I – No Monte Helicon



A natureza bradava pelas recentes conquistas de guerra: as árvores curvaram-se diante dos honrados soldados, o vento, as boas novas soprava para o norte enquanto os animais juntaram-se às musas no canto, e na dança. O monte Helicon celebrava. 
Majestoso, erguia-se o monte Helicon. Próximo do Olímpo e das águas mediterrâneas da Grécia. De todo país, o Monte era o lugar a encantar os divinos corações das filhas de Zeus e da titânide, Mnemosine. Elas eram musas, nove em número. 
Calíope e suas oito irmãs nasceram por uma solicitação feita a Zeus, tinham a missão de exaltar as vitórias contra os deuses titãs. Mas, naquele dia, comemoravam em triunfo dos mortais, pois a guerra havia sido de grandes proporções, traria a bonança à Grécia.


 


 


XXX


 


 


– Feliz, Acace? – indagou em um francês etéreo. Não precisou virar-se para que o jovem Acace reconhecesse a voz do deus que tanto amava. 
– Muito, porque tenho a vós. – respondeu num francês cordial, sorridente, para o deus de faces mui delicadas. 
– Venha. 
– Para onde, meu deus?– indagou curioso. 
– Para onde a tua arte deve estar. 






Do ciano e magenta fez-se o céu, e com outras precisas pinceladas, do último e do amarelo, cresceram as moitas, as árvores e os arbustos. Acace, o Senhor das Cores, pintava o Monte Helicon. 
Adorava seu deus por deixá-lo frequentar aquele lugar sagrado. Sentia-se honrado por trabalhar ali, ao ar livre, sentindo a brisa tão suave tocar seu rosto e as pontas de seus dedos, sujos de tinta. 
Reproduziu a brisa então. Sujou o pincel com água da Aganipe e borrou a folhas recém-criadas. Num gaussiano perfeito, as folhas flutuavam no redemoinho e as árvores dançavam sob um céu limpo, porém levemente escuro.


– És mui talentoso. – virou-se para contemplar aquela quem lhe falava às costas, e ficou tomado de admiração ao perceber que havia nove jovens olhando-o, e não uma como presumia anteriormente. Sorriu e agradeceu, sem saber a quem, de fato, deveria fazê-lo. 
– Calíope é meu nome– falou solenemente. 
Era ela! A da bela voz. Acace ajoelhou-se e tomou umas das mãos de Calíope e levou-a aos lábios, beijando-a respeitosamente. Sentiu algo no ar... uma sensação rara - como se uma membrana cristalina o envolvesse, o hipnotizasse por pura beleza? Não soube explicar... Não era comum. Beirava ao Irreal... surreal. Divino. 
– Sou uma musa – disse Calíope num tom doce e harmônico – Estas são minhas irmãs. 
Contemplou-as Acace. Uma a uma. Não soube se o véu de Polímnia era mais belo que o diadema, de genuínas estrelas, de Urânia, ou se a lira de Terpsícore, afinal, venceria a pequenina lira de Erato (fazendo-se ouvir ao leste do leste), Acace não sabia se preferia a máscara trágica de Melpômene ou a cômica de Tália. Ah, e ainda havia a bela flauta de Euterpe, a trombeta de Clio, e a eloquência de Calíope. 

Sentia... sentia que poderia pintar tudo o quisesse. Céu, mar, vento, terra e até o inferno. Não haveria limites. A tudo pintaria e nada poderia detê-lo, nem a ausência de cores nem a técnica por ele desconhecida. Se fosse preciso criaria cores, criaria técnica e, então, pintaria as noves musas do Monte Helicon, no Monte Helicon, como eram, e mereciam ser retratadas. 
Ao fim do dia, reuniu seu material de pintura, retornaria para casa com um sorriso no rosto e, principalmente, com a esperança de que dias férteis chegariam à sua vida. Fama. Dinheiro. Sua arte seria enfim valorizada e ela o valorizaria também. 






Fim do Capítulo I


 

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N/A: "De anjo a demônio, é fácil se encontrar." é uma frase retirada do texto Demônio Alado da Carnificina, do Lucas/k. lucius e Érica.

Para ler acesse (orkut):http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=111216584&tid=5651528773922946196



 

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