Desabafo de um maroto






''Até os melhores de nós às vezes tem que engolir as próprias palavras.''  (
Joanne K. Rowling)



Narrado por:
James Potter.


Quando entrei no quarto do hospital, esperando ver uma criança mal-comportada ou uma adulta mandona, imediatamente tive que engolir minhas palavras. Não havia nada disso lá dentro. Havia uma adolescente comum. Como eu. Ou Sirius. Ou Remo. Ou Marlene. Ou Anne.


Uma família que estava no lugar errado e na hora errada. Isso que eu chamo de falta de sorte!


Sei que acidentes acontecem todo dia, pessoas morrem todos os dias. Mas, de alguma forma, isso me afetou.


Quando coloquei meus olhos nela pela primeira vez, não senti pena. Senti tristeza. Imediatamente senti como se fosse eu que tivesse perdido minha família. Tentei imaginar a dor que ela iria sentir a dor que nós somos obrigados a causar. Obviamente que não consegui imaginar tal sofrimento.


Quando tinha sete anos de idade, achei que já estivesse sofrido bastante quando perdi meu cachorro. Senti vergonha de mim mesmo, até tentei comparar as duas perdas. Obviamente que não consegui. Não há comparação a fazer. Nada contra cachorros, é claro.


Tentei, de alguma forma me imaginar perdendo minha família. Claro que fracassei. Sempre tive tudo na vida, nunca sofri de verdade. De novo me senti diminuído, pequeno. Quase senti vergonha.


Observei calado, quando ela abriu os olhos. Eram os olhos mais lindos que já tinha visto em toda minha vida.


Fiquei de coração partido vendo-a chorar. Não tínhamos nada a fazer. Aquela dor era inevitável.


Lily concordou em morar conosco. Senti-me um idiota, há segundos atrás eu estava rejeitando a garota, sem ao menos conhecê-la. Tive que engolir minhas palavras, novamente.


‘’Nunca julgue o livro pela capa’’. Entendi o significado dessa frase.


Quando já estava a caminho de casa no banco de trás do carro, ouvi minha mãe comentar.


- A dor de Lily nunca vai passar. – e olhou pra nós. Ela estava chorando, de verdade. – Mas vai melhorar.


- E vamos fazer de tudo para ajudá-la. - dessa vez foi meu pai.


-O possível e o impossível. – Sirius garantiu. – Realmente simpatizei com aquela garota.


Todos olharam pra mim, estavam esperando eu dizer alguma coisa.


- Tudo que estiver ao meu alcance. – prometi.


*


Nunca havia presenciado um enterro de verdade. Sério.


O máximo que vi foi nos filmes ou novelas. Não que eu seja noveleiro, muito pelo contrário.


Mas um enterro triplo? Já é demais.


Lily estava completamente destruída. E eu que achava que ela já havia chorando o suficiente ontem. Estava enganado.


Não havia muita gente na capela onde estava sendo realizado o velório. Lily não tem avôs vivos ou tios, pelo que eu soube os pais dela, John e Alice eram filhos únicos.


O que trás eu e minha família aqui, o motivo do John ter ido ao escritório do meu pai. Mas essa história vocês já conhecem.


Quando vieram fechar os caixões, Lily ficou mais tempo abraçada na irmã, pedindo desculpas. Talvez no futuro eu me lembre de perguntar a ela o porquê.


Em fim, os caixões foram fechados e enterrados. Sirius e eu ficamos todo tempo do lado da nossa nova irmã. Havíamos prometido que ela não ficaria sozinha em momento algum. Cumprimos o prometido.


Lily ainda tinha que voltar pro hospital. Tecnicamente ela só vai dar alta amanhã.


O que é bom. Porque minha mãe esta praticamente enlouquecendo todos nós. Ela contratou cinco pessoas pra decorar o quarto da ruivinha, digo, Lily.


Dona Sarah queria tudo pronto quando ela chegasse do hospital.


Não sei se esse quarto vai ficar pronto em dois dias. Mas minha mãe faz milagres.


Por coincidência, o quarto dela será de frente pro meu, e do lado do de Sirius.


Saí dos meus devaneios com Sirius me chamando.


- Vai dormir no carro, Pontas?


Foi ai que percebi que já estávamos na garagem de casa. O pai e a mãe já havia decido.


- Já vou. – respondi. Extremamente cansado.


Estávamos subindo as escadas de casa. Sirius também estava destruído. Em todos os sentidos.


- Também estás bolado com essa história não é?- ele me perguntou.


- Como não estaria? – respondi com um suspiro.


- Se fosse eu no lugar dela... Não sei se agüentaria. – tive que concordar.


- Até que ela lidou bem com a situação. – comentei. – Com certeza eu iria gritar espernear, sei lá. Não da pra imaginar uma situação dessas, acho que só sentindo na pele.


Despedimos-nos, entramos para nossos respectivos quartos. Fui direto pro banheiro tomar um banho gelado. Passar o dia no cemitério não é fácil. Não quero repetir essa experiência tão cedo. De preferência, nunca mais!


Só o que fiz depois foi cair na cama. Adormeci imediatamente.

*


No dia seguinte fiz questão de ir buscar Lily no hospital com meus pais. Vesti-me com uma bermuda jeans e camiseta. Parece que a chuva havia passado e o calor voltado. Calor em Londres não é normal.


Fui em direção a cozinha, onde todos já estavam tomando café, inclusive Remo, Marlene e Anne. Todos somos amigos, vizinhos e felizes. Com exceção de Remo e Anne. Que são perdidamente apaixonados, às vezes enjoa sério.


- Bom dia família. – falei me sentando ao lado do Sirius.


- Bom dia. – Todos responderam.


Percebi que Anne e Lene estavam com os olhos vermelhos, como quem acabou de chorar. Quando fui perguntar o que aconteceu, Remo me falou.


- Sarah ligou pra gente de manhã, convidando para tomar café, dizendo que tinha novidades. – Ele também parecia abalado.


- Então vocês vão ter uma nova irmã. – Marlene falou meio animada e meio deprimida.


Quem não ficaria deprimida com a história da Lily?


- E nós, - Anne continuou, apontando pra ela, Lene e Remo. – Teremos uma nova amiga. – Sorriu.


Dei um meio sorriso em resposta.


O café seguiu normalmente. Marlene, Anne e minha mãe saíram correndo escada acima, o ânimo delas parecia ter melhorado. Foram ver o quarto da Lily. Que já estava pronto. Sim, minha mãe faz milagres.


Seguimos para o hospital em dois carros. Eu, Sirius, Remo e as meninas foram num carro e meus pais em outro.


Quando chegamos Lily já estava vestida, sentada na cama fitando o vazio. Imediatamente a abracei.


As meninas fizeram as apresentações, Lily apenas tentou dar um meio sorriso em resposta. Saiu mais uma careta.


Meus pais assinaram os papéis da alta e seguimos direto pra casa. Até que foi rápido. Lily veio no carro conosco, em silêncio.


Lembrei imediatamente das palavras da minha mãe na noite anterior.


‘’A dor da Lily nunca vai passar, mas vai melhorar’’.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Ahhhhh coitada da Lily - sei que tá ficando meio repetitivo eu dizer isso toda horas, mas sinto pena dela mesmo :/ -  ainda bem que ela conseguiu uma familia que a acolhesse, bem tem gente que numa situação dessa enlouqueceria ou ficari muito depressivo :/Beijoos! 

    2012-07-16
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