Inscrições



Esse capítulo vai ser bem grandinho, mas vai explicar muitas coisas!




Inscrições


Lílian POV:


Segundo dia de aula é igual a primeiro dia de aula elevado ao quadrado.


Mais confusões, alunos perdidos, Pirraça pegando pesado e espalhando por aí que dormi pendurada. É, tudo estava ruim. E tudo o que está ruim pode piorar.


Lá vem o Potter, sorriso cretino, olhar hesitante. Argh! Tinha que me esconder, fugir para as montanhas. Mas a opção mais fácil era dar meia volta. Ah, que se dane! Vou passar por ele e fingir que não o conheço, não vou desfazer meu caminho por causa dele!


- Oi, Lily. – ele disse com um sorriso quando passou por mim.


- Cala a boca Potter. – respondi. – E é Evans.


- Podemos conversar? – ele segurou meu pulso. Fiz uma cara de dar medo e me soltei.


- Tente adivinhar. – falei com meu amado sarcasmo. – A palavra tem três letras, uma consoante e duas vogais. E geralmente tem sentido negativo. Acertou?


- É sério, Lily. – ele me fitou, e por um momento não pisquei. – Sinto muito ter falado com Almofadinhas sobre aquilo. Quero dizer, você contou para MacDonald, não?


- Contei. Mas você não deve contar porque isso é em relação a mim e não a você! – respondi irritada. – Agora se me dê licença...


- E me desculpe por ter tentado te beijar aquele dia!


Paralisei, e em seguida lancei um olhar mortífero.


- Você contou isso ao Sirius também?


- Não. – ele respondeu depressa. Como mente mal!


- Que seja. – falei, me afastando.


- Você me desculpa? – ele implorou.


- Só se você prometer me esquecer. – eu disse, e sua expressão ficou séria.


- Isso é impossível.


- Então não. Não te perdôo. – falei antes que ele retrucasse, e saí apressada pelo corredor.




Dorcas POV:


- Ei, Dorcas. Dorcas! Tá me ouvindo? – me deparei com Emelina me sacudindo. Quem ousa me retirar dos meus devaneios?


- O que é? – falei aborrecida, voltando a tomar meu suco. Emelina irritantemente me trouxe de volta para o Salão Principal.


- Ouviu? Todo mundo tá comentando sobre Alice estar no coral sozinha... – Sophie começou vagamente, então seguiu meu olhar.


Como aquele Jason estava lindo hoje! Sempre esteve, mas hoje... Tudo bem, é o segundo dia de aula, mas há coisas que são irresistíveis.


- Deixe meu irmão em paz! – Sophie exclamou um pouco indignada.


- Não banque a irmã ciumenta. – respondi, tomando meu suco calmamente. - Jason está aberto para todas as garotas da escola.


- Todas estão secando ele com os olhos, todas inclusive você! – Sophie reclamava, e eu insistentemente não dava atenção.


Emelina observava a cena devorando seu jantar, até pararmos pra ouvir o que duas garotas do segundo ano conversavam ao passar por nós.


- ... agora parece ter mais um escrito! – uma delas disse com incredulidade.


- Mais um? Povo corajoso esse, hein? – Emelina comentou, e ficou meio corada, sabe-se lá por que.


- Quem será? – Sophie perguntou interessada, e em um movimento rápido agarrou um garoto que passava perto de nós. – Ei! Soube quem entrou pro coral da Grifinória?


O garoto se assustou, mas respondeu.


- Ouvi que era Alice Brown... e agora Franco Longbottom.


- FRANCO LONGBOTTOM? – eu e Emelina praticamente gritamos, enquanto Sophie soltava o garoto e voltava a se sentar.


- Quem diria! Ele sempre pareceu tímido...


- Mas Franco Longbottom não canta nada! Quero dizer... – Emelina completou. – Olha pra ele! Ele tem cara que canta?


- As vezes ele melhorou a voz cantando canções de ninar pras plantas dele! – zombei com uma risada.


- Acho que Hogwarts inteira está enlouquecendo. – Sophie balançou a cabeça.


- Pior. Grifinória. – complementei.




Alice POV:


Eu ainda me sentia mal por ter falado tudo pra Franco. É claro, tudo aquilo era verdade, a mais pura verdade. Eu vi a decepção e frustração perpassar seu rosto, enquanto eu despejava palavras horríveis, e agora me sinto mal, quase arrependida. Mas pelo menos coloquei um fim nisso... levando nossa amizade junto.


Não desci para o Salão Principal para jantar. Sobrevivi com algumas barras de cereal que eu sempre mantinha guardada estrategicamente embaixo do meu travesseiro. E chorei um pouco, confesso. Mas já estou recuperada e pronta pra descer, e pronta pra encarar os olhares de riso e espanto ao saber que Alice Brown, a tímida, estava no mais novo coral da Grifinória. Argh.


Respirei fundo, cheguei ao patamar da escada. Ninguém parecia me olhar tanto quanto antes, mas havia uma fofoca ali. Será que mais alguém havia se inscrito?


- E aí Alice! – pra variar, Dorcas. – Arranjou um companheiro fácil fácil hein? Pode até formar um par romântico!


Ela riu, subindo para o dormitório com Sophie e Emelina nos calcanhares. Dorcas Meadowes era o tipo de pessoa que não economizava palavras.


Mas que companheiro era aquele que ela tava falando? Corri – literalmente – até a lista. Passei os olhos, vendo somente minha letra ali, e com um choque de matar vi "Franco Longbottom" abaixo do meu. Fiquei estática.


Ok! Onde estão as câmeras? Já podem aparecer, pois não tem graça nenhuma! Mas era a letra dele... quem faria isso, sem ser ele?


E se foi ele, por que ele fez isso?


Procurei por ele ao redor da Sala Comunal, mas não o vi. Só podia estar nas estufas, contemplando suas plantas. Sem hesitar, caminhei pra fora do buraco do retrato.




Lílian POV:


- Lily, ainda bem que te encontrei! – Maria veio correndo em direção a mim. Fazia sentido, fiquei enfiada na biblioteca até agora, nem jantei, estudando feito louca. As vezes eu me sentia meio obcecada por notas altas, mas fazer o quê, nasci assim.


Maria, a Amiga, vinha em minha direção, e pela sua expressão agitada era sinal que tinha fofoca.


- O que foi? – já perguntei, interessada.


- Franco Longbottom se inscreveu para o coral! – ela disse sem rodeios. Eu gostava assim, odiava ficar curiosa, Maria sabia disso.


- Franco, o Herbólogo? – perguntei incrédula. – Tá brincando!


- Pois é! – ela estava prestes a dar pulinhos. – Alice deve ter insistido muito, porque o cara é totalmente avoado...


- E onde ela está? – perguntei tão agitada quanto ela.


- Deve estar na Sala Comunal, vamos! – Maria me puxou pela mão.


Sim, somos curiosas e obcecadas por uma boa fofoca. Esse era o recorde, pois não é todo ano que se tem tanto rebuliço no segundo dia de aula!


Corremos de volta para a torre da Grifinória, eu sentindo meu estômago roncar. Vou aproveitar e roubar algumas barras de cereal que Alice guardava estrategicamente debaixo do travesseiro.




James POV:


- ... por isso eu digo que as melhores são as mais novas. – Almofadinhas continuava a tagarelar.


- Sirius, dá pra você calar essa boca? – disse com irritação.


- Ih cara, você anda muito marrento por esses dias. – ele respondeu, aborrecido por eu ter o interrompido.


- Por sua causa, Almofadas, por sua culpa... – repeti, e ele bufou.


- Você é muito idiota de continuar a correr atrás da lily. Desiste cara. Volte a ser o bom e velho James Potter, o guerreiro contra os sonserinos, o pegador das melhores garotas de Hogwarts. Caramba, você tá muito chato.


Não respondi, ainda olhando pro dossel da cama.


Aluado estava jogado em sua cama, lendo e fingindo prestar atenção do que Sirius dizia. Rabicho era o único que parecia interessado, e Sirius, percebendo que eu não voltaria a responder voltou a falar.


- Viu como Beth Cox está esse ano? Caramba... – Sirius suspirou.


- Ela está no sétimo ano também. – Aluado respondeu. – Não é nova do jeito que você tá falando.


- Mas tem umas que dá pra ser exceção... – Sirius deu uma pequena risada. – Não é ela que dorme no mesmo dormitório que Lily e as outras?


- É. – respondi automaticamente. Sirius deu de ombros.


- O que não faz muita diferença...


Nesse momento Franco entrou no quarto, meio corado e abalado. Me perguntei o que aconteceu.


- Olá. – disse simplesmente.


- Falaí cantor. – Sirius riu descaradamente.


- Cantor? – questionei, me aprumando melhor na cama.


- É, eu... – ele começou, remexendo no seu malão, sem olhar pra nós. – Eu me inscrevi pro coral.


- Por que você fez isso? – exclamei, assustado.


- Por causa da Alice. – ele disse, ainda de cabeça baixa. Não precisava ver o rosto dele pra saber que estava corando.


- Você só pode ter um distúrbio mental. Cantar! – Sirius soltou um bufo alto. – É muita idiotice.


Franco virou-se para encará-lo.


- Já pensou em fazer uma dupla com Dorcas Meadowes, Sirius? – ele disse irritado.


- Já saí com ela no quinto ano. – Sirius falou com indiferença. – Mas é muito chatinha.


- O sujo falando do mal lavado. – Franco resmungou, e eu e Aluado rimos.


Foi duro aguentar Sirius falar pelo resto da noite. Todo começo de ano é assim, ele fica "avaliando as possibilidades", como ele mesmo diz.


Franco e Aluado só estudavam, Rabicho tentava arranjar paciência pra prestar atenção em Sirius, e eu continuava deitado, pensando. Pensando em Lily, pensando no que Almofadinhas tinha dito.


Fiquei confuso, mas decidi me enfiar debaixo das cobertas pra pegar no sono. Amanhã será um longo dia.




Franco POV:


- Você está linda, cresceu bastante... – falei baixinho para um pequenino ramo de cocleária. – Vai ficar enorme.


- Franco? – ouvi uma voz atrás de mim. Virei rapidamente. Alice estava ali, meio acanhada.


- Oi. – falei simplesmente.


- Oi. Er... – ela tentou começar. – Podemos conversar?


- Claro. – respondi, e fiquei imóvel.


- Pode ser em... outro lugar? – ela disse constrangida, olhando hesitante para um enorme heléboro que mexia os braços com voracidade.


- Ah, sim... claro. – respondi, e a acompanhei para fora da estufa. Ao contrário dela, eu me sentia totalmente a vontade ali.


Paramos perto da escada, ao lado de uma armadura. Ela me olhou profundamente antes de voltar a falar.


- Por que fez aquilo?


Não respondi de imediato, pensando na resposta.


- Por você. Pra... tentar me redimir.


- Não precisava. – ela me fitou, cruzando os braços. – Você virou fofoca na escola tanto quanto eu e acho que isso te incomoda, pelo que eu te conheço.


- Não tem problema. – falei. – Aquilo que você me disse... me fez acordar. Você é minha amiga, e eu não sei nada sobre você. É como... – engoli em seco, me odiando pela minha vergonha. – É como se você fosse uma desconhecida pra mim.


Ela não respondeu, só me fitava.


- Acho que com o clube a gente vai ter mais oportunidades de se conhecer melhor. – finalizei.


- E desde quando você sabe cantar? – ela perguntou enfim.


- Eu não sei. – olhei para meus pés. – Não sei se o Professor Moreau vai me aceitar, de qualquer modo... não custa tentar.


Alice continuou de braços cruzados, mas por fim relaxou e sorriu.


- Me desculpe também por... ter dito tudo aquilo. Acho que te magoei. – ela mordeu o lábio inferior.


- Não, de maneira alguma. – eu balancei a cabeça. – Você só me fez perceber o idiota que eu estava sendo. Só falando e falando, nunca te dando a oportunidade de se expressar, de mostrar quem você é, eu... Eu sinto muito, Alice. Minha mãe sempre me disse que eu falo muito, que quando começo não paro. Eu acho que puxei isso da minha avó, caramba ela fala tanto que as vezes nem dá pra gente dizer uma única palavra. Uma vez meus primos lançaram um feitiço da língua presa pra ver se ela parava de matracar, mas o feitiço não fez efeito! Foi muito hilário, e eles vivem ameaçando fazer o mesmo comigo, mas tenho que me controlar e parar um pouco porque senão fico igual a ela, sozinha, falando com o gato e reclamando de tudo. Não quero acabar um velho ranzinza e...


Fui interrompido por Alice, que começara a rir.


- Falei demais de novo, não é? – falei, sentindo o rubor subir pelo meu pescoço. – Desculpe.


- Tudo bem. Foi engraçado. – ela voltou a rir. Fiquei um pouco envergonhado, mas comecei a rir junto dela depois.


Era uma grande sorte ter Alice como amiga, e ainda não tinha percebido o quanto ela era divertida, companheira... e além de tudo bonita.


Voltei menos abalado para o dormitório, e pra minha infelicidade Sirius já soubera da notícia. Tive que ouvir o falatório dele, e por incrível que pareça James não falou tanto.


Acho que acabei dormindo primeiro que todos, pois sabia que apesar de James estar enrolado nas cobertas, ele estava acordado.




Maria POV:


Eu e Lílian quase não piscávamos enquanto olhávamos para a entrada do dormitório. Beth e Louise já dormiam. O tanto que Beth roncava, vou te falar!


Já ia pensando em enfiar uma almofada na cara da garota, quando a porta do dormitório se abriu e eis que entra Alice, cara sonhadora, sorriso bobo.


- Alice Brown, pode vim aqui agora e dizer pra gente porque diabos Franco Longbottom, o Herbólogo, se inscreveu para o coral. – falei de uma vez. Enrolação não é comigo. – Vocês estão namorando?


- O quê? – Alice arregalou os olhos. – Não, mas o que... Tá louca Maria?


- Então por quê? – Lily perguntou.


- Eu contei pra vocês o que eu deixei escapar pro Franco? – ela suspirou.


E a medida que ela contava, eu levava cotoveladas de Lílian me impedindo de interromper. Quando Alice terminou, falei tudo de uma vez.


- Como assim você xingou o Franco? Ele não ficou bravo, não chorou, nada? Por que ele entrou pro coral? Quero dizer, você tem razão quanto ao ponto de ele não deixar você falar, mas...


- Maria, eu já disse que tá tudo resolvido. Finalmente ele vai parar um pouco de falar e dar atenção a mim, eu espero. Vamos ficar mais próximos. E – ela acrescentou, vendo minha expressão de protesto. – Somos apenas amigos. Amigos e nada mais.


- Sei. – fiz descaso.


- Que bom que deu tudo certo então. – Lily bocejou. – Estava te esperando pra dormir sem curiosidade. Tenho que dormir porque amanhã tem aula.


- Infelizmente. – completei, e Alice riu.


- E finalmente vou dormir tranquila. – ela comentou, voltando com sua expressão sonhadora. Essa aí tá apaixonada, não me engana.


Deitei na minha cama, amaldiçoando Beth, a Ronqueira, por impedir meu preciso sono.




QUARTA-FEIRA


Sophie McKinnon:


AAAAAAAH! Só podem tá brincando comigo!


Cadê as amigas quando mais precisamos delas? Dorcas, amiga-da-onça e Emelina a anja-diaba, onde estão? Vou lançar um vaso de mandrágoras na cabeça delas! AAAAARGH!


Mais uma vez, atrasada. Por que elas não me acordam, não me jogam água na cara, não batem em mim? AAAAAH! Onde está meu sapato? Meu uniforme, cadê? O que o gato da Dorcas tá fazendo com minhas meias?


Por Merlim, Slughorn vai me matar.


Sai desesperada do dormitório, sentindo meu estômago roncar e sentindo desespero ao descer as escadas. Tudo tava tão vazio... É só eu ou todo mundo se sente melhor ao ver que tem mais atrasados junto com você?


Sai pelo buraco do retrato, desembestada, amaldiçoando Emelina e Dorcas com o pensamento. Atravessei fantasmas, atropelei Madame Nora, mas eu tinha que chegar lá.


Foi então que aconteceu a pior parte do meu dia. Estava chuvoso, isso dava pra se saber pelos relâmpagos horríveis lá fora – sim, eu tenho medo de relâmpagos. Algum indivíduo muito filho da mãe deixou a porcaria da janela aberta. Resultado, poça de água no corredor. Eu correndo mais poça de água no corredor é igual eu caindo e deslizando em toda velocidade.


Me senti uma bola de hóquei, mas pelo menos eu ia chegar mais rápido, tirando a roupa molhada. E lá estava eu, meio amedontrada e meio risonha pela diversão que a poça me proporcionara, quando aparece O estorvo, A barreira pra acabar com minha diversão. Só sei que saí derrubando alguém, levando o indivíduo comigo, foi engraçado, tirando a parte que o indivíduo me sufocava por ser mais pesado que eu. Então eu e o indivíduo deslizávamos que nem num parque de diversões, e eu e o indivíduo esquecemos que o corredor era mais longo e dava direto para a saída do castelo. Eu e o indivíduo fomos parar um pouco além do Saguão de Entrada pra lá. O indivíduo e eu caímos com tudo na poça de lama, espirrando água e barro pra todo lado, na minha cara e na minha roupa.


Demorei um tempo pra me recuperar do tombo, sentindo entrar água até onde não devia. Ouvi dizer que os trouxas usam lama para banho de beleza, quem sabe assim não fico esbelta?


O indivíduo tentou se levantar, tossindo, e com dificuldade se colocou em pé. Contei a três, ele se desequilibrou e caiu de novo. Foi minha vez de tentar. Me coloquei de pé. Yeah, passei dos três segundos! Cinco segundos, caí. O indivíduo bufou, e colocou-se de pé. Dois segundos, plaft! Ei, espirrou lama em mim! Fiquei de pé; recorde: seis segundos! O indivíduo se colocou de pé de novo, e dessa vez ele se firmou, e até deu um passo. Isso não ficaria assim! Segurei as pernas dele e plaft de novo.


- Ei! – ele protestou.


- De mim você não ganha! – comecei a rir, e o indivíduo também.


E começamos uma luta frenética de quem conseguia ficar em pé por mais tempo, e sempre que alguém dava um passo, um derrubava o outro. Infantil? Pode até ser, mas foi divertido. Que se dane Slughorn, que se dane aula de Poções, que se danem Emelina e Dorcas, as amigas traíras.


Depois de ficarmos ofegantes de fazer isso, acabamos por ir engatinhando – isso mesmo, engatinhando! – até o saguão de entrada, lugar seco e sem lama.


- Caramba, que lamaceiro! – o indivíduo comentou entre risos.


- É. – concordei, respirando com dificuldade.


Ficamos mais um tempo sem falar, regulando a respiração. Mesmo me lembrando que eu era uma bruxa, comecei a torcer minhas roupas, enquanto o indivíduo, muito gentil por acaso, trazia minha mochila da lama.


- Obrigada. – agradeci quando peguei a mochila, e então me lembrei da apresentação. – Sou Sophie, Sophie McKinnon.


- Claro, te conheço de vista. – o indivíduo respondeu. – Eu sou Sirius, Sirius Black.


- Eu sei. O maroto. – sorri. Mas pra mim ele continuava a ser o indivíduo.


- Mas então, o que estava fazendo no corredor? Matando aula? – ele lançou um sorriso malicioso.


- Não. Mas eu sei que você estava. – pisquei.


- Estou mesmo. – ele concordou sem hesitar, e eu ri.


- Me atrasei. Igual aquele dia em que você também tinha se atrasado.


- Só tinha esquecido o livro... – ele franziu a testa, tentando se lembrar.


O silêncio voltou, enquanto nós dois continuávamos perdidos em pensamentos.


- Bem, acho que vou me secar antes do segundo horário. – fiquei de pé, e agora sabia que ia durar mais tempo.


- Eu também. Vou com você.


Seguimos o rumo até a torre da Grifinória evitando o corredor lamacento, até chegarmos a Mulher Gorda, que nos lançou um olhar de desaprovação ao ver nosso estado.


Não dos despedimos ao subir cada um pro seu dormitório, pois dizemos voltar juntos pra próxima aula.


Porém, quando desci de volta para a Sala Comunal, ele não estava lá como combinado.




Lílian POV:


Oi, garotas. – MM


Maria, estamos na aula da McGonagall! Ela vê tudo, com certeza vai perceber esses bilhetinhos. – LE


É, ela tem olhar de gato, literalmente. – AB


Tô nem aí, preciso conversar, senão vou acabar dormindo. – MM


Você vai acabar é levando bronca, isso sim. – LE


Lily, para de ser medrosa. É só um pergaminho. – MM


Último ano é sagrado. Não quero perder ponto à toa! – LE


Aham, você disse a mesma coisa ano passado, e retrasado, e no quarto ano também, e terceiro... – MM


Gente, foi só eu que percebi que Sirius e a Sophie mataram a mesma aula hoje? Será que estão juntos? – AB


Sophie McKinnon? Com Sirius Black? Haha, não me faça rir Alice. – MM


Por que não poderia? – AB


Sophie não é o tipo de garota que Sirius Black se interessa. Ele gosta de garotas com muito porte, se é que me entende. – MM


Eu acho Sophie bonita. – LE


Olhos azuis são bonitos, mas de longe deixam uma pessoa bonita só com isso. – MM


Também acho ela bonita. – AB


Magra demais pra Sirius Black. – MM


Eu já vi ele sair com muitas meninas "sem grande porte". – LE


São raras. – MM


Ouvi dizer que ele está de olhos em Beth Cox. – AB


O QUÊ? Alice, como você deixa essa fofoca passar? Beth Cox, a Ronqueira? Desde quando isso? – MM


Bom... Franco me contou na aula de Poções. Levei um susto quando ele me falou sobre isso, ele geralmente me falava sobre plantas... – AB


Isso é ótimo! - MM


Não é? Sinal que ele está mudando! - AB


Não, não isso. É ótimo porque temos um investigador entre os marotos! – MM


Beth Cox? Quem imaginaria hein... Realmente, ela voltou diferente desse verão... – LE


Ela é legal, mas que ronca isso ronca. – MM


E você a considera com "grande porte"? – AB


Um pouco. Nem tanto, só um pouco. – MM


Iih, McGonagall tá olhando pra gente. Fujam para as colinas! – LE




Remo Lupin POV:


E aí, galera. – SB


Desde quando você manda bilhetinhos? – RL


Coisa de marica. – JP


Vi as meninas fazerem isso uma vez, achei divertido. – SB


Você é louco, Sirius. – JP


Obrigado. – SB


E quanto Beth Cox, Almofadinhas. Conseguiu conquistá-la? – RL


Não tive minha chance. – SB


E matando a curiosidade, por que você trocou de roupa? – JP


Pois é, cai no barro. – SB


Queria ter visto. – RL


Eu também. – PP


Pare de rir, Pontas. O Professor Binns tá olhando pra cá! – SB


Como isso aconteceu? – RL


Me levaram. – SB


Como é? – JP


Aquela garota, Suelen McKinnon, me levou junto com ela enquanto escorregava. – SB


Suelen? Não seria a Sophie? – RL


Aluado como sempre íntimo da mulherada. – SB


Queria ter visto também, droga. – JP


Mas já me recuperei. Ei, vocês sabem o horário da Beth? – SB


Não, pergunte pra Lily. – JP


Ihh. – SB


Pare de lançar esse maldito papel na minha cabeça! – JP


Você anda muito estressado, Pontas, e olhe que já estamos no terceiro tempo. Tem que se divertir um pouco. Que tal tirar com a cara do Ranhoso hoje? – SB


Certo, mas Lily não pode saber. – JP


Sem comentários pra você. – SB


Sem comentários pra vocês, deixem ele em paz. – RL


Falou Remo, a Lílian edição número dois. – SB


Então tá marcado, hoje às sete horas. – JP


Combinado. - SB




Dorcas POV:


- Tá falando sério? – exclamei.


- Shhhhh, fale baixo. – Sophie pediu, mas não dei muita atenção.


- Sirius Black te deu um fora!


- O que... m-mas, o quê? Pare, o que... – ela balbuciou, enquanto eu ria.


- Dorcas e a mania de distorcer tudo o que a gente diz. – Emelina balançou a cabeça.


- Fico imaginando vocês dois na lama, imaginando sua cara ao não ver ele te esperando...


- Você fala como isso fosse um encontro, credo. – Sophie reclamou.


- É hilário! – voltei a rir. Sophie olhou pro teto encantado, Emelina lia o livro de Transfiguração enquanto comia.


Fiquei mais tempo rindo feito idiota, até ficar séria de uma hora pra outra, subitamente mesmo. Só uma coisa – ou melhor, pessoa – faria eu agir assim. Me aprumei.


- Oi maninha! – Jason McKinnon se sentou do lado de Sophie, de frente pra mim. Como estava lindo hoje!


- Jason! Tudo bem? – ela deu um beijinho no rosto dele. Ah, se fosse eu no lugar dela!


- Beleza e você? Mamãe nos mandou essa carta hoje. – ele entregou um envelope roxo. – Anda tendo muito trabalho no Ministério pelo visto.


- Em que departamento Marlene trabalha mesmo? – me intrometi na conversa.


- Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. – Sophie respondeu, me olhando meio irritada, pois sabia que eu sabia. Droga, não queria que ela respondesse!


- Te vejo mais tarde então. – ele sorriu, acenou pra mim e Emelina e saiu caminhando.


Eu o segui com o olhar.


- Desiste Dorquinhas. – Sophie começou a rir.


Grrr. Simplesmente odeio quando me chamam de Dorquinhas. Odeio Jason McKinnon por não notar minha presença. Odeio quando a Sophie dá uma de malandra. Odeio essa porcaria de waffles que os elfos preparam! Odeio tudo!


Peguei minha mochila e sai irritada pelo Salão, atropelando alguns calouros. Sinceramente, não me importei.




James Potter POV:


- Ainda não acredito que Binns pegou o bilhete! – Almofadinhas reclamava. – Ele é mais lerdo do que aquela aluna da Lufa-Lufa que achava que o Dumbledore era o Papai Noel. Sinceramente, como ele fez isso? As garotas conseguem se livrar da McGonagall, McGonagall!


- Também, você estava jogando ele na minha cabeça! – reclamei.


Sirius deu de ombros.


- Ainda bem que fiz um feitiço para que ninguém mais lesse. Sou um gênio.


- Você pegou esse feitiço da Lily. – Aluado respondeu.


- E por falar nela... – Rabicho, apontou pra frente. Lílian se encontrava almoçando sozinha, lendo um livro ladeado por sua sopa. Havia um lugar vazio ao lado dela.


- Vai lá. – Aluado me deu um pequeno empurrão.


Caminhei até ela e me sentei.


- Oi. – eu disse simplesmente.


Ela parou um pouco de comer ao reconhecer minha voz, mas não olhou pra mim.


- O que você quer, Potter?


- Conversar, não posso?


Ela bufou, fechou o livro e jogou na mesa com força.


- Olhe para mim – ela disse, o que não era preciso. Quem resiste aqueles olhos verdes? – E preste muita, muita atenção no que vou te dizer.


Não respondi.


- Eu não quero nada com você. N-A-D-A! Nada! Não quero sua amizade, não quero sua companhia, nada! Você é desprezível, só serve pra me encher, pra me atormentar, e é um idiota. Não quero mais ver você pintado de ouro, de prata ou qualquer cor que você preferir. Você é um estorvo na minha vida e você cansa! Simplesmente me cansa! Então pegue sua vassoura e vai voar pra outro lugar que eu não estou com nenhuma vontade de olhar pra sua cara e sentir desprezo. Entendeu?


Ela respirou fundo depois de falar, pois disse tudo rápido. Depois continuou a me fitar, esperando por minha resposta.


Me senti meio triste, e também chateado. Mas senti raiva também. Tudo o que ela disse acabou me magoando, e eu sempre corri atrás dela, vivi atrás dela pra quê? Pra ela despejar tudo isso na minha cara?


Droga, como fui burro. Almofadinhas, por pior que isso pareça, tinha razão.


- Tudo bem. – falei, recolhendo minha mochila. – Tudo bem.


Me levantei e sai, sem falar mais nada.


Se prepare Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, James Potter está de volta.




Lílian POV:


Sim, estou de TPM. Saí xingando tudo e todos hoje apenas pelo fato de estar com fome. Maria e Alice ficaram até com medo de mim e ainda não estão aqui na mesa comigo. Potter, o Idiota, veio me atormentar de novo, e eu já o dispensei. De um jeito meio agressivo, que até eu fiquei com medo, mas dispensei.


Logo Maria e Alice estavam de volta, meio cautelosas.


- Se acalmou? – Alice perguntou se sentando.


- Creio que sim. – falei com a boa cheia.


- Vi de longe você discutir com Pontas. – Maria disse se servindo.


- Aah, me estressei com ele, de novo.


- Acho que dessa vez vai ser diferente. – Alice comentou.


- Como assim? – eu e Maria perguntamos em uníssono.


- Eu sei muito bem... interpretar as pessoas, e dessa vez James parecia realmente magoado. E sabe como homem fica quando está magoado.


- Como? – Maria questionou.


- Fica irritado e meio vingativo. – ela deu de ombros. – E eles parecia assim. Acho que você realmente o chateou, Lily...


- Isso é bom. Quem sabe assim ele não sai do meu pé de vez. – voltei a comer, indiferente.


- Credo Lílian, você é tão má. – Maria começou. Já sabia o que estava por vir:"Você tem que dar uma chance pra ele". – Você tem que dar uma chance pra ele!


- Não. – falei simplesmente.


- É, mas parece que agora é tarde, não é? – Maria falou, meio aborrecida. – De acordo com Alice ele cansou de você. Você pegou pesado.


- Duvido. Não te dou uma hora pra ele estar me atormentando de novo.


- Talvez não. – Alice disse.


- Qual é! É James Potter! Eu não sou a paixão dele, a paixão dele é me atormentar! Logo estará aqui me pedindo pra sair...


- Eu não acredito nisso. – Maria insistiu. – Ele cansou de você.


- Cansou nada. – retruquei.


- Cansou sim!


- Não. Ele sempre fala que desistiu, mas sempre volta.


- Mentira. Agora ele cansou. – Maria visivelmente se divertia.


- Não, não cansou!


- Cansou sim!


- Quer apostar? – soltei. Oh-oh. Apostar com Maria é a mesma coisa que lidar com duendes, não é confiável.


Me lembro de nossa última aposta... Era sobre quem ganharia o jogo de quadribol, e é claro, ela chegou até o subordinar o goleiro do time pra ele fazer de tudo pra perder. Vê se pode!


- Aposto. O quê? – ela perguntou interessada.


- Ahn... em menos de 24 horas ele vai me encher o saco de novo.


- E se 24 horas se passarem e ele não te encher, eu ganho. – os olhos de Maria brilharam.


- Mas não vale trapacear! – alertei, apontando o dedo acusatoriamente. – Nada de pedir pra ele ficar longe de mim ou coisa do tipo!


- Não vai precisar de eu trapacear. – ela disse confiante.


- Vamos fazer o Voto Perpétuo. – propus.


- Que Voto Perpétuo o que, tá louca? – Alice se espantou.


- Então já sabe – Maria parecia animada -, se até o almoço de amanhã ele não correr atrás de você, eu ganho.


- Posso estabelecer o prêmio? – Alice entrou na conversa, pela primeira vez entusiasmada com nossa disputa.


- Qual? – perguntei.


- Quem perder vai entrar para o coral da Grifinória! – ela exclamou, vibrante com a ideia.


- O QUÊ? Não, isso não é justo Alice! – reclamei.


Maria gargalhou.


- Eu sei que vou ganhar. Coral da Grifinória, dê boas-vindas ao mais novo membro: Lílian Evans!


- Alice, não é justo... – comecei a protestar.


- Aposta é aposta. – Maria deu de ombros, tranquila.


- Tudo bem. – falei, convicta. – Eu vou ganhar mesmo.


- É o que veremos.


Droga, não deveria ter feito essa aposta. E se eu perder? De jeito maneira vou pro coral, não mesmo, haha.


Vai esperando Maria, vai esperando.




Sirius POV:


- Onde você se meteu? – cochichei para Pontas, quando ele fora o último a chegar à aula de herbologia. As estufas já estavam lotadas de alunos batalhando para reenvazar vários ramos de begônias, por sinal totalmente loucas.


- Encontrei com Louise Cooper no corredor do terceiro andar. – ele disse com um sorriso estranho, colocando suas luvas de pele de dragão.


- E daí?


- E daí o que, Almofadas? – ele me olhou cético.


- O que Louise Cooper tem a ver com seu atraso? – perguntei.


Ele me lançou um olhar significativo, ao mesmo tempo em que eu quase deixei um vaso cair no meu pé.


- Vai me dizer... Vai me dizer que você...


- Não sei pra que tanto espanto. – ele disse fazendo um muxoxo, entretido com sua begônia.


- Pontas... e Lily? – falei, me recuperando.


- Você mesmo não disse para eu me esquecer dela? Então, é o que eu tô fazendo.


- Tá falando sério?


Ele assentiu.


- Graças a Merlim! – vibrei, mas logo disfarcei, pois o professor percebeu meu entusiasmo.


Quando vi ele se afastar um pouco, voltei a cochichar com Pontas.


- Então, vamos aproveitar seu retorno. – cochichei animado. – Hoje, depois de atormentarmos o Ranhoso, vamos sair por aí em busca de algumas garotas, certo?


- Certo. – ele concordou com uma risada, e então batemos as mãos, espirrando terra pra todo lado.


Espere só Lily saber disso!




Maria POV:


Ê dia que parecia não ter fim esse! Tive que aturar begônias loucas na aula de Herbologia e mais aula de História da Magia nas costas. Tive que pegar um livro na biblioteca para pesquisar mais sobre begônias – dica do professor, porque naquela aula parece que fui a pior de todas. Alice é uma espertinha, tem um amigo gato e sabe-tudo de herbologia com quem contar. Lílian é inteligente, e tem James Potter na cola – pelo menos até a hora do almoço. Ô vida injusta essa! Só vai restar eu, ficando pra titia, e sem namorado fixo – ou rolinho – pra contar aos meus filhos. Oh!


E eu, entretida nos meus pensamentos derradeiros, tombei com alguém. Me desequilibrei e cai pra trás. Até aí tudo bem, até eu reconhecer a voz da pessoa.


- Olha por onde anda! – ele reclamou.


- Olha você! – retruquei, então encarei o ser. - Não acredito que é você de novo!


O garoto era ninguém menos que Jason McKinnon, sempre disposto a me estressar.


- Ah, você é a Louca do Trem, não é? – ele disse com desdém. Quem ele pensa que é pra me dar apelidos?


- E você é o Sem Educação de Hogwarts, não é? Desprazer em te conhecer. Meu nome é Não te Interessa, e tenha um mau dia. – falei.


- Como você é chata!


- E você é ignorante e o Sem Educação de Hogwarts! Agora me dê licença que eu tenho mais coisa pra fazer.


E saí de nariz empinado, tirando da cabeça encontros com pessoas indesejáveis.


Como as garotas o achavam bonito? Ok, ele não era de se jogar fora, mas sua ignorância e sua idiotice estragaram toda a beleza dele. Caramba, como a Sophie pode ter um irmão desses? Acho ela um fofa, uma amor de pessoa, e ele é um trasgo daquele, me poupe!


Credo, quero distância daquele menino perturbado. Eu hein.




Lílian POV:


Agora eu estou com medo.


É incrível o fato de que quanto mais você quer ver a pessoa, mais ela desaparece, e vice-versa. Cadê Potter, o Idiota quando precisamos dele? Deve estar se embebedando por aí, pois sua idiotice só pode ter essa justificativa.


A última vez que eu o vi foi sair da última aula do dia, Poções. Eu teria corrido atrás dele se Slughorn não tivesse me prendido em suas demoradas especulações sobre o próximo Clube do Slug. Mas pensando bem, o que eu iria dizer pra ele? "Olhe aqui, eu te odeio, você já sabe disso. Só que eu fiz uma droga de aposta com Maria, e quem perder vai ter que entrar pro Coral, o que é estúpido. E por isso tenho que te pedir pra correr atrás de mim, pelo menos uma vez, na frente dela de preferência. Faria isso por mim?". É ridículo.


Mas agora já estava tarde, e eu tinha até a hora do almoço de amanhã pra dar um jeito de falar com ele... Imagina, eu cantando! Pffff.


Agora só me resta torcer pra que o antigo Potter volte, e se não voltar, eu o farei.


Ok, isso foi completamente idiota. Eu estou sendo completamente idiota em trapacear, mas achei estranho, muito estranho.


Não sei nem como consegui dormir, com essa preocupação martelando na minha cabeça.




QUINTA-FEIRA


James POV:


Almofadinhas parecia um tomate de tão vermelho, parecia que ia explodir a qualquer momento. Acho que fazia uns cinco minutos que ele não conseguia parar de rir, enquanto andávamos pelo corredor até o Salão Principal. Ele só sossegou um pouco quando chegamos à massa de alunos, todos indo tomar o café da manhã.


- Ainda... – ele tentou dizer, regulando a respiração. – Ainda não consigo esquecer da cara do Ranhoso. Ontem foi a melhor noite de todas!


- Já espalhando sua opção sexual, Black? – ouvi a voz insuportável de Dorcas Meadowes em meu ouvido, logo de manhã. Não mereço. – Se eu fosse você tomava cuidado...


Sirius a olhou com desprezo.


- A não ser que você queira que eu espalhe pra toda Hogwarts que você tem hálito de bubotúbera, fique quieta. – ele cortou, e eu não resisti a sufocar um riso.


Ela não fez uma cara muito agradável, e logo havia sumido no meio da multidão.


- Essa garota é louca. – Sirius comentou, então senti ser puxado pra trás.


No momento eu fiquei perdido, só via cabeças, enquanto a mão – por ser delicada, macia e leve me fazia perceber ser feminina – ainda me puxava.


E pra minha surpresa, dei de cara com Lily, encostados a um canto mais isolado do corredor. Estávamos tão perto um do outro que cheguei a ficar meio tonto.


- Preciso de um favor seu. – ela disse rapidamente.


- O quê? – perguntei, ainda parado e meio hipnotizado. Estava concentrado nos seus lábios enquanto falava.


- Só... – ela começou, então se afastou um pouco, andando de um lado pro outro, indecisa. – Só vá me procurar, agora.


- Como assim? – senti voltar ao normal, enquanto o velho James também voltava.


- Enquanto eu estiver na mesa do café, você vai até mim e pede pra falar comigo. – ela disse por fim, depois de andar mais um pouco.


- Por que eu faria isso? – perguntei com rispidez. Ela pareceu não notar.


- É um favor que eu te peço.


- Você nunca fez um favor pra mim, por que eu faria um favor pra você?


Ela me encarou.


- Nunca fiz porque você nunca pediu.


Bufei.


- Nunca mesmo! – ela franziu a testa. – A única coisa que você pediu pra mim foi sair com você, o que, na verdade, não é um pedido, e sim um convite pra morte!


- Ah é? – desafiei, sentindo o sangue subir pelo pescoço. – Pois então fique sentada, pois não vou fazer nenhum favor pra você!


E dei as costas, irritado.


- Ei! Potter! – ouvi ela gritar, e então puxou meu braço pra me deter. Antigamente eu ficaria aos pulos apenas por ela ter me tocado, mas soltei meu braço, sem me virar, escutando o que ela tinha a dizer.


- O que há de errado com você? – ela perguntou, e dessa vez calmamente. Primeira vez que ela falava assim comigo.


- Eu te escutei, como você queria. – respondi, sem encará-la. Sabia que se fizesse isso ia tudo por água abaixo. – Cansei de correr atrás de você. É melhor comemorar.


E dizendo isso continuei meu caminho para o Salão Principal.




Alice POV:


- Cadê a Lílian? – perguntei com a boca cheia.


- Também quero saber. – Maria respondeu com um sorriso maroto. – James acabou de chegar. – ela acenou com a cabeça para a entrada do Salão, onde um moreno vinha entrando. – Parece estar furioso. Por que será, hein?


- Não sei. – falei com sinceridade. – Lílian!


Ela vinha até nós, e não estava com uma cara muito boa – não posso dizer isso em voz alta. Parecia... intrigada.


- Oi Lílian! – Maria saudou com entusiasmo. – Pronta para se inscrever hoje?


- Não amola, Maria. – ela disse chateada, e começou a se servir.


- O que aconteceu? – questionei.


- Potter. – ela respondeu, emburrada. Que novidade, nem sei porque eu perguntei. Mas algo estava errado. Geralmente ela chegava irritada, xingando ele de tudo quanto é nome, mas agora ela está... magoada?


- O que aconteceu? – Maria repetiu minha pergunta.


- Ele tá estranho... – ela disse, e então olhou pra gente chocada, como se tivesse deixado escapar alguma coisa.


- Desde quando você fala assim dele? – Maria se divertia.


- Caramba... ele tá estranho! Gente, parem com isso! Não sei do que vocês tão falando... eu... vou fazer patrulha. – falou rapidamente, se levantando.


- Espera, espera! – Maria fez um sinal com as mãos. – Você nem tomou seu café! E desde quando você faz patrulha nessas horas?


- Eu faço quando eu quero. Maria, não dá pra falar agora, tô atrasada, tchau! – ela disse, perdida, e saiu correndo feito louca – tá, foi exagero, mas ela tá meio louca sim.


- O que foi isso? – Maria gargalhou finalmente, depois de tanto tempo segurando.


- Também me pergunto. – falei vagamente.


Pelo que eu conheço da minha amiga, Lílian estava confusa. Quando ela se agita demais, faz coisas loucas, sem sentido e é super descontrolada. Uma crise foi demonstrada nesse momento, e agora ela deve estar por aí, talvez chorando, se o caso for grave demais.


Mas o que será que James fez? Com certeza não é bom. Nunca foi.




Emelina Vance POV:


Oi! – DM


Dorcas, pegou a mania dos bilhetinhos também? – SM


Relaxa, não sou igual aos marotos, que se ACHAM espertos, mas acabam sendo pegos por um fantasma velho, inacreditável! – DM


Hoje você está mais irritante do que o normal. – EV


Obrigada pelo comentário comovente, Emelina. – DM


Ela tem razão. – SM


Pois isso não vem ao caso. Hoje acordei mau humorada mesmo. E o melhor remédio pra isso é falar mal dos outros. Viu como estava o cabelo da Lílian Evans essa manhã? – DM


Francamente Dorcas, às vezes sua personalidade me faz sentir mal. – SM


Isso é bom. Pelo menos podem dizer que tenho uma personalidade forte. – DM


Concordo com Sophie, pare de falar mal dos outros! O que eles fizeram pra você? – EV


Nasceram. – DM


Imagina o que você fala da gente pelas costas... – SM


Nada, porque, felizmente, vocês são minhas amigas. Senão... – DM


Eu teria minha auto-estima desmoronada, sim. - SM


Com certeza. – EV


Gente, eu escutei uma conversa hoje. – DM


Nós sabemos que você gosta de se meter na vida dos outros Dorcas, não precisa nos lembrar disso. – SM


Te ignorei Sophie, te ignorei. Continuando. A conversa era entre James Potter e Sirius Black, as maravilhas de Hogwarts. Eles estavam dizendo sobre a noite ontem ter sido demais, ou coisa assim. Com certeza eles aprontaram alguma coisa. Disseram que eles – pelo menos o James – iam sossegar, e pelo visto é mentira. – DM


Emelina, você tá entendendo a matéria? - SM


Um pouco. Mas nada que uma revisão reforçada mais tarde resolva. – EV


Concordo. – SM


Peraí! Vocês vão me ignorar desse jeito? Eu aqui com um babado e você me ignorando completamente, como assim? – DM


Assuntos fúteis na aula de Feitiços não nos interessa. – SM


Não mesmo. – EV


Argh! Como vocês são chatas! – DM


Que horas podemos estudar hoje, So? – EV


Quando quiser, Lina. – SM


Você não se cansam de me desprezar? – DM


Estamos ocupadas. – EV


Aham, trocando apelidinhos, marcando horários de estudos e me deixando de fora! – DM


Ora, deixe de ser ciumenta Dorcas! – SM


Ignorei você de novo Sophie, te ignorei! – DM


E quanto ao coral? Mais alguém se inscreveu? – EV


Mais algum doido você quer dizer né Lina. Acho que ninguém vai ter coragem. – DM


Acho que mais ninguém vai se inscrever, afinal, você já certificou que qualquer um que entrasse ia se arrepender, a julgar por seus comentários. – SM


Só falo a verdade. – DM


Aham, você sempre fala a verdade. Mas parece que nunca ouviu dizer que a verdade as vezes machuca. – EV


Antes uma total sincera do que uma víbora mentirosa! – DM


Me controlei para não rir agora. Dorcas, você é uma víbora de nascença! – SM


Já te ignorei faz tempo Sophie, é sério. E para o seu saber, eu já sei o porquê de tanta revolta em relação a mim. Só porque estou apostando meu charme no seu irmão você está nervosa. Você não me engana. – DM


Também. Mas você não pode negar que é uma víbora. – SM


Vamos esquecer os bilhetinhos e fazer nossas anotações? Caso não perceberam, Flitwick encheu o quadro! – EV


Emelina, deixa de ser "a garota certinha", estamos numa discussão importante nesse momento. – DM


Lina tem razão. Não vou continuar com isso. Vou prestar atenção na aula, porque ISSO SIM é importante. – SM


Tudo bem. Mas você não me escapa Sophie McKinnon, teremos essa conversa mais tarde. – DM




Lílian POV:


O sinal tocou. MEU SANTO MERLIM! O que é que eu faço da minha vida?


Espere. Eu já sei.


Vou rir. Hahahahaha.


Tenho que rir para não chorar. Se Maria realmente acha que eu vou entrar pro coral, ela não tem noção do tanto que está enganada.


Corri pra fora do Salão Principal depois de um momento constrangido em que deixei escapar minhas especulações sobre a súbita mudança de opinião de Potter, o Idiota. E agora eu estou saindo da aula de Poções, a qual convenientemente Maria não está presente (ela não gosta da matéria, nem de Slughorn). Nas primeiras aulas, duas seguidas de Feitiços, Maria e Alice não paravam de me encarar, procurando por informações sobre meu estranho comportamento. E querem saber? Não devo satisfação a elas.


Isso foi cruel. Quem sou eu pra falar assim das minhas amigas?


Mas Maria é cruel, então Alice tinha o direito de saber... mais tarde. Agora eu tinha mais coisas preocupantes na cabeça.


A aposta acaba no momento em que eu entrar no Salão Principal para o almoço. Merlim que me proteja.


Mas eu tenho três opções:


1) Me jogar no lago, esquecendo o primeiro mês de aula de natação que tive aos nove anos de idade. A morte seria uma desculpa para não entrar no coral, para não perder a aposta, e para não ser apontada pela escola inteira.


2) Ignorar a aposta. Ser super cruel, e não levar em consideração. Essa é boa. Mas Maria também é cruel, então vai ser uma tarefa difícil...


3) Me trancar no Salão Comunal, roubar as barras de cereais escondidas estrategicamente debaixo do travesseiro de Alice – as restantes – e com isso matar meu apetite até as próximas aulas. Ignorar Maria por completo, dar uma de amnésia, esquecer da aposta e ser cínica ao máximo que eu puder. Ah, sim. E ser cruel. Muito cruel.


Analisei atentamente as três propostas tentadoras, e logo descartei a primeira. Não queria morrer... ainda. Pelo menos de morte, porque de vergonha... E além do mais não queria deixar meu legado aos meus pais, e nem dar gosto pra aquelas sonserinas metidas. Argh!


A segunda é ótima, a terceira também. Fiquei em dúvida agora. Porém a mais viável é a terceira. Ser cruel, a Esquecida e cínica ao mesmo tempo é comigo mesmo. Sim, sou uma ótima atriz. Se Hogwarts abrisse um grupo de teatro eu participaria, talvez...


Mas eu menti. Sou péssima atriz em momentos tensos, pessoais e sentimentais. E não minto muito bem. Ok, descarto a possibilidade de ser atriz. Com certeza não é pra mim.


Continuei a caminhar pra fora da sala, perdida em um turbilhão de pensamentos. Torci as mãos, nervosa. E soltei um grito quando alguém segurou meu ombro.


Alguns se assustaram, mas eu fiquei calma ao ver o dono do "aperto do ombro".


- Ah, olá Remo. – falei, depois de controlar minha respiração que havia aumentado relativamente. – Como vai?


- Estou ótimo. E você? – ele perguntou cauteloso. Calma Remo, eu quis dizer, não vou gritar mais, eu prometo.


- Também. – falei com a voz tremida, o que me denunciou rapidamente. Viu como eu minto mal?


- Tem certeza? – ele ergueu as sobrancelhas, enquanto seus olhos desciam para meus dedos que pareciam nós de tão contorcidos.


- Não. – suspirei, desmontando os ombros. – Estou péssima. E com fome. Mas não posso ir pro Salão Principal.


- E por que não? – ele questionou, enquanto seguíamos pelo corredor lentamente.


- É que... – parei, e o encarei. Confiar ou não confiar? Eis a questão. Ele era amigo do Potter, o Idiota e do Sirius, o Sacana. Não sei se podia abrir minhas preocupações eminentes – e em certo ponto de vista, totalmente sem sentido – a ele. Hum. Ponderei.


- E então? – era como se ele soubesse que eu estava raciocinando sobre meu poder de fidelidade que ele exalava para mim.


- Promete não contar para o Idiota e o Sacana? – franzi a testa, me certificando que ele pudesse sentir a pressão do meu olhar.


Ele pareceu não entender de começo a quem eu estava me referindo, mas sua mente se clareou, e ele sorriu.


- Claro que sim.


- Ótimo. – suspirei, um pouco mais aliviada. – É que eu fiz uma aposta...


Durante todo o caminho eu contei tudo, derradeiramente e com um pouco de tristeza e mais desespero do que o necessário. Ele me ouviu sem interromper, mas suas expressões respondiam por si. Às vezes ele queria rir, outras ele parecia intrigado. Por fim, terminei a história ao parar de andar, perto de um corredor ao lado do Salão Principal, pois como eu dissera, não queria entrar ali ainda.


- E agora, o que eu faço? – voltei a torcer as mãos. – Não quero entrar para o coral!


- Ora, simplesmente se recuse. Pontas vive não cumprindo as apostas que faz com Almofadinhas... – ele pausou, com medo que eu me importasse com o Idiota, mas não, eu não me importava. Minha reputação como garota-que-vive-longe-de-coisas-como-corais-sem-sentido é o que mais importa agora.


- Não dá! – comecei a andar de um lado para o outro, movendo as mãos com impaciência. – Maria é cruel. E quando digo que é realmente cruel...


- Cruel o bastante para te forçar a entrar para o coral? – ele perguntou com evidente incrença.


- Você realmente não sabe do que eu tô falando... – frisei.


Flashback:


Meu quarto ano em Hogwarts, beira do lago.


Presentes: Lílian Evans, Maria MacDonald, Chuck Gary e Alyson Yang.


- Como é Gary? – Maria falou com entusiasmo e malícia. – Você me disse no café ontem que não tinha medo da lula gigante!


- M-Mas... – o garoto gaguejou. – Eu estava mentindo!


- Não me interessa. – ela disse com indiferença, e ele recuou um pouco mais pra perto de Yang, seu amigo com total cara de "ok, que não sobre pra mim". – Você disse, agora eu quero ver.


- Maria, pare com isso! – insisti, temerosa com sua obsessão louca. – Pare de atormentar o garoto. Ele é uma criança!


- Nós também somos. – ela deu de ombros, e eu fiz a famosa expressão de "quem é que diz que já é adolescente, hein?".


- Vamos, eu quero ver! – ela voltou a gritar.


- Eu estava mentindo! Eu morro de medo da lula gigante! – ele pediu, mas Maria não alterou a expressão... e nem sua decisão.


- Vou contar até três...


- Maria, isso é tão idiota! Você tá parecendo Potter e sua turma!


- Você já me disse isso Lily, e eu não me importo muito. – sim, naquela época ela era mais cruel do que hoje, até mais louca do que Dorcas; o que o tempo não faz com uma pessoa...


- Por favor...


- Um! – Maria disse, e sem aviso prévio, se aproximou do garoto e o empurrou no lago.


Ouvi o grito de Yang, e o riso de Maria – eu tinha muito medo dela, é sério.


- Maria! Você é louca? – berrei, enquanto eu tentava ver o garoto na água. – E se ele não souber nadar?


Maria deu de ombros, ainda gargalhando. Mas pra sua sorte – ou não, ela poderia já saber do que aconteceria – a lula gigante o ergueu da água e colocou-o gentilmente no chão. Foi legal e o garoto estava bem. Mas Maria ganhou um mês de detenção...


Fim do Flashback


- Tô perdida! – exclamei novamente.


- Calma Lily. Conversa com ela direito. – eu sabia que Remo queria rir, mas como o bom amigo e ouvinte que é, se segurou. Ah, é por isso que eu amo garotos fofos e dispostos a ajudar garotas em estado deplorável. – Se ela for realmente sua amiga não vai te forçar a isso.


- Há! – bufei alto. – Aposta é aposta para Maria, ou seja, fugir de uma é a mesma coisa que ver o Filch de bom humor.


Remo franziu a testa, e eu desabei no chão. E chorei.


Fiquei com medo de mim naquele momento, totalmente histérica, mas era o meu estado agora, muito histérica.


Remo se agachou ao meu lado e me consolou com um aperto no ombro, enquanto eu soluçava.


- Calma, Lily, não é pra tanto... – ele murmurou; tadinho, eu devo estar assustando ele. – Tudo vai se resolver...


Continuei a chorar, impossibilitada de responder.


- Tem alguma coisa que eu possa fazer? – ele perguntou angustiado.


Levantei a cabeça, secando as lágrimas. Tentei me controlar.


- Não. – respondi, rouca. Mas então pisquei. – Ou melhor, sim. Pode ir pro Salão Principal. Se você encontrar Maria e ela perguntar de mim, diga que não me viu.


- E você?


- Eu vou me trancar no dormitório até as próximas aulas. – decidi, me pondo de pé com sua ajuda.


- Tem certeza que vai ficar bem? – ele me avaliava com cuidado, e eu assenti, sorrindo.


- Obrigada, Remo. – falei, dando-lhe um abraço. – Obrigada por me aturar e... por me ajudar com minhas crises.


Ele riu.


- Amigos são pra isso Lily. – ele piscou, com um aceno.


Vi Remo se afastar, enquanto me recuperava. Sequei mais um pouco meu rosto úmido e recolhi meu material do chão.


Essa era a solução: me trancar no dormitório todo almoço. Eu sei que "E se 24 horas se passarem e ele não te encher", Maria ganhava, mas vamos dizer que não entendi as regras muito bem.


É, é isso. Lá vou eu roubar as barras de cereais escondidas estrategicamente debaixo do travesseiro de Alice.




Sirius POV:


- Onde é que você esteve? – Peter foi o primeiro a perguntar, quando vimos Aluado chegar à mesa coçando a cabeça, meio perdido.


- Er...


- Se agarrando com alguma monitora por aí, Aluado? – James perguntou, e rimos, enquanto Aluado se sentava, balançando a cabeça em forma de reprovação.


- Eu estava com Lily.


Essas quatro únicas palavras – ainda mais a última – fez a risada se desfazer no ar e o sorriso de Pontas virar um mero esgar.


- O quê? – James balbuciou, e Aluado ergueu a cabeça, sem entender.


- Eu estava falando com Lily. – ele suspirou entre palavras, enquanto se esticava para alcançar o prato de batatas. – Ela... bem, não estava num bom momento.


Pontas ficou sem resposta e não alterou sua posição; parecia raciocinar. Troquei um rápido olhar indagador com Rabicho, que parecia mais confuso que eu.


- O que aconteceu? – questionei representando a dúvida geral, e Aluado suspirou novamente, mastigando.


- Sinto muito, não posso falar. – ele disse com a boca cheia, e eu bufei. – É um segredo dela, e eu sou de manter minha palavra. – ele insistiu.


- E por que ela não veio falar comigo? – Pontas soltou com um rosnado, e olhamos diretamente para ele, sobrancelhas erguidas.


- Quem é que estava tentando se esquecer dela? – Aluado perguntou com veemência, mas James não respondeu.


Balancei a cabeça quando Pontas se virou para seu prato, olhando diretamente pra frente, como uma criança mimada. Pelo resto da refeição cismava querer ignorar Aluado, que parecia mais perdido que calouros da aula de Poções.


Não é a toa. Só Merlim sabe o que se passa na cabeça de um garoto apaixonado.


Algo que eu não vou querer saber um dia.




Sophie POV:


- Olha aqui Dorcas, da próxima vez que você fizer isso, eu juro que vou pegar seu cabelo modelo Slash e puxar até não sobrar nenhum fio! – eu continuava a gritar desesperada, e Dorcas apenas morria de se contorcer, rindo feito uma idiota, mesmo com todos os apelidos totalmente ofensivos que consegui reunir em minha cabeça. Estávamos adentrando o Salão Principal naquele momento, e eu continuava a tentar tirar toda a meleca verde – aquela meleca que virou moda e todo mundo anda jogando no cabelo dos outros. Sim, Dorcas roubou aquilo de um garoto quartanista e fez a arte de jogar dentro da minha camisa!


Sim, ela é uma retardada de primeira.


- E pare de rir, sua besta, estou em um momento desesperado! – continuei a contestar, me coçando inteiramente. Merlim, isso não está ficando muito bom. – Está coçando, Dorcas. É sério!


Dorcas ria sem parar, e tive que recorrer a Emelina que estava comendo e ao mesmo tempo concentrada no livro em sua frente. Ela ergueu os olhos quando nos aproximamos, com um sorriso. Viu meu desespero, e como uma amiga DE VERDADE, se levantou, acolhedora.


- Soo, o que aconteceu? – ela avaliou minha situação de esguelha, enquanto eu coçava descontroladamente meu pescoço e parte do tórax. Merlim me odeia, eu sei que sim.


- Me ajuda! Tá coçando muito! – guinchei meio que sufocada, lutando de coçar, minhas unhas praticamente perfurando meu colo; juro que se eu saísse sem pele eu faria Dorcas comer!


Isso foi nojento.


Bem, bem nojento.


Deixa pra lá.


- Socorro! – gritei, e fiquei ciente que parte – ou todo – Salão Principal me encarava agora; a louca da coceira, a retardada que quer se matar enfiando as unhas no próprio pescoço.


- Não estou lembrando do feitiço! – Lina falava aturdida, sacudindo as mãos freneticamente. Dorcas havia capotado no banco, chegando a tossir de tanto rir. Tomara que ela engasga e morra.


- NÃO PRECISA DE FEITIÇO, EU VOU MORRER! – berrei feito uma fugitiva do St. Mungus, e ouvi risadas e exclamações.


- Eu não sei... – Emelina disse, e então tentou conter, sem sucesso, minhas unhas descontroladas. Sentia meu pescoço ferver.


- Argh! – vociferei.


- Tire a roupa! – Emelina disse, e começou a desabotoar minha capa preta de Hogwarts. Me afastei, me debatendo porque diabos nenhum professor aparece para salvar a vida de uma pobre aluna desesperada e sufocada. Se eu morrer eu vou me juntar à Murta que Geme e atormentar não só o banheiro, mas como toda a escola, infernizando cada alma viva que passar por aqui!


Pro meu constrangimento total, algumas pessoas – alunos pervertidos e idiotas o bastante para não entender a situação trágica do momento – começaram a soltar exclamações que deveriam ser extremamente censuradas para alunos do primeiro ano. Emelina jogou a veste pro lado, e agora estava eu ali, prestes a pagar o mico do ano – que mal começou – e ficar pelada NA FRENTE DA ESCOLA INTEIRA!


Merlim, o que eu te fiz?


Emelina me ajudou a tirar a camisa por baixo da veste, e com certo suspiro momentâneo, percebi que por precaução depois do último banho de lama eu havia deixado minha camisa do pijama por baixo de todas as outras vestes. Ah, Merlim me ama.


Ou não.


Não, ele não me ama.


Meu pijama surrado, velho e batido, e totalmente decotado com desenhinhos nada mais nada menos que vaquinhas agora estava a mostra de todas as pessoas possíveis, as quais eu agora tinha certeza que ia me humilhar pro resto de toda minha vida.


Banheiro feminino do segundo andar, aí vou eu.


Me encolhi, ainda coçando, esperando as risadas, zombarias, e seja mais o que Merlim esteja guardando pra mim, quando, pra minha satisfação – ou não, depende do ponto de vista, ou melhor, depende do ponto de vista de Merlim – ouvi a voz de McGonagall se aproximar.


- Srta. McKinnon? – ela me olhou de cima a baixo, se perguntando – ou talvez rindo internamente – o porquê de eu estar usando um pijama inapropriado para um Salão Principal lotado. – Srta. McKinnon, o que está acontecendo?


- Er... – comecei, mas Emelina interveio.


- É uma longa história professora – ela olhou pra mim, balançando a cabeça. – Podemos, por favor, conversar em outro lugar, quando Sophie estiver vestida?


McGonagall nos olhou – severamente, como sempre - mas acabou por assentir.


- Me acompanhem. – ela disse de nariz em pé, e saiu pelo Salão, eu atrás, me coçando feito um cachorro pulguento. Emelina se encarregou de pegar minhas roupas e nosso material para nos acompanhar. Eu sentia o Salão olhar pra mim, a idiota da coceira, a garota que tira a roupa publicamente, a vergonha de Hogwarts.


Merlim, espero que você tenha seguro de vida.




Lílian POV:


Depois da minha conversa com Remo, fiquei mais tranquila.


Quero dizer, Maria não pode me forçar a nada, pode? Claro que não pode. Eu vou ser cruel. Simplesmente cruel.


Mesmo que acabei por tomar essa decisão, ainda assim parti para o dormitório, sabe, para garantir. Os corredores vazios devido à presença de todos no Salão Principal para o almoço me fazia sentir muito mais aliviada, porque, com certeza se estivesse cheios, imagens daquelas pessoas rindo e apontado para mim passariam na minha cabeça, o que faria, consequentemente, eu correr até o lago e me afogar.


Mas tudo estava calmo e tranquilo, e com certeza a sala comunal também estaria, então eu estava feliz e remansada, quase saltitante, caminhando animada pelo corredor.


Cheguei ao retrato da Mulher Gorda, falei a senha conveniente "Poção para Animar" e entrei.


Epa.


Ah, não.


Não, não mesmo.


Poção para Animar uma ova!


Mal entro na porcaria da sala comunal e dou de cara com quem, com quem?


Maria MacDonald, sorriso enviesado nos seus lábios carnudos – e invejados por Alice, que eu sei -, braços cruzados na entrada da sala comunal.


Alice Brown, sorrindo debilmente, as mãos cruzadas animadamente, olhos brilhando.


- AH! – gritei, e já ia voltando para fora do buraco do retrato quando senti um puxão na minha capa. Perdi o equilíbrio e caí de borco no chão. Senti um estalo nas costas. Doeu.


- Ai Maria! – exclamei, rolando no chão de dor. – Ai, ai, ai!


- Iih, para de drama. – Maria revirou os olhos, enquanto Alice, muito cuidadosamente, mas não deixando de sorrir, me ajudava a levantar do chão. Senti como se tivesse levado um soco nas costelas.


- Drama? – reclamei, acariciando meus ossos, fazendo caretas que nem eu mesma queria ver. – Drama? Se jogue de costas no chão pra ver o drama!


- Você tentou fugir, isso foi uma punição. – Maria sorriu perversamente, e eu me encolhi.


- Não estava fugindo, só estava...


- Sendo uma covarde a ponto de não cumprir seu trato na aposta, sim. – ela falou com as mãos, e se jogou na poltrona mais próxima. – Aposta, que por acaso, você perdeu.


- Não, não perdi! – menti, muito mal mentido, mas menti. – Ele veio me perturbar depois da aula de Poções!


Maria gargalhou.


- Mentirosa você, hein Lílian Evans? – ela balançou a cabeça. – Vamos lá. Cumpra sua parte.


- Eu já disse que...


- Eu observei James o tempo todo, mesmo que você não tenha reparado. Fiquei parada na porta da sala de Poções, aproveitando que eu tinha matado a aula de Runas Antigas. – ela me interrompeu, vendo que eu ia a repreender. – Mas parecia que você estava muito aflita pensando em uma boa desculpa que pudesse te livrar de tudo isso e acabou passando por mim sem perceber.


- Agora é você que está sendo mentirosa! – tentei fugir, mas Maria não cedeu. Agora está totalmente claro por que foi a maior burrada de toda minha vida ter feito mais uma aposta com Maria MacDonald. Isso é louco e insano, e ela trata como se isso fosse um jogo pela vida, ou algo do tipo. Ai.


- Não estou mentindo. – ela respondeu, sem se alterar. – Se eu tivesse mentindo, como eu ia saber que você tentou o convencer a te procurar para que eu visse?


Congelei.


Ah, não.


Como ela... como ela sabia disso?


Ai.


- Não adianta negar, Lilianzita, sua cara de espanto confirmou tudo. – ela sorriu de forma ameaçadora, e se aproximou de mim, apoiando-se em meu ombro. – Admita que você deve estar se perguntando como eu sei disso? Eu tenho minhas fontes sabe... Sou muito rigorosa quanto a apostas.


E eu concordo com você, minha amiga, concordo mesmo.


- E você me disse pra não trapacear! – ela bufou, e então me lançou um olhar de reprovação. De reprovação! – Se eu não te conhecesse direito, diria que você está com medo.


E eu estou. Completa e definitivamente.


Ai.


- Agora vamos lá! – ela disse como uma criança animada num parque de diversões. Alice riu com sua idiotice. – Vamos pegar a peninha e escrever seu nomezinho no papelzinho.


Maria me puxou até o quadro de avisos, e por mais que eu tentava me esquivar, ela puxava mais bruscamente.


- Pronto, agora – ela disse, me entregando uma pena. – Assine.


- Não. – engoli em seco, mas a julgar por sua expressão meio insana, peguei a pena.


Escrevi o L e a olhei. Ela me lançou um olhar de incentivo. Escrevi o I, e a encarei novamente, talvez receando que ela mudasse de ideia. Ah, não.


Terminei de escrever meu nome e dessa vez olhei para Alice, em busca de ajuda, que foi a mesma coisa que nada. Sua expressão era a mesma que a de Maria, esperançosa e encorajadora. Ai.


Terminei o "Evans" com um suspiro, e devolvi-lhe a pena.


- Dramático, hein? – Alice abraçou meus ombros rindo.


- Eu vou matar você, Maria MacDonald. – falei um tanto abalada, e o que Maria fez? Riu.


Mas não uma risadinha, ou um som estranho vindo do nariz, não. Foi uma gargalhada. Alta e retumbante que poderia chamar a atenção de todos se a sala estivesse cheia. E ela ria sem parar, feito uma hiena.


- Argh. – murmurei, e surpreendi por não ter chorado. Acho que fiquei aliviada porque não doeu, como meu cérebro pensava.


- Foi tão difícil assim? – Alice me perguntou, ainda olhando inusitada para Maria, que ainda se dobrava, aos risos – e agora lágrimas.


- Você não está entendendo. – eu frisei cada palavra, olhando fixamente para Maria e resistindo a vontade de meter um tijolo em sua cabeça. – Eu acabei de assinar meu testamento de morte!


- Ai, Lily, credo! Que exagero! – Alice disse, e eu fingi não ouvir, perdida em pensamentos horríveis que eu seria lembrada pro resto da minha vida o quão idiota eu sou de participar de um coral estúpido por conta de uma aposta ridícula! Ai, eu me odeio.


Eu odeio a Maria.


Que por acaso continuava a rir.


Mas agora parou.


- É sério – ela disse com dificuldade, acariciando o estômago. Quer que eu acaricie pra você? Quem sabe um chute não resolveria? – Você precisava ter visto sua cara.


- Tenho espelho pra isso. – falei, rabugenta. Maria balançou a cabeça.


- Você tem que admitir que é impossível ganhar uma aposta de Maria MacDonald, por mais tola que ela seja. – ela sorriu com orgulho, e eu arranquei seu coro fora com o olhar.


- Você. Vai. Me. Pagar. – eu disse, e então virei a cara.


- Ah, Lily, não fique com raiva de mim. – ela se ajoelhou diante de mim, com uma falsa expressão de súplica. – Me perdoe, mas isso foi pro seu próprio bem.


- Bah! – bufei e corri até as escadas em espirais, com o intuito de me jogar na minha cama e chorar até ficar seca e morrer.


Antes, porém, de conseguir cumprir o que meu cérebro pedia desesperadamente, ouvi Maria gritar.


- Um dia você vai me agradecer por isso!


Ai, eu estou perdida.




Remo POV:


Depois da confusão notavelmente sem sentido de Sophie McKinnon, olhei para os outros, esperando alguma explicação ou algum tipo de comentário.


E, respectivamente, eis que estão meus amigos marotos:


Rabicho parecia ter rido o suficiente para se engasgar com o suco de abóbora. Tentava controlar sua tosse possessiva comendo seu rosbife, voltando à normalidade.


James parecia também ter rido, e agora olhava para Sirius – buscando um comentário, assim como eu –, mas ficou abobado ao ver a expressão de Sirius, que a propósito era a mais estranha.


Sirius parecia atordoado e até corado, de uma maneira meio estranha e desconhecida. Ainda olhava para as portas do Salão Principal, onde McGonagall havia acabado de sair com McKinnon e Vance nos calcanhares.


Olhei para James, que não me olhou de volta. Ainda estava bravo com Merlim-sabe-lá-o-quê, e então balançou Almofadinhas.


- Ei, Sirius? – ele perguntou, batendo em seu braço. – Almofadinhas!


- Quê? – ele respondeu com uma voz longe, sem desfocar seu olhar nas suas interessantes portas do Salão.


- Ei! – James gritou, movendo a mão freneticamente perto de seu rosto. – Sirius!


Almofadinhas só voltou seu olhar para nós quando James balançou a mão suficiente para acabar estapeando seu nariz; indignado, Sirius pestanejou.


- Ai! – ele reclamou. – Tá maluco, Pontas?


- Acorda! Parece ter ido para outro mundo. – Pontas riu, mas não abandonou seu olhar indagador. – O que deu em você?


- Nada. – Sirius resmungou, e puxou o prato mais pra perto de si.


- O que tanto te chamou a atenção nas portas, Almofadinhas? – averiguei, e Sirius balançou a cabeça, a boca cheia o impossibilitando de responder.


Olhei novamente para James, mas ainda não me encarou novamente. Mas que diabos estava acontecendo?


- O que foi isso? – Pontas procurou saber, fitando Almofadinhas com evidente curiosidade, com um pequeno sorriso.


Sirius engoliu.


- Não sei do que vocês estão falando. – ele levantou o garfo em protesto, nos olhando com uma expressão inocente; por mais que ele parecesse disfarçar muito bem, eu sabia que estava escondendo algo.


E Pontas também.


- Um minuto atrás você estava olhando pra lá feito idiota. – ele apontou para a entrada do Salão. – Você estava com uma cara de bobo, com a boca aberta...


- É fome.


Suspirei e balancei a cabeça, olhando para o meu prato dessa vez, e percebendo que eu estava rodeado por loucos.


Troquei um olhar insignificativo com Rabicho, que ainda se recuperava de seu ataque de riso.


- Você não vai me esconder isso. Seja lá o que for. – James franziu a testa para Sirius, que deu de ombros.


Loucos. Eu estava rodeado por loucos.




Emelina POV:


Dei um tapa na mão de Sophie para ela parar com a coceira quando chegamos na sala de McGonagall. Não adiantou muito, ela continuava a olhar pra mim desesperada, em busca de apoio, e eu lancei um olhar de censura.


A Professora andou até a mesa, onde se apoiou para olhar diretamente para nós, por sobre os óculos.


- Agora, por favor, podem me explicar o que aconteceu? – ela disse, naquele tom sério que faz os primeiranistas saírem correndo.


Vi de relance Sophie chegar a apertar o pescoço, tal a vermelhidão, e entendi isso como um pedido de ajuda.


- Jogaram aquela gosma verde nela. – falei resumidamente, e McGonagall ergueu as sobrancelhas.


- Gosma verde?


Não acreditei que uma professora bem colocada ainda não sabia a nova "arma" dos estudantes. Obviamente eu não disse isso em voz alta.


- É uma gosma verde que anda virando mania por aí. – expliquei, e ela parecia ainda não entender. – Os garotos jogam isso nas garotas, principalmente no cabelo, e causa uma coceira danada.


Eu sou péssima para explicar as coisas, ainda mais numa situação como aquela. Ainda mais com Minerva McGonagall nos olhando com aquele seu jeito intimidador.


E então, com minha súbita surpresa, Sophie correu até a parede e começara a se esfregar como um gato em nossas pernas, fazendo um barulho desagradável.


- Ei! – exclamei, e a socorri. Coitada. Essa gosma verde ainda vai acabar a matando. – Para! Para!


Com uma briga silenciosa, consegui afastar Sophie da parede, mas isso não a impediu de voltar a se coçar furiosamente.


- É incrível como duas alunas do sétimo ano não conseguem nem ao menos fazer um Feitiço Anti-Coceira!


- Anti o quê? – Sophie perguntou, ao mesmo tempo em que se debatia ao meu aperto para não voltar a se lançar contra a parede.


McGonagall soltou um suspiro pesado.


- Lamentável.


- Lamentável sou eu sofrendo com essa coceira! – Sophie reclamou. – Me ajudem!


Carreguei Sophie até McGonagall, que balançou a varinha rapidamente, não dando tempo nem que eu olhasse o movimento. Como ela queria que eu aprendesse?


- Ah! – Sophie soltou um longo suspiro, deixando os braços cair. Arregalei os olhos ao ver seu pescoço num vermelho horrivelmente forte, como se fosse a pele de um caranguejo-de-fogo, parecia estar queimado.


E então desmaiou.


- Sophie! – me ajoelhei ao seu lado, dando leves tapas em seu rosto.


- Não se preocupe. Às vezes são efeitos colaterais do feitiço. – McGonagall disse despreocupadamente. – Acho melhor levá-la à ala hospitalar.


Assenti, e com dificuldade coloquei Sophie em pé. Quero dizer, ela era até leve e magra, mas eu também era.


Saí meio manca, sufocada por suportá-la apenas por um braço, quando McGonagall me chamou.


- Srta. Vance, por acaso você viu o responsável por jogar essa tal gosma na Srta. McKinnon? – ela perguntou e eu me encolhi.


Não seria nada, nada amigável eu dedurar Dorcas. Ela era insuportável em algumas vezes, e louca em outras, mas não deixava de ser nossa amiga. Mas ela jogou aquela gosma em Sophie, e eu tenho certeza absoluta que ela a denunciaria.


Mas eu era fiel demais para não fazer isso.


- Não, eu não sei quem foi. – respondi, e espero ter saído firmemente. – Estávamos no meio do corredor no meio de toda aquela gente, não deu pra ver.


McGonagall me olhou profundamente. Estava na cara que eu estava mentindo?


- Tudo bem, pode ir. – ela disse finalmente, depois de segundos transcorridos.


- Certo. – eu disse, e continuei meu caminho, imaginando a cara de Sophie ao descobrir o que eu fiz.




David Moreau POV:


Depois de um dia exaustivo, onde os primeiranistas estavam arranjando dificuldades em lançar um Feitiço Escudo, cheguei a minha sala, feliz em realmente poder descansar.


E estava curioso também.


O Feitiço de Aviso estava sendo realmente útil; lancei sobre o papel pregado no quadro de avisos da sala comunal da Grifinória para que eu seja comunicado sobre novos nomes que entrarem para o coral.


De começo, achei que ninguém arriscaria, o que me deixou com medo. Mas para o primeiro coral existente em Hogwarts, até que os números estavam bons.


Me surpreendi quando Alice Brown, sétimo ano, havia se alistado. Não havia me lembrado dela desde então, só prestei mais atenção na hora da chamada. Ela corou ao perceber que eu parei mais tempo que necessário em seu nome, e, como pude perceber, era uma pessoa extremamente tímida, causando o motivo da minha surpresa. Pessoas tímidas sendo umas das primeiras a se inscreverem? Não é muito normal, ainda mais quando mais um aluno tímido, Franco Longbottom, havia se inscrito.


Mas eu estava feliz. Uma dupla é melhor que nada.


E pra minha surpresa – e satisfação – cheguei à sala notando mais um aviso. Outro inscrito!


Cheguei até a cópia do papel que estava sobre a escrivaninha velha e puída, e li: Lílian Evans.


Lílian Evans?


- Agora, alguém pode me dizer características do Feitiço Amortecedor?


Uma garota ruiva, meio corada, levantou a mão rapidamente.


- Sim, senhorita...?


- Evans, Lílian Evans. – ela respondeu mais depressa do que evidentemente pretendia. – O Feitiço Amortecedor foi criado por Elliot Smethwyick, e ele é usado para tornar vassouras de corridas mais confortáveis, e também tem o efeito de amortecer quedas.


- Muito bem! – falei, contente e surpreso. – Dez pontos para Grifinória!


A garota corou mais um pouco, mas parecia satisfeita.


Ah, não.


Se a garota corou e agora está no clube, não deve ter bons motivos. Alunas tem fortes tendências a corarem em minhas aulas – o que me deixa totalmente desconfortável -, talvez por eu ser novo e jovial, não sei. Isso não era bom. Só esperava que esses inscritos soubessem cantar.
E quando a Alice Brown? Será que se inscreveu por realmente querer, ou tem um motivo obscuro? Já a vi muitas vezes perto de Franco Longbottom, o que me deixa suspeitas de um caso de ciúmes. Será?


Não, eles devem ter algum talento.


Realmente devem.


Por que não queria ver o olhar desdenhoso dela novamente.


Eu caminhava pelo corredor, indo para o almoço no Salão Principal, quando fui abordado por uma voz feminina que me chamava longe.


- Moreau! Ei, Moreau!


Me virei, e Stanley vinha até a mim, balançando os cabelos de um jeito charmoso – e ao mesmo tempo irritante -, que eu não gostei.


- O que você deseja Stanley? – falei com um longo suspiro.


- Falar com você. – ela disse, e sua expressão foi preenchida por um sorriso perverso. – Sobre o coral.


- O que? – questionei.


- Queria saber como está indo as coisas. Claro que não quero espiar a concorrência, mas...


- Está tudo indo muito bem. – cortei, mesmo que não seja totalmente verdade. Tínhamos apenas essa tarde e amanhã para mais inscritos.


- Tem certeza? – ela ergueu sua sobrancelha loira.


- Sim. – respondi. – Era só isso?


- Não sei. – ela cruzou os braços e apoiou-se em apenas uma perna. – Ouvi dizer que Grifinória não foi uma casa de muito interesse para o coral.


- Não sei quem te contou isso. – então estreitei os olhos em sua direção. – Mas suponho que você já esteja arranjando espiões?


Ela não respondeu, e eu bufei.


- A competição nem ao menos começou e você já está trapaceando?


- Isso não vem ao caso. – ela fugiu, e eu suspirei, olhando para o teto. – Só quero que fique ciente que a competição não vai ser fácil. Nada fácil.


- Suas ameaças não me afetam.


- Pois deveria. – ela cerrou os lábios. – Afinal, meus vinte membros, e talvez mais, merecem bons competidores para massacrar.


Vinte? Merlim. Escondi minha expressão de choque.


- Pode apostar que terão. – respondi, sem recuar. – Mas quanto aos massacrados, não terei tanta certeza.


Ela deu uma risada sarcástica, e logo depois balançou a cabeça. Me controlei novamente.


- Tudo bem. Ignorei isso. – ela sorriu.


- Era só isso? – repeti, querendo ficar longe de sua personalidade insuportável.


- Não, só quero te dar uma coisa. – ela falou, e me estendeu um livro, que até então não havia percebido que estava segurando; estava muito ocupado controlando meus nervos.


- O que é isso? – perguntei, sem segurá-lo.


- Acho que vai ser útil para... perdedores como você. – controle-se, controle-se. – Regras de uma competição de coral.


Fiquei sem resposta, esperando mais explicações. Ela suspirou.


- Acho que vai ser útil você lê-lo. – ela falou, jogando-o para mim com relaxo. – E, só para você saber do que estou falando, veja a primeira regra da página 57. Só para você saber. – ela deu de ombros.


Eu já ia jogar o livro pela janela mais próxima, quando ela virou-se para continuar seu caminho, ainda com seu sorriso repugnante.


Quando tive certeza que ela estava longe o bastante, abri o livro, só por curiosidade, na página 57, que dizia:


Regra nº23: TODOS OS CORAIS ESCOLARES QUE PARTICIPARÃO DE COMPETIÇÕES TEM QUE HAVER, NO MÍNIMO, DOZE PARTICIPANTES, SEM EXCEÇÕES.


Ah, não.




Remo POV:


James, Sirius e Peter decidiram "passear" por Hogwarts essa noite, mas eu não estava com muita vontade. Ainda mais porque James estava me tratando totalmente estranho sem motivos, o que me faz questionar que diabos eu fiz.


Aliás, eu já tinha que enfrentar noites de lua cheia o bastante para ter que andar por mais tempo por aí, sem falar em várias redações de Transfiguração que já estavam me preocupando.


E, perdido em pensamentos, não percebi como tudo estava diferente. Estavam fofocando novamente quando eu entrei na sala comunal, e deduzi que havia novidades sobre o coral. Nunca vi um assunto causar tanta polêmica antes.


Caminhei, nem tanto interessado, ao quadro de avisos. Disfarcei uma olhada, e me espantei. Droga.


Procurei por uma garota ruiva no amontoado de pessoas que ainda cochichavam entre si, quando a avistei bem no canto da sala, encolhida, quase abraçada ao seu livro de Feitiços.


- Lily? – perguntei cauteloso, me sentando na poltrona ao seu lado; ela não ergueu os olhos, talvez ignorando minha presença.


Ou, talvez, não ter me escutado.


- Er... Lily? – chamei, e agora mais alto. Ela não erguera a cabeça ainda.


Dei uma fraca balançada em seu braço esquerdo, e ela se espantou, quase derrubando a pilha de pergaminhos jogados em cima da mesa ao seu lado.


Descobri o porquê da sua súbita surdez, quando ela tirou do ouvido nada mais nada menos do que abafadores de ouvidos, geralmente usados na aula de Herbologia, mas estes eram bem menores, possibilitando que ela os escondesse debaixo do cabelo.


- Ah, hum... Oi, Remo. – ela deu um sorriso fraco, e parecia um pouco corada. – Tudo bem com você?


- Sim, mas você parece não estar, não é mesmo? – fui direto ao ponto, e seu rosto ficou da cor dos cabelos. – Posso saber o porquê disso?


Ela olhou para os abafadores em suas mãos, e suspirou.


- É que... bem... – ela suspirou novamente. – É o único jeito que arranjei para ignorar os murmurinhos desse povo idiota e tentar estudar.


Tentei, mas não resisti a rir.


- O que foi? – ela me perguntou com os olhos estreitados.


- Nada, é que... – procurei as palavras, mas ela já havia bufado e virado o rosto para o outro lado.


Os segundos se arrastavam enquanto Lily olhava emburrada pela janela e eu tentava regular minha respiração, parando de rir.


- Me desculpe. – falei finalmente, e ela voltou o rosto para mim. – Mas, eu apenas queria saber...


- Por que eu entrei para o coral? – ela completou, erguendo uma sobrancelha. – Pois é, eu também me pergunto.


- Como assim?


- Foi apenas uma aposta com Maria...


E ela começou a me contar toda a história, e a cada palavra fazia uma cara de choro, e quando terminou respirou fundo, fazendo eu supor que estava tentando se controlar.


- Mas o que exatamente era aposta? – perguntei, mas ela balançou a cabeça.


- Sinto muito, mas... – ela corou. – Não posso contar.


Talvez eu também não queira saber, pensei.


- E agora Remo, o que eu faço? – ela afundou a cabeça nas mãos, e quando voltou a falar sua voz saiu abafada. – Já virei fofoca por toda Grifinória e tenho certeza que agora a escola inteira está sabendo disso! Não consigo me imaginar sozinha segurando vela de Franco e Alice, simplesmente não consigo! Eu quero morrer.


Esperei um pouco ela se acalmar, mas não voltou a erguer a cabeça.


- Não precisa fazer tanto drama Lily... – falei, dando tapas fracos em seu ombro. – Você pode desistir depois, e você pode não ser aceita por cantar mal, quero dizer, se é que você canta mal...


- Se eu canto mal? – ela ergueu a cabeça, o rosto vermelho pelas lágrimas. – Eu simplesmente não sei cantar! Nunca cantei na minha vida!


- No chuveiro. – tentei brincar, mas ela balançou a cabeça.


- Nunca.


- Na escola? Aquelas músicas infantis...


- Não. – ela voltou a negar, e eu já estava intrigado.


- Nunca cantou nada? Mas...


- Na escola eu fingia cantar. – ela deu de ombros. – Eu apenas mexia os lábios, e a professora pensava que eu cantava. Mas eu nunca cantei, tenho pavor da minha voz.


Eu ainda estava a encarando.


- É impossível uma pessoa nunca ter cantado na vida. – eu balancei a cabeça. – Um verso, cantar junto com uma música...


- Amo ouvir música, mas nunca canto junto.


A encarei por longos segundos, esperando ela rir anunciando a brincadeira, mas pro meu espanto ela pareceu séria.


- Tá brincando. – eu disse enfim, e ela soltou um pequeno guincho, e voltou a afundar o rosto nas mãos.


- Vou ser um fracasso total! A monitora-chefe vergonha de Hogwarts!


- Lily, logo mais pessoas irão se inscrever e você não estará totalmente sozinha...


- Impossível. – ela fungou, levantando o rosto novamente para secar as lágrimas. – Amanhã é o último dia.


E aquilo não me fez mais argumentar. Apesar de Lily estar sendo dramática até demais, em sua visão, ela realmente estava perdida.




Sophie POV:


- Você O QUÊ? – não consegui me controlar, e vi Madame Pomfrey me lançar um olhar de censura. – Você não pode ter feito isso!


- Mas... – Emelina começou, mas me remexi na cama, inquieta.


- Dorcas jogou aquela gosma em mim e você não falou nada a McGonagall? – perguntei mais uma vez. – Você pode até considerar a amizade com ela fielmente, mas cá entre nós aquilo foi totalmente injusto!


- Sophie, eu...


- Ela merece ser dedurada! Claro que merece! – continuei a extravasar minha raiva, e Emelina tinha uma expressão triste. – Droga Lina! – soltei um longo suspiro, e voltei a falar mais calmamente. – Pode deixar que eu conto a McGonagall.


- Não! – ela exclamou. – Sophie, Dorcas é nossa amiga...


- Ela que pensasse nisso antes de jogar aquele negócio em mim, o que causou uma vergonha danada no Salão Principal, se você não se lembra. E o que ela fez? Ficou rindo!


- Mas...


- Sem mais. Eu vou falar com ela assim que sair dessa droga de ala hospitalar.


Emelina não respondeu; olhou para o outro lado, indecifrável.


- Sinto muito, Lina. – controlei minha voz. – Sério, nada disso teria acontecido se Dorcas...


- Tudo bem, entendi. – Emelina assentiu e me deu um pequeno sorriso.


Um pequeno sorriso que não me deixou convencida.




James POV:


Sirius havia sumido. Nunca conheci alguém que desaparece tão rápida e inexplicavelmente desse jeito. Só sei que estávamos dando uma volta pelos corredores vazios, em busca de alguma diversão – diga-se Ranhoso ou algumas garotas andando por aí -, quando Sirius anunciou que ia dar uma passada na cozinha e era pra nos encontrarmos no quinto andar. E agora nada. Sumiu, escafedeu-se, e estou aqui esperando ele há vinte minutos.


Com certeza achou uma garota primeiro que eu.


Pffff.


Sortudo.


E eu estava entediado, então deixa o Sirius pra lá. Vou pro dormitório, talvez Rabicho e Aluado estejam acordados...


Ao longo do caminhou não achei nenhum sinal de Sirius, estava tudo silencioso. Pelo visto o castelo inteiro estava dormindo, exceto eu e Sirius – e talvez uma garota que ele esteja agarrando.


Passei por algumas passagens secretas a fim de fugir de Filch e sua gata insuportável, e amaldiçoando Sirius por ter ficado com o mapa.


Então segui normalmente para a sala comunal, onde a Mulher Gorda me esperava, sonolenta, pois já estava acostumada com minha aparição noturna.


Quando entrei, pensando em encontrar o vazio da sala e então poder sentar em frente a lareira e refletir, como sempre faço, notei com surpresa que eu estava acompanhado. Acompanhado por...


Lily.


Ela estava perto da janela, com um pergaminho, um livro e uma pena na mão, me lembrando da extensa quantidade de redações que eu tinha que fazer – mesmo que isso não seja tão preocupante para mim. Estava de costas, olhando pra fora ocasionalmente e voltando a escrever em meio a um bocejo.


Hesitei um pouco, e soltei pigarro baixo. Andei.


- Não acha que está tarde demais para uma monitora ficar aqui sozinha? – perguntei forçando indiferença, e ela deu um pulo na cadeira tal o susto.


Ela olhou pra mim, eu olhei de volta. Sua expressão estava anormalmente cansada, como se... tivesse chorado. A curiosidade veio até a mim como um baque.


- E isso são horas de você estar aqui? – ela ergueu as sobrancelhas, e pra minha surpresa sua voz não estava irritante e superior como eu esperava, e nem ao menos parecia ralhar comigo! Estranho. – Onde estava?


- Cozinha. – respondi, e mesmo que eu soubesse que ela ia fazer uma careta me sentei na poltrona a sua frente.


Outra surpresa foi adicionada a minha lista quando ela não teve nenhuma reação, não pegou seu material e subiu correndo as escadas, ou me xingar para me expulsar. Não. Ela apenas olhou para fora da janela novamente. Minha cabeça estava se remoendo.


- Você está bem? – perguntei, pronto para revidar o "Não é da sua conta".


Mas ela deu de ombros.


Mas que diabos estava acontecendo?


- Pare com isso. – eu soltei involuntariamente, a voz levemente irritada. A cabeça dela se virou para mim e o arrependimento tomou conta de minha respiração.


Mas ela pareceu não se ofender. Hã?


- Parar com o quê? – ela perguntou surpresa, e eu soltei um suspiro baixo.


- Você está... – hesitei novamente. – Me torturando.


Ela ergueu uma sobrancelha, e sua expressão estava totalmente questionadora.


- Está agindo diferente. – tentei explicar, me sentindo um idiota. – Não me xingou até agora, não me deu uma baita bronca por estar perambulando pelo castelo tão tarde, não me expulsou daqui...


Foi sua vez de suspirar, e ela se espreguiçou, o rosto exausto.


- Acho que não estou com ânimo para isso. – ela comentou, e pra minha incredulidade me lançou um pequeno sorriso.


Alguma coisa não estava no lugar.


- Ok, que brincadeira é essa? – perguntei, o idiota voltando. – Eu não acho nada engraçado beber uma poção Polissuco e sair fazendo isso, de jeito nenhum.


Ela riu, pro meu espanto.


- Receio que esteja ficando louco. – ela disse simplesmente, e eu cocei a cabeça.


Pensei nas possibilidades. A mais óbvia e claramente alta para meu entendimento é que tomaram uma Poção Polissuco com o cabelo ruivo de Lily, porque o que ela está fazendo não é normal.


A segunda alternativa é que ela tem um distúrbio de dupla personalidade. Hum. Essa é boa, muito boa. Porque no trem ela estava totalmente normal e quase educada comigo, e em Hogwarts voltou a ser uma ranzinza louca. Claro, depois de eu ter tentado a beijar. Argh. Essa possibilidade seria excluída se não fosse por aquelas palavras que ela havia me dito no Salão Principal que me deixou totalmente ofendido.


E por último ela deveria estar magoada, triste por alguma coisa que a magoou, ou com alguma preocupação na cabeça. Ela poderia estar com dificuldades nas aulas. Há! Que piada, não não. Tenho certeza que não é isso. Ela pode ter brigas na família... isso! Já ouvi falar – enquanto a investigava no quinto ano – que ela tem uma irmã trouxa e insuportável. Deve ser isso. Mas porque justo agora? Não. E se for...


Não.


Não, não, não.


Com certeza não é isso. Lily raramente se envolvia com garotos estúpidos de Hogwarts, e quando se envolvia eu ficaria sabendo rapidamente – e metido um soco no nariz do cara. E também Lily não parecia ser o tipo de garota que fica magoada por conta de alguma romance que não deu certo, a não ser que ela goste mesmo dele. Argh, droga. Não, não pode ser isso. Eu não vou deixar ser isso.


O tempo passou depressa enquanto eu me perdia nos meus pensamentos, e decidi manter a voz calmar ao perguntar.


- Está magoada com alguma coisa?


Ela suspirou mais uma vez, e coçou os olhos, o sono evidente.


- Mais ou menos. – ela disse enfim, e eu estava gostando do rumo de nossa conversa, porque, afinal, ela estava falando comigo.


- Se você quiser alguma ajuda... – falei um pouco baixo, com a intenção de não assustá-la.


- Acho que não há nada para se fazer. – respondeu, e eu mordi meu lábio inferior.


- Mas, afinal, o que aconteceu? – perguntei finalmente, e ela ponderou.


- É que eu... – ela abaixou a cabeça; acho que estava envergonhada. Merlim, lá vem bomba. – É que eu entrei pro coral.


Ah. Ah.


Ah!


É isso.


É ISSO!


Controle-se James Potter, você está parecendo um idiota.


- E por que? – questionei, contendo minha felicidade.


- Aposta. – ela resumiu com uma careta.


- MacDonald? – deduzi, e ela assentiu, sorrindo fraco novamente.


- Entendi. – pisquei.


Eu raciocinava um pouco enquanto o silêncio se estabelecia. Lily voltou a olhar pra fora da janela, batendo a pena no livro, até que decidi comentar.


- E você está triste por isso? – eu disse com a voz mais tranquila que pude. – Quero dizer, isso não é tanta preocupação, é?


- Pra mim é, e muita. – ela respondeu. – Não quero participar disso e virar motivo de zoação e crítica por todos.


- E você é de ligar para o que os outros pensam? – soltei, e ela se encolheu.


- Eu sei, só que... – ela abaixou o tom de voz, e quase tive que me aproximar mais pra conseguir ouvi-la. – Não me sinto bem fazendo isso... Eu não quero.


- Ora, então saia.


- Bem que eu queria, só que eu tenho que pelo menos fazer a audição. – ela disse tristemente, e fiquei triste também; era raro vê-la assim. – Parte da aposta.


- E qual foi a aposta?


Ela gemeu.


- Prefiro não dizer. – ela respondeu de um jeito estranho.


- Então eu já sei o que deve fazer. – tentei animá-la (do jeito que Sirius as vezes fazia com Aluado em vésperas de lua cheia).


- O quê? – ela me olhou com pouca esperança, enquanto eu sorria.


- Vá até a audição e cante. Mas cante mal. Muito mal. – falei, e ela fez uma expressão engraçada entre melancolia e diversão.


- Isso é fácil pra mim. – ela respondeu, adquirindo uma postura mais confortável. – Porque acho que o Professor Moreau não vai aceitar alguém que cante mal.


- Bem, esse é o ponto. – balancei a cabeça em afirmação, e ela sorriu.


- Fui boba em não ter pensado nisso antes.


- E mesmo que você entre – completei, enquanto ela parecia relaxar -, é só sair depois. Simples assim.


Ela deu uma risada baixa.


- É, tem razão. – ela concordou, e ri junto dela, talvez feliz por vê-la voltar a rir tão espontaneamente.


- Não precisa se preocupar muito. Isso não é tão sério assim tanto quanto você pensava. – eu disse.


- É. – ela falou, e me lançou um olhar bem diferente: ternura. Pisquei. – Obrigada.


Processei sua voz totalmente macia e grata, e então tive vontade de pular a janela que ela tanto olhava de felicidade.


- Não há de que, Lily. – arrisquei um pouco mais, mas ela apenas começou a recolher suas coisas, mas não de um jeito bruto e enraivecido.


- Acho que vou dormir. Amanhã será um longo dia, não é? – ela falou, e se pôs de pé, fazendo com que eu fizesse o mesmo. – Obrigada mais uma vez.


Ela me deu um último sorriso e caminhou até as escadas circulares, enquanto eu via seu cabelo ruivo sumir.


Quando me certifiquei que ela não voltaria – talvez se esquecido de alguma coisa -, fiz um gesto de vitória, e depois me sentei na poltrona em frente a lareira, pela primeira vez tendo pensamentos bons, pensamentos sobre ela.


Aquilo, sem dúvida nenhuma, fora um progresso.




SEXTA-FEIRA


Dorcas POV:


A droga da claridade da janela mal fechada de Geovana Kummer acabou por me acordar. Dei algumas remexidas na cama, bocejos, gemidos, suspiros, enfiei a cabeça no travesseiro, tudo isso repetidas vezes até decidir levantar.


Esfreguei os olhos e me virei pra sair da cama, mas percebi uma sombra a minha frente, meio que impedindo meu caminho. Pisquei pra desembaçar minha visão quando notei...


- Sophie? – perguntei, mas eu nunca esperaria por aquela sua reação.


- ! – ela gritou, e então senti meu corpo ser sufocado por seu peso. A garota estava louca!


Ela pulou em cima de mim com rapidez, puxando meu cabelo e dando tapas nos lugares mais possíveis; tentei revidar, mas eu havia acabado de acordar e fui pega totalmente de surpresa, deem crédito!


- Para! Para! – eu repetia, enquanto tentava me afastar, mas estava doendo. Argh!


- Sophie! Para com isso! – Emelina gritava alarmada. – Para!


Ouvi o grito assustado das outras garotas do dormitório, enquanto eu gemia de dor com mais um puxão de cabelo.


- Isso – Sophie puxou com mais força – é pra você aprender – puxou o outro lado – a nunca mais – achei que meu couro cabeludo ia sair – fazer aquilo!


- Sophie! – houve mais um grito vindo de Emelina, quando senti minha respiração pulsar quando ela foi retirada de cima de mim.


Levantei da cama com dificuldade, e vi as três garotas segurarem Sophie pelos ombros. Sabia que estava ficando louca, pois me olhava de forma estranha e muito raivosa.


- Você... – tossi. – Você tá louca?


- NÃO FINJA QUE ESTÁ COM AMNÉSIA! VOCÊ SABE MUITO BEM O QUE FEZ! – ela berrou, tentando se soltar.


- Sophie... – Emelina arfava com o esforço. – Sophie, vamos descer!


- Não!


- Você acabou de sair da ala hospitalar, tem que descansar!


- Não antes de...


- Vamos! – Emelina puxou com mais força, e estava conseguindo com êxito levar a doida pra fora do quarto.


Acariciei, carrancuda, meu pescoço e cabeça, que por sinal estava doendo muito. Olhei com irritação para as outras duas que sobraram no dormitório (que nunca gostei muito por sinal), e ambas me olhavam com uma fraca expressão acusadora, se perguntando o que eu fiz para tal escândalo.


- 'Tão olhando o que? – perguntei irritada; as duas deram de ombros e voltaram para suas camas.


Estava ainda absorvendo o que tinha acabado de acontecer, quando ouvi passos apressados. A porta se escancarou, e eis que vem Sophie novamente.


Mas agora eu estava preparada.


- Fique longe de mim sua louca, estou preparada agora e...


Mas ela estava com sua varinha.


Os gritos foram altos quando voei pra fora da cama e senti meu corpo bater contra a parede. Senti algo muito dolorido nas costas, mas o feitiço não pareceu me machucar.


- Sophie, você é louca? – Emelina perguntou alarmada, correndo a me ajudar a levantar. Sim minha cara Lina, ela é. – Você tá bem, Dorcas?


- Tirando o fato da dor nas costelas, sim. – respondi, e então meu olhar parou sobre as outras garotas, inclusive Sophie, que gargalharam.


Hã?


- Parem de rir do meu sofrimento! – rosnei, mas elas se dobravam até agora.


- Oh... – Emelina murmurou, mordendo o lábio.


- O que foi? – perguntei, olhando de uma para outra.


Emelina não respondeu, ainda me encarava com uma expressão estranha, enquanto as outras continuavam a rir descontroladamente.


Droga, ninguém ria de Dorcas Meadowes, ninguém.


- O que foi? – repeti, e dessa vez irritada.


- Dorcas, er... – Emelina começou, enquanto Kummer se agachava aos risos.


- Que diabos... – murmurei sem entender, e foi minha vez de gritar.


Um grito que eu tinha certeza que Hogwarts inteira ouviu.


Ai. Meu. Santo. Merlim.


Tudo teve sua explicação quando me virei para ver meu reflexo no espelho. O que eu esperava? Minha camisa rasgada, meu olho inchado, um sangue escorrendo na minha cara... Mas aquilo... aquilo era bem pior.


Meus olhos arregalados e prestes a descer lágrimas – coisa rara em mim - via meu cabelo. Ou melhor, meu resto de cabelo. Toda a parte superior havia sido simplesmente arrancada fazendo com que eu ficasse careca na frente e com cabelo atrás.


Ah, não. Não, não, não.


NÃO!


- NÃO! – gritei, e saí correndo; Emelina estava prestes a me segurar, temendo meu ataque violento a Sophie, mas eu simplesmente fui em direção ao banheiro e fechei a porta com força suficiente para arrancá-la da parede.


Força pra ninguém no mundo saber que Dorcas Meadowes estava chorando, e que a mesma estava jurando vingança à pessoa que julgava ser sua amiga.




Maria POV:


- Lily, tenho uma ótima notícia pra você! – cheguei correndo animadamente na mesa do café. Lily conversava – um pouco mais entusiasmada, para minha surpresa – com Alice.


- O quê? – ela perguntou, parando a colher de mingau a caminho da boca.


- Houve mais um escrito para te fazer companhia. – anunciei, e Lílian deu um pequeno sorriso.


- Quem?


- Eu não o conheço, mas ele deve ser um gatinho! – falei, sentando-me a seu lado. – É John Khan.


Alice se engasgou com o cereal, e Lílian deu um tapa na testa, balançando a cabeça.


- O que foi? Vocês o conhecem? – perguntei, olhando de uma a outra.


- John Khan é um segundanista, e, pelo que eu ouvir falar, é um futuro maroto. – Alice riu, depois de conseguir respirar novamente.


- Já cobri várias detenções dele. – Lily confirmou.


- Bom, mas nada significa que ele não seja interessante. – dei de ombros e vi Alice e Lily se entreolharem. – Quero dizer, os novos não são nada desaproveitáveis, não é mesmo?


- Maria – Lily frisou, me olhando com ceticismo -, ele bate no meu ombro.


- Mas você não é tão alta, então...


- Maria – Lily me interrompeu com o mesmo olhar -, por que eu estou achando que você está tentando se redimir por ter me forçado a entrar para o coral?


Não respondi.


- Em todo o caso, eu já estou melhor. – ela continuou, voltando ao seu prato. – Já tive uma boa reflexão e não estou mais nervosa.


- Isso é novidade. – Alice respondeu em meu lugar. – O que eu totalmente esperava de você é ficar histérica até amanhã.


- Bom, - Lily deu um sorriso estranho, enquanto jogava a mochila sobre os ombros – na verdade eu já tenho um plano.


E dizendo isso saiu pelo corredor sem dar nenhuma explicação de sua frase misteriosa.


- Peraí, o que ela quis dizer com isso? – perguntei imediatamente para Alice, que deu de ombros.


- Não faço a mínima ideia.


Argh, droga. O que será que Lílian Evans estava aprontando?




Franco POV:


Passei por Lily quando estava indo tomar café no Salão Principal, e ela me deu um aceno seguido por um sorriso. Alice e Maria conversavam na mesa, absortas demais, pois nem notaram minha presença, até eu falar alguma coisa.


- Oi. – falei, e Alice sorriu.


- Bom dia, Franco. Como vai?


- Ótimo, e vocês? – falei enquanto trazia para mim um prato de torradas.


- Estamos bem. – Maria respondeu, e então olhou de mim para Alice com um olhar repentinamente estranho.


- O que foi? – eu e Alice perguntamos em coro.


- Nada. – Maria começou a recolher suas coisas, e então se levantou. – Só não quero segurar v... – pigarreou. – Segurar vaga na cadeira, na aula de Transfiguração pra Lily, sabe como é. Então já estou indo.


- Tchau. – Alice disse simplesmente, e quando a olhei estava totalmente corada.


- Não entendi. – falei com sinceridade, e Alice apenas balançou a cabeça.


- Ela é louca, não dê muita importância. – ela falou, mesmo me deixando totalmente confuso. – Mas então... Ansioso para amanhã?


Soltei um pequeno gemido.


- Mais ou menos.


- Mais pra mais ou mais pra menos? – ela disse com diversão, talvez rindo do meu medo de plateias.


- Pra mais. – soltei com um suspiro, e ela riu. – Mas eu não vou cantar, de qualquer forma.


- Não vai? – Alice parou de rir para erguer as sobrancelhas com ar duvidoso. – Então está participando por quê?


- Por você. – falei isso rapidamente, e nós dois coramos, fazendo questão de olhar para lados opostos.


- Estou um pouco nervosa também. – ela comentou olhando somente para seu prato. – Mas é medo de não ser aceita.


- Você disse que sempre te disseram que canta bem. – tentei animá-la, mesmo com a ideia de que se ela desistisse eu sairia também.


- É o que dizem, mas não tive muito treino. – ela falou, dando de ombros. – Mas o que vale é tentar.


- Tem razão. – concordei.


E agora que eu parei para pensar, eu não tinha a mínima ideia de como eu sairia dessa. Eu não sei cantar, de maneira alguma. E vou pagar vexame.


Ah, droga.




Maria POV:


Livrando-me dos pombinhos, caminhei sem rumo, fazendo qualquer coisa para dar o horário para primeira aula.


Tive que dar meia volta num corredor um pouco movimentado porque vi que Jason McKinnon estava vindo exatamente na minha direção. Não estava nem um pouco a fim de ouvir idiotas falarem na minha cabeça.


Nenhum.


Mas conseguiram. Estava ainda andando por aí feito uma barata tonta quando senti um puxão no meu braço e fui levada para a outra extremidade do corredor, um lugar comparavelmente mais vazio.


- Ai, seu idiota! – xinguei a plenos pulmões.


- Shhhhh! – ele fez um sinal com o dedo. – Preciso falar com você.


- Já está falando. – falei mal-humorada. Qual é, meu braço estava doendo!


- É sobre ela. – ele ignorou minha ironia.


- Fala logo. – cortei.


- Ela está se envolvendo com alguém? – ele perguntou, mas sinceramente, ele não parecia tão interessado. Que estranho.


- Que eu saiba não.


- Ah. – ele comentou simplesmente, e se encostou numa coluna próxima.


- Por que tanto desinteresse? – perguntei, puxando assunto. Afinal, eu não tinha mais nada pra fazer mesmo.


- Desinteresse? – ele ergueu as sobrancelhas. – Se fosse desinteresse eu não estaria te perguntando sobre ela!


- Aham, sei. – falei nem um pouco convencida. – Quando você me abordou ontem estava muito mais entusiasmado.


- Impressão sua. – ele disse, dando um suspiro indiferente. – Estou indo para aula. Até.


- Até. – respondi, escondendo um sorriso, enquanto via ele se afastar.


Esse aí não tem jeito.




Sophie POV:


- ... estou simplesmente falando que você não deveria ter feito aquilo. – Emelina insistia, tomando mais um gole de seu suco de abóbora.


E lá estávamos nós na cozinha, sendo totalmente bem recepcionada pelos elfos de lá, fugindo de supostos comentários que poderiam estar correndo pelo Salão Comunal.


- Eu me descontrolei, tá legal? – fiz um gesto nervoso com as mãos, porque eu estava realmente arrependida. Quero dizer, em partes. – Mas não precisa se preocupar, Madame Pomfrey vai dar um jeito.


- Mas acho que esses tipos de feitiço demoram. E você sabe que Dorcas ama o cabelo dela mais que sua própria mãe. – Emelina fez uma careta relembrando-se do que Dorcas sempre dizia.


- Sempre disse que ela ficava parecendo o Slash com aquele penteado. – contive o riso, quando Lina me olhou repreensiva.


- Ela deve estar uma fera. – Emelina disse tristemente.


- Fera? Fera ficou eu quando ela jogou aquele negócio em mim! – falei irritada. – Pode ter sido cruel da minha parte o feitiço, mas os puxões de cabelo ela bem que mereceu!


Emelina balançou a cabeça negativamente, e começou a olhar para seu copo, a expressão meio desanimada.


- Me desculpe. – relaxei meus ombros, mas Emelina balançou a cabeça de novo.


- Não é a mim que você deve se desculpar.


- Mas você está triste.


- Não é por causa disso.


- Então é pelo quê?


Ela não respondeu, e pra meu incômodo, apenas balançou a cabeça novamente.


Fitei ela durante os segundos de silêncio, quando ela falou.


- As pessoas deveriam parar de nos julgar. – comentou com um longo suspiro.


- Hein? – questionei, mas ela já havia entregado o copo a um elfo de cara cordial, e em seguida se levantou.


- Acho que já estamos atrasadas para aula de McGonagall. – ela mudou de assunto completamente, e eu fiquei perdida. – Vamos?


- Er... Vamos. – entreguei minha tigela vazia de cereal a outro elfo que viera a mim correndo, e então caminhamos em direção a saída.


As pessoas deveriam parar de nos julgar. Sério, eu não entendi nada desse comentário. O que ela quis dizer com isso? O que isso tinha a ver com nosso assunto?


Será que ela se referiria as pessoas que me julgaram naquele momento constrangedor no Salão Principal? É o mais óbvio.


Ou não. Não sei.


Ela tinha que me explicar isso depois.




Lílian POV:


Certo, eu não tenho a mínima ideia porque diabos eu fiz isso.


Só sei que fiz.


Oi, Potter. – LE


Lily? Oi. – JP


Eu queria mais uma vez agradecer por ontem. Acho que te deixei com medo. – LE


Sem dúvida, você não me deu medo. Tem dias piores. – JP


Tem razão. Mas mesmo assim, obrigada. – LE


Não há de quê. – JP


Achei estranho você agir daquele jeito, depois de tudo aquilo que eu te disse antes. – LE


Relaxa, coisas do passado. – LE


Obrigada. – LE


Como vai a expectativa? – JP


Expectativa para que? – LE


Para a audição amanhã. – JP


Tudo como planejado. – LE


Boa sorte. Dê o pior de si. – JP


Darei. Obrigada de novo. – LE


Estou lisonjeado com tanta gratidão. – JP


Acho que é a única coisa que posso lhe oferecer. – LE


Tem algo a mais que com certeza eu aceitaria. – JP


O quê? – LE


Sua amizade. – JP


Bem, vou pensar no seu caso. – LE


Pense, vou esperar por sua resposta. – JP


E o sinal tocou. Devo dizer o tanto que fiquei incomodada com o "Tem algo a mais que com certeza eu aceitaria"? Eu esperava outra coisa, não vou negar que fiquei surpresa...


Amigos? Hum. Não sei. Ele é meio idiota as vezes, talvez ele tenha dupla personalidade, tanto que tentou me beijar no outro dia! Eu não sei, estou confusa demais agora para pensar nas possibilidades.


E ainda havia Alice e Maria.


- O que você tanto trocava bilhetinhos com James Potter? – Alice perguntou enquanto caminhávamos para as masmorras (Maria se esquecera que seu rumo era diferente, tal sua curiosidade).


- Estava agradecendo ele... por ontem. – respondi querendo fugir do assunto, que eu tinha certeza que era impossível, porque, afinal, era de Maria que estamos falando.


- O que aconteceu ontem? – as duas perguntaram ao mesmo tempo, olhos arregalados, e, no caso de Maria, maliciosos.


E eu tive que contar toda a história, o que ocupou toda nossa caminhada para as masmorras. Maria, mais feliz do que nunca por uma coisa totalmente sem sentido, tivera que refazer o caminho para Runas.


Alice também pareceu satisfeita, e ainda repito que isso é totalmente sem sentido. Argh.


Ignorei tudo isso, e voltei a possibilidade de James Potter ser meu amigo.




Sophie POV:


Quando a sineta tocou anunciando o almoço, tive que seguir Emelina pra fora da sala, já que ela nem ao menos quis me esperar. Ficou quieta em todas as aulas, só dizia palavras monossilábicas quando eu perguntava alguma coisa sobre a matéria. Seu olhar andava vago e distante, e Flitwick teve que chamar sua atenção duas vezes na aula.


- Algo aqui não tá certo. – falei pra ela entre o amontoado de alunos que passavam por nós. – Não está certo.


Ela me olhou sem nenhuma emoção.


- Ah. – disse simplesmente, e eu me contive para não bater meu livro de Feitiços na cabeça dela.


- Emelina Vance, algo aqui não está certo com você! – disse com a esperança que ela saísse desse transe estranho. – Eu te conheço, e algo te incomoda! Veja, se for pela Dorcas...


- Ainda acho que deve pedir desculpas a ela. – Emelina olhou pro teto, pela primeira vez falando mais que uma palavra. – Mas não é isso que me incomoda.


- Então o que é? – perguntei, deixando clara minha curiosidade.


Emelina me fitou bem, e depois caminhou pra dentro do Salão sem dizer nenhuma palavra; eu a segui.


- Emelina Vance, estou avisando que é pra você parar com mistérios e... – parei de andar, minhas últimas palavras sumindo no ar.


Droga. Dorcas, a Traidora, estava lá sentada na mesa, entre algumas garotas nojentas que eram suas amigas antigamente – como Veronica Gravelle, conhecida como a garota do engano (suas atitudes remotas faziam com que surgissem boatos que o Chapéu Seletor havia se confundido, e a mandara para Grifinória ao invés da Sonserina – digamos que geralmente ela andava com sonserinas, coisa muito anormal).


Mas então, Dorcas estava lá, para meu – pouco – arrependimento, com um lenço disfarçado na cabeça.


Não estava tão mal. Mentira. Estava estranho para Dorcas Meadowes, que geralmente só optava por usar seu cabelo sempre solto.


Emelina também havia parado no caminho, e me olhou por cima do ombro. Fiz um breve olhar significativo, e ela pareceu entender, pois se sentou o mais longe possível do grupo. Eu a acompanhei, sentando perto de Alice Brown e Franco Longbottom – boatos do novo casalzinho -, mas mesmo assim, era melhor do que sentar perto de Dorcas – que eu senti me fuzilar com o olhar quando passei por ela.


Argh.


- Junto de Veronica Gravelle? – fiz um muxoxo de repulsa. – Que horror, ela deve estar realmente nervosa.


- Acho que ela se sente traída e não quer ficar perto de nós, ou melhor, de você. – Emelina enfatizou a última palavra, mas na verdade não estava olhando pra mim, e sim para o quase casalzinho ao nosso lado.


Estava olhando meio... desgostosa.


Então me veio um clique na cabeça, e olhei de Emelina para Alice e Franco, e para Emelina novamente.


E tudo se clareou.


- EMELINA, QUEM É ELE? – gritei mais alto que pretendia, e grande parte dos alunos presentes se viraram para me olhar.


Sério, sou a maior pagadora de micos do mundo!


Tentei disfarçar abaixando a cabeça para meu prato até as vozes aumentarem e continuar o almoço sem olhar pra mim. Emelina, por acaso, também havia corado.


- Do que você tá falando? – ela falou quase num sussurro.


- Aquele seu papo de "parar de julgar as pessoas" era sobre você! – conclui com uma felicidade tremenda, me sentindo a Sherlock Holmes.


Para meu agrado, ela ficou ainda mais vermelha. Soltei uma pequena risada.


- Não... não é isso. – ela disse constrangida, e eu levantei a mão para impedi-la de continuar.


- Sem problemas, minha cara amiga. Estou a ouvidos. – eu disse naturalmente, escondendo meu entusiasmo, porque, afinal, Emelina estava namorando!


Sabe qual foi a última vez que a vi relacionada com algum menino? Tipo... nunca. Desde que a conheci, ou seja, desde nossos sete anos em Hogwarts. Sabe-se lá se ela teve seu rolinho perto de onde mora, mas em Hogwarts, nunca.


Na verdade, nem eu. Ou melhor, sim. E prefiro não lembrar daquele lufano retardado.


E agora eu estava feliz, porque era conhecimento geral que Emelina Vance era a primeira e maior tímida de Hogwarts, seguida por Alice Brown. E agora essa bomba! Já estava na hora, quero dizer, Brown estava tão grudada a Longbottom...


- Você vai rir de mim. – Emelina declarou, e eu balancei a cabeça.


- De jeito nenhum. – respondi, e não reprimindo minha boca, soltei: - Quem é o cara?


- Cara? – seus olhos arregalaram. – Que cara?


- Ora... o cara! – comentei com uma risada, me divertindo com sua cara perdida. É, pelo visto ela não esperava a pergunta de cara.


- Não entendi. – ela franziu as sobrancelhas em minha direção.


- Quem é ele? – fiz um gesto com o dedo, bebericando meu suco.


- Er... ele? Bem... sei lá, er. Você quer dizer o Professor Moreau?


Me engasguei e contorci, e tossi e quase caí do banco, tamanho meu susto. Como era pra ser, muitos me encaravam, mas meu choque ignorou-os.


- COMO É QUE É?


- Criatura, fala baixo! – Emelina implorou.


- C-como, assim? – gaguejei, ainda me recuperando.


- Ora, você sabia eu...!


- Emelina, você está NAMORANDO o nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? Nosso professor? – falei mais baixo a última parte, pois era estranho pronunciar aquilo.


- Que? – Emelina teria se engasgado se estivesse bebendo algo como eu, mas, esqueci, eu sou a única retardada que consegue essa travessura. – Não! Não, você tá louca! Eu...


- Então o que ele tem a ver com isso? – perguntei, totalmente confusa.


- Coral! Professor Moreau coordena o coral! É disso que estou falando! – ela exclamou, aturdida.


Ah.


Coral.


- Não já menino nenhum? – perguntei, meio desapontada.


- Não! Eu... – ela olhou para os lados. – Estou querendo entrar para o coral.


Fiquei em silêncio.


- Mas estou com medo de me julgarem, e você sabe que isso me incomoda! – ela continuou, constrangida.


- Coral? – falei.


- É. – ela confirmou, torcendo as mãos. – Hoje é o último dia já, eu queria tanto entrar, mas... Você e Dorcas falariam e... Ah.


Ela nem me deixou responder, pegou sua mochila e saiu caminhando depressa pelo Salão, indo Sabe-Merlim-Onde.


Mas eu acho que sabia. E precisava ir até lá.




James POV:


- Ei, cadê o Aluado? – Rabicho perguntou com a boca cheia, e em meio aos barulhos de talheres que enchiam o Salão Principal, ouvi Sirius soltar uma risada.


- Deve estar se agarrando com a Evans por aí!


Senti o ardor subir pelo meu pescoço, e segurando o garfo com mais força que o necessário, tentei ignorar o comentário ridículo.


- Isso é sério. – Rabicho comentou, abaixando a voz. – Vocês sabem que a lua cheia anda se aproximando...


- Claro que sabemos, assim como sabemos que ele está bem. – controlei minha voz, evitando olhar para Almofadinhas, que ainda estava com ar de riso.


- Lílian deve estar o consolando. – Sirius soltou sua risada de cachorro, e eu simplesmente olhei para o teto encantado, que hoje estava meio nublado.


- Acho que você está tentando fugir do assunto, Almofadas. – Rabicho disse, dessa vez debochado. – Ainda não explicou o motivo pelo qual você estava estranho ontem.


Voltei toda minha atenção para conversa dessa vez, e Sirius ficara sério. Devo uma a Rabicho.


- Tem razão. – olhei com malícia quando vi Sirius encher sua boca de comida. – Vai explicar agora?


Ele simplesmente balançou a cabeça, a boca estufada propositalmente.


- É melhor você parar com essa ideia de me atormentar com Lily, Almofadinhas. – sorri de uma forma perversa. – Eu posso te atormentar ainda mais.


- Ainda porque – Rabicho tornou a falar -, você estava trocando bilhetinhos com ela hoje mesmo, não é?


Vi Sirius engoli depressa, e me olhar com surpresa.


- Bilhetinhos com Lily? Por quê? Quando foi que eu não vi? – ele soltou as perguntas, e eu fiz indiferença.


- Estava ajudando ela, pois ela está meio em crise por ter entrado no coral.


- Ela entrou no coral? – Sirius perguntou com desdém, e eu lhe lancei um olhar irritado.


- Aposta com MacDonald, novamente. – respondi entre uma colherada de rosbife. – Você anda tão antenado, Almofadas...


- Mas eu não vi vocês trocarem nada. – ele disse pensativo.


- Claro, você estava dormindo na carteira.


- Em que aula?


- Feitiços. – respondi, e Sirius parou um tempo, franzindo a testa.


- E desde quando vocês conversam?


Comecei a contar a história, sendo interrompido algumas vezes pelos seus comentários sem sentido. Devo admitir que fiquei grato por ele ter sumido aquele dia. Teve boas consequências.


Eu espero.




Maria POV:


- Tenho certeza que vocês vão ser ótimos amigos. – eu insistia para Lily enquanto entrávamos no Salão Principal, já lotado.


- Pra mim tanto faz, Maria. – Lily respondeu, revirando os olhos. – Não precisa fazer tanto alarde, aliás, eu tenho muitas coisas ainda pra me preocupar.


E então passamos perto dos três marotos que conversavam, e nós duas falamos um "olá" em uníssono, seguido por um sorriso. Com desânimo, não percebi nenhuma mudança na expressão de Lily.


- Coral. Já é amanhã e vai ser um fracasso. – Lily tornou a falar. – Eu segurando vela e outro garoto bagunceiro que não tenho ideia do que pretende fazer, quero dizer – ela suspirou -, tenho certeza que ele não entrou sem motivos.


- Ora, nunca se sabe... Ei! Não senta aí! – puxei seu braço para outra direção. – Muito perto de Jason McKinnon...


- Só tem lugares perto da...


Mas já havíamos nos sentado. Nos atrasamos um pouco porque Lily teve que barrar uns alunos soltando bomba de bosta dentro de uma armadura, e Alice seguiu direto pra cá com Franco.


- Eu não acredito. – Lily murmurou desgostosa pra mim.


Não sabia do que ela se referia, só ao seguir seu olhar, diretamente a duas garotas rodeadas por outras duas sextanistas que não me lembrava do nome, mas que não eram nada agradáveis. Entendi a careta de Lily, afinal, era Veronica Gravelle.


Veronica Gravelle MacDonald, infelizmente membro da minha família, que eu sempre tive a máxima vontade de manter distância. Sinceramente, mesmo que as pessoas saibam, nunca iam acreditar que ela era minha prima, porque eu sou melhor amiga de sua antiga arqui-inimiga.


Lily e Veronica não se dão muito bem por que:


#Motivo 1: Veronica tinha/ocasionalmente tem o passatempo de zombar do cabelo de Lily. Não que seja feio, definitivamente não é, pois eu tenho plena certeza que muita gente naquela escola invejava aqueles cabelos ruivos. Não. Lily apenas não o arrumava do jeito que elas estavam acostumadas, usando milhares de feitiços para torna-los perfeitos. Lily não era do tipo que se maquiava, que se importa pra esse tipo de coisa. Todo mundo sabia que ela era inteligente e amigável – exceto com James Potter -, e que tinha certo charme, que era escondido por sua pose de monitora-chefe e garota rígida. Bem, eles não estão certos. Merlim sabe o tanto que estão errados!


#Motivo 2: No terceiro ano, Lily tinha um amor platônico por Dennis Smith, um garoto da Corvinal, que na época tinha olhos lindamente azuis e cabelos angelicais. Na época. Hoje ele fora tomado por espinhas e parece que ficou anoréxico, tanto sua magreza. Lily continua achando ele bonito, mas eu sei que isso é sentimento de infância. Mas acontece que tudo isso caiu nos ouvidos de Veronica, e elas meio que competiram pelo garoto, que ficou com medo e acabou nos braços de Dorcas Meadowes, que por acaso é a outra criatura que está acompanhada dela nesse momento.


E não está com uma expressão muito amigável.


Iih, lá vem encrenca.


- Veja só quem é. – Veronica abriu a boca pra falar, e senti um arrepio com aquela voz forçada dela. Aquela não era sua voz, eu sabia, pois ela se soltava frequentemente em nossas reuniões de família. Parecia que ela queria porque queria ter uma voz de patricinha invocada.


- Caranguejo-de-fogo. – Dorcas zombou, e as duas trocaram pequenos sorrisos.


Não tinha nada contra Dorcas, ela era legal, mas apenas quando está com Sophie e Emelina, mas agora... É como dizem, andando com más companhias.


- Pelo menos não tenho que escondê-lo debaixo de um capuz, cria vergonha na sua cara antes de falar dos outros. – Lílian respondeu seca. Bem, esqueci de avisar que o tempo a ensinou algumas lições a ignorar víboras.


Dorcas, inexplicavelmente, ficou séria.


- É lamentável que algumas pessoas não tenham senso de moda. – Veronica disse com desdém.


- É lamentável que algumas pessoas não entendam que sua voz chega a machucar os tímpanos de quem a ouve. – Lily retrucou. Hoje ela está fatal.


- Você continua se achando a espertinha, não é mesmo Evans? – ela disse com sarcasmo, e um sorriso surgiu nos seus lábios entupidos de gloss.


- Deixa a gente em paz, Veronica. – murmurei, e ela me olhou com as sobrancelhas erguidas.


- Ah, olá priminha. Não te notei aí. – falou. Sínica do caramba.


- Isso é bom. – falei com um sorriso falso, que ela retribuiu.


Mas por sorte elas não voltaram a nos encher. Como havíamos sido uma das últimas a chegar, logo o Salão foi se esvaziando, e com ele as turminha irritante perto de nós, que com certeza foi retocar a maquiagem antes da próxima aula.


Argh.




Emelina POV:


Caminhava sem ter pra onde ir. Estava quase na hora da próxima aula e eu só queria fugir daquele Salão Principal, fugir dos julgamentos que eu já ouvia sair da boca de Sophie.


Andava meio correndo, e por sorte não encontrei com ninguém; todo mundo estava no almoço – até mesmo Filch – então tinha os corredores única e somente pra mim.


Isso era bom.


Estou receando o que Sophie vai dizer a respeito dessa minha ideia de entrar pro coral, e eu já podia ouvir sair as risadas desdenhosas e as críticas não-construtivas de sua boca. E isso me fazia sentir mal.


Talvez eu poderia simplesmente ignorar tudo e...


Ops. Trombei com alguém.


- Me desculpe... eu realmente não te vi. – falei com sinceridade. Quando eu estava perdida em pensamentos eu fico realmente perdida.


- Não foi nada. Eu estava distraído.


Então somos dois.


Era Remo Lupin, um dos marotos. O que ele estaria fazendo andando por aí? Ah, claro. Ele é monitor. Mas considerando que é um maroto é meio estranho pensar nele como um monitor.


- Pensei que fosse a única que estava se isolando do Salão Principal. – comentei, e ele não respondeu, apenas sorriu.


Então o fitei com atenção, e percebi que ele tinha uma expressão meio cansada e doente. Parecia muito velho para apenas dezessete anos.


- Você está bem? – perguntei alarmada e temerosa. Que estranho.


- Tô, eu só preciso ir a... – ele não terminou; parecia encontrar dificuldade para falar.


- Ala hospitalar? – completei, e ele parecia prestes a desmontar.


- Sim. – disse fraco, e eu comecei a ficar preocupada.


- Er, eu... Tudo bem, eu te ajudo. – decidi, então com esforço coloquei ele em pé, apoiando-se no meu ombro.


- Não... – ele murmurou, mas mudou ideia ao tentar protestar, afinal, parecia estar sofrendo muito ao apenas abrir a boca.


Caramba, isso é muito estranho. O que será que aconteceu?


Eu só sabia que precisava ajudar. A enfermaria não está tão longe.




David Moreau POV:


Estava trancado na minha sala, almoçando; coisa anormal para um professor novato fazer. Mas eu estava totalmente irritado. Muito mais que irritado. É claro, com ela.


Que por acaso arranjou uma diversão nada agradável a usar contra mim. Meu cabelo.


- Ei, Moreau. – ela me chamou quando eu estava prestes a ir para o Salão e me sentar na habitual mesa dos funcionários. Tive a imensa vontade de ignorar o chamado.


- Fale, Stanley. – disse entediado e sem nenhum pouco de interesse.


- Tenho algo pra te dar. – ouvi sua voz se aproximar.


- Se for mais um livro de regras, pode ficar sabendo que eu estou pouco ligando pr... – comecei, me virando a fim de ficar de frente pra ela, quando me espantei com o pequeno pote quase enfiado embaixo de meu nariz.


- Gel. – ela disse com um sorriso malicioso. – Sinceramente, acho que você precisa de um, sabe. Seus cabelos andam muito... rebeldes.


E deu uma risadinha desagradável, que sinalizava que ela estava se divertindo com meu incômodo.


Apesar da raiva, não respondi.


- Gel. – ela repetiu. – Usado pelos trouxas para dar um retoque no cabelo, o que provavelmente você está precisando muito nesse instante.


- Eu sei o que é. – respondi entre dentes. – E sinto muito, mas recuso seu presente. Estou satisfeito do jeito que ele está.


- Ah, sim. Mas eu não. Nem um pouco na verdade. – ela disse com uma careta. – Se você soubesse a repulsa que me dá quando olho para cima...


- Apenas não olhe, ou melhor... – falei ríspido, perdendo a paciência e voltando a caminhar. – Esqueça que existo!


E enquanto caminhava não pude deixar de ouvir: "Pode ficar sossegado, tem outro em cima da sua mesa!".


E era pra minha sala que eu estava indo, afinal, não estava com ânimo nenhum de ter que olhar pra sua cara nojenta e ouvir suas bajulações para Dumbledore novamente, não mesmo. Cheguei em minha sala, joguei minha pasta de lado, e com um rápido aceno de varinha fiz o outro pote de gel idêntico ao que ela havia me mostrado voar para outro lado da sala, fazendo um grande barulho ao cair dentro do lixo.


Estava de muito mau humor, sim. Até ver o aviso novamente. Outro inscrito antes mesmo do almoço? Isso sim era motivo de mudança de humor rápida.


Fui em direção à cópia e lá estava mais um nome desconhecido, o segundo de hoje, pra ser mais exato. John Khan era um desconhecido pra mim, aluno do segundo ano, fama de bagunceiro. Isso me desanimou um pouco até eu ver o novo nome.


E aqui estou eu, divagando sobre porque aquela garota havia entrado, e tentando me lembrar de seu rosto. Sem dúvidas, a cada vez que mais se inscreviam, mais curioso eu ficava. E, claro, satisfeito.




Pedro Pettigrew POV:


- É sério, ela é louca. – Sirius concluiu num balançar de cabeça, se entupindo de pudim, e quando voltou a falar quase cuspia na cara de James. – Quero dizer, disso todo mundo sabia, não é?


- Engula antes de falar, Almofadinhas. – Pontas ralhou. – E ela não é louca, só é...


- Portadora de distúrbios mentais, sim. – Sirius interrompeu, enfim engolindo. – Veja bem, apenas loucos se inscrevem em corais estúpidos.


- Foi uma aposta. – falei o que James tinha dito centenas de vezes.


- Isso não justifica que é uma loucura da parte dela. – ele deu de ombros, e antes que James voltasse a protestar, Sirius mudou de assunto. – Ei, e Aluado?


- Bom, foi o que perguntei minutos atrás. É estranho, estamos quase no fim do almoço e nada dele aparecer. – comentei vagamente, e James tinha adquirido uma expressão concentrada.


- Estudando na biblioteca? – sugeriu.


- Ok, sabemos que ele pode ser um pouco nerd, mas não a ponto de perder o almoço e a apetitosa comida de Hogwarts para ficar enfurnado na biblioteca. – Sirius contestou. – Deve estar por aí com...


- Lily está bem ali. – James respondeu irritado, apontando um lugar adiante na mesa onde os cabelos ruivos facilmente se destacavam.


- ... com alguma garota, caramba, deixa eu terminar! – Sirius falou com falso tom magoado, e Pontas não se deixou levar.


- Isso está muito estranho. – repeti.


E tudo ficou mais estranho quando estávamos saindo do Salão para a próxima aula e não vimos ele. Mas o que foi realmente estranho foi o fato de Emelina Vance repentinamente vir falar com a gente.


- Ei, vocês aí! – ela acenou do outro lado do Saguão de Entrada e correu em nossa direção com dificuldade, desviando do tumulto de pessoas. – Esperem!


Ela chegou até nós ofegante e parou um pouco, debruçada sobre os joelhos.


James, Sirius e eu trocamos rápidos olhares indagadores, e quando eu estava prestes a perguntar o motivo do chamado, tudo se clareou com apenas uma única palavra saindo de sua boca arfante.


- Lupin. – disse entre golfadas de ar.


- O que tem ele? – Pontas perguntou alarmado.


- Ala hospitalar. Não está muito bem. Encontrei com ele no corredor e o levei pra lá. – ela disse, mas eu tenho certeza que ambos não escutaram o final da frase, pois já haviam corrido na direção oposta.


Caramba! Nem pra me esperar!




Emelina POV:


Missão concluída. Remo Lupin e sua estranha doença já colocados em seu devido lugar e seus amigos já avisados. Pronto. Agora eu tinha que cuidar dos meus problemas, que um, aliás, está caminhando em minha direção.


Dei as costas, o que foi infantil, mas na verdade não me importei muito.


- Ei, Emelina! Pode esperar aí! – ouvi Sophie gritar, e antes que pudesse fugir, senti ela puxar meu braço. – Calma aí!


- Não estou a fim de ouvir nenhuma crítica sua, então, por favor, solte meu braço. – falei com uma educação exagerada, e Sophie riu inesperadamente.


- Pode ter certeza que a mais criticada daqui em diante será eu! – ela falou com um humor estranho, quase irônico. Não entendi.


- O quê? Por quê? Eu não... – comecei, confusa.


- Entrei para o coral. – ela disse tão naturalmente que eu me assustei.


- Você... entrou... o quê? – exclamei em choque.


- Bom, não entrei tecnicamente, apenas me inscrevi... – ela dizia, mas eu já tinha a puxado em direção a um corredor mais vazio, pois ocupávamos parte da passagem.


- Você enlouqueceu? Por que você fez isso? – perguntei incrédula e seus olhos brilharam.


- Veja a inversão dos papéis. Agora você está me criticando por ter entrado. – ela deu um sorriso malandro, mas eu ainda estava atônita.


- Você não estava interessada! Simplesmente por isso! – falei levantando as mãos. – Nem ao menos sabe cantar!


- Pode parar por aí, cara-pálida. – ela me interrompeu com um gesto sério. – Não duvide de meus talentos artísticos.


- Sophie, isso não é brincadeira. – olhei com um soslaio irritado, e ela ficou totalmente séria.


- Eu sei. E eu realmente me inscrevi, pode verificar no quadro de avisos. – ela disse com uma naturalidade infantil, e eu roía as unhas, coisa que geralmente acontecia quando me sentia nervosa. – Não pode ser tão mal entrar para o coral. Cantar é legal.


- Pra mim é mais que legal! Eu... sonho com isso! – falei com uma fúria crescente e anormal, mas Sophie não pareceu se abalar.


- Fica calma, garota. – ela disse, dando um pequeno sorriso. – Escute, eu entrei pra que você não se sentisse insegura com isso, para que fique bem ao entrar e que saiba que eu, sua fiel amiga, estará ao seu lado para aguentar as críticas. Porque você sabe como eu sou...


- Sei mas...


- E dei um jeito de sermos protegidas.


- Tá, mas... O quê? – ergui as sobrancelhas sem entender, e ela deu uma pequena risada.


- Jason.


- O quê?


- O quê o quê?


- O que tem seu irmão? – perguntei cansada da conversa enrolada, e ela fez um gesto modesto.


- Fique tranquila. Só vamos até a sala comunal agora, está bem? – ela sugeriu calmamente, e eu neguei com a cabeça.


- Temos aula agora.


- Francamente, você está preocupada com a aula de História de Magia? – ela falou com desdém. – Vamos. Isso é muito mais importante do que os relatos incansáveis de Binns.


E ela me arrastou, mesmo eu insistindo parte do caminho, e eu sabia que não ia adiantar nada contrariar, Sophie é teimosa feito burro empacado, e nada que eu fizesse poderia mudar sua cabeça dura.


E logo estávamos no retrato da Mulher Gorda e daí pra dentro da Sala Comunal, onde apenas um fantasma vagava e um garoto estava de costas para nós, olhos fixos no quadro na parede.


- Ei, maninho! – Sophie saudou o irmão, que virou para nós com uma expressão indecisa frente ao pequeno sorriso que se abria.


- Olá. – ele disse. – Olá, Emelina.


- Oi. – eu respondi depressa, e decidi ir direto ao ponto. – Sophie, não precisa fazer isso, é sério!


- Eu já fiz, querida amiga. Meu nome já está bem assinadinho ali. – ela disse com meiguice, que já estava dando nos nervos. Eu estava absurda e anormalmente nervosa hoje. – E não adianta apagar, é irreversível. Acho que é uma prova que grifinórios são corajosos e não voltam atrás. – ela deu de ombros.


- Eu não acredito. – resmunguei, e me joguei na poltrona.


- Relaxa, é só um coral. – ela deu um sorriso. – Você não vai assinar?


- Você é louca. – murmurei.


- Talvez seja. – ela deu de ombros novamente, e dessa vez Jason riu.


- Acho que mamãe derrubou muito ela de cabeça quando era bebê.


- Você não pode dizer nada, nem havia nascido. – Sophie rebateu com humor, e então pegou uma pena e um tinteiro em cima de uma mesa próxima e estendeu-os para mim. – Vai assinar ou não?


Olhei por um tempo do tinteiro pra ela, até me levantar e pegar a pena, molhar no tinteiro e ir até o quadro de avisos. Assinei "Emelina Vance" e devolvi a pena.


- Viu? Não doeu. – ela riu.


- Eu sei que está fazendo isso pra tentar se redimir com Dorcas de alguma forma, não se sentir culpada. – falei, e ela deu uma leve corada. – Mas fique sabendo que eu não tenho nada a ver com isso.


- Isso não vem ao caso agora. – ela deu a evasiva, e olhou para Jason. – E aí maninho, sua vez.


- Sinceramente, porque quer que eu faça isso? – ele perguntou inquieto.


- Porque você toca violão.


- Isso não é motivo suficiente. – ele disse com um olhar meio vago.


- Porque você está bem popular ultimamente e seria um favor a sua querida irmãzinha meio que nos proteger de calúnias e palavras desagradáveis que correm pelos corredores. – ela deu um sorrisinho hilário, e Jason franziu a testa.


- Bom motivo, mas... – ele olhou para ela novamente. – Não é suficiente.


- Te dou três galeões. – ela olhou para o teto.


Jason apenas ergueu as sobrancelhas.


- Cinco, e nada mais. – ela já batia os pés com impaciência. – Assina logo.


- Só isso? – ele parecia ofendido, e eu acompanhava os negócios com ar de riso.


- Certo, certo. Prometo não contar a mamãe que você tem uma vassoura escondida em seu dormitório. – ela suspirou, e ele deu um sorriso satisfeito. – Agora assina logo a droga do papel!


Jason pegou a mesma pena e se encaminhou ao quadro de avisos, mas antes olhou para trás, fitando Sophie mais uma vez.


- Promete?


Sophie não respondeu, apenas o lançou um olhar fuzilante. Ele riu e era apenas o barulho da pena arranhando o papel que fazia algum barulho na sala.


- Excelente! – Sophie vibrou. – Agora está tudo resolvido.


- Obrigada Soo, realmente não precisava disso. – falei, sorrindo.


- Amigas são pra isso. – ela correu e abraçou meu ombro.


- Amigos. – Jason completou, me abraçando do outro lado.


Não posso negar que sou sortuda, mas que eu estava encrencada, isso eu estava.




Lily POV:


- No século XV o mais comum entre os bruxos era a troca de mercadorias perigosas, como ovos de dragão e chifres de erumpente. O Ministério recém-administrado pelo novo ministro vivia um caos que acabou causando rebeliões tanto quanto bruxos, quantos duendes, que foi o motivo de sua revolução alguns anos depois...


Olhei para o lado. Maria havia se apoiado na mão e dormia, uma pequena respiração saía pela sua boca meio aberta. Do meu outro lado Alice brincava com sua pena, pensando em sabe-Merlim-o-que – mas na verdade, jurava que tinha certo Herbólogo no meio.


Era incrível como as piores aulas demoravam pra passar, aulas como a do Binns. Seu discurso continuava a medida que mais um aluno deitava-se na carteira e tirava seu cochilo; no meu caso eu não era tão fã da aula de História de Magia, nem ao menos tentava anotar alguma coisa, pois sabia que não conseguiria prestar atenção e acabaria como minha amiga aqui do meu lado.


O que me chamou atenção, porém, foi a ausência de muitos alunos dessa aula. Os marotos eram os principais – claro que eu já percebi que eles adoravam cabular aula -, mas geralmente não faziam isso os quatro juntos. Como sou um pouco observadora, percebi o jogo de regularidade que faziam. Quando um queria faltar, outros vinham em seu lugar em um dia e no outro era a vez de vir. Sei que como dever de monitora acho inadequado não fazer nada a respeito, mas não acho prudente e nem de tanta importância fazer estardalhaço por causa disso.


McKinnon e Vance também não estavam presentes. Vance! Era de conhecimento de todos que ela era bem inteligente e responsável, achei estranho ela não estar aqui. E achei também estranho Meadowes estar aqui! Quero dizer, se suas duas melhores amigas estão cabulando aula, a personalidade de Meadowes a força a fazer o mesmo. E agora ela está lá, sentada ao lado de Jane Peterson, deitada e provavelmente dormindo também. E hoje no café ela não estava com as duas também... Estranho. Devem ter brigado, afinal, quem suporta Dorcas Meadowes?


Isso, na verdade, não é da minha conta. Muitos se assustaram com o barulho do sinal tocando, e no caso de Richard Docter, acabou escorrendo de sua cadeira e indo ao chão. Dei uma leve sacudida em Maria para que acordasse, enquanto Alice soltava um longo bocejo.


- Próxima aula? – Alice perguntou enquanto saíamos da sala.


- Bom, agora tenho um tempo livre, já que desisti de Trato das Criaturas Mágicas. – informei, e Maria resmungou.


- Tenho Adivinhação.


- Boa sorte. – Alice riu baixo. – Eu devo ir para os terrenos. Encontro vocês em Poções.


- Tchau. – acenamos, vendo a cabeça de Alice sumir entre a multidão. – Ei, Maria.


- Hum. – ela respondeu, ainda sonolenta.


- Por que você... – hesitei um pouco. – Por que você não entra para o coral também?


Ela soltou uma risada nasal enquanto esfregava os olhos.


- Digamos que eu não acho interessante o bastante. – ela comentou.


- Nunca vai saber se nunca pensou no assunto. – insisti; essa ideia surgiu em minha cabeça do nada, acho que seria engraçado depois relembrar de tudo isso juntas. Pois eu tenho certeza que vai ser engraçado, pelo menos depois da audição.


- Eu realmente não estou interessada, Lily. – ela respondeu, então seus olhos brilharam. – Receio que já deve estar ensaiando?


- Er... não. – falei.


Maria me olhou com cara emburrada, mas antes que respondesse foi empurrada por duas garotas sonserinas que passaram por nós. Não foi um gesto nada educado, e eu já ia dar uma baita de uma bronca até ver que era uma monitora também.


E isso não era nada agradável, julgando quem estava nos encarando agora.


- Olhe por onde andam. – Penny Stanton reclamou de nariz em pé, acho que pra fazer com que seu distintivo ficasse mais a vista.


- Você que nos empurrou. – Maria falou irritada.


- E deve pedir desculpas. – acrescentei.


Stanton riu.


- Lily Evans, a idiota que se inscreveu para o coral. – disse com asco. – Bem, não esperava que você tivesse coragem de andar pelos corredores depois disso.


- Cale a boca, Stanton. – Maria estava sendo corajosa até demais, porque no fundo eu sabia que se sentia culpada.


- Bom, acho isso totalmente confuso. – Stanton ignorou Maria completamente, ainda sorrindo perversamente para mim. – Sangues-ruins em corais idiotas, não sei qual o pior!


Ela e Lucy Elliot, outra garota do bando de meninas irritantes, deram altas risadas.


- O pior é olhar pra sua cara nojenta. Como pode reclamar dos outros olhando-se no espelho? Acho que você não tem coragem suficiente para isso, não é? Já que não tem ao menos coragem de enfrentar Sirius Black! – Maria retrucou, e dessa vez foi fundo.


Sim, no quinto ano vazou essa história/rumor de que Penny Stanton tinha um amor secreto por Sirius Black. Claro, ele ignorou, pois eram praticamente inimigos por serem de casas totalmente competitivas. Acontece que quando caiu em seus ouvidos esse simples comentário, ela passou a agir rudemente – já que naquela época era apenas uma quieta e metida sonserina qualquer. E a partir daí passou em descontar em garotas da Grifinória – lê-se eu, Maria, Alice e Emelina, e por vezes Sophie, já que constantemente estava acompanhada de Dorcas – conhecida por não levar desaforo pra casa. E no meio de chateações contra garotas grifinórias, acabou por fazer amizade com Veronica Gravelle, e daí ficou conhecida como garota do engano. É, eu sei, história totalmente repugnante, mas é a realidade e nós somos as vítimas.


Depois de um momento de silêncio – e um pouco de choque de Stanton – ela voltou a falar com uma voz nada calma.


- Pegue essas palavras e enfia no...


- Deixe pra lá, Penny. – Lucy interveio antes que o pior acontecesse. Como era irritante a voz daquela garota! Ambas eram loiras, querendo dar uma de Barbie, mas Lucy era tremendamente baixa, parecia aparentar seus treze anos se eu não conhecesse o indivíduo desde que entrei nessa escola. – Estamos atrasadas para a próxima aula.


- Você ainda vai me pagar caro por isso, MacDonald. – ela disse se afastando, e Maria fez uma careta.


- Ui, morri de medo. – provocou, mesmo sabendo que ela não podia ouvir. – Droga, me atrasei também! Até mais tarde Lily!


- Até. – repeti, e balancei a cabeça, enquanto tomava o caminho para a sala comunal. Queria adiantar a redação de Poções para semana que vem, quanto mais livre eu estiver, melhor.


E eu estava perdida em pensamentos, raciocinando meu primeiro parágrafo, quanto topo com Emelina.


- Ei! Olá Lily! – ela deu um pequeno sorriso, parecia feliz em me ver. – Ah, que bom que te encontrei, eu só... Bem, Binns notou minha ausência?


Dei uma risada desdenhosa.


- Acho que ele não nota a presença de ninguém se quer saber minha opinião. – falei, e Emelina riu.


- Bom, menos mal. Tenho que ir pra próxima aula, ele não passou nada, passou? – ela quis saber, e comecei a constatar que não era a única, como muitos diziam, nerd da escola.


- Não, só falatório. – respondi, e ela suspirou.


- Ah, ainda bem! – ela disse e então consultou o relógio com surpresa. – Atrasadíssima! Obrigada Lily!


Ela já se afastava quando repentinamente veio a curiosidade. Não me levem a mal, acho que só foi curiosidade de monitora.


- Ei, Emelina! – chamei, e ela parou, olhando pra trás. – Espere eu... Não querendo ser incômoda nem nada mas, aconteceu alguma coisa pra você não ir a aula?


Ela mordeu os lábios por um instante, mas respondeu.


- Logo muita gente vai saber. – ela deu de ombros. – Achei Remo Lupin meio doente do corredor e fui à enfermaria levá-lo.


- Ah. – foi a única coisa que consegui responder.


- Tchau! – ela falou novamente e a vi virar o corredor mais próximo, enquanto eu morria de preocupação.


Caramba, o que será que ele tem? Corre muitos boatos sobre ele – as desaparições, sua aparência cansada e tudo mais – e acho que eu era uma das poucas que sabia, ou melhor, que tinha uma suposição pouco confiável em relação a isso. Muitos diziam que na verdade ele tinha alguma doença, mas graças a Severo Snape, meu antigo amigo de infância, sempre surgia a dúvida de ele ter licantropia. Eu não sei, e na verdade não gosto muito de saber detalhes particulares da vida dos outros, mas era tudo tão estranho...


E então decidi visitá-lo, afinal, a redação de Poções podia esperar um pouco mais.




Sirius POV:


- Caramba, Aluado, como você pode fazer isso? – James ainda ralhava, e eu concordava, é claro. Foi uma tremenda burrice.


- Já estou melhor. – Aluado respondeu, terminando de se vestir. – Estou muito melhor.


- Mesmo assim! – continuei. – Tem noção do que fez? Tomar uma poção desconhecida não ia ajudar em nada! Aliás, uma poção preparada por você!


- Ei, não sou tão ruim em Poções. – ele disse ofendido, mas apenas balancei a cabeça.


- O que Almofadinhas quer dizer é que qualquer poção podia causar um terrível estrago ao invés do contrário. – James agora dizia mais calmo. – Entenda, ainda não existe nenhuma poção que possa curar, nem ao menos atrasar a transformação.


- Só queria fazer o teste, e precisava de uma cobaia. – ele deu de ombros com uma despreocupação anormal. – Já que não conheço nenhum outro lobisomem disposto a isso...


- ... acabou correndo um risco de vida. – Rabicho completou.


- Calma, galera, já estou bem, ok? – ele disse com impaciência, terminando de se vestir. – Parem de se preocupar com isso, já passou. Estão piores que a minha mãe.


- Mas é claro! – reclamei impaciente, e então abaixei um pouco a voz. – Se nos tornamos animagos clandestinos, foi por você. Só estamos preocupados.


- Sim, sim. Mas de qualquer maneira já passou. – ele repetia, e já estava me dando nos nervos. Sua naturalidade, se bem o conheço, é uma máscara que está cobrindo seu arrependimento por ter feito aquilo.


- Se Vance não tivesse te encontrado... – James começou balançando a cabeça.


- Sim, devo uma ela. – Aluado deu um pequeno sorriso, quando ouvimos a porta da enfermaria se abrir e a cabeça de uma ruiva aparecer entre a fresta.


- Oh. – Lily falou, e então mordeu o lábio. – Não estou querendo interromper.


- Não está! – James se apressou a responder. É, pelo visto o James-caidinho-pela-Lily está de volta.


- Ah, que bom. – ela deu um sorriso tímido, entrando no recinto e caminhando até nós. – Só vim ver como Remo estava.


Trocamos rápidos olhares, e a mentira logo se formulou em minha boca.


- Aluado tem andado muito com Rabicho, acabou comendo algo suspeito. – falei com uma risada, sentindo Pedro me fuzilar com os olhos.


- E você melhorou? – ela olhou para Aluado, que ergueu as mãos.


- Tudo em ordem. Madame Pomfrey já me deixou novo em folha. – ele disse rapidamente, e Lily sorriu.


- Que ótimo! – falou. – Estava preocupada.


- Realmente, não era nada demais. – James disse com um tom incomodado, e eu, Aluado e Rabicho erguemos as sobrancelhas para ele.


- Bem, então que bom que está tudo certo. – ela disse, e consultou o relógio. – Tenho que ir, adiantar a redação de Poções...


- Até. – dissemos em coro, e assim que ouvimos a porta bater, todos olhares foram fixos em Pontas.


- "Não era nada demais"? – Aluado perguntou com humor.


- Bem...


- Só... – fiz um barulho estranho com a boca que nem eu mesmo entendi. – Cale a boca.


Que Merlim me dê paciência.




Dorcas POV:


Não, deixa eu terminar meu raciocínio.


Por acaso todos alunos dessa escola estão LOUCOS? Ou então, especificamente, todos os alunos da Grifinória?


É sério, alguma coisa não está certa. Pessoas loucas tem a capacidade mental de se interessar em corais estúpidos, pessoas insanas tem a coragem de se inscrever!


O mundo anda muito doido.


Estava eu saindo da minha desastrosa aula de Herbologia (onde notei com evidente curiosidade a volta dos marotos, achando aquilo completamente normal) e indo para o almoço, quando os boatos pareciam um cacho de marimbondos de tanta zoeira. Fui, é claro, consultar a especialista nisso.


- Posso saber o que diabos anda acontecendo? – perguntei a Veronica, que parecia atônita de tanto espalhar fofocas.


- Novos inscritos. – ela disse com pressa, parecia desesperada para que a escola toda soubesse das notícias antes do próximo tempo. Gosto disso. – Hoje se inscreveu um tal de John Khan, não conheço, insignificante. Mas agora a bomba é que Sophie McKinnon também...


- SOPHIE ENTROU? – não resisti a gritar. Ok, isso já estava longe demais.


Estou ainda totalmente irritada com a audácia que ela teve de estragar meu cabelo completamente (ainda tenho que usar esse pano idiota na cabeça enquanto ele não cresce, de acordo com Pomfrey), mas agora eu não pude deixar de ficar em choque. Minha fúria pelo acontecimento no dormitório ainda estava em grande escala, mas por isso eu realmente não esperava.


Ela é louca? Tem algum problema mental? É masoquista? Por que acho que as palavras que andam correndo por aí, deve estar acertando ela que nem bofetadas...


É.


Bom.


Bem feito pra ela.


Resisti para não rir e não parecer uma louca, quando Veronica continuou, pro meu completo desespero.


- ... e Emelina Vance! – ela guinchou com o entusiasmo. – Vance! Você acredita? Ela te falou alguma coisa, já que andava com elas...?


- Não. – disse estupefata. Emelina e Sophie... O que andaram aprontando? Minha boca ainda estava aberta.


- Deve ser por isso que elas estavam ausentes na aula de Binns hoje... – ela falou pensativa, mas então recuperou o fôlego. – Mas então, está preparada para a maior bomba de todas?


"Não", pensei.


- Jason McKinnon! – ela deu uma risada meio escandalosa. – Você acredita?


Sim, minhas suspeitas se confirmaram. Loucos. Totalmente loucos.


É claro, Sophie, esperta que só, deve ter arrastado o irmão para a guilhotina junto com ela. Mas Emelina? Ela nunca parecia se levar por essas coisas, ela nunca se rendeu. E agora...


- Eu preciso ir. – falei, me levantando.


Droga, estou com uma baita dor de cabeça. O que elas estavam aprontando? Dorcas, Emelina... Jason-delícia-McKinnon?




Maria POV:


- Caramba, quanta algazarra! – Lily reclamou com uma careta. – Francamente, tudo isso por causa de um coral? Poupe-me...


- Pelo menos você não vai estar sozinha! – falei com entusiasmo, me sentindo repentinamente mais leve. – Sophie e Emelina são legais...


- Mas não são minhas melhores amigas. – Lily murmurou.


- E eu sou o quê? – Alice apareceu do nada ao nosso lado. Parecia um pouco corada, talvez pelos dedos apontados em sua direção. Tempos difíceis.


- Não é o mesmo, vendo que tem Franco por perto. – Lily reclamou; Alice corou mais um pouco, e prestes a responder, Lily continuou. – Mas tudo bem. Sairei antes mesmo do Professor Moreau chamar meu nome.


- Como tem certeza disso? – Alice questionou. Havíamos chegado ao salão principal, o burburinho entupindo meus tímpanos.


- Alice, eu não canto. – Lily frisou bem, e eu tinha certeza que ela parecia mais confiante com isso do que com qualquer outra coisa.


- Nunca se sabe. – comentei.


Mas Lily não estava prestando atenção. Todos os olhares voltavam frequentemente para ela e Alice, que coravam violentamente.


- As pessoas não sabem nem ao menos disfarçar? – Lily disse entre os dentes, abaixando a cabeça para seu prato.


- Isso é temporário. – tentei animá-la, afinal, a culpa disso tudo é minha.


- Ei, Lily! – ouvi alguém chamar, e Sophie veio correndo e sentou ao seu lado. – Preciso falar com você, é urgente.


- Diga. – Lily falou sem emoção, e Sophie franziu a testa.


- Por acaso... você anda... sei lá, ensaiando? – disse hesitante.


Lily bufou.


- Oh, claro. – disse irônica, mas Sophie não percebeu.


- Sério?


- Não! – Lily balançou a cabeça depressa. – Vou sair desse coral mais rápido possível.


- Ah. – Sophie disse simplesmente, perdida em pensamentos.


- Mas afinal – perguntei, interessada -, por que você e Emelina entraram?


- Bom, nunca tive essa intenção. – ela puxou um prato pra mais perto de si. – Na verdade, Emelina que queria, e fiz um favor de amiga e puxei Jason junto.


Ouvindo isso, Lily virou sua cabeça rapidamente para mim, e eu fingi não notar.


- Queria que minha amiga fosse assim. – Lily e suas malditas indiretas.


- Alice não se inscreveu também? – Sophie ergueu as sobrancelhas.


- Ela não me considera o bastante. – Alice disse indignada, sentada defronte a nós. – E isso me ofende muito.


- Você sabe os motivos... – Lily murmurou com um pingo de culpa. Como tem coração mole, essa ruiva.


- Motivos sem sentido, devo dizer.


E continuamos o almoço com conversas paralelas. Alice reclamava com a desfeita de Lily, que reclamava comigo ao mesmo tempo em que Sophie perguntava por Emelina, e por vezes trocava ideias com Lily sobre a suposta audição.


Mas Lily deveria saber que estou muito mais culpada do que ela, e isso já estava me incomodando.




Emelina POV:


Já cansada das fofocas e olhares furtivos a mim, decidi ir para os caminhos mais vazios, o que me atrasou bastante. Estava com fome, e por culpa dessas pessoas julgativas tenho que ouvir meu estômago roncar a cada passo que dou.


E um deles foi interrompido por uma figura alta e magra, usando certo lenço na cabeça.


- Preciso falar com você. – Dorcas falou.


- "Por que diabos entrou no coral"? – fiz uma péssima imitação de sua voz histérica. – Acertei?


- Em cheio. – ela falou com um pequeno sorriso.


Cansada de andar depressa, e com uma fome nauseante, me sentei no chão, encostando a cabeça na parede. Dorcas me imitou.


- Gosto de cantar. – tentei justificar. – Sempre cantei na igreja do meu bairro. Sabe como é, no bairro trouxa...


Dorcas assentiu, querendo não me interromper.


- E gosto de dançar também. Fiz aulas um ano antes de vir pra Hogwarts. – continuei. – E gosto disso, na verdade, sempre quis entrar naquele coral de Flitwick, mas percebi que era perda de tempo, já que é raro vê-lo reunir os alunos novamente. E agora que apareceu isso... Fiquei feliz. Quero dizer, é meu último ano aqui, quero aproveitar da melhor forma possível.


- Mas – Dorcas pareceu não segurar. – Um coral? Tem tantas formas de aproveitar seu último ano e você faz isso?


- Não estou com vontade de me embebedar e namorar um garoto por semana, nada disso. – respondi, abraçando meus joelhos. – Não sou que nem você.


Dorcas deu uma pequena risada, mas não fez nenhum comentário.


- Eu quero aproveitar esse ano fazendo coisas que eu gosto. E sempre achei corais totalmente interessantes.


- Já participou de algum outro? – Dorcas perguntou.


- Não. – falei. – Mas esse parece legal, não é igual o coral de Flitwick, é como uma competição.


- Uma bobeira.


- Guarde suas opiniões pra você. – disse ofendida; quero dizer, me parar no meio do corredor pra me falar coisas que eu sei que metade da escola já sabe? Muito obrigada, já estou farta. Mas com fome.


Falando nisso, meu estomago deu um ronco alto.


- Aqui. – Dorcas parecia ter ouvido o barulho (afinal quem não ouviria num corredor vazio e silencioso?), e me estendeu uma enorme barra de chocolate.


- Obrigada.


Ficamos em silêncio enquanto eu comia, até Dorcas perguntar novamente.


- Por que Sophie entrou?


- Hum. – fiz, engolindo. – Ela não queria me deixar sozinha nessa, sabe? Está arrependida.


- Arrependida? – Dorcas franziu a testa.


- É, sabe... – indiquei, sem graça, sua cabeça. – Pelo que fez com você.


- Não entendi.


- Ela ainda está amargurada por ter feito isso com você, e parece tentar se redimir agradando a mim. – sorri com desdém, enquanto Dorcas fazia uma careta.


- Nunca vou a perdoar.


- Dorcas, você sabe como a Sophie é. – falei, olhando com desgosto para a embalagem já vazia. Que falta faz o almoço no Salão. – Meio impulsiva, descontrolada. Estava com raiva por toda a vergonha que você fez ela passar e tentou descontar tudo isso em você com o feitiço. Coloque-se no lugar dela... – suspirei. – Ela está mal.


Ela não respondeu, ainda olhando pra frente.


- Promete não se vingar? – falei com temor. – Sabe que não vai ser bom pra nenhum dos lados.


Dorcas voltou a não responder, e eu suspirei novamente.


- Era só isso? – perguntei colocando-me de pé.


- Sim.


- Certo. Te vejo na aula. – acenei.


Estava caminhando quando ouvi Dorcas me chamar.


- Sim?


Dorcas caminhava até a mim com um pequeno sorriso.


- Se você tiver algum problema com esse povo retardado, pode me contratar como guarda-costas. – ela disse com falsa seriedade, e eu ri. – Sabe como é, essas más-bocas...


- Sei, mas não tenho como te pagar. – balancei os bolsos teatralmente.


- Atormente Sophie por mim, será o pagamento. Acho que minha promessa não permite. – ela piscou, e se afastou, indo para o outro lado do corredor.


Essa Dorcas, quem a entende?




James POV:


Tudo bem, sei que as vezes fico abobado com relação a Lily, e que chego a incomodar, mas acho que consigo parar com isso. Afinal, estou esperando uma resposta dela, não é mesmo?


O resto do dia foi totalmente cansativo. Sirius tentava atormentar o Ranhoso na aula de Poções, Peter cochilava na carteira na aula de Aritmancia (porque estou nessa aula mesmo?) e Aluado só fazia suas anotações.


Hogwarts fervia com as notícias bombásticas dos novos inscritos para o coral da Grifinória. Não me importei muito, pelo menos Lily não ficaria totalmente sozinha amanhã. Mas eu percebi que alguém ficara diferente.


Sirius parecia incomodado ao receber as notícias, e eu e os outros perguntávamos o porquê daquilo. Ele ignorava, como sempre, e sempre parecia procurar por alguém no jantar mais tarde.


Lily parecia muito avoada quando eu a avistava. Parecia estar com a cabeça no outro mundo, e na sala comunal não a encontrei, nem Aluado. Estranho.


E tive que aguentar as piadinhas ridículas de Sirius o tempo inteiro, mas passei a usar sua técnica de ignorância.


Mas não há como negar que aquilo me incomodou.




Lily POV:


- Obrigada por fazer a ronda comigo, Remo. – falei com um sorriso, enquanto caminhávamos pelo terceiro andar. – Sinceramente, não há coisa pior pra se fazer numa noite de sexta.


- Não há de que, Lily. – ele sorriu de volta, e então suspirou. – Lily, posso te perguntar uma coisa?


- Já perguntou. – brinquei, e ele riu. – Mas pode perguntar de novo.


- Tem certeza que vai conseguir se livrar do coral? – ele perguntou incomodado, e foi minha vez de suspirar.


- Estou contando com minha voz de taquara-rachada. – respondi, e ele sorriu.


- Pelo que ouvi dizer, Franco canta muito mal, e ele vai continuar por causa de Alice.


- Só vou cumprir a parte dessa aposta, e depois sair. – falei pensativa. – Bom, é isso que espero.


Ele não respondeu, e para não ficar o silêncio constrangedor, continuei com o assunto.


- Vai ser horrível ficar sozinha. – comentei.


- E Alice?


- Não quero segurar vela dela e do Franco. – abafei uma risada, e Remo ergueu as sobrancelhas.


- Mas já?


- Logo. – respondi, e ele também riu.


- Queria te ajudar, mas... – sua voz foi sumindo.


E uma luz acendeu em minha mente.


- E pode! – falei com entusiasmo, tanto que parei de caminhar. – Remo, por que você não entra também?


Ele arregalou os olhos.


- O quê? Eu não!


- Por quê? – insisti; bom, pretendia ser convincente. – Acho que sou a única monitora de todos os inscritos, seria ótimo você entrar também...


- Er, acho melhor não. – ele voltou a caminhar, e eu o segui. – Lily, eu sou um desastre em ramos artísticos.


- E eu? Pode ter certeza que pior que eu você não é. – eu arfava no esforço de acompanhá-lo, porque andava muito depressa. – E eu não vou ficar lá, vou sair depois das audições, então, por favor!


- Lily, eu realmente não posso. – ele continuava. – Aliás, por que você não chama o Pontas?


"Pontas", depois de muito tempo em dúvida, consegui ligar a Potter, e franzi a testa.


- Ele não é monitor. – refleti.


- Mas poderia te fazer companhia.


- Remo, você pode me ajudar! – eu dizia.


Eu realmente queria que ele entrasse, afinal, eu não ficaria segurando vela de Franlice (uma droga de mistura que Maria arrumou). E Remo parecia perfeito, já que ofereceu ajuda...


A altura que eu insistia com ele – digamos que sou muito teimosa em certas ocasiões – já estava bem tarde, perto da meia-noite, quando adentramos a sala comunal.


- Lily, entenda, coral não é comigo. – Remo repetia.


- Mas você só precisa ficar tempo suficiente para... – e parei na frase, pois olhei para o quadro de avisos. Havia alguém assinando nele, e a curiosidade me tomou.


Fiquei em choque ao reconhecer aquele familiar lenço estranho.


- Meadowes? – eu e Remo perguntamos em uníssono, e Dorcas pareceu não se assustar.


- Não é da conta de nenhum de vocês o porquê de eu estar me escrevendo. – ela disse com mau-humor.


- Por causa de Emelina e Sophie, suponho? – perguntei com certa rispidez, apenas dando o troco.


Dorcas não respondeu, apenas no lançou um olhar estranho e subiu as escadas com passos fortes.


- Vai entender. – Remo disse confuso, balançando a cabeça. – Bom, receio ter que dormir.


- Reeeeeeemo! – fiz uma cara de choro. Ele riu.


- Nada disso, Lily. Seu olhar não me convence.


- Mas...


- Boa noite. – ele disse, e eu bufei.


Já estava prestes a subir as escadas, quando funguei.


Ele se virou espantado, uma das sobrancelhas erguidas.


- Peraí, você tá chorando? – ele parecia atordoado. - Lily, eu...


- Não precisa. – falei, secando as lágrimas. – Pode ir dormir.


- Argh! – ele bagunçou os cabelos em desespero. – Tudo bem, eu assino aquela droga de papel, mas isso só porque eu não resisto ao ver uma garota chorar.


Sério, a garota que namorar ele será uma grande sortuda.


Remo pegou uma pena jogada em uma mesa e assinou com pressa.


- Pronto. – ele falou com desgosto. – E é só a altura das audições, certo?


- Ah, obrigada Remo! – sorri feliz, correndo a abraçá-lo.


- Ei, você não estava chorando? – ele me fitou indignado.


- Bem, tenho o dom de chorar facilmente. – dei de ombros. – Mas a maioria das vezes eu tenho um motivo.


Remo fechou os olhos, talvez pedindo a Merlim um pouco de paciência, e eu continuava a sorrir.


- Muito obrigada.


- De nada, de nada. – ele resmungou. – Boa noite.


- 'Noite. – acenei, vendo-o subir meio desanimado a escada circular.


Estava prestes a dar pulinhos, quando ouço passos descendo a escada, vindos da direção do dormitório feminino. E era...


- Maria?


Ela não respondeu. Ainda de pijamas, caminhava indignada até o quadro de avisos, segurando uma pena na mão e assinando com ferocidade.


- Satisfeita? – ela disse irritada. – Assinei a porcaria de lista de inscrições, agora pare de jogar indiretas, pois eu odeio isso!


Não sabia se ria ou se chorava, mas a cara de Maria estava hilária.


- Obrigada, mas... – mordi o lábio. - Eu já tinha pedido a outra pessoa.


Maria pestanejou.


- Argh, que droga! – ela resmungou com raiva. – Assinei meu nome a toa, preciso apagar.


Ela estava caminhando de volta ao quadro de avisos quando a lista repentinamente desapareceu.


- Ei! – Maria exclamou, procurando a lista por todo o quadro. – Cadê!


- Acho que sumiu por ser meia-noite. – consultei, despreocupada, meu relógio de pulso.


- Que droga! – Maria bufou.


- Pense pelo lado bom, agora estamos todas juntas. – lhe lancei um sorriso amarelo, mas eu não devia ter dito aquilo.


Até a hora de dormir tive que aguentar o falatório de Maria, que parecia prestes a me fuzilar com os olhos, ou, se puder, lançar fogo pelas ventas.


Mas eu não estava me preocupando muito. Meus melhores amigos estavam comigo.




David Moreau POV:


Dez. Repito. Dez inscritos.


Era mais do que eu imaginava!


Não podia negar que estava feliz, mas ao mesmo tempo desapontado. Era preciso de doze, e não consegui atingir minha meta. Só mais dois membros, chegamos tão perto...


Mas eu tinha até o Dia das Bruxas para encontrá-los, e eu esperava que amanhã todos se mostrassem talentosos.


Li mais uma vez todos aqueles nomes, e as vezes me lembrava de um ou outro.


Dorcas Meadowes. A garota que mais me fazia interrogatórios sobre assuntos meio particulares. Espero que ela tenha bons motivos para ter entrado.


Remo Lupin. Fui informado sobre seus problemas, e tenho certa compaixão pelo garoto. Deve ser tudo difícil para ele.


Eu estava um pouco esperançoso, mas eu precisava esperar até amanhã para tirar minhas próprias conclusões.

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