Capítulo Único



Estava sentada no meio-fio, com aparência de uma adolescente punk, de moicano e tudo, a varinha escondida por dentro do sobretudo preto. Olhava para o número doze, sentindo um vazio dentro de si. Não era mais o lugar para onde iria derrubar o pé de trasgo, acordar a Sra. Black e discutir os assuntos da Ordem. Agora ia apenas para a Toca.


E estava sendo tão difícil conseguir isso com ele aparecendo por lá também. Mas talvez fosse mais difícil ter que tomar uma polissuco para mudar a aparência. Simplesmente não parecia que sua vida fosse melhorar.


Mas ela realmente não ia, porque o cara que saiu de dentro da casa abandonada (o que, venhamos, não significava muito já que ela sempre pareceu abandonada) às pressas era o motivo de ela estar sentada no meio-fio e não rondando e cumprindo sua missão (que agora ela mal lembrava qual era).


Cabelos castanhos claros grisalhos, o rosto pálido com cicatrizes e roupas muito rotas. Parecia eternamente deprimido. Mas ela conseguia ver um vestígio da beleza que Remo um dia teve. Pra falar a verdade, ela ainda o considerava bonito. Só estava muito mal-cuidado e sofrendo. Seu melhor amigo morrera, afinal.


Se ela ao menos pudesse crer que pelo menos metade do sofrimento dele era causado por ela...


- Boa noite, Dora – ele disse, parando ao lado dela. Tonks não notara o homem atravessando e vindo em sua direção.


- Ah. Olá, Remo. Como sabe que sou eu?


Ele sabia pelo modo como a garota punk o olhou (devotada e distante, sofrida). Mas ele nunca diria isso.


- Intuição – respondeu. Após uma pausa em que ele se sentou ao lado dela no chão, disse – e então, como andam as coisas com a Ordem?


- Perfeitamente bem, na medida do possível. Dumbleodore vai levar Harry para a Toca essa noite.


- Dumbleodore?


- Sim. Não sei também.


Ambos se perguntavam por que raios o Dumbleodore iria buscar Harry, mas ambos tinham suas suspeitas. Assuntos a tratar com o menino.


- E você, o que faz por aqui?


- Eu vim... checar algo... – sua voz ficou subitamente rouca e Tonks viu uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto. Ela esticou o polegar e secou-a. Percebeu que sua mão voltava ao normal, mas se nem Remo, que era todo preocupado, mandou-a tomar outra dose da poção, porque ela deveria fazer isso?


- Você deve estar se sentindo realmente péssimo.


- Aparentemente não sou só eu – ele sorriu fracamente, olhando a moça de cabelos sem vida.


- Você acha que estou assim por causa do Sirius? Quer dizer, eu fiquei muito triste, você sabe, mas, Remo... Você sabe o que me fez ficar assim realmente.


Ambos se lembravam bem. Pouco antes da morte de Sirius, Tonks percebeu o que sentia. Mas só deixou mostrar dias depois que o primo se fora.


- Eu... amo você, Remo.


O homem levemente bêbado – de tristeza e hidromel – ergueu a cabeça e olhou-a intensamente. Colocou a mão em seu rosto e a puxou para si, beijando-a com tudo o que escondeu em si ao longo do tempo: toda a frustração, medo, insegurança, e também todo o amor de que sentiu falta. A moça o fazia se sentir melhor, devia admitir.


Tonks acreditava que aquela fora a noite mais feliz de sua vida. Até acordar de manhã e ver que ele havia partido, com culpa no coração e rejeição em seus atos. “Não devemos ficar juntos”, ele insistiu, quando ela o procurou.


E assim, ela entrou em um estado semi-vivo, causado pela rejeição. E Remo sentia-se extremamente culpado por tê-la iludido. Se ao menos tivesse se contido!


- Dora, já falei uma porção de vezes que não posso ficar com você. Sou perigoso, muito mais velho e não posso te dar uma vida feliz e equilibrada. Mal posso dar isso a mim. Não consigo nem um emprego!


- Remo, já parou para pensar em eu te dar a vida feliz e equilibrada e, assim, você dar isso a mim?


- Dora, por favor, não torne isso mais complicado...


- Isso não é complicado para você, Remo, já que aparentemente não sente nada por mim além de pena por eu estar tão... perdida. E culpa, por ter me feito ficar assim.


Tonks não gritava. Ao contrário, seu tom era pouco mais que um sussuro.


- Você realmente acha isso? – disse Lupin, agora com um tom amargo.


- É o que você faz parecer.


Lupin curvou-se na direção da moça e beijou-lhe sutilmente os lábios.


- Nunca, Dora, nunca subestime novamente o que eu sinto. Mas eu realmente não posso deixar isso acontecer.


E, subitamente, ele se levantou e com um sorriso sem emoção, se despediu e disse algo sobre uma missão que lhe fora dada e que ele sumiria por uns tempos.


Tonks não teve tempo de pensar em mais nada, pois logo ele aparatou. Não sabia se ficava mais brava, por ele simplesmente ter ido embora e a evitado de novo, mais triste por ele continuar rejeitando-a, ou radiante porque de algum modo ele sentia algo por ela.


Ao invés de continuar ali, foi para a Toca, onde compartilharia tudo com Molly, a única que realmente saberia o que estava acontecendo.


 

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