Uma noite qualquer



Scorpius deixou que a água quente do chuveiro caísse sobre sua nuca, massageando-a. Estava tenso, seus músculos formavam pequenos nós entre os ombros e o pescoço. Pensou em pedir uma massagem mais tarde, quando tivesse finalmente resolvido o assunto que fora resolver. Dependendo de como as coisas saíssem, nem precisaria incomodar a massagista do hotel, mas ele definitivamente não estava disposto a se precipitar.


 


Desligou o chuveiro e vestiu um roupão felpudo com o emblema do hotel bordado em dourado e vermelho. Abriu a mala com poucas opções de roupa que trouxera e escolheu um jeans e uma camisa preta de mangas compridas. Vestiu-se rapidamente e calçou suas velhas botas de combate, como costumava chama-las quando era mais jovem. Secou os cabelos loiros com uma toalha e censurou, mentalmente, seu desleixo por permitir que tivessem crescido mais que o normal.


 


Antes de sair, deu uma boa olhada no espelho. A barba estava por fazer, mas ainda estava rala. Resolveu não perder tempo com aquilo. Pegou sua varinha e colocou no bolso de trás do jeans (apesar de achar que não precisaria dela na Nova York dos trouxas), vestiu sua jaqueta preta de couro e saiu, trancando a porta do quarto.


 


Saltou do elevador diretamente para o bar do hotel. Sentou-se em um banco próximo ao balcão e pediu um Whisky. Olhava impacientemente o relógio que trazia no pulso. Talvez tivesse chegado cedo demais ao local marcado, mas era melhor assim. Devia estar uns cinco anos atrasado para aquele encontro, não queria perder nem mais um segundo.


 


Tomou seu primeiro Whisky em apenas três goles. A bebida desceu queimando sua garganta. Pediu mais uma dose ao barman. Olhou novamente no relógio. 17h30min. Ela estava atrasada. Enquanto apreciava seu drinque, ia gradualmente, perdendo as esperanças. “Ela não vem” foi o que pensou quando engoliu a última gota de sua bebida. Se ela não vinha, não havia motivo algum para permanecer ali.


 


Então ele retirou, desanimado, sua carteira preta do bolso interno da jaqueta, abriu-a e depositou uma nota de cinqüenta dólares sobre o balcão. Deu as costas para o bar sem se preocupar com o troco, afinal, que diferença faria aquele dinheiro trouxa? Aliás, que diferença faria qualquer dinheiro? Ela havia desistido do encontro. Havia desistido dele definitivamente.


 


Derrotado, atravessou o restaurante em direção à saída. Quando chegou ao hall de entrada do hotel sentiu aquele perfume inebriante que reconheceria em qualquer lugar do planeta. O perfume dela. Imediatamente encheu-se de esperança. Talvez ela não houvesse desistido. Então, uma voz, que ele reconheceu não pelo ligeiro sotaque britânico, mas pela doçura e suavidade, chamou seu nome.


 


Naquele instante uma chama se acendeu dentro dele e, reunindo toda a coragem que possuía e mais um pouco da que adquirira com as três doses que bebera no bar, virou-se para encarar a dona da voz que dissera seu nome com tanto entusiasmo.


 


Era ela quem vinha correndo desajeitada ao seu encontro. Trazia nos lábios um sorriso indescritível, cheio de alegria. Seus cabelos presos em uma trança mal-feita balançavam contra o vento que a corrida provocava e Scorpius não pôde deixar de rir da forma como ela segurava o cachecol colorido de lã e o sobretudo preto, contra o corpo.


 


Finalmente eles estavam frente a frente. Durante um longo minuto, permaneceram em silêncio, apenas se observando. Scorpius percebeu que ela estava sem os óculos com os quais ele tanto implicara quando os dois estudavam juntos. Sempre achara que sem os óculos, a beleza dos olhos cor de mel dela era favorecida.


 


Ela por sua vez, achou-o com um ar mais maduro apesar daquele visual de rebelde oitentista que insistia em usar. Achou inclusive que aquele cabelo sem corte e a barba por fazer conferiam a ele um charme todo especial. Sentiu seu coração palpitar quando viu que a jaqueta que ele usava era a jaqueta, a mesma de tantos anos atrás.


 


Após o tempo de reconhecimento mútuo, ela aproximou-se dele e estendeu-lhe a mão. Scorpius sorriu gentilmente e apertou a mão da garota. Sentiu um arrepio perpassar por todo seu corpo em resposta àquele gesto, àquele simples toque.


 


-Olá – ela cumprimentou-o, sorridente.


 


-Olá, Rose.- respondeu-lhe, tentando conter a felicidade de vê-la novamente.


 


-Estava indo embora, Malfoy?- perguntou a garota.


 


-Não, eu...-pensou em dizer que ia apenas pegar as chaves do carro que esquecera no quarto, mas como não tinha carro algum e ela sabia disso, teve de dizer a verdade. – É, estava indo embora. Achei que você não viesse.


 


-Eu sempre fui quando você me chamou. Por que seria diferente agora? – Rose perguntou com certa acidez na voz.


 


Malfoy não respondeu. Ela estava certa, sempre atendera a seus chamados e quando partiu deixou claro que iria a seu encontro quando decidissem que havia chegado a hora. Ele não tinha motivos para pensar que ela desistira. Fora um tolo e não havia o que dizer a ela.


 


-Desculpe pelo atraso. – disse a ele, com o olhar suplicante. – Fiquei presa no trabalho...  Sabe como é, minha chefe é um monstro e eu devia estar aqui há tempos se não fosse por ela...-desandou a falar, como se o pedido de desculpas não fosse suficiente.


 


-Tudo bem. Não se preocupe com isso. Eu é que devo desculpas por achar que você tinha desistido. Sempre fui assim, meio...impaciente.- disse, apesar de achar que a palavra que melhor o descrevia fosse: inseguro.


 


Em resposta, Rose abriu um daqueles estonteantes sorrisos espontâneos que eram característicos dela. Malfoy achou que não conseguiria conter o tremor que se propagava por seu corpo.


 


-Então, vamos tomar um drinque ou o quê? – ela perguntou insegura.


 


-Acho que bebi o suficiente para nós dois enquanto esperava por você.


-Pelas barbas de Mérlin, demorei tanto assim? Espera, a que horas você desceu para


 me esperar? – perguntou espantada.


 


-Digamos que cheguei trinta minutos antes da hora marcada.


 


-Isso tudo foi medo de...se atrasar?


 


-Isso tudo foi medo de deixá-la esperando por mais tempo.


 


-O que seria meia hora para quem esperou por... o quê, cinco anos? –ela disse com o ressentimento explicito na voz. – Mas então, o que sugere que façamos? – perguntou, fazendo uma careta de dúvida.


 


-Por que não jantamos em algum lugar? – sugeriu, sem perceber o quão sedutoramente fizera o convite.


 


-Jantar é uma ótima opção. Estou mesmo faminta.


 


-Conhece algum lugar decente, Weasley?


 


-Conheço lugares que você julgaria decentes, mas se quer saber, detesto todos eles.


 


-Sabia que diria isso. Sempre tão satisfeita em ser do contra, não é, ruiva?


 


-É o maior prazer da minha vida.


 


-Imagino mesmo que seja; por isso leve-me aonde desejar. Só quero estar...com você.


 


-Mesmo se formos a um restaurante vegetariano? Nada de massa e muita comida saudável? – Rose provocou por saber da aversão que ele tinha à uma alimentação decente.


 


-Adoro comida saudável. – respondeu irônico.


 


-Certo, você vai comer a melhor lasanha da sua vida.-ela disse, ao perceber que ele iria mesmo a qualquer lugar desde que estivesse em sua companhia.


 


-Graças a deus! – exclamou satisfeito, levantando as mãos para o céu, por não ser obrigado a comer hambúrguer vegetariano ou toffu.- Obrigado!


 


-Só preciso saber se tenho todos os ingredientes.


 


-O que? Você vai preparar o jantar? Sabia que era uma cilada! Sabe, já disse que não me importo de comer em um restaurante vegetariano. - brincou.


 


-Não seja bobo, sei que vai adorar minha comida.


 


-Está insistindo demais. Quer me envenenar, não quer?


 


-Como adivinhou? – perguntou soltando uma deliciosa gargalhada em seguida.


-Bem, essa noite vai ter de valer a pena.


 


-Pode apostar que vai. Meu apartamento tem um vista incrível. Acho que dá pra encarar meu jantar só por causa dela.


 


Malfoy encarou-a por um instante, fez uma careta de dor e respondeu:


 


-Está bem, não tenho nada a perder mesmo...


 


-É assim que se fala. Sempre tive certeza de que é um rapaz corajoso. – brincou – Vamos.


 


Então Rose passou seu braço por entre o dele e conduziu-o até a saída. Os dois caminhavam juntos como fizeram há alguns anos e sentiam-se conectados como se jamais tivessem se separado.


 


Enquanto era conduzido por Rose, Malfoy remoia alguns pensamentos. Ela disse que sempre tivera certeza que ele era um cara corajoso, mas ele discordava inteiramente. Se ele fosse realmente corajoso, jamais teria deixado-a partir. Jamais teria permitido que suas famílias atrapalhassem suas vidas. Se fosse mesmo um homem de coragem, teria corrido atrás do que queria muito antes, sem se preocupar com julgamentos e outras coisas.


 


Para Rose, era inexplicável a sensação de caminhar novamente ao lado de Scorpius. Uma felicidade fora do comum apossava-se dela quando estavam juntos. Ficou imaginando como teria sido sua vida se não tivesse ido embora de Londres, se não tivesse ouvido seu pai e se mudado para os Estados Unidos...


 


-Hey, Rose, onde vamos aparatar? – Malfoy perguntou, trazendo-a de volta para o mundo real, onde ela tinha ouvido os conselhos do pai e morava em um apartamento enorme em um luxuoso prédio de Nova York.


 


-Não vamos aparatar. – respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


 


-E como vamos chegar a sua casa? –ele perguntou, confuso.


 


-Táxi, meu caro, pegaremos um táxi.


 


Na porta do hotel, inúmeras pessoas embarcavam e desembarcavam em veículos amarelos. Os famosos táxis de NY. Em questão de segundos, ele e Rose já estavam dentro de um e a garota indicava o endereço ao motorista.


 


Dez minutos depois os dois estavam saltando do veículo amarelo, em frente a um belo prédio residencial. Rose entrou e cumprimentou educadamente o senhor que cuidava da portaria. Os dois entraram no elevador e ela procurava as chaves dentro da bolsa. Quando a porta se fechou diante deles, Malfoy falou:


 


-Qual é seu andar?


 


-Décimo. –ela respondeu ainda concentrada em achar as chaves.


-DÉCIMO ANDAR!-Malfoy repetiu em voz alta, esperando que o elevador saísse do lugar.


 


-O que está fazendo? – Rose perguntou assustada.


 


-Anunciando seu andar... – respondeu com naturalidade.


 


-Ah, esqueci que você não sabe como é... Aqui é diferente, você precisa apertar esses botões do painel aí na sua frente. – disse, fazendo por ele e rindo divertida em seguida.


 


-Essas coisas trouxas são tão...complexas. – Scorpius resmungou, fazendo-a se lembrar do pai, que também achava as coisas trouxas demasiadamente complicadas.


 


Mais uma vez Rose sorriu para ele, mas os dois permaneceram o resto da subida em silêncio. Cada um pensando em como seria sua vida se tivessem feito escolhas diferentes, se tivessem escolhido um ao outro.


 


Com um leve solavanco anunciando a chegada ao andar de destino, o elevador abriu as portas e os dois passaram por elas sem emitir um único som. Ao pararem à porta do apartamento de Rose, a garota brincou um pouco:


 


-Preparado? – perguntou já com a mão na maçaneta, pronta para abrir a porta.


 


-Claro que sim. – respondeu, por mais que não estivesse muito certo sobre isso.


 


Imediatamente, Rose abriu a porta e fazendo uma reverência, intimou-o a entrar. Malfoy ficou estarrecido por alguns instantes. A sala era enorme e espaçosa. Havia um sofá preto de couro no canto, uma mesinha de vidro no centro entre o sofá e alguns pufes coloridos espalhados pelo chão. Havia alguns quadros dispostos com estilo pelas paredes e dois deles ele reconheceu imediatamente. Eram fotografias que ele havia tirado.


 


-Devo interpretar esse seu queixo caído de que forma? – Rose perguntou, com aquele tipo de frio na barriga que as garotas sentem quando vão apresentar os namorados aos pais.


 


-Aqueles quadros...são meus.


 


-Não,não são. Eu os comprei em uma exposição, são meus.


 


-V-você sabia que eram meus?-Perguntou a ela, sem perceber que não tinha mais a atenção da garota com ele.


 


-Ah Mercy, aí está você. Temos visita hoje, então trate de se comportar. – disse, ignorando a pergunta feita pelo rapaz, à gata persa que acabara de aparecer para dar as boas-vindas à dona.


 


Rose pegou-a no colo e Malfoy afagou, automaticamente, a cabeça do animal. Mercy se agitou no colo de Rose e só sossegou quando estava aconchegada nos braços de Scorpius.


 


-Ela gostou de você. Essa não. Mais uma para o clube da desilusão de Scorpius Malfoy.- Rose alfinetou.


 


-Você não quer ir logo fazer a tal lasanha? Estou faminto. – disse, ignorando o comentário a seu respeito.


 


-Sim, sim, estou indo. Espere só eu trocar de roupa.  


 


Enquanto subia as escadas em espiral que levavam para o segundo andar do duplex, Rose retirou os sapatos e arrancou o cachecol do pescoço. Scorpius achou que ela estava provocando-o com aquele gesto, mas manteve-se imóvel onde estava e procurou não demonstrar sua agitação interna.


 


-Ei visitante, fique à vontade aí embaixo!- ela gritou da porta de seu quarto para Malfoy.


 


-Não se preocupe, Mercy vai me mostrar o lugar. – brincou, ainda com a gata preta de olhos verdes no colo. –Muito bem Mercy, vamos ver o que vocês duas têm por aqui.


 


Scorpius caminhou vagarosamente, acariciando o pelo macio de Mercy, pelo primeiro andar do apartamento e parou apenas quando se viu diante de um pequeno cômodo onde havia um piano, um divã e uma mesinha de canto ao lado do divã. Ele não pôde deixar de reparar nos retratos espalhados por toda a saleta. A maioria das fotografias não se movia. Em apenas duas delas as pessoas fotografadas conversavam animadamente.


 


Em um deles Scorpius reconheceu de imediato Hermione, Rony e Hugh, os pais e o irmão de Rose. Deduziu que o resto da enorme família da ruiva eram as pessoas que sorriam e acenavam na outra fotografia. Depois de uma breve análise dos outros retratos e de se certificar que não reconhecia nenhuma daquelas outras pessoas, Scorpius se ateve a uma fotografia em especial.


 


Rose estava estonteante naquele retrato, mas infelizmente não estava sozinha. Abraçava um rapaz de cabelos castanhos e olhos verdes e os dois pareciam muito íntimos. Pareciam ser mais que amigos. Um desespero se apossou dele de repente. Aquele devia ser o namorado de Rose e ela só aceitara se encontrar com ele para dizer que não o queria mais, que seu coração pertencia a outro rapaz.


 


Então, ao perceber como ela parecia estar feliz naquela foto que não se movia, sentiu uma pontada de culpa. Ela poderia ter sido feliz assim com ele, mas como sempre, ele fugira. Malfoy ficou ali, observando a felicidade de Rose com o trouxa e despertou de seus pensamentos somente quando Mercy saltou de seu colo para ir ao encontro de sua dona, que estava parada na entrada do cômodo.


 


-Demorei? –ela perguntou, abaixando-se para apanhar a gata.


 


-Hum...De maneira nenhuma. –respondeu ele, um tanto constrangido. -Não sabia que tocava piano.- disse, demonstrando surpresa.


 


-Sim, eu toco há tempos. Obviamente nunca contei a ninguém. Mas acho que não foi meu piano que despertou seu interesse. – disse indicando com a cabeça a foto que atormentara Scorpius.


 


-Bem, fiquei aqui me perguntando quem seria esse sujeito que conseguiu arrancar tal sorriso de você.


 


-O nome dele é Trent, Anthony Trent. Fomos namorados, se é o que quer saber. –Rose sabia que não precisava dizer aquilo, mas era mais forte que ela. Ela queria mostrar a Scorpius que apesar de ele ser a pessoa que ela mais amou, ele não fora a única pessoa que ela amou.


 


-Obrigado por esclarecer. –respondeu mal-humorado. –Diga-me Rose, você tem fotos de todos os seus ex-namorados?


 


-Não. –ela respondeu docemente, para soltar o veneno em seguida. –Só tenho fotos dos mais importantes.


 


-Entendo. -disse, sem tentar esconder o desapontamento por não ter visto nenhuma foto sua ali.


 


-O que estamos esperando para...cozinhar? –Rose perguntou, cantando a última palavra.


 


Suavemente pegou Malfoy pela mão e puxou-o para fora do aposento. Ao passar, fechou a porta, deixando o clima desagradavelmente tenso que havia se formado para trás. A garota caminhava graciosamente enquanto guiava-o até a cozinha, que era separada da sala por um extenso balcão revestido com granito. Scorpius puxou um dos bancos em volta do balcão e sentou-se. Enquanto Rose abria e fechava armários, com o auxilio da varinha, ele a observava sem discrição alguma.


 


Ela havia tirado aquela roupa formal de antes e agora desfilava pela cozinha com um jeans desbotado e levemente puído nos joelhos e uma blusa branca de mangas compridas que acentuava as curvas de seu belo corpo. Seus cabelos longos estavam soltos e balançavam conforme ela se movia, descalça, de um lado para o outro em busca dos ingredientes para a lasanha.


 


Percebendo o olhar avassalador de Malfoy às suas costas, Rose virou-se bruscamente, encarando-o com uma faca de cortar legumes em punho. Ao ver a reação dele, um misto de susto e timidez, sorriu e disse:


 


-Scorpius, querido, por que não coloca uma música para nós ao invés de ficar encarando meu bumbum?


 


-Isso é uma sugestão ou uma ordem?- perguntou, mas vendo a faca na mão dela, chegou sozinho a uma conclusão. –Onde fica o som?


 


-Ali. –apontou com a faca para onde se encontrava um moderno aparelho de som. –Hum, ele não está enfeitiçado, então você terá de ler as palavrinhas sobre os botões para saber o quê é o quê.


 


-Queria saber por que você complica tudo. -Scorpius reclamou, fazendo certo esforço para encontra o play.


 


-Porque eu nunca recebo bruxos aqui, então tenho que agir da forma mais trouxa possível. –ela disse enquanto enfeitiçava a faca para cortar cebolas.


 


-Muito bem, o que quer ouvir? –perguntou enquanto vasculhava as pilhas de cd´s ao lado do equipamento de som.


 


-Você escolhe.


 


-Vejamos...O que temos aqui? Rock n Roll trouxa de altíssima qualidade... –exclamou, pegando um cd dos Beatles na pilha. -Hum, Pop trouxa de altíssima qualidade... –disse retirando do meio dos outros um cd do Michael Jackson.


 


-Eu adoro os clássicos, sabe como é...


 


-Hum, Blues e Jazz. -falou apontando BB King e Aretha Franklin.


 


-Sim, meu bem, sempre os melhores. – brincou enquanto cortava um tomate em cubinhos.


 


-Ops! Acho que encontrei o que vamos ouvir. – disse Scorpius colocando o cd para tocar. – Uma pequena lembrança dos nossos velhos tempos.


 


Logo uma melodia alegre e romântica invadiu os ouvidos de Rose, que reconheceu imediatamente a canção. Fora o primeiro presente que recebera de Scorpius. Ele deu o cd da tal banda trouxa chamada McFly para Rose porque ela simplesmente não parava de cantar aquela música: I´ve Got You. E ele achava que tinha a ver com os dois.


 


-Isso não é justo. –Rose berrou indignada, da cozinha.


 


-E por que não é justo? –ele quis saber.


 


-Porque estou preparando uma lasanha e não posso sair dançando pela sala feito uma adolescente!


 


-Pode sim.


 


Então Malfoy pegou a colher que Rose usava para mexer o molho na panela e com um indicar de varinha, a função que a garota exercia era desnecessária, já que a colher misturava sozinha os ingredientes na panela.


 


Em um piscar de olhos, os dois estavam no meio da sala com Mercy esticada no chão, observando-os. Scorpius aproximou-se de Rose, tomou o corpo dela para si e embalou-a ao ritmo da canção que se seguia.


 


-Você se lembra? De quando ouvimos essa música pela primeira vez? –perguntou a ela enquanto fazia-a rodopiar.


 


-É claro. Lembro-me que você disse que era uma canção ridícula. Eu a adorava.


 


-Adorava?


 


-Sim, mas com o passar do tempo percebi que era mesmo ridícula. –“O passar do tempo” para Rose significava na verdade “a época que você me deixou”.


 


-Mas eu só dizia isso para discordar de você. No fundo eu a adorava. Ela dizia tudo o que eu gostaria de dizer, mas não conseguia, pois tinha medo de parecer idiota.


 


-E por que está me dizendo isso agora?


 


-Porque eu não tenho mais medo de parecer ridículo ou de ser idiota. –respondeu, olhando-a nos olhos.


 


-Preciso voltar ao jantar. –disse Rose, desvencilhando-se dos braços do loiro.


 


-Mau sinal. –murmurou Scorpius enquanto seguia Rose até a cozinha. –Você está fugindo...


 


-Fugindo de que? –ela perguntou indignada.


 


-De mim, é claro.


 


-Se eu não estou enganada, a única pessoa que tem o hábito de fugir aqui está olhando pra mim agora. –disse ela, zangada voltando a mexer o molho na panela.


 


Um silêncio constrangedor pairou no local depois da frase de Rose. Para Scorpius ela estava coberta de razão e isso fez com que ele sentisse vergonha de si. Mas ele havia vindo de muito longe para deixar que as coisas ficassem mal entre eles e decidiu que mudar o rumo da conversa era o melhor a fazer.


 


-Desculpe Rose, você tem toda a razão. –ele sabia que aquelas palavras amenizariam as coisas.


 


A garota apenas resmungou algo como “Que bom que você sabe” e continuou a mexer o molho que não precisava mais ser mexido. Estava sendo difícil se controlar e não correr para os braços daquele homem, apesar de todo o ressentimento que guardara como forma de proteção para não se iludir e se machucar novamente. Por isso, o mais sensato era permanecer zangada e impedir uma aproximação habilidosa por parte dele.


 


-Rose, fale-me sobre seu trabalho? - pediu Scorpius mais uma vez tentando quebrar o silêncio. – Nunca entendi muito bem o que você faz aqui que não poderia fazer em Londres ou em qualquer outro lugar, sabe, como bruxa.


 


Rose percebendo o que o rapaz estava fazendo, respondeu de má vontade:


 


-Aqui eu tenho liberdade para escrever sobre o que quiser sem correr o risco de ser caçada por estar me envolvendo demais. Posso falar sobre a política deles, sobre os artistas deles, sobre as tendências deles... Mas na verdade, - ela respirou fundo e prosseguiu – foi apenas uma maneira que encontrei de fugir do mundo bruxo. De fugir...de mim mesma e, bem, dos sentimentos que eu costumava ter por você.


 


Uma onda de culpa e remorso invadiu Scorpius. Quer dizer que por culpa dele Rose havia se afastado de tudo o que mais amava? Por culpa de sua covardia ela havia abandonado a si mesma?


 


-Rose eu...não imaginei que ,sabe, eu pudesse ser o culpado por você ter abandonado sua vida.


 


-Você não foi o único responsável por isso. Devo muito ao senhor Ronald Weasley pela influência. Se meu pai não tivesse desejado tanto que eu me afastasse de você eu provavelmente estaria em Londres escrevendo para alguma revista bruxa sem credibilidade alguma. – ela riu do que disse no final. Rose era, em parte, grata por tudo. Ela ao menos trabalhava em um dos maiores jornais do país e um dos mais conceituados do mundo.


 


-Eu queria que as coisas pudessem ter sido diferentes para nós.- Scorpius disse, encarando-a de uma forma que ela não pôde desviar o olhar. Havia verdade em todas aquelas palavras e isso incomodou um pouco a ruiva.


 


-Não lamente muito por isso, Malfoy. O que nós fizemos foi inteiramente nossa culpa. Se nós não tivéssemos medo e fossemos um pouco mais maduros, acho que as coisas poderiam ter sido diferentes no início. Mas quem garante a você que estaríamos juntos até hoje?


 


-Então você quer dizer que...foi melhor assim? Foi melhor eu ter fugido e ter deixado você esperando por tanto tempo? Foi melhor você ter se cansado e ter ouvido os conselhos do seu pai e se mudado para um país e uma vida que não são seus? – a indignação do rapaz tornava-se mais óbvia a cada palavra, mas ele não estava indignado com Rose. A raiva que sentia era de si mesmo.


 


-Não, não foi isso que eu disse. – ela sabia que não devia ter deixado que ele começasse aquela conversa. Aquele assunto era o que ela vinha tentando evitar a noite toda. Por mais que estivesse inclinada a isso, ela sabia que não faria bem a nenhum dos dois reabrir aquelas feridas. – O que eu quis dizer é que o passado não vai voltar e nós não poderíamos prever o futuro.


 


Scorpius calou-se por alguns instantes. Ela estava, mais uma vez, com a razão. Por que diabos ele tinha que mexer naquilo? Se era para falar sobre os dois, então que fosse sobre o futuro. Um futuro, que ele almejava mais que qualquer coisa, que eles construíssem juntos.


 


Rose observava o rapaz e foi tomada por um incontrolável desejo de abraçá-lo e dizer a ele que não se preocupasse mais com o que passou, que queria que as coisas fossem diferentes a partir daquela noite. Mas, com uma enorme força de vontade e uma terrível amargura, simplesmente permaneceu calada e continuou preparando sua lasanha.


 


-Rose, eu...eu não suporto o que fiz com nós dois! Eu não consigo mais suportar sua indiferença, que eu sei, fui eu mesmo que procurei... Eu...-Scorpius queria dizer o quanto a amava e o quanto precisava saber se ainda era correspondido, mas foi interrompido pela ruiva.


 


-Scorpius, por favor, eu não quero falar sobre o passado, sobre o que fizemos de errado e sobre como seriam as coisas se tivéssemos podido consertar nossos enganos mais cedo... -Ela não dizia isso com raiva ou irritação. Sua voz era quase uma súplica. - Eu... simplesmente não tenho mais... forças para reviver essas coisas! Não vamos complicar mais nada essa noite. Eu imploro a você!


 


Scorpius olhou dentro daquelas duas esferas amendoadas, marejadas de lágrimas que lutavam para não serem derramadas, e entendeu o que aconteceria se insistisse em remoer o passado. Ele percebeu naquele olhar quanto sofrimento já havia causado a Rose e decidiu que faria daquela noite inesquecível para os dois e que se ela não o quisesse mais, então iria embora para sempre.


 


Rose estremeceu por inteiro quando viu Scorpius levantar-se e andar em direção ao que parecia ser a porta. Ela quase gritou para que ele ficasse, mas conteve seus instintos novamente. Então, quando viu que ele, na verdade, ia em direção ao aparelho de som, riu baixinho de si mesma. Ele não iria embora. Jamais perderia a oportunidade de comer a lasanha que ela estava preparando, Rose pensou, ingenuamente. De fato, ele não iria embora, mas não era por causa do jantar.


 


O rapaz procurou em meio à pilha de discos e CDs de Rose algo que não os levasse ao passado. Ele queria uma trilha sonora inteiramente nova para aquele recomeço planejado. Procurava por algo de que ela não pudesse escapar, não pudesse resistir. Olhou na direção da cozinha e pegou Rose fazendo o mesmo em sua direção. Sorriu marotamente para a ruiva e balançou um disco que tirara cuidadosamente da pilha. Ela sorriu em resposta e virou-se de costas, escondendo o rosto na porta aberta da geladeira.


 


-Ahá!- exclamou o rapaz, fazendo Rose virar-se assustada para olhá-lo - Sabia que você teria algo de casa aqui.


 


-Algo de casa? O que quer dizer?-Ela perguntou, rindo.


 


Então o loiro apertou o play do aparelho de som não enfeitiçado de Rose e os auto-falantes emitiam “Rock the Casbah” do The Clash. Quando ouviu a melodia, a ruiva abriu um enorme sorriso e arregalou os olhos, surpresa com a escolha do outro. Na mesma hora seus quadris inconscientemente já estavam em movimento.


 


-Não acredito! Achei que você não conhecesse isso! –ela disse a Scorpius, enquanto se balançava animadamente.


 


Ele apenas sorriu para ela e voltou a se sentar no banquinho em volta do balcão da cozinha. Sentiu-se hipnotizado por aquele corpo que exibia suas extraordinárias curvas enquanto dançava estrategicamente de costas para ele. Seu cérebro implorava para que ela parasse de torturá-lo, mas seu corpo implorava para que ela continuasse a fazê-lo.


 


Percebendo a expressão no rosto do loiro, Rose gargalhava por dentro. Seu cérebro pedia que ela parasse de maltratar aquele pobre ser, mas seu corpo pedia mais, quanto mais ele brigasse internamente para manter as mãos longe dela, melhor.


 


De repente, ele se levantou e deu a volta no balcão, entrando na cozinha. Sua expressão obstinada e decidida assustou a ruiva, que se moveu rapidamente pelo cômodo. Quando ele parou encostado na geladeira, ela suspirou aliviada. Pelo menos foi nisso que ela se forçou a acreditar, embora estivesse um pouco desapontada por ele ter parado ali.


 


-Rose, - ele disse, encarando-a - pare de me provocar!- disse com uma expressão desesperada.- Por Mérlin!


 


Rose sorriu culpada e lançou-lhe um olhar que não coincidiu com o pedido de desculpas que fez.


 


-Perdoe-me, não tive a intenção. – falou. “Oh Merlin, o que estou fazendo! É claro que tive intenção. Primeiras, segundas e terceiras! Estou perdendo o controle! Volte, Rose, volte!”  ela pensou quase entrando em desespero. Então respirou fundo e tentou mudar o rumo de seus pensamentos. – Ah, mas que cabeça a minha! Por que não bebemos alguma coisa?


 


Ela não queria ter sugerido aquilo, mas foi a primeira coisa que passou por sua cabeça. Ela não queria beber nada com ele porque sabia que colocaria tudo a perder, todos aqueles anos de ressentimentos engarrafados como forma de proteção.


 


-Certo, eu aceito. –Ele não pensou nem duas vezes para responder.


 


-Tenho vinho e cerveja, James veio me visitar outro dia e acabou com minha vodca.


 


-Vinho é perfeito. – respondeu ele sedutoramente.


 


-Ótimo, vinho.- ela disse mecanicamente enquanto retirava duas taças do armário e entregava a garrafa de tinto suave para que Scorpius abrisse.


 


“Que loucura é essa que estou cometendo!” ela pensava, se martirizando por estar permitindo aquela aproximação iminente entre ambos. Sim, porque ela sabia que era uma questão de tempo até que os dois quebrassem os limites impostos inconscientemente por eles. E ela sabia que o vinho seria um catalisador e tanto.


 


-Ao futuro!- disse Scorpius, encostando sua taça na de Rose, que sorriu lindamente, e em seguida tomou um gole da bebida.


 


-Ao futuro- ela sussurrou, brindando, para si.


 


-E o que fazemos agora? –perguntou o rapaz, ainda encostado na geladeira. Ele não fazia idéia de como estava sexy, mas Rose fazia.


 


-Bem, temos que esperar a lasanha assar. Pode demorar um pouco. Vem comigo.


 


Então ela pegou-o pela mão e levou-o até a sala. Sentaram-se nos pufes espalhados pelo chão.


 


-Certo, agora eu interrogo você- a ruiva disse a ele. – O que você faz, qual é o seu trabalho, exatamente?


 


-Bem, eu... Eu faço as pessoas serem diferentes, como elas gostariam de ser... pelo menos por algumas horas.


 


-Você é o gênio da Lâmpada?- ela brinca.


 


-É como se fosse mesmo!- ele ri – Só que minha lâmpada é uma máquina fotográfica e você tem direito a apenas um desejo: sair bem na foto.


 


- Mas você disse que faz as pessoas serem o que elas querem, por algumas horas... Como isso funciona?


 


-Eu trabalho em um estúdio de fotografia freqüentado tanto por modelos quanto por donas de casa insatisfeitas com a vida, e essas pessoas tiram todos os tipos de fotos que quiserem.


 


-Então se eu quiser tirar uma foto...nua, vocês tiram?


 


-Nós tiramos. Mas geralmente as nossas clientes são mais sutis. Nada de nudez. A maioria das bruxas não é tão ousada assim...


 


-Ah, entendo. - ela respondeu desapontada.


 


-Mas se você quiser, posso tirar umas fotos suas, sabe... nua. – ele disse, piscando em seguida, para forjar uma descontração que não existia.


 


Rose ficou muito séria, encarando-o. Então, repentinamente explodiu em uma gargalhada que há tempos não dava. Scorpius imaginou se teria algo a ver com aquela alegria repentina de sua amada. Ansiava alucinadamente que sim.


 


Então, de súbito, a ruiva levantou-se e correu até as escadas sem nada dizer. Scorpius esperou silenciosamente que ela voltasse, imaginado o que teria ido fazer. Descobriu em poucos minutos, quando a viu descendo as escadas com uma câmera fotográfica pendurada no pescoço.


 


Sem ainda ter chegado perto do loiro, ela agita a câmera para ele e pergunta:


 


-Então, senhor Gênio da Lâmpada, preparado para me fazer ser o que quiser esta noite?


 


Rose ria interna e externamente. Ela estava se libertando do medo de ser ferida, aos poucos. Ela decidira que aquela noite seria sua fuga da realidade, e que, na manhã seguinte, voltaria tudo ao normal, com seus medos, suas neuroses, suas manias. Mas naquela noite, ela seria apenas a Rose de alguns anos atrás, quando ela era apenas... ela mesma.


 


-Eu confesso que nunca estive tão preparado em toda a minha vida. - e aquelas palavras não valiam apenas para aquela pergunta. Eram palavras que davam sentido a tudo. Ele estava preparado para qualquer coisa. – Resta saber se você está preparada. – ele disse desafiador.


 


-Sim, eu estou. – ela respondeu calmamente. E estava mesmo. Tanto quanto ele. –No que você vai me transformar, senhor Gênio?


 


-O que você quer ser? – Ele perguntou, aproximando-se dela.


“Quero ser sua” ela respondeu inconscientemente dentro de seus pensamentos mais profundos. “Oh meu deus, é isso! Eu quero ser dele, eu ainda quero!” Rose pensou e sentiu seus batimentos cardíacos acelerarem.


 


-Eu quero ser...- ela sabia que ele estava perto demais, e não conseguia pensar em nada para afastá-lo.-Quero ser...A LASANHA!! – ela gritou, subitamente, atirando os braços para cima, fazendo com que o rapaz se afastasse para não ser atingido.


 


-Você quer ser a lasanha? –Perguntou ele, confuso.


 


-Não! A lasanha está queimando!


 


E dizendo isso, ela saiu em disparada para a cozinha. Abriu o forno, desajeitada, e retirou a lasanha, quase derrubando a travessa. Scorpius não conseguia parar de tirar fotos. Até mesmo atrapalhada como estava, ela era sexy.


 


-Você poderia me ajudar, ao invés de ficar tirando fotos minhas nesta situação! –Ralhou com o rapaz, quando percebeu ser alvo de seus cliques.


 


-Desculpe, mas não consegui resistir a tanto charme- disse em tom de brincadeira, mas já se adiantando e tomando a travessa das mãos de Rose. –Onde eu coloco isto?


 


-Pode pôr aqui...- disse a ele, afastando, desajeitada, a garrafa de vinho e as duas taças do balcão-Ai, droga!- exclamou ao esbarrar em sua taça e derramar todo o conteúdo em sua blusa branca.


 


Scorpius não pôde conter o riso, o que deixou a ruiva irritada. Ficou observando-a agir atrapalhadamente, tentando limpar a sujeira em sua roupa e colocar os pratos na mesa ao mesmo tempo. Quando já havia se divertido o suficiente, o rapaz resolveu que era hora de ajudar. Parou a moça no meio do caminho entre a mesa e a cozinha e, retirando de suas mãos o pano com que esfregava a blusa, disse:


 


-Por que não vai lá em cima trocar essa blusa e deixa que eu ponho a mesa?- Ele ofereceu, gentilmente.


 


-Você não sabe onde ficam as coisas. – Rose disse, relutante em aceitar a ajuda do outro.


 


-Eu descubro. -Disse firmemente, ainda segurando-a pelo braço, a uma distância perigosa de seu corpo.


 


“Tudo bem, seu sedutorzinho de meia tigela, você venceu” ela pensou quando tentou encará-lo.


 


-Certo, mas se bagunçar minha cozinha, considere-se um homem morto! – ameaçou-o.


 


Soltando-se das garras do rapaz, Rose correu para seu quarto, fechando a porta atrás de si, quase sem fôlego. “Ele vai me deixar maluca se continuar aqui”, pensou. “É isso, vou descer e pedir que ele vá embora. Foi a coisa mais tola que já fiz em toda a minha vida deixar que ele se aproximasse de mim novamente.”


 


Então, enquanto despia-se e tentava encontrar outra blusa para vestir, lembrou-se da promessa que fizera a si mesma: ser a velha e boa Rose de antigamente por uma noite e depois deixar que as coisas voltassem ao normal. E se ela quisesse manter a promessa que fizera, precisaria se acalmar. “Uma ducha rápida não seria nada mal. Isso; vou tomar uma ducha relaxante e depois descer e ter uma noite agradável como nos velhos tempos com um ex-namorado.”


 


Enquanto Rose sofria com seus conflitos internos no andar de cima, Scorpius decidira que ia fazer de tudo para que ela voltasse para seus braços naquela noite mesmo e isso incluiria velas e rosas.


***


Rose abriu a porta de seu quarto e sentiu um aroma adocicado, bem diferente do cheiro de queimado que devia ter se espalhado pela casa por causa da lasanha. Intrigada, caminhou rapidamente até a escada e surpreendeu-se com o que havia se tornado seu apartamento.


 


A luz que iluminava o lugar vinha de velas coloridas que pairavam no ar ao redor do corrimão da escada circular que levava ao outro andar. Nos degraus, o piso de madeira fora ornado com inúmeras pétalas de rosas vermelhas. A ruiva sorriu involuntariamente ao colocar os pés na escada.


 


Então Scorpius estava realmente tentando seduzi-la. E estava jogando muito sujo para conseguir o que queria. E Rose imaginou que se continuasse assim, tão logo ele alcançaria o objetivo.


 


Avançou pelos degraus floridos devagar, deliciando-se com a expectativa sobre o que a aguardava no andar de baixo. Estava inebriada com tudo aquilo. Era mais do que poderia ter imaginado algum dia, em seus mais profundos e românticos devaneios, que Scorpius faria por ela; que qualquer um faria por ela.


 


Quando chegou ao último degrau e abriu os olhos, que até então mantivera fechados obrigando seu corpo a aguçar seus quatro outros sentidos, lá estava ele: Scorpius Malfoy, sua pose imponente saída de algum personagem do século XIX, segurando nada mais que uma rosa vermelha. Paralisada, seu olhar percorreu o rosto do rapaz e assim que seus olhos encontraram os dele, ela sabia que não havia mais como lutar. A batalha estava perdida.


 


Ele deu dois passos curtos em sua direção e estendeu-lhe a rosa. Suas mãos tremiam, mas a garota não pareceu notar. Apanhou a rosa com uma mão e com a outra se permitiu ser guiada por Malfoy. Em um gesto meigo, cheirou a flor e sorriu encabulada, para o loiro, que correspondeu com o sorriso mais sincero e iluminado que dera aquela noite. Pareciam dois adolescentes no auge de sua paixão.


 


-Espero que você não tenha quebrado nada na minha cozinha! – Rose resmungou quando Scorpius puxou a cadeira para que ela se sentasse diante da mesa de jantar.


 


-Eu preparo tudo isso e você só consegue pensar no estrago que eu possivelmente fiz em sua cozinha? – Disse o loiro, forçando uma mágoa que não existia.


 


Rose enrubesceu. Ele não estava certo. Ela não conseguia pensar em nada além do clima romântico que ele havia criado ali, mas fazia parte do plano não se render facilmente e para isso, ela precisava fingir não se importar. Pelo menos não se importar muito.


 


-Então, vamos comer?- Rose perguntou, ignorando completamente o ressentimento falso do outro.


 


-Por favor, Rose, estou faminto! – disse o loiro, adiantando-se para lhes servir de lasanha.


 


Permaneceram em silêncio por algum tempo, fingindo saborear o jantar, mas o fato era que nenhum dos dois fazia ideia do que dizer. O que viria a seguir? Eles não saberiam responder. Todo aquele sentimento que guardaram durante tanto tempo estava vindo à tona cada vez mais rápido e em uma intensidade avassaladora. Ouvir o som da voz um do outro era motivo suficiente para provocar reações catastróficas em seus corpos.


 


Scorpius foi quem quebrou o silêncio:


 


- Você ficou linda nesse vestido. – elogiou-a de uma maneira tão natural quanto elogiaria um dia ensolarado.


 


Rose agradeceu com um sorriso apenas. Então, sem mais nem menos, Scorpius levantou-se e foi até o aparelho de som não enfeitiçado. Escolheu uma música lenta, voltou-se para a ruiva e pegou-a pela mão convidando para dançar.


 


Ela não hesitou. Aceitou o convite e deixou que seu corpo encostasse-se ao de Scorpius enquanto ele a guiava. Após outros longos segundos em silêncio, o loiro aproximou seus lábios à orelha dela e disse:


 


- Sabe, você sempre foi linda, mas acho que conviver com esses trouxas, em um mundo que não é o seu, lhe fez bem. Você parece mais forte, mais decidida, mais...mulher. Tirou até aqueles óculos horrorosos.


 


Rose estremeceu quando o hálito quente do rapaz entrou em contato com sua pele. Sentiu o arrepio perpassar por todo o seu corpo e só quando conseguiu respirar de forma mais regular novamente foi que respondeu a ele, e deu-lhe um tapa de leve no ombro por ter comentado sobre os óculos.


 


- Você também parece mais forte, mais decidido. Acho que crescemos, afinal. – dizendo isso, brindou-o com um sorriso iluminado. – E ainda uso aqueles óculos horrorosos quando estou sozinha em casa...


 


- Droga! – ele exclamou, rindo pelo nariz. – E quanto a crescer, bem, uma hora isso ia acabar acontecendo. Só que poderia ter sido muito antes, assim teríamos evitado todos esses anos separados.


 


- Acho que as coisas só acontecem no tempo certo, Scorpius.


 


-Bem, então estou feliz que tenha sido agora. – ele sussurrou.


 


Dizendo isso, Scorpius afastou-se de Rose o suficiente para segurar o rosto da garota entre as mãos e olhá-la dentro dos olhos. O contato de suas mãos frias pelo nervosismo com a pele quente e ruborizada da garota provocou arrepios em ambos. Foi naquele momento que Rose compreendeu que se renderia de qualquer maneira e adiar o que estava prestes a acontecer era estupidez. Adiar aquela entrega já não era uma opção, já não era viável. Ambos se desejavam intensamente e até seus fios de cabelos mostravam a tensão que havia ali. Scorpius soube que precisaria dar o primeiro passo, outra vez.


 


Trêmulo, não por medo, mas pelo desejo que crescia, o loiro encostou seu rosto ao dela e por instantes que mais pareceram anos, fechou os olhos, absorvendo o perfume que emanava de sua pele. Então, Scorpius aproximou-se ainda mais de Rose e como se o ar que precisava para viver dependesse daquilo, beijou-lhe os lábios. Sem pensar em relutar, a ruiva, correspondeu-lhe o beijo, rendendo-se àquele sentimento que era mais forte que qualquer outro. Seus corações estavam em festa, seus corpos excitados, suas mentes em transe e suas almas, mais uma vez, completas.


 


Como se fosse impossível se afastar do rapaz, Rose abraçou-o pela cintura, em uma tentativa de garantir que ele não saísse dali. Scorpius por sua vez, apertou o corpo dela ainda mais forte contra o seu enquanto uma de suas mãos seguravam-lhe os cabelos de modo delicado, porém duro, como se dissesse com aquele gesto que ela pertencia a ele. Permaneceram envolvidos naquele beijo por mais algum tempo, separando-se somente quando respirar fez-se necessário.


 


Afastando seus lábios delicadamente dos de Rose, Scorpius pode contemplar um sorriso tímido brotando na face da mulher. Ainda de olhos fechados, ela esperou que ele tomasse seus lábios outra vez. Mas o rapaz não o fez e ao invés de beijá-la novamente, o loiro pegou-a pela mão, como se quisesse levá-la a algum lugar. Percebendo suas intenções, ela o encarou e, sorrindo, guiou-o até a escada. Subiram em silêncio e de mãos dadas pelo caminho de pétalas até o quarto.


 


Parados, um de frente para o outro à porta do quarto, contemplaram-se por alguns instantes. Não conseguiam encontrar palavras, nem precisavam delas. Foi Rose quem deu um fim à inércia de ambos, pulando em Scorpius, literalmente, prendendo-se na cintura do rapaz com as pernas e beijando-lhe com urgência. Scorpius correspondeu o beijo à altura, e sentiu seu desejo crescer ainda mais. Sem conhecer muito bem o quarto escuro, caminhou com a garota ainda grudada em sua cintura, cheio de pressa, tentando encontrar a cama.


 


Parou no que parecia ser uma escrivaninha, Rose ajudou-o a empurrar as coisas sobre ela para o chão e em seguida sentou-se no móvel. Com as mãos dela entrando por baixo de sua camisa, Scorpius beijava-lhe os lábios, as orelhas, o pescoço. Suas mãos vacilaram ao tentar abrir o vestido de Rose e ela mesma o fez, impaciente. Scorpius deixou que ela tirasse sua camisa, e puxou o corpo da ruiva para o seu, aumentando o contato entre seus corpos. A pele quente dela, colada à pele quente dele...


 


Os beijos tornaram-se mais intensos, mais vorazes. Não havia espaço para delicadezas, não havia necessidade de formalidades, eles precisavam um do outro, um dentro do outro, um completando o outro como sempre fora. Entre um beijo e outro, murmuravam coisas sem sentido, palavras desconexas, como se fazer sentido era o que eles menos queriam. E assim, sem pensar, amaram-se. Ferozmente, a fim de aniquilar o desejo que crescera durante anos e matar a saudade entre aqueles corpos, antes que ela os matasse.


 


Quando finalmente o cansaço se abateu sobre eles, Rose abraçou-o, já entre os lençóis de sua cama, e fechou os olhos. Scorpius acariciava o braço da ruiva com as pontas dos dedos, sereno, e antes de deixar o sono lhe vencer murmurou, a voz fraca, quase apagando:


 


- Eu te amo.


 


Rose aninhou-se no peito do loiro e sussurrou “Eu também” em resposta, “Mas você ainda vai me amar amanhã?” ela perguntou, antes de entregar-se aos braços de Morfeu.


***


 


N/A: Então, pessoas, acabou! *aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh* Espero que tenham curtido xD


Para quem leu, aí vai meu MUITO OBRIGADA! 


Até a próxima, se houver...


 


Ah, sim, e um agradecimento especial às lindas: Lana Sodré, Analuu e Nikki W. Malfoy, que comentaram e inflaram meu ego! Thanks, meninas!


 

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Comentários (6)

  • Nikki W. Malfoy

    Como assim "se houver?"Eu estava andando por ai quando me deparei novamente com sua fic e falei:"Ah, vamos ver ne..." Ai vejo que ela foi concluida e vc agora diz "se houver?"EU QUERO MAIS CAPÍTULOS! QUERO, QUERO QUERO!vc n ta entendendo... eu PRECISO de mais... pf, pf, pf...Só pra deixar claro, amei essa fic ta, bjs.     

    2012-07-16
  • gabyhosanas

    Omg, como assim acabou??  Que linda eu amei. Eu jurei que o scorpius ia acender a luz do quarto da Rose e encontrar uma foto enorme dele na parede! kkkkkk Linda demais, parabéns!

    2012-05-10
  • June Weasley

    Escreva outra, eu necessito!!

    2012-05-08
  • Carolzinha Gregol

    queeeeeeeeeeeeeero mais......

    2012-05-04
  • Nikki W. Malfoy

    Eu digo que vale a pena!!!Por favir, n me torture, quero mt saber o q acintece a seguir.... por favor, por favor, por favor posta o proximo capítulo!Amei, e parabéns, vc escreve maravilhosamnetee bem. :) 

    2012-04-27
  • Analuu

    Eu simplesmente amei!!!!! 

    2012-04-27
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