Foi a permissão que o auror precisava.


    Raptar Antony Stuart foi a parte mais fácil. Colocá-lo para dentro do Ministério, mesmo com a Capa da Invisibilidade, um pouco mais complicado, mas não impossível.


    Agora, sob a cadeira especial e trabalho de um trouxa, Stuart despejava segredos tão horripilantes que dessa vez Harry tinha vomitado. Duas vezes. Em cinco minutos.


    As garotas viciadas eram apenas a ponta do iceberg. Stuart as matava sob efeito da droga e isso era a sensação mais prazerosa de todas para elas, que invejavam os corpos das amigas; ele não permitia que elas se matassem.


    Assassinatos e uma rede de corrupção que atingia até mesmo o Ministério e membros do Wizengamot - o que explicava a absolvição - era comum para ele.


    Mas ele não conseguiu o ódio no assassinato de Molly Weasley.


    Tinha entrado na casa usando seu status de astro jovem e dizendo que estava ali para fazer a filha da casa famosa - como tinha feito várias vezes e se aproveitado da esperança de mães e ingenuidade de jovens bruxas - e tudo ia bem até ela entrar na cozinha para fazer chá.


    Por sorte ele tinha ido atrás. O relógio da cozinha marcava, não só para Molly como para Gina, Perigo Mortal.


    _Antes que ela pudesse fazer algo, a matei com a própria faca. Mas eu queria era a outra! A que eu tinha visto no Beco Diagonal! Como ela ousa ter ficado no caminho de Antony Stuart! Como! Como!
   
    Ele gritava, visivelmente perturbado, até que uma ação do trouxa o fez se acalmar e olhar para Harry:
   
    _E se eu não tivesse que ter matado ela, teria me vingado dela, como me vinguei de você, Harry Potter. Seu tempo passou! Volte para as sombras! O mundo bruxo precisa de um novo astro, eu!


    Ele tinha ido atrás de Gina. Para se vingar de Harry.


    Molly Weasley tinha morrido por causa dele.


    Por causa do trabalho dele.


    Stuart não merecia viver. Não depois de tudo que ele tinha dito. Não sendo o que ele era. Era um verme, uma doença infectando o mundo, que precisava ser erradicada.


    Quando apontou a varinha para o homem, a inocência de Harry Potter desapareceu no primeiro assassinato de sua vida:


    _Bombarda!


    A cabeça explodiu em milhares de pedaços de sangue, osso, pele, carne e cérebro.


    _Argh - reclamou Malfoy.


    O torturador trouxa vomitou.


    Harry não se importou. Era natural que aquele homem tivesse feito mais sujeira ao morrer. Era tudo que ele fazia. Sujar o mundo.


    E Harry limparia tudo.


 


 


    Na próxima semana o auror levaria mais de uma pessoa para a mesma cadeira, e dali elas sairiam para um julgamento secreto e seriam condenadas.


    As duas primeiras foram membros do próprio Wizengamot, que por causa do escândalo que fariam ao irem para Azkaban, foram sentenciados não-oficialmente a desaparecem em uma vala rasa, felizmente não por Harry.


    Ele, ainda que se focando no trabalho, não se sentia o mesmo. Teve febre forte, teve pesadelos e tremedeiras no meio da noite.


    Gina cuidou dele, e ele eventualmente contou tudo para ela, que desapareceu por duas semanas antes de voltar e fazer Harry prometer que nunca mais mataria alguém.


    Ele prometeu e se sentiu o homem mais sortudo do mundo quando sentiu novamente os lábios dela nos dele.


    Mas ele já tinha matado a mãe da garota.


    Como tinha matado seus pais. E o padrinho. Já tinha superado isso, mas era tudo muito claro agora. Ele continuava espalhando a morte ao seu redor.


    Soube naquele momento, naquele beijo, que nunca seria capaz de pedir Gina em casamento. Nunca poderia colocá-la ainda em mais perigo por causa dele.


    Pelos próximos dois anos não veria novamente a caixa da aliança até Gina desaparecer dentro da casa dele.


    E decidiu que a salvaria.


    E que depois, para o bem de todos que amava, tiraria a própria vida.

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