Capítulo Único



Entre a Artilheira e o Batedor

O suor grudava os cabelos avemelhados... Mesmo o rosto estando corado, era possível contar as constelações de sardas presentes na pele alva. Delicada para alguém de seu porte. 


Seu tamanho tinha sido uma das razões para a sua admissão no time de quadribol.

"Boa batida, Weasley." - costumavam dizer os companheiros de time sem , ao menos, saber se era o Weasley-Fred ou Weasley-Jorge.Pouco importava, estava no time, e tinha talento.

Não era só a agilidade em rebater balaços errantes que Jorge possuía. Possuía um humor tão traquinas que era tido como um ídolo dos primeiranistas (que lhe eram ora fregueses, ora cobaias).

Brincava, zoava com todos em Hogwarts, na verdade , quase todos... Quisesse ou não, Jorge não ousava enfrentar àquela garota. Tinha certeza, que ela poderia quebrá-lo em pedacinhos, se assim desejasse. 


A garota era alta, forte, de beleza exuberante e negra. O vermelho-dourado do uniforme dava-lhe um ar imperial, de rainha africana, na cabeça sitiava a coroa de cabelos tão negros como a pena da graúna de Alencar*. Os olhos, também, negros. Intensos.

"Por que tão sério?" - indagou-o Angelina.
"Jogo difícil." 
"E não há piada pra isso, ai dentro?" - apontou para a cabeça do garoto, sorrindo.

Sorriu a contragosto, por educação.

"O que há com você, sr. palhaço? Estou começando a crer que o problema é comigo."

Os negros brilharam intensos para os azuis dos olhos de Jorge. 

Não desmentiu, não falou, não exclamou, nada, nada, nada.

"O amasso comeu sua língua?" - inquiriu a jovem intrigada.

O ruivo pigarreou uma, duas, três vezes e, enfim, falou:

"Não é nada... - silêncio - eu... eu gosto de você, Angelina."
"Pois você tem uma maneira bem incomum de demonstrar." - bateu o armário do vestiário e saiu, irritada, porta afora.

Jorge bufou, lamentou não ser como Fred. Por que raios, ele tinha de se sentir tímido perante Angelina?

“É só uma garota, interessante, e muito bonita” - pensou, e pela primeira vez, um sorriso esboçou-se em seu rosto.



XXX



Zangou-se, pois volte e meia, podia-se ouvir explosões vindas do andar superior da Toca. Enxugou as mãos gorduchas no avental listrado, murmurou um feitiço anti-tostador no ensopado que estava a fumegar na caçarola de cobre. 

“Se Arthur fosse menos complacente”, pensou enquanto subia as escadas.

Bateu à porta. Silêncio. E, então explodiu na melhor maneira Molly Weasley de ser:


“NÃO ADIANTA FINGIR QUE NÃO ESTÃO AI! – sua voz soava tão ruidosa quanto um berrador - AS COISAS SIMPLESMENTE NÃO EXPLODEM SOZINHAS, NÃO NESSE QUARTO, NÃO COM VOCÊS AI DENTRO. ABREM ESSA PORTA OU...”

“Não vai dizer que está ai pra brigar com a gente, mamãe? – falou um dos gêmeos ao pé da escada, com o cenho franzido.

A bruxa torcia seu avental manchado, como se estivesse torcendo o pescoço de uma galinha indefesa.

- Somos inocentes! - disse um deles. 

- Quando vocês não são? – ambos fingiram-se de ofendidos. Molly olhou-os desconfiada, abanou a mão logo depois, dando a entender que dessa vez passaria.

Entretanto, antes de descer advertiu-os que se ouvisse mais uma explosão, eles teriam que passar as férias desgnomizando o jardim.

Não tiveram outra alternativa, pois seria o fim ter que caçar criaturinhas medonhas pelas relvas muito crescidas, quando poderiam estar criando novos artefatos para a loja.

Enquanto Fred pensava num modo de burlar a mãe, Jorge fez o mesmo, só que seu alvo era sua timidez, que aparecia somente quando estava com a Griffindor. 

Precisava aproximar-se da garota. Mas como?

Trabalhou com afinco, podia-se ouvir alguns agudos e cheiros adocicados saírem pela fresta da do quarto do jovem. Fred implicava com o cheiro, que dizia ser "demasiadamente feminino". Quando a porta abria-se, fitas de fumaças multicoloridas enrolavam a atmosfera. Azul, verde, roxo, e negro. Ah, negro como as jabuticabas de Angelina.

“Quero fazer as pazes” – disse à garota na primeira oportunidade que tivera de ficar sozinho com ela.

Ela sorriu-lhe como uma estrela a ofuscar o firmamento escuro. Era noite, o céu cobria-lhes a cabeça. Fred olhou para cima, por escapismo, enquanto Angelina, confiante, abria o pacotinho mal-feito.

“Jorge pode lhe dar um beijo?” – sibilou a criaturinha, peluda, para a jovem.
“Muda de cor e cheiro conforme o humor.” – falou e, de repente, sentiu-se quente... corado. Seu coração batia como as asas de um trestálio no peito desacostumado para o amor.  

Teria saído se não fosse detido pela garota de pele de ébano.

“É um Mini-Pufe?” – perguntou séria.

Jorge concordou sem olhá-la. 

“O que você faz: O balaço está vindo na sua direção, você bate ou pede permissão, batedor? Hein, o que você faz?”

Era tímido, mas nada bobo ou lerdo. Sacou rápido a indireta da artilheira Griffindor. Colou seus lábios nos dela, num beijo interracial, não-mágico, mas arrebatador. Dominador. Digno de artilheira e batedor.

Largou-a, de chofre, olhou para céu e, então, se foi. Sabia que a artilheira o procuraria para mais uma partida, e quando ela o fizesse, ele estaria pronto para mais uma tacada. 


Fim 

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N/A:  
* Usei a comparação de José de Alencar (em Iracema) ao comparar "o negro" à "graúna(ave)" 

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Comentários (2)

  • Re Status

    euri :paii como sou, achei q tinha respondido cácê q é um amor por ter comentado ^^'gada! 

    2012-07-29
  • Aline Souuza

    Muito amor!

    2012-07-11
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