Pressão vs. Calma



- Não se esqueça que hoje você tem que dar a entrevista do caso em Virgínia.


- Sem mencionar que Shacklebolt quer o relatório parcial do caso pra hoje.


- Falando no chefe, não se esqueça da reunião. E consequentemente, do relatório.


- Vocês já perceberam que são três falando ao mesmo tempo da mesma coisa? Por quê não pode vir apenas uma pessoa em vez de três gritando ao mesmo tempo? Eu sei o que eu tenho que fazer, não tenho Alzheimer. Por favor, retirem-se antes que eu me arrependa de deixá-los sair sem azará-los.


Minha sala ficou vazia em questão de segundos. Suspirei, sentindo a pressão ir embora. Não deu tempo para a paz invadir minha cabeça. Agora ela estava cheia de “caso de Virgínia” e “relatório”.


Droga.


Encostei em minha cadeira, massageando a minha cabeça. Não queria pensar, mas às vezes era inevitável. Minha vida agora. A situação. E antes. Como era bom antes. Meu chefe. Kingsley Shacklebolt. Antiga Ordem da Fênix, lutou ao nosso lado também na Segunda Guerra. Ministro de Magia até pouco tempo, quando foi acusado de atividades ilícitas. Atividades ilícitas. Inacreditável. Por vontade própria, se afastou do cargo, deixando o livre para que o maldito Marin ocupar.


Suspirei. Com Dimitri Marin a cargo do Ministério começaram a aparecer pilhas de casos. De tudo. Roubo, sequestro, inúmeras tragédias, o que fazia com que ele fosse conhecido como Ministro Imã. Tudo começou a se intensificar, e nós, meros Aurores, praticamente acampávamos no Ministério. Mas era o que se esperava quando havia grandes mudanças no Ministério. Os casos, eram, em sua grande maioria, rápidamente solucionados por nós, o que fazia a “eficiência” de sua campanha aumentar e a população se  esperançar e ser iludida. Então, sim, meu chefe, Kingsley Shacklebolt, o uma vez grande Auror e Ministro da Magia, caíra no esquecimento. Mas por ainda ser valorizado pelos seus dias de Auror, rápidamente fez seu caminho ao Chefe da Seção de Aurores.


Suspirei outra vez. Eu realmente estava fazendo muito isso ultimamente. Saudade dos tempos de Hogwarts onde nossas únicas preocupações eram passar de ano e ganhar a Copa das Casas. Bom, quase isso. Agora vendo atrás, não tivemos um ano de paz. Mesmo assim, saudade das noites passadas no Salão Comunal, o xadrez de bruxo, as piadas de Fred e Jorge, comer Feijõezinhos de Todos os Sabores e ler à luz da lareira.


Já faziam quatro anos desde Hogwarts. Quatro anos de Hogwarts e três da separação. Sim, faziam três anos que eu não sabia nada de Harry e Rony. Havíamos nos tornado Aurores depois de nos formar mas Harry e Rony trabalhavam encobertos, já faziam três anos. O que me fazia, por partes, invejá-los. Não estar em um escritório todos os dias, não escutar que o suco de abóbora de uma mulher em Hogsmeade começou a flutuar pela casa e explodiu bem na cara dela, obrigando-a à ir para St. Mungos’s, colocar realmente em prática tudo o que aprendemos. Mas por outra parte, valia a pena estar aqui, onde tudo era familiar, aconchegante. Apesar do trabalho. Já se faziam três anos que eu não via os meus melhores amigos. Três anos sem escutar a voz deles. Cartas, uma vez ao ano no meu aniversário. Pequenos presentes e lembranças, breves desejos de “Feliz aniversário e tomara que esteja tudo bem”. O mais frustrante é que eu nunca podia responder, não que a coruja teria problemas para encontrá-los mas porque eu tinha certeza que a viagem seria larga e para quando chegasse ao seu destino, os dois não se encontrariam mais por lá. A única coisa que me consolava era saber que ainda tinham um ao outro. E eu tenho a...


- Mione, está tudo bem? Desculpa incomodar mas a gente tem que sair pra dar a entrevista agora.


Gina. Fechei os meus olhos com força para sair do devaneio. Sim, eu ainda tinha a Gina. Trabalhávamos juntas, ela era a minha companheira.


Suspirei, me levantando. Seria um dia bem largo. Nos tomamos da mão, acenando com a cabeça uma para a outra e aparatamos.


Senti o vento gélido. Tremi. Havia esquecido que Virgínia em janeiro normalmente fazia muito, muito frio. Especialmente naquele bairro bruxo. Logo, fui golpeada pelo tumulto e gritos. Havíamos aparatado no meio da multidão que nos esperava. Ótimo.


Uma periodista que eu assumira ser do Profeta Diário conseguiu se expremer entre a multidão e havia chegado até nós, preparada e bombardeando perguntas.


- O que as Aurores têm a dizer sobre o caso? Algo relevante para a comunidade bruxa?


- O que podemos dizer e é altamente óbvio é que o assassino é extremamente perigoso e tem um modus operandi inusual. O que estabelecemos foi que o objeto desconhecido sequestra, mata e queima suas vítimas usando feitiços simples mas com muito planejamento prévio. O mais provável é que ele ou ela se esforce por criar um vínculo prévio com a sua vítima, que é sempre mulher. Sua preferência nos faz alertar à mulheres entre vinte e vinte e cinco anos para pessoas que tenham aparecido de repente na sua vida e estejam fazendo esforços por fazer parte de sua vida diária.


Discurso curto e objetivo. Por isso Gina era minha companheira.


- Alguma dica para as moradoras?


Não sejam idiotas, não escutem o Ministério, defendam-se, não esperem as coisas acontecerem para que o Ministério “possa tomar conta e salvar o dia”. Muitas dicas. Mas eu não podia fazer isso.


- Estejam atentas. Sempre tenham a varinha por perto, sempre estejam rodeadas, evitem estar sozinhas.  Até dentro de suas próprias casas. Ao resto da comunidade, fiquem alertas à algo estranho, que saia da rotina diária de cada um.


- Como o Ministério pretende agir?


- Qual será a provável sentença que o assassino irá receber?


E assim por um período de tempo que pareceram dias. Quando voltei à mim, porque Gina respondera tudo, estava caminhando na direção contrária dos periodistas restantes. Nos afastamos o suficiente para que ela dissera: “Ao fim livres, próxima tarefa, Shacklebolt”, e aparatamos de volta à minha sala.


Olhei ao redor. Me sentia mais em casa na minha sala que em minha própria casa. Inúmeras vezes eu já havia dormido ali. Juntei a pasta do caso com as últimas anotações que havia feito, Gina fizera o mesmo em sua sala, em frente à minha. Saímos corredor à fora, este, já quase vazio, quando fomos surpreendidas for uma majestuosa coruja gavião, rara nos alrededores. Winona. Shacklebolt. Era a coruja de Shacklebolt. Ofereci minha mão para que pousara, algo que fez com graça. Retirei o pequeno pergaminho, que continha apenas quatro palavras:


Sala. Mistério. Trinta minutos.


Pensei um momento. Depois de verificar que o corredor estava deserto, eu disse, em um tom baixo:


- Sala Precisa do Departamento de Mistérios? Como se supõe que a gente ache uma sala no Departamento mais complicado de se achar alguma coisa do Ministério?


Mesmo já trabalhando no Ministério havia três anos, nós duas só havíamos colocados os pés no Departamento de Mistérios uma vez, fazia seis anos. Lembrava da Sala Circular, com um monte de portas. Mas não lembrava de uma Sala Precisa. O fato era que eu não sabia que tinha outra Sala Precisa que não fosse em Hogwarts.


Meia hora. Era o que tinhamos para descobrir onde ficava a Sala Precisa do Departamento de Mistérios. Nos dirigimos ao elevador, em direção ao nono nível. Paramos na frente da porta, que, para nossa surpresa, estava destrancada. Suspirei. Teria sido extrememente difícil, senão impossível arrombar a porta de Departamento.


Entramos.


- Lumus ! - Senti que me cegava. Havia esquecido que a partir da porta do Departamento, o resto era escuro, como breu.


- Gina, tire a varinha da minha cara.


Ela não teve tempo para responder, porque portas apareceram na nossa frente. A sala atual era circular e fazia, suas paredes continham somente portas.


- A Sala Circular. - Gina sussurrara. – Significa que temos que experimentar com as portas outra vez. Dessa vez, a Sala Circular não girara como fizera à seis anos atrás. Decidi ir pela porta que tinhamos à nossa frente.


Ela se abrira com facilidade. Com apenas uma espiada, eu deduzira que não era a sala da qual precisávamos. Eu me lembrava dessa sala. A Sala dos Cérebros. Fechei lentamente a porta.


- Flagrate ! - Uma enorme cruz vermelha surgira na porta, exatamente como à seis anos atrás.


- Gina, veja em outras portas.


Algumas portas simplesmente não cediam. E no final, todas as portas estavam marcadas com uma cruz. Sim, eu sabia que a Sala Precisa aparecia para as pessoas que realmente precisavam mas não havia espaço para uma porta de materializar do nada.


Suspirei. Realmente precisávamos da Sala Precisa. Afinal, por quê Shacklebolt nos chamaria à outro lugar que não fosse sua sala? O que havia de diferente nessa reunião?


Até que um grito de entusiasmo me acordou das perguntas.


Me vi  parada na frente das duas portas que não cederam. Ou eu pensava que eram portas que não havia cedido. Elas haviam desaparecido, dando lugar à um portão gigantesco. Pensei em quanto pesaria. Mas apenas Gina tocara a maçaneta da porta, essa se abrira, revelando uma sala luxuosa e brilhante.


Meus olhos demoraram para focar corretamente outra vez. Mas quando o fez, desejei que não o tivesse feito. Porque eu simplesmente resolvera alucinar.


Lá estava. Meu melhor amigo Harry Potter, apoiado contra uma enorme mesa, onde Shacklebolt pacientemente nos aguardava.


Me contive. Que Harry tivesse voltado ao país e eu não havia sabido, sim, era estranho. Mas as dúvidas me abandonaram quando ele me puxou à um abraço apertado.


- Senti saudades Mione.


- Eu também Harry.


Ao ver o olhar que Harry e Gina trocado sorri. Mas havia algo errado. Onde estava Rony? Por quê Harry havia voltado sem aviso prévio? E o que Draco Malfoy fazia olhando para nós?


O QUE?


- O QUE ESSA ABERRAÇÃO DA NATUREZA ESTÁ FAZENDO NA MINHA FRENTE? - Sentí o sangue ferver e percorrer o meu corpo.


Ele apenas me olhara com desdém.


- Acalme-se Granger, queira ou não, estou parado na sua frente. Aguente essa “aberração da natureza”.


- ORA SEU...


- Chega. Os dois. Devo lembrar-lhes que não estão mais em Hogwarts?


- O que ele está fazendo aqui? Aliás, o que o Harry está fazendo aqui? Onde está Rony? O que está acontecendo? - Gina disparara.


- Tudo ao seu tempo Gina. Sentem-se. Vocês estão aqui porque não só eu, como toda a comunidade bruxa precisamos da ajuda de vocês.


Eu realmente estava começando a pensar que a acusação de “Atividades Ilícitas” contra Kingsley Shacklebolt não era mais tão inacreditável assim.


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N/A: Bom gente, é isso. Espero que tenham disfrutado e esperem com ansias o capítulo 2 ! Essa é a primeira long, então espero ver críticas, sugestões, tentativas de advinhar o que vem  por aí, etc etc.


Alguma dúvidas que será muito provável de surgir e aclaro aqui e agora.

Dicionário !


- Modus Operandi (MO): Traduzido do Latín, significaría algo como "Modo de Operação", ou seja, como um indivíduo opera em determinada situação, mais usada em cenas de crimes para se referir a determinadas ações que um serial killer (assassino serial) repete em sua escenas.


- Objeto Desconhecido: Traduzido do inglês "Unknown Subject" ou simplesmente "UNSUB", é o assassino em questão.


E é isso, conforme o vocabulário se expanda, ao fim de cada capítulo, postarei um "Dicionário !" para que saibam qual dos 1000 significados de uma palavra quis usar ou o que significa uma determinada expressão ou palavra.


Observação Importante: Eu me mudei para Argentina (sim, país do Messi, Maradona) tem um pouco mais de cinco anos, então saibam desculpar erros de coerência, acentuação e tempos verbais. Qualquer erro que encontrarem, POR FAVOR (eu suplico) façam-me saber mediante um comentário para que nunca mais seja repetido.


Última coisa, PROMETO:


Devo muito e tudo à caderninho azul, foi ela que me encorajou a começar a escrever uma long ! Realmente recomendo Síndrome de Estocolmo.

Então é isso gente. Beijocas e Pipocas.


- PS.

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Comentários (3)

  • meroku

    belo começo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!posta o cap 2 logo!!!!!!!!!!!!! 

    2012-12-10
  • Miss Caroline

    Oiee, gostei bastante do início (: No início fiquei meio confusa a respeito sobre quem narrava a fic, mas finalmente compreendi que era a Hermione. Hmm, suspeito esse novo ministro... Estou curiosa para saber o porquê do Harry ter voltado sem o Rony e sim o Malfoy. Espero que não demore a postar!Beijos :* 

    2012-02-09
  • Caderninho azul

    Ain Veve ameei o capítulo, mesmo mesmo!Tem algumas palavras erradas mas são muitoo poucas para alguém está 5 anos fora do país de origem!To curiosa para o próximo, não demore a postar o 2,viu?AHAHAHAHA ABERRAÇÃO DA NATUREZA.CADÊ O RON?eu vou querer saaber a resposta?Beijoooocas!!!!obs:brigadinha pela recomendação, e devo postar ainda essa semana, espero eu!obs2:Depois te dou a correlação de palavras,ok?Nada de grave, não se preocupe!           

    2012-02-07
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