#capítulo um



Capítulo Um
Nobody said it was easy


Nada mudou. Vejo os mesmos rostos conhecidos perambular ao meu redor. Isso é um saco. Por que alguns não morreram e outros simplesmente se mudaram de cidade? Ter que conviver com todos esses idiotas por mais um ano vai ser uma tortura, sem contar que é super injusto. Eu sei que provavelmente Deus esteja me castigando pelo o que aconteceu no ano letivo passado, mas quero deixar bem claro que Ele está pegando um pouquinho pesado demais. Eu realmente não acho que mereço tudo isso. Não sou tão má quanto toda essa gente pensa. Ou tão traidora.


Isso que dá criar tanta expectativa quanto ao último ano escolar. Quer dizer, todo mundo sabe o que rola; muito mais estudo do que o habitual, rostos cobertos por espinhas por conta do estresse e alguns jogos de futebol como distração. Ah, não posso deixar de mencionar a Emmeline Vance dançando e saltitando pelos corredores com seu uniforme impecável de líder de torcida. Às vezes acho que odeio o clipe de You Belong With Me, porque a Vance é toda animadinha que nem a Taylor Swift naquelas cenas de animadora de torcida. Aquela coisa de sorrisos e palminhas. Sem contar as músicas e as danças ridículas. Pensando bem, talvez eu odeie as duas: a Taylor e a Emmeline. Já ouviu falar naquela expressão “cara de um, focinho do outro”?. Acho que ela se aplica muito bem no caso das duas. Daora a vida, não? Eu, toda errada e comum, tendo que competir com um projeto de menina perfeita. Obrigada, vida, amo muito você.


Mantendo-me operante, tentando achar Dorcas no meio daquela multidão, olho para todos que passam por mim. Todos ainda mantêm aquela cara de desdém, aquela cara que infernizou meus sonhos nas férias. Ótimo, odeio isso. Foco meus olhos para o chão encerado, incapaz de encarar aquela gente por mais tempo. Odeio a escola, odeio meus colegas, odeio Peter Pettigrew. Esse imbecil arruinou meu último ano nessa escola. Tudo é culpa dele. Tomara que ele tenha se mudado de escola. Por favor, que ele tenha se mudado de escola. Vai ser insuportável ter aula na mesma classe que ele de novo, sabendo que ele me odeia. Que todos me odeiam.


- Hey – alguém diz atrás de mim. Rapidamente, viro-me assustada, embora reconheça a voz mega e feliz. Dorcas. Finalmente! – Achei que você fosse se atrasar! Onde você estava?


- Quando? Há meia hora ou há um minuto? – pergunto com irritação misturada com ironia - Há meia hora eu estava babando no meu travesseiro, e há um minuto estava quase morrendo por não ter a minha melhor amiga ao meu lado me defendendo de todos esses olhares hostis. Aliás, muito obrigada por não poder me dar canora.


- Você sabe que eu tinha que buscar o Reminho – ela responde como se fosse um coelho indefeso - Ele está sem carro. E não daria para dar carona a você e a ele sem que chegássemos no segundo tempo!


- Adivinha quem veio no mesmo ônibus que eu? – inquiro com meus lábios franzidos; estou mais irritada ainda.


- Carla Bruni? – Dorcas sugere com animação.


Bato nela com meu cotovelo. Ela solta um “ai” meio gemido, e eu espero que tenha mesmo doído, porque sinto que ela não está me dando toda a atenção que necessito.


- Não – rolo os olhos, enquanto ela está massageando as costelas com uma cara sôfrega – A Lily.


Isso a faz animar ainda mais. Dorcas adora falar mal da Lily, assim como eu. Mas, ao contrário de mim, Dorcas não sente raiva; ela é indiferente à minha situação com Lily. Geralmente ela dá de ombros e rola os olhos quando Lily passa e fala alguma maldade a ela, diferente de mim que praticamente engulo tudo o que Lily diz e não reage. Sim, sou covarde. Ok, talvez covarde seja uma palavra um pouco imprópria para a situação; sugiro que o fato de eu sempre baixar os olhos a Lily é apenas um mecanismo de defesa. Ignorar é meu lema. Ignore, que logo tudo passa.


Mas acho que isso não funciona com o restante de meus colegas. Quanto mais ignoro, mais eles partem pra cima.


- Ela falou com você? – Dorcas quer saber.


- Até parece – respondo com desprezo. A verdade é que Lily nem olhou para mim no ônibus, fingiu que eu não estava ali, o que, se quer saber, foi muito melhor. Não suportaria ouvir quaisquer palavras proferidas por ela.


- Bom, menos mal, né? Ela não pensa muito para falar, de qualquer maneira – minha melhor amiga observa.


Só para esclarecer. Dorcas nem sempre foi minha melhor amiga. Antigamente minha melhor amiga era Lily Evans, mas então aconteceu aquela coisa com Peter Pettigrew, e puf!, Lily resolveu que era a melhor amiga de Emmeline Vance. Assim, do nada. Ela nem ao menos me avisou que não me suportava mais. Ela apenas começou a se sentar à mesa da Emmeline e parou de falar comigo. Então, Dorcas tornou-se minha melhor amiga. Ela já andava comigo e com Lily, mas sempre foi muito calada, e Lily nunca a deixava falar muito.


Andamos por mais alguns metros, sempre atentas ao nosso redor. Primeiro dia de aula é um caos; beijos, abraços, gritos, cantorias e esbarrões. Muitos esbarrões. É um milagre que eu ainda esteja em pé, não com a bunda no chão. Essa gente é selvagem. Costumo pensar que estudar no Marie Curie College é como estar num circo, onde todos os animais conseguiram se libertar das jaulas por algum problema técnico.


Já no meu armário, tentando colocar os livros que não vou precisar no primeiro tempo, consigo ver Emmeline Vance se olhando no espelho de seu armário todo decorado com coraçõezinhos. Ela passa batom rosa nos lábios e checa a maquiagem e o cabelo, antes que Sirius apareça. Ela sempre está linda. Aonde quer que vá, o que quer que esteja fazendo: linda. Seus olhos azuis brilham como estrelas e seus dentes são tão retos e brancos que tenho inveja.


Desvio o olhar no momento em que vislumbro aquele cabelo comprido bagunçado se aproximar de Emmeline. Por um momento esqueço-me de como se respira. Separo meus lábios do modo bobo e pisco.


Pareço a Bella Swan quando olho para ele. Sei disso. Dorcas não deixa de me lembrar deste fato.


- Vai um babador aí? – Dorcas me pergunta com humor. Ela se coloca na minha frente, encobrindo parcialmente a minha visão de Sirius sorrindo para todos, inclusive para Emmeline. Será que ele vai beijá-la? Ele não costuma demonstrar todo seu amor publicamente, por isso preciso prestar atenção. Se ele a beijar, é porque o namoro deles vai bem. Não que eu tenha acreditado no papo da Dorcas, que afirmava que talvez as férias tenham esfriado o relacionamento deles. Sei que as férias são ótimas para acender amores. Ele poderia tê-la convidado para passar o fim de semana no litoral e daí já viu, né? Amor profundo e renovado pelo resto do ano.


- Saia da frente – peço, tentando empurrá-la para o lado.


Não a beije, por favor. Não a beije.


Pisco mais uma vez, e agora Sirius está ao lado de Emmeline, que envolve seus braços ao redor do pescoço dele. Ela está sorrindo bobamente. Ele está com as mãos na cintura dela de modo envolvente. Ela tenta chegar até os lábios de Sirius, mas ele se adianta e deposita um beijinho na ponta do nariz de Emmeline. É um gesto muito bonitinho. Tão bonitinho que tenho a leve impressão de que vou vomitar meu cereal de aveia.


Dorcas vira-se para o casal. Ao ver a cena, ela volta-se novamente para mim e rola os olhos.


- Por que eles não arrumam um quarto? – pergunta ela, sua voz tingida de nojo - Por que eles têm que esfregar na cara de todo mundo que amam e são amados? Isso é tão irritante. Eu e Reminho não ficamos fazendo essas coisas.


- Só porque o Remus é tímido demais – observo.


- Porque ele não é clichê – corrige-me Dorcas.


Clichê. Essa é justamente a palavra adequada para a situação. Tão clichê que me dá dor de estômago.


- Sério – Dorcas começa -, quando é que você vai parar de olhar para eles, e principalmente para ele, desse modo?


- Bem, nada é para sempre. Um dia eles vão terminar – pontuo minha opinião.


- Claro, e Sirius irá vir correndo para o seu colo como um cachorrinho – ela ironiza com maldade. Fico meio magoada. Queria que ela acreditasse que posso ter um futuro com ele, mesmo que eu ainda não tenha feito nada para tal coisa.


- Um dia ele vai me enxergar e vai perceber...


- Que você é a amor da vida dele? – Dorcas ri.


Fico furiosa. Odeio quando ela brinca com o que sinto.


- Dorcas, você consegue ser mais criança? – pergunto, olhando-a de soslaio com raiva.


- E você, consegue ser mais Bella Swan? – ela devolve.


Balanço a cabeça procurando um modo de afugentar tudo aquilo para que eu possa ter força para aguentar os períodos de aula. Olho mais uma vez para Sirius e Emmeline. Agora eles estão apenas de mãos dadas, e Sirius ouve algo que a namorada diz. Meu humor despenca. Parece que meu primeiro dia de volta às aulas não está nada bom.


Caminhamos para a aula. O sinal ainda não tocou, mas Dorcas gosta de chegar cedo à mesa para se espalhar e conversar com Remus, já que nos corredores eles têm um acordo que diz que cada um vai para um canto resolver seus próprios problemas.


Odeio esse sentimento que me pega sempre que me decepciono. É como se eu não pudesse mais conseguir ser feliz. Não que eu seja completamente feliz, pois acho que amar e não ser correspondida não deixa ninguém alegre. Quer negócio mais difícil do que o amor?


Acho que o amor simplesmente acontece. Estamos numa boa fazendo sei lá o que e de repente, BUM. Olhamos para uma pessoa e ela nos faz sentir diferentes. Um pouco retardados também, mas é uma sensação muito boa. Como se estivermos numa mantanha-russa. Mas é sempre, tipo:


A) Você ama secretamente, porque tem medo de ir até a pessoa ou


B) Você confessa e se dá mal, porque ele preferiria namorar um bebê-dinossauro a você. 


O amor, na maior parte das vezes, é uma porcaria. Acho que é um verdadeiro milagre quando duas pessoas estão apaixonadas. Porque, sério, é a coisa mais difícil do mundo. 


Eu estou apaixonada. É a coisa mais idiota do mundo. Quer saber mais o quê? O quanto ele é sortudo por namorar uma menina perfeita, loura, de olhos azuis e de corpo esguio? Ou o quanto eu fico sonhando acordada com ele durante as aulas? Ou quantas vezes eu já rabisquei nossos nomes juntos nas últimas folhas do meu caderno? Ou que eu nunca irei conquistá-lo?


Pois bem, talvez eu seja mesmo uma espécie de Bella Swan.


Quando o segundo sinal soa, Sirius, Emmeline, Lily, Peter e James adentram na sala. Sirius conversa com James e Peter, e as meninas parecem animadas demais para o primeiro dia de aulas; mas o que se pode imaginar considerando que as duas são populares e líderes de torcida?


Peter me lança um olhar de desprezo misturado com superioridade, mas eu finjo que não vejo. Com meus fones de ouvido ainda ligados, sinto-me num filme tipo Meninas Malvadas ou A Mentira. Respiro fundo, tentando fazer com que Fix You me acalme. Minhas mãos parecem escorregadias e frias. Pareço uma menininha assustada numa floresta.


Concentro-me mais na canção, impedindo que as pessoas ao meu redor possam me magoar. Dorcas ainda está conversando com Remus no canto da sala. Não quero – não posso – pedir ajuda a ela. Ela vai me chamar de novo de Bella Swan.


Não quero parecer fraca diante dos meus colegas que me odeiam. A minha timidez não me ajuda a resolver meus problemas e muitas vezes penso que o melhor é me mudar de escola, ou de cidade, ou de país. Quem sabe posso morar na Bósnia criando cabras. Ou morar na Finlândia comendo carne de rena. Sinceramente, qualquer lugar do mundo – exceto talvez a parte pobre da África e da Ásia – parece-me muito melhor do que este lugar lunático e injusto.


A professora de Filosofia entra na sala e todo mundo procura seus lugares, sem parar de conversar. Ela é obrigada a pedir silêncio. Filosofia é quase mais inútil do que Psicologia. Mas nossa escola tem um programa bastante rígido quanto à Filosofia, coisa que só finjo entender, e sempre copio todas as respostas dos deveres do Remus.


Enquanto Srta. Morley está se empenhando em escrever sei-lá-o-que no quadro negro, eu estou divagando – como sempre acontece.


Sirius não beijou a Emmeline na boca. Isso pode indicar alguma coisa. Será que eles brigaram? Será que o amor que ele sente por ela está diminuindo? Não, não. Ele estava sorrindo para ela. E ela estava muito feliz também. Então, por que ele não a beijou nos lábios? Será que não queria se melecar com todo o brilho labial que ela passa todas as manhãs? Sei que meninos não gostam dessas coisas; Remus vive reclamando de Dorcas quanto a isso. Mas será que Sirius é tão fresco assim? No entanto, tendo ou não nojo do brilho labial de Emmeline, eles estavam de mãos dadas. Pareciam um casal muito comportado, daqueles que esfregam os narizes e saem por aí escrevendo bilhetinhos de amor um para o outro. E até onde sei, isso pode ser verdade. Ainda que Emmeline goste de atenção, goste de espalhar para todos os cantos do mundo que Sirius é seu namorado, Sirius não aprecia tal coisa. Ele é mais reservado. Talvez as férias não o tenham mudado nadinha, por isso não quis beijar Emmeline nos lábios.


Felizmente, por causa da namorada, Sirius senta-se na segunda fileira. Desse modo posso observá-lo o quanto quiser – exceto nas horas que ele pede algo emprestado a James, que está atrás dele. Posso ver os fios negros cair em seus olhos tão azuis quanto os de Emmeline. Posso vê-lo sorrir involuntariamente por qualquer coisa boba que seus amigos tenham lhe dito. Posso apreciar seus músculos se movimentando conforme ele escreve algo. Posso memorizar cada roupa que ele usa. Hoje ele está de All Star vermelho. O meu é cor de rosa. Olho para meu tênis e sorrio, pensando que só por conta do que usamos nos pés somos perfeitos um para o outro. Emmeline está de sandália azul anil para combinar com o uniforme azul marinho.


Adoro ficar olhando para ele. Parece que a cada segundo descubro mais coisas a seu respeito.


Claro que ele é bonito, tem um corpo esculpido e proporcional, e não é nem um pouco desengonçado como metade dos garotos da escola. Mas não são esses motivos que me chamam realmente a atenção. Acho tão superficial essas meninas que se preocupam com a beleza, com o tanquinho e com o tamanho do negócio dos meninos! Aliás, odeio livros que fica repetindo o quando fulano é lindo de morrer. Tipo, a gente já entendeu da primeira vez, meu bem!


Eis uma lista – provavelmente inacabada – do por que amo o Sirius e o acho tão especial:


1- Ele tem uma camiseta escrita “Every Teardrop Is A Waterfall”, uma das minhas canções atuais preferidas do Coldplay, que é minha banda favorita;


2- Ele tem um caderno dos memes mais legais da internet;


3- Ele ajudou a Andrea Bennet, no ano passado, na Educação Física, quando o James sem querer enfiou a bola de basebol na cara dela. Ela começou a chorar que nem um bebê e o Sirius a acalmou e chamou a treinadora Scott, e depois acompanhou-a até a enfermaria;


4- Ele tocou Heatbeat, canção das The Runaways, uma das bandas antigas que mais ouço, nas aberturas dos Jogos da Primavera;


5- Ele é bom em Literatura. Poucos meninos são. Literatura é minha matéria preferida;


6- Ele quer ser Biólogo Marinho, para ficar salvando pinguins e estrelas do mar. Antes de eu me decidir por Jornalismo, minha primeira opção era Biologia Marinha.


7- O James disse para o Remus, que disse para a Dorcas, que me disse que ele é muito educado com a família. Se nos casarmos, sei que vai me tratar bem, pois provavelmente sua mãe lhe ensinou boas maneiras;


8- Ele é do tipo sociável, conversa com todo mundo e ri das piadas mais sem graça, apenas para fazer a pessoa se sentir importante;


9- Quando fomos até a estufa, ano passado, e a professora disse à turma como a minha planta tinha reagido ao calcário, Sirius sorriu para mim assim que meu nome foi chamado. Não foi coincidência. Nem acidente. Ele realmente olhou para mim e me sorriu.


10- É ele quem sempre prega os avisos de livros novos na biblioteca.


Agora eis o único motivo para eu não gostar dele – ou ao menos não chegar dele tão perto assim:


1- Ele namora a intragável e loira de farmácia da Emmeline Vance.


Dá para ver que a minha vida é muito justa comigo, sempre me arrumando os piores inimigos.


Dorcas me cutuca para eu acordar para a realidade e me avisa que a aula terminou. No próximo período temos Química II. Junto meu material, ciente de que a maioria dos alunos já se mandou da sala e está nos corredores.


- Você entendeu alguma coisa do que a Srta. Morley disse? – Dorcas me inquire.


- Não, estava pensando numas coisas.


- Sei que coisas são essas – ela comenta rindo. Eu não rio, apenas me levanto e saio da sala, com ela ao meu encalço - Arquitetando algum plano para fisgar o amor da sua vida? – os corredores voltaram a estar abarrotados novamente e é muito difícil escutar o que Dorc diz.


- Não – respondo -, reconheço que sou uma perdedora.


- Você não é uma perdedora – Dorcas me diz, com a cara severa -, você só tem dificuldades em chegar nele.


- Como posso chegar nele se ele é guardado pela onça-mór desse circo? – quero saber, arqueando as sobrancelhas.


- Falta-lhe coragem – ela sugere.


- Você teria coragem de desafiar Emmeline? – meu desdém está explícito com minha voz.


- Toda cadela tem que saber que o canil é de todos. Você só precisa dar algumas patadas nela – ela me diz.


Beleza. Preciso dar umas patadas nela.


Quero saber como. Eu mal consigo retrucar à Lily, quanto menos à Emmeline! Desafiar Emmeline é como ser pisoteada por um elefante branco de 500 toneladas! E devo dizer que dói. E depois você vai se arrepender amargamente.


Levo a assunto para outro ângulo:


- Como Lily conseguiu ser amiga dela?


- Porque a Lily é outra cadela? – Dorcas insinua com a voz cantada.


Solto um bufo de raiva. Dorcas tem razão. Lily sempre foi uma cadela; é mesmo uma surpresa que ela só tenha começado a andar com Emmeline agora.


Pego os livros necessários. Miro o armário de Emmeline; ela está reunida com Lily apenas. Provavelmente ela e Sirius não têm a mesma aula no segundo tempo. Sinto-me um pouco feliz, quem sabe Sirius tenha caído na minha turma de Química Laboratorial (vulgo Química II). Seria maravilhoso tê-lo como parceiro pelo resto do semestre. Torço mentalmente para que isso aconteça. Para que eu chegue ao laboratório e dê de cara com Sirius me esperando numa mesa vazia.


Ouço vagamente Dorcs se despedir de mim, dizendo-me que nos vemos no intervalo. Assinto, mas não sei o que estou fazendo de fato; estou rezando com a máxima concentração para que Deus tenha pena de mim e coloque Sirius no meu caminho. Sigo para o laboratório mordendo os lábios, de tão nervosa que estou.


Mas me decepciono ao entrar na sala e não ver Sirius lá dentro. E tudo piora quando descubro que meu par durante o semestre é... Lily. Ela também olha horrorizada para o nome que está pregado ao lado do seu. Marlene Mckinnon. Acho que ela vai vomitar.


Mas ela segue indiferente com sua arrumação em cima da mesa. Ela verifica cada tubo de ensaio e cada Becker. Permaneço calada.


O professor entra e diz bom dia. Eu não digo nada, porque parece que tem uma bola na minha garganta, obstruindo minha respiração e minha fala. Penso em pedir um passe para ir ao banheiro, mas sei o quanto soaria ridículo. Provavelmente Lily me lançaria aquele olhar que diz você-já-era. Tenho medo desse olhar.


O professor distribui algumas pedrinhas de algo que não ouço e diz que devemos misturar com o líquido incolor da direita. Lily se adianta e faz o que ele manda. Ela nem pediu permissão para mim, nem olhou para mim; simplesmente tomou conta da situação. Torço meus dedos no colo, agora parecendo muito enjoada. Não quero que Lily dite a minha vida. Preciso encontrar um jeito de mostrar a ela que ela não me intimida. Mas como?


O resto da aula segue a passos lentos, e Lily comanda tudo. Continua calada ao meu lado, fazendo tudo e anotando cada coisa que observa. Eu estou olhando para ela e para os materiais ao seu redor sem proferir nem uma palavra e sem anotar nadinha. Nem ao menos tirei meu caderno da minha bolsa. Rezo para que assim que eu piscar, isso acabe; mas não acaba. Parece que o tempo está brincando com a minha cara.


Quando a aula enfim termina, eu praticamente saio correndo do meu banco, horrorizada. Estou suando frio e tremendo de nervoso. Meu Deus, não vou aguentar o semestre todo assim. Tenho que fazer alguma coisa. Pedir para o professor me trocar de par, tentar trocar de horário, qualquer coisa.


Passo o próximo período na enfermaria, pois digo que estou enjoada e a moça me dá um antiácido e me deixa ficar ali, porque tenho um passe. Ainda com o coração acelerado, tento me acalmar. Pego meu Iphone e tento me tranquilizar com a voz do Chris Martin. Depois de vários minutos noto que as canções estão funcionando; agora não estou mais tremendo, nem suando frio. Meu coração bate com mais compasso.


No intervalo falo pouco e como pouco. Decido não contar à Dorcas sobre a minha parceira de Química Laboratorial.


Após o intervalo temos Educação Física – sim, todas as séries tem que fazer Ed. Física, mesmo o último ano -, que quase nos mata no começo. A treinadora Scott nos pede para correr ao volta do campo de basebol cinco vezes, depois em volta das bases em dupla. Depois de toda essa tortura, ela diz que estamos liberados para nos dividir em meninos e meninas e jogar o que quisermos. Eu e Dorcs vamos para a rede de vôlei e ficamos jogando aquilo sem a menor determinação até que o sinal soe.


Já no vestiário, me dispo e entro no chuveiro. Está muito calor e eu estou toda suada. Eu realmente detesto ter que tomar banho na frente das minhas colegas, especialmente na frente de Emmeline, mas não há alternativa. Ou você toma banho no meio das pessoas que te odeiam, ou você vai para casa fedendo. Ótimo, não?


O último período é guardado para avisos no ginásio. É sobre a campanha anti-drogas, e sobre como o clube de música precisa de voluntários, e sobre as eleições do grêmio estudantil. Emmeline sempre foi a nossa presidente, desde que tínhamos quinze anos. Ela quer, ela ganha. Não precisa de plataforma ou promessas; todo mundo a ama e vota nela. Teve uma época em que Lily queria se candidatar, mas perdeu a coragem. Agora, quem sabe, ela possa ser vice-presidente, comandando a escola ao lado de Emmeline.


Emmeline se candidata, e ela e Lily formam uma chapa. Não há dúvidas que elas ganharão da Antonie Gehner e do Klaus Bondein.


Tudo muito chato e previsível! Sirius nem ao menos piscou quando a namorada ergueu o braço para se candidatar.


- Mais um ano nas mãos dessa vadia – Dorcas comenta, suspirando ao chegarmos até as portas da saída do ginásio. Suspiro também. A verdade é que eu nunca liguei muito para política, e não vai ser justamente agora que vou começar a me animar em querer mais justiça. A escola é um lugar injusto e fim de papo. Todo mundo sabe isso.


Tenho que pegar o ônibus para voltar para casa também, porque Dorcas vai passar a tarde na casa do Remus. Eu, como sempre, estou de escanteio. Amo esses meus amigos que me excluem.


Dessa vez, a Lily não está no ônibus, o que não me faz ter um ataque de pânico parecido ao que tive na aula de Química Laboratorial. Minha casa é a uns quarenta minutos da escola, de ônibus, então tudo o que faço é colocar meus fones, encostar a cabeça no encosto da poltrona e tentar relaxar, porque só foi o primeiro dia. Tenho certeza de que dias subsequentes serão muito piores.


Quando chego em casa, meu pai está repintando a parede da sala. Antes ela era amarela aguada, agora está gradativamente ganhando uma cor azul bebê. Papai está trabalhando nas paredes desde o começo das férias; ele mesmo raspou-as e ajeitou-as antes de repintá-las.


- Oi, docinho – ele me saúda, assim que passo pelo hall – Como foi a escola?


- Meio chata – confesso, sem dizer realmente as partes chatas.


- O que aprendeu hoje? – papai descansa o rolo de tinta na bacia e se vira para mim. Dou de ombros.


- Nada tão importante – respondo. Não posso dizer a ele que mal estive presente de corpo e alma nas aulas de hoje. Papai preza a escola.


Depois que meus pais se separaram, papai é quem cuida da casa. Desde o jardim à cozinha e roupas. No primeiro mês após a separação, achei que ele não iria dar conta, mas agora vejo que ele é muito bom nisso. Sempre estou com roupas limpas e a comida dele é realmente passável. Geralmente é sempre lasanha ou macarrão que comemos, mas não me importo. Às vezes mamãe vem aqui nos fins de semana, já que seu apartamento é bem perto daqui. Ela está namorando o Hugo, um cara cinco anos mais velho do que ela. Ele acha que é mágico e humorista, e sempre consegue me divertir quando vou lá para o apartamento deles. Mas o que ele realmente faz da vida é cuidar das finanças de uma empresa hospitalar. Às vezes ele me dá uns presentes bonitinhos, como a luminária de sapo e a camiseta amarela do Bob Esponja, o que faz papai ficar com um pouco de ciúme.


- O que vai querer para o jantar? – ele me questiona sorrindo - Tenho lasanha de frango e de batata com bacon no congelador. Escolha lá, princesa, que eu vou tomar um banho – ele diz, começando a guardar os utensílios com que trabalhava. Ele está com aquele macacão jeans folgado que era do meu avô e com as botas de couro que comprou no interior.


Papai vai para a garagem e leva consigo suas coisas. Sento-me no sofá, mesmo com o cheiro de tinta fresca pairando no ar. Aprecio por um momento o trabalho de papai. Vou sugerir que meu quarto também precisa de uma camada de tinta e vou querer a mesma cor que está na sala, mas com estrelas prateadas espalhadas. Papai é artista plástico, então ele sabe desenhar muito bom. Mamãe também é artista plástica; eles se conheceram na faculdade.


Resolvo ligar a tevê de LED e zapear pelos canais. Deixo na MTV, porque está passando uma playlist de Coldplay. Deito-me no sofá, e meu pai volta da garagem.


- Já venho, Lene – ele avisa. Eu faço o sinal de “joia” com os dedos.


Acho que adormeço ali no sofá por alguns minutos, porque assim que abro meus olhos novamente, papai está chamando meu nome e meu nariz capta um cheiro delicioso vindo da cozinha. Bacon.


- Resolvi fazer a lasanha de batata com bacon, tudo bem? – papai me diz, ignorando os latidos de Meg, que está claramente esfomeada. Ela sempre foi uma bolinha.


Jantamos quase em silêncio; falo apenas o necessário. Conto que Emmeline provavelmente será, mais uma vez, nossa presidente do grêmio, e ele diz que o colégio merece coisa melhor. Eu concordo em silêncio. Penso em dizer sobre Sirius – sobre meu amor por ele -, mas não sei bem como papai irá reagir, portanto resolvo guardar isso comigo.


Após lavar a louça, subo para o quarto e encontro Mia esparramada na minha cama.


Meg, minha York Shire – que se chama assim em homenagem à Meg Cabot, porque sou fã dela -, se dá muito bem com Mia – que, sim, chama-se assim por causa da Mia Thermopolis, que é a minha personagem favorita da Meg Cabot -, minha gata adotada meio siamesa com persa. Normalmente elas dormem juntas comigo na cama.


Tomo outro banho e como não tem nenhum dever urgente – nenhum que eu realmente me lembre, já não anotei nada -, deito-me na cama juntamente com Mia e Meg e fico assistindo A Última Música, que é um dos meus filmes baseados nos livros do Nicholas Sparks favoritos. Rezo para que algo mude em minha vida e acabo adormecendo antes do final do filme. Amanhã será um novo dia e, quem sabe, melhor e produtivo! Quem sabe tudo mude para mim. Não é possível que minha vida continue a mesma porcaria, né? 



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N/a: beleza, ninguém além da Carol se interessou pela fic. Estou muito feliz. Valeu mesmo. Então, ignorem os erros e tentem comentar, quem quiser.

Encontre-me também em: http://nina-renegade.blogspot.com/

Nina H. 

22/04/2012 

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