Julgamento





    Apenas quando estranhou o pouco movimento no Átrio foi que Harry consultou seu relógio de pulso, constatando que chegou ao Ministério da Magia antes do expediente e, consequentemente, que seu sonho tinha despertado-o antes da hora que normalmente acordava. Por isso, a quantidade de olhares que recebia durante cada passo que dava era maior do que o de costume.



   Uma sensação desconfortável começou a assombrá-lo. Ele assemelhava-se a um leãozinho num circo muito grande cheio de espectadores curiosos.



   Desde que destruíra Voldemort naquela batalha épica de Hogwarts, as pessoas pareciam tê-lo adotado como uma espécie de deus que merecia toda a adoração por onde quer que passasse. Nunca tinha se acostumado com a fama, e o fato de que ultimamente pouco era visto em público devido às missões fizera-o esquecer de como era ruim ser o centro das atenções, e estar ali de volta depois de tanto tempo transformou a situação em algo pior do que já era.



   Quando pensou que seu tormento duraria para sempre, a voz do elevador que pegara anunciou o andar do Departamento de Aurores. Sem conseguir conter um suspiro de alívio, Harry quase se atirou para fora do veículo. Sabia que, em seu local de trabalho, seus colegas lhe olhavam de forma igual – pelo menos, na maioria das vezes.



   Tinha acabado de entrar no corredor que dava acesso à sua sala quando Charles Zemeckis, um homem de meia idade que ostentava um olhar profundo e profissional, cruzou seu caminho. Parecia carregar uma aura que instigava o alerta nas pessoas ao redor. Não era à toa que possuía o cargo de chefe dos aurores, além de ser um dos homens mais temidos e respeitados do Ministério.



- Olá Potter. – Zemeckis disse com seu característico tom formal, embora seus lábios tenham se contorcido num frágil sorriso. – Bom vê-lo de volta. – e estendeu o braço para um aperto de mão.



- Igualmente, Sr. Zemeckis. – Harry também deu um leve sorriso enquanto apertava a mão do homem. – E embora essas últimas missões tenham sido bem sucedidas, cansaram bastante. Se me permite dizer, é até um prazer estar de volta ao escritório.



- Posso imaginar. Sendo um dos nossos melhores aurores, é essencial seu trabalho de campo, mas também não pode ficar em combate o tempo todo. É preciso descansar um pouco.



   Harry abriu a boca para despedir-se do chefe quando um rapaz apareceu, chamando a atenção deles. Era o assistente de Charles.



- Sr. Zemeckis, o julgamento começará em quinze minutos. – ele falou ao postar-se ao lado dos outros homens. Seu tom de voz era um pouco ofegante. – Será no tribunal dois.



   Harry ergueu a sobrancelha.



- Julgamento? – repetiu, vasculhando sua mente para ver se tinha lido algo parecido nos exemplares do Profeta Diário jogados em sua escrivaninha em casa.



   Contudo, ninguém pôde responder algo sequer quando uma nova voz foi ouvida, mais delicada e obviamente feminina.



- Não é no dois, é no três!



   Harry nem precisou ver a dona da voz para reconhecê-la, e logo um grande sorriso formou-se em seus lábios. Seu coração não evitou um salto dentro do peito ao ver uma mulher de cabelos e olhos castanhos vindo da mesma direção. Assim que parou e o viu, seu rosto iluminou-se.



   A proporção da saudade que sentira da melhor amiga só chegou ao conhecimento do moreno naquele momento. Se não estivesse em frente a seu chefe, com certeza teria tomado-a num forte abraço ali mesmo, ficando minutos com ela.



   O auror sufocou uma risada ao vê-la balançar a cabeça imperceptivelmente e seus olhos voltarem a encher-se de razão e profissionalismo antes de virarem-se para Charles. Ele também se divertiu ao notar o ligeiro rubor em sua face, um óbvio sinal de que se sentia envergonhada por ter se portado de maneira extremamente inadequada em frente a uma das maiores autoridades do Ministério da Magia – rubor que tinha consciência de que somente ele conseguia ver. Além disso, quase conseguia ouvir a voz dela dentro da cabeça, repreendendo-a. Afinal de contas, ela era Hermione Granger.



- Na verdade, senhor, o julgamento ocorrerá no tribunal três. – ela informou, voltado ao porte profissional de sempre.



- Muito obrigado, Srta. Granger. – o chefe agradeceu. Depois, sua testa enrugou-se, e o homem virou-se para Harry. – Vai fazer algo agora, Potter? Porque acho que sua presença seria importante.



- Não, senhor. – Harry respondeu com uma expressão confusa.



- Ótimo. Sei que a Srta. Granger poderá informá-lo do que se trata, afinal, também estará lá. Lembrem-se: quinze minutos. Agora, se os dois me derem licença... Edgar, venha comigo.



- Sim senhor. – disse o assistente.



   Com mais um leve aceno de cabeça, o chefe do Departamento de Aurores foi embora. Harry, de repente lembrando-se da mochila pendurada em um dos ombros, seguiu para seu escritório a passos largos, com Hermione em seus encalços.



   Ele entrou na sala, jogou o material no sofá ao lado da porta e assim que se virou para interrogar a outra auror sobre o julgamento, foi surpreendido por um abraço esmagador dela que extinguiu o oxigênio de seus pulmões.



- Hermione!



- Ah, Harry, senti tanto a sua falta. – ela disse com a voz um pouco abafada por ter enterrado seu rosto no ombro dele.



   Ele não deixou de retribuir o abraço, deixando que o nó causado pela ausência dela finalmente afrouxasse. Suspirou ao encostar sua cabeça na dela e constatou que, se morresse sufocado pelo perfume dos cabelos dela, iria tranquilo.



- Que bom que agora vai parar de sair adoidado em missões. – ela disse, soltando-o e fitando o rosto dele de modo um tanto preocupado.



- Como... – ele começou, porém seus olhos já tinham denunciado-o.



- Reunião um dia desses com o pessoal da inteligência. – Hermione respondeu. – Zemeckis disse que iria fazer algumas alterações nas equipes de campo e seu nome surgiu.



   Os dois saíram da sala e começaram a andar para o hall dos elevadores.



- E então, de quem é o julgamento? – ele questionou, olhando-a de esguelha.



   O brilho no olhar dela fraquejou um pouco, e Harry percebeu que a situação era grave.



- Klaus Schroder, Victoria Halliwell e Brut Dickens. – ela respondeu sem encará-lo. – Você deve conhecer os dois últimos, pois soube que estava presente na captura deles. Já eu estava na prisão de Klaus.



   Harry balançou a cabeça. De fato lembrava, tinha pegado Victoria Halliwell com as próprias mãos quatro meses atrás.



- Então, foi feio um inquérito e conseguiram provas de que eles, os três, foram responsáveis pela tortura de Xenofílio Lovegood.



   Um calafrio percorreu a espinha do moreno. Xenofílio fora brutalmente torturado pouco antes da ultima batalha e agora jazia na ala psiquiátrica do Hospital St. Mungus, completamente alucinado e louco.



   Seus olhos faiscaram com selvageria com a lembrança. Nunca perdoaria aquelas pessoas pelo crime hediondo que cometeram. De repente, sentiu-se muito bem por ter pegado Victoria Halliwell sozinho.



- Eu sei que está com raiva, mas lembre-se de que agora a justiça será feita. – Hermione disse num tom tranqüilizador e apertou um botão, fazendo Harry se dar conta de que já estavam no hall.



- E Luna? Ela vem? – perguntou, lançando mais um olhar de viés à amiga, que contemplava o mostrador de um dos elevadores.



- Ela já está aqui. – a outra respondeu. – Com Ron. – adicionou com a voz um tanto carregada de escárnio. – Acharam que, por termos capturado justamente os responsáveis pelo crime contra o Sr. Lovegood, os aliados deles iriam atrás de Luna. Aí mandaram Ron para garantir que ela viesse em segurança.



   Harry não se correspondia com a mulher havia certo tempo, mas não teve problema algum ao analisar o timbre e o semblante dela.



- Ah, então a história finalmente chegou ao capítulo final? – perguntou sem conseguir esconder um quê de brincadeira, o que o fez ser quase fuzilado pelo olhar que a auror lhe lançou antes de entrar no elevador.



   Ele a seguiu. Ainda sem olhá-lo, Hermione apertou o botão do nível dos tribunais.



- Tá, não precisa responder. – o moreno sussurrou sem jeito.  – Não queria te irritar. Desculpa.



   Uma risada amarga escapou pelos lábios dela.



- Para quê? Todos sabiam que a novela Ron-Hermione ia ter um fim trágico. Não sei por que ainda insistimos. O fim já era bem visível, ainda mais depois daquele momento em que ficamos um tempo vendo outras pessoas.



   O suspiro que ela deu em seguida fez Harry perceber que ela ainda estava magoada.


- Pelo visto, a página foi virada, mas os sentimentos continuam, huh? – ele falou.



   Os olhos castanhos da morena voltaram ao mostrador. Harry olhou-o rapidamente e viu que estavam próximos ao destino.



- Um pouco. Mas não é o suficiente para me fazer ficar distraída por ele cada vez que o vejo. Na verdade, - ela baixou o olhar para frente. – acho que a maior parte do que sinto é frustração... Sabe, por termos ficado nisso por anos e não ter percebido antes. Aí não ficaríamos tão mal e seria muito mais fácil de fazer nossa relação voltar a que era antes.



   A voz do elevador anunciou a chegada, e os dois saíram e começaram a andar. Harry ergueu ligeiramente a sobrancelha ao ver a quantidade de pessoas presentes nos corredores. Pelo visto, seria uma sessão bastante interessante. O lado bom era que quase ninguém lançava a ele olhares tortos e surpresos; as pessoas estavam mais concentradas em seus próprios burburinhos.



- Antes? – repetiu, dessa vez baixando bem o volume da voz para que não passasse de um sussurro. – Quer dizer que ainda o quer como melhor amigo?



- É claro! – Hermione respondeu no mesmo tom, visivelmente ofendida. – Sabe-se lá por que, eu ainda gosto muito daquele ruivo nesse aspecto. Agora fique quieto porque quero me concentrar no julgamento, sem qualquer outra perturbação.



- Que seja.



   Os dois tiveram um pouco de dificuldade de entrar no tribunal, mas assim que o fizeram, pegaram um lugar no meio, de modo que pudessem ter ampla visão do local e, ao mesmo tempo, dos réus.



   O cenário continuava o mesmo que Harry lembrava: um tanto frio, iluminação fraca e portador de uma atmosfera pesada que o fazia pensar numa masmorra. Poucas tinham sido as vezes que entrara ali – ainda mais em sua carreira de auror –, mas em todas tinha se sentido estranho, incomodado, mesmo sabendo que quem ia para o banco da acusação ia em nome da justiça.



   Seus olhos esquadrinharam o local. Zemeckis e Edgar sentaram alguns níveis abaixo deles, um pouco mais para a direita, perto de onde ficaria a banca julgadora. Ao estudar o outro lado do aposento, ele viu Luna e Ron entrando e acomodando-se perto de onde ficaria o Ministro da Magia e o chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, que presidiria a sessão.



- Não parece nenhum pouco com a Luna Lovegood que conhecemos. – Hermione murmurou com um tom que mesclava surpresa e tristeza.



   De fato não parecia. A loira fazia força para ostentar uma expressão séria que às vezes fraquejava e mostrava um pouco de dor em alguns traços. Não só a perda do pai como também a guerra tinham mudado-a bastante. Seus olhos não eram mais vidrados e um tanto aéreos, e ela não usava mais as roupas coloridas, berrantes e amarrotadas, mas sim arrumada, de tons neutros e que combinavam. Seus cabelos pareciam mais cuidados, e tudo isso a deixava um tanto atraente.



   Ron, por outro lado, parecia quase o mesmo de quando Harry o vira pela última vez. Parecia que não tinha dormido muito bem na noite anterior, dando-lhe um aspecto cansado, e sua expressão demonstrava um pouco da mágoa sentida por Luna, tanto que vez ou outra olhava de esguelha para a ex-colega de Hogwarts para conferir como estava.



   Hermione claramente tinha feito a mesma análise, pois comentou:



- Não posso negar que Ron se importa bastante com os amigos.



- O que aconteceu com o “vou me concentrar só no julgamento”? – Harry perguntou, virando-se para ela com um sorrisinho.



   Ela revirou os olhos.



- Silêncio. – rosnou.



- Mas eu tenho que concordar com você, Mione. Ele é uma ótima pessoa.



- Você não o escolheria como melhor amigo se ele não fosse. – ela disse, fitando-o.



  Harry virou para frente a ponto de ver Kingsley Shacklebolt, ex-membro da Ordem da Fênix que fora eleito Ministro da Magia depois da queda de Voldemort, entrando no tribunal com Mafalda Hopkirk, a chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia, ladeados por três aurores que Harry conhecia de vista. As autoridades passaram por trás de Ron e Luna, cumprimentaram a loira brevemente, e acomodaram-se em seus lugares com os guardiões logo atrás.



   O burburinho dentro do auditório aos poucos diminuía, mas só parou quando a porta abriu de novo e por ela passaram os réus acompanhados de dementadores. O moreno sentiu Hermione sobressaltar-se de leve ao ver as criaturas e, em seu natural instinto protetor, apertou a mão dela calidamente para acalmá-la, além de dar-lhe um breve sorriso, mostrando que também compartilhava da sensação ruim que as criaturas lhe causavam.



   Assim que os correntes das cadeiras postadas em frente a Mafalda prenderam os acusados, os dementadores saíram. Harry sentiu o clima ficar mais pesado e logo soube: o julgamento iria começar.



- Os senhores foram tragos aqui, perante o Conselho das Leis da Magia, para serem julgados – Mafalda começou a falar, sua voz ecoava livremente pelo tribunal, clara o suficiente para que qualquer um escutar. – por um crime que, por mais hediondo que seja, tornou-se, infelizmente, bastante comum nos últimos anos.



   Victoria riu. Um riso tão sádico e frio que fez Harry lembrar-se ligeiramente de Bellatrix Lestrange. Mais uma onda de raiva lhe veio, e ele teve que se segurar para não pegar a varinha de dentro do bolso e lançar um feitiço na mulher. Por Merlin, ela tinha torturado um homem, condenando-o a um destino quiçá pior que a morte, e gargalhava?



   Mas Mafalda não pareceu ter se incomodado com a interrupção. Pela pose firme que ostentava e sempre fazendo o possível para obter justiça, Harry sabia que a chefe de departamento já tinha passado por várias situações semelhantes àquela para manter a calma.



- Foi provado que vocês foram os responsáveis pela tortura brutal de Xenofílio Lovegood – À menção do nome, Harry automaticamente virou-se para onde Ron e Luna estavam, e pôde vê-la segurando a respiração, que só voltou ao normal quando Ron pôs a mão no ombro dela num gesto de conforto. Um sorriso torto pintou a expressão da loira, que não convenceu o ruivo. Mas Harry sabia que ele entendia. – através do uso de várias Maldições Cruciatus, levando a vítima a um estágio completamente irreversível. Além disso, também puseram fogo na residência do Sr. Lovegood, destruindo-a completamente.



   Harry desviou o olhar fixo que estava preso nos réus e posicionou-o na banca julgadora. Um bruxo ao lado de Mafalda mostrava uma série de papeis a ela, apontando ocasionalmente um ponto e outro.


- Provavelmente o relatório da investigação. – Hermione murmurou ao seu lado, também olhando. – Ou então mais acusações.



- Deve ser pelo fato de terem sido Comensais da Morte. – Harry disse cheio de desgosto.



   De repente, como se aquelas palavras tivessem chamado a atenção para si, o auror sentiu alguém o observando com bastante curiosidade. Sabe-se lá como, soube que não era de nenhum bruxo sentado ao redor dele, e sim da mulher sentada no meio da sala com as correntes prendendo-a.



   Um calafrio percorreu sua espinha ao perceber a intensidade absurda com que Victoria Halliwell o fitava. Durante frações de segundo, sua postura ficou dura; não conseguiu se mexer, muito menos arranjar forças para devolver o olhar. O canto direito de seus olhos captou Hermione virando-se para frente, e Harry soube que a amiga, do jeito que o conhecia, logo notaria o que estava acontecendo e viraria para ele.



   Harry relaxou a postura de leve e virou-se para a acusada, lançando-a um olhar que esperava que fosse firme o suficiente. Porém, viu que a mulher olhava algum ponto à sua frente, aérea ao fato de estar sendo julgada e aparentemente não havia nem o olhado. Ele franziu o cenho, perguntando-se se não estaria imaginando coisas.



- Pelo que consta aqui, – a voz de Mafalda tirou o moreno de seus pensamentos. – vocês também são acusados de serem ex-partidários de Lord Voldemort, tendo cometido outras atrocidades em nome dele, tais como a destruição total de um vilarejo bruxo irlandês de Therinsford e, por último, como o massacre de trouxas na festa no norte da França.



- Em nome dele, em nome dele – Klaus Schroder repetiu num tom de deboche. Bastou apenas um olhar frio e severo de Mafalda Hopkirk para que as correntes apertassem-no ainda mais, calando-o.



 - Falam como se ele fosse o começo e o fim de tudo. – Brut Dickens emendou a fala do comparsa. – Falam como se, depois do Lorde das Trevas, todo o ideal dele tivesse desaparecido... Nunca! Nunca desaparecerá! – As correntes também apertaram Dickens, mas ele começou a se contorcer, lutando contra elas. – Nunca! – exclamou, sua voz saindo um tanto esganiçada e sôfrega. – Esse é apenas o começo!



- Sempre haverá pessoas sãs e sábias o suficiente para lutar por um mundo mais digno e livre de sangues-ruins, mestiços e trouxas nojentos. – Victoria disse num tom calmo que equiparava ao que Mafalda usava. – E não importa o quanto eles tentem incorporar-se em nossos domínios.



   Harry pôde jurar que o olhar dela, durante as palavras finais, postou-se nele e em Hermione durante não mais que um segundo. Porém, uma piscada de olhos depois, e Victoria já tinha voltado-se para frente.



   O sorriso frio que a mulher deu tornou-se algo quase doentio e louco quando as correntes sufocaram-na, mas ainda sim era possível ver um quê de satisfação em seus traços por ter feito o que fizera.



   O moreno respirou profundamente, segurando o rosnado. Devido ao ritmo rápido, acelerado e bruto que tinha vivido nos últimos meses devido a missões, sua paciência, que já por natureza não era tão extensa assim, tinha ido por água abaixo. Sentia uma enorme vontade de pular dali de cima e mandar os três para Azkaban só com passagem de ida.



- Aqueles – a voz da presidente da sessão aumentou uma oitava para encobrir os interruptores, porém continuava firme e decidida. – que são a favores de condená-los à prisão perpétua em Azkaban, por favor. – disse, virando-se para a Comissão.



   Foi unânime. Harry nem pôde contar direito as mãos erguidas antes que elas se abaixassem.



   A porta do canto abriu de novo e por ela passaram os dementadores. Enquanto os condenados eram arrastados, Harry viu que Victoria ria friamente e Brut e Klaus trocavam olhares cúmplices vez ou outra quando não estavam mais olhando ao redor. Por duas vezes, Harry achou que estavam olhando-o, porém dessa vez não se incomodou tanto, afinal, já deveria ter acostumado àquele tipo de olhar que os antigos comparsas de Voldermot lhe lançavam durante as várias vezes que se encontrara com eles.


   Depois que os presos foram levados, o burburinho que antes tinha enchido o local voltou com força. Algumas pessoas levantaram-se e iam em direção à saída, mas boa parte tinha permanecido sentada conversando.



   Harry olhou para frente e viu Luna cutucando Ron e indicando a saída. Eles se levantaram e começaram a traçar um caminho, driblando as pessoas sentadas.



   O moreno virou-se para amiga ao seu lado, que não precisou de uma palavra sequer para entender o que ele estava pedindo.



- Eu já sabia disso. – ela disse, ficando de pé em seguida.



   Os dois tiveram mais dificuldade para sair dali, visto que as pessoas daquele lado estavam mais eufóricas e entretidas nas conversas. Vez ou outra, Harry foi parado. Eram pessoas que já conhecia que trabalhavam no Ministério, eram estranhos que, mais uma vez, encontravam-se fascinados por ele e por sua cicatriz, eram curiosos que, mesmo depois de anos, ainda parabenizavam-no por ter livrado a dimensão mágica de seu pior pesadelo, eram colegas de trabalho que o cumprimentavam – e essas últimas eram um tanto mais fáceis de aturar. Ele agradeceu por estar com Hermione, que algumas vezes o moreno usou, alegando que precisava falar urgente com ela, uma desculpa para sair dali mais rápido.



   Por fim, acabaram encontrando Ron e Luna no corredor que dava acesso aos elevadores. 



- Ron! – Harry exclamou.



   Os dois automaticamente viraram-se para trás. Um grande sorriso surgiu na expressão pálida e cansada do ruivo e um pequeno pintou o canto dos lábios de Luna. Ron foi em direção ao melhor amigo, e os dois se abraçaram brevemente.



- Caramba, cara, quanto tempo eu não te vejo! – ele exclamou. – Muito tempo mesmo. É um tanto trágico, sinistro e um tanto debochado eu dizer que a última vez que te vi nós dois estávamos traçando planos para invadir um esconderijo loucamente secreto e bem guardado?



   Harry não pôde deixar de rir abertamente. Tinha sentido muita falta de Ron, principalmente de sua personalidade tranquila e divertida. Sempre o descontraia, mesmo que estivesse nervoso.



- Por que boa parte dos nossos momentos juntos foi gasta em pancadaria? – o ruivo perguntou, ainda com um tom divertido.



- Porque escolhemos isso para nossas vidas, Ron. – Harry respondeu, erguendo uma das sobrancelhas. – Não podemos escapar de brigas e possíveis batalhas quando escolhemos nos tornar aurores. Mas... Francamente? É bom para a saúde afastar-se um pouco da ação, sabe, senão você fica... – E de repente uma luz acendeu no cérebro de Harry, lembrando-o que usaria uma palavra que provavelmente chatearia Luna.



   A loira, por sua vez, pareceu ter entendido sua expressão. Aproximou-se, com o meio sorriso ainda nos lábios.



- Vá em frente, eu sei que é apenas uma expressão. – disse num tom um tanto tristonho.



   Harry sentiu-se um pouco surpreso. Era incrível como Luna o conhecia, mesmo que os dois não fossem tão próximos quando ele e Ron ou Hermione. Mas talvez aquele fosse um dom de sua ex-colega de Hogwarts, algo que atraía as pessoas quando elas deixavam um pouco o estereótipo de lunática que Luna carregava e paravam para conhecê-la.



   A euforia por ter reencontrado Ron apagou um pouco.



- Luna, eu sinto muito, sinto muito mesmo. – disse, virando-se para olhá-la. – Sabe o quanto eu gostaria e poder mudar a situação. Mas espero que saiba que me sinto bem melhor por finalmente ver os culpados, enfim, no lugar onde pertencem.



- Eu sei, Harry. – ela disse num tom suave. – A culpa não é sua por existir, no mundo, pessoas tão distorcidas e cegas a ponto de acreditar na baboseira que Você-Sabe-Quem pregava... Ou cruéis, sádicas e sanguinárias como aquela mulher lá. – concluiu com uma careta.



- A Halliwell? – A loira balançou a cabeça. – É, ela é bem delinquente mesmo... Tanto é que isso dificultou um pouco as coisas para mim, mas consegui pegá-la.



- Foi você? – Ron ficou boquiaberto. – Nossa, me disseram que foi uma perseguição e um duelo e tanto!



- Sempre o tom de surpresa. – Hermione pronunciou-se pela primeira vez. – Francamente, não acredita na capacidade de seus amigos? – perguntou, cruzando os braços e fitando o ex-namorado.



   Ron, enfim, pareceu notar a morena ali. Ou então talvez já tivesse feito-o e estivesse ignorando-a. Bem, naquele momento, já não poderia mais esquecê-la.



- Olá Ron. – Hermione disse, e Harry não conseguiu identificar se o que vinha na voz da amiga eram bons modos ou sarcasmo. Ficou ligeiramente frustrado por aquilo, afinal, sempre conhecera e interpretara as ações de Hermione tão bem.



   O olhar de Luna passou do rosto do ruivo para o de Hermione.



- Ah, Hermione, ele acredita sim. – intrometeu-se. – Só que as histórias que percorreram sobre a prisão da Halliwell foram bem impressionantes... Um tanto mirabolantes, mas impressionantes. Chegaram até na redação. – Depois do fim da guerra e do acidente com o pai, Luna tomou as rédeas da revista O Pasquim. Com o passar dos anos, incrivelmente a revista foi ganhando status e credibilidade, mesmo que, de vez em quando, ainda vinha com algum artigo diferenciado, mas que não impediu que a publicação se tornasse grande e respeitável na comunidade mágica.



- Também ouvi. – a morena disse, observando Luna com o canto do olhar. – Na verdade, ouvi várias versões, o que mostra que foi algo bastante querido pelos admiradores. Contudo, não duvido que tenha sido uma missão bem feita pelo Harry.



- Nem eu duvido. – Ron murmurou, lançando um olhar um tanto firme para Hermione.



   Harry não precisou de mais de dois segundos para entender o que estava acontecendo. O clima ficou pesado, e ele já conseguia até prever uma pequena discussão entre seus dois melhores amigos... se ele não interviesse. Tinha ficado muito tempo longe deles para, quando finalmente os encontrasse, testemunhar mais uma ceninha dramática.



- Ok, ótimo. – ele deu uma ligeira olhada ao redor. – Então, acho que estamos na passagem. Creio que o dia hoje não esteja tão cheio, então que tal ficarmos na minha sala matando tempo? Se vocês não sabem, faz meses que não os vejo, e quero saber como andam as coisas por aqui... Sabe, coisas que não envolvam brigas, maldições, feitiços e combates mortais. – E, virando-se para Luna, concluiu. – Vai trabalhar hoje, Luna, ou pode se juntar a nós?



   A loira abriu um sorriso maior do que os anteriores, claramente num sinal de que também sentira a atmosfera mudar.



- Não tenho que passar na redação, se é que me entende, porque botei um de meus editores de maior confiança como responsável, e ele está a par da situação, então acho que compreenderá se eu não aparecer... Na verdade, acho que é até isso que ele entendeu durante nossa conversa. – ela franziu a testa e fixou o olhar em algum ponto atrás de Harry e Hermione. – Enfim, estou divagando, e acontece que seria bom sim ficar sem fazer nada. Além do mais, - ela suspirou – depois do dia de hoje acho que preciso mesmo de um momento de descontração e ele seria de muito bom proveito se ocorresse com os três.



- Acho que seria bom relaxar um pouco antes do trabalho. – Ron comentou, inclinando ligeiramente a cabeça para o lado. – Não dormi muito bem e tenho a impressão de que meu cérebro ainda não está funcionando com toda a potência.



   Harry olhou para Hermione no segundo exato em que ela abria a boca. E, a julgar pela sua expressão, o que quer que saísse dali seria contra a proposta dele, ele sabia.



- Então vamos! – o moreno exclamou e puxou de leve o braço de Hermione, guiando-a em direção aos elevadores. Ron e Luna acompanharam.



- O quê?! – Hermione sibilou quando os quatro entraram num dos elevadores acompanhados de mais algumas pessoas. – O que pensa que está fazendo? Eu ainda tenho que terminar uns relatórios e pegar algumas informações com Bretwood e Langdon sobre a última missão deles e...



- Quieta, Mione. – Harry sussurrou de volta, sem conseguir esconder um sorriso por ver sua velha amiga agindo do jeito irritantemente correto que era sua característica. – Do jeito que esse Ministério está alvoroçado pelo julgamento, as coisas não vão voltar ao normal nem tão cedo. E eu já trabalhei muito, quero respirar e relaxar um pouco. Preciso disso... E você também, principalmente você. Afinal, pode não estar precisando de um relaxamento físico, mas emocional... Oh está precisando muito.


 



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N/A: Vou logo dizendo q esse cap ta meio pequeno (pros meus padrões exagerados, ta sim hahahaha), mas é q eu realmente não tinha pensado em algo grande e estrondoso pra ele. É o começo da fic, acho q dá pra dá um desconto pela tranqüilidade né? Se bem q tranqüilidade com um julgamento acho q só pra mim mesma hahaha XD
A Mione me diverte, vou confessar hahaha Esse jeitinho certinho dela... Todo mundo pensando em relaxar e ela em trabalho, fala sério! Mas acho q dá pra entender dps de um rompimento. Entrarei em alguns detalhes sobre isso mais tarde pq ñ é o foco da fic mesmo. A Luna mudou sim, mas ñ esperem q ela ñ venha aparecer com mais uma curiosidade estranha dela pq ela ñ virou outra pessoa. Aliás, ñ lembro o q aconteceu com Xenofílio nos livros e como eu tava com preguiça de procurar, deixei assim mesmo XD
Agradeço muuuuuito os comentários e espero mais. Prometo q o prox cap vai ser melhor (e longo, oh minha mania estranha de caps grandes...) e deve dar um leve start na trama de verdade. Qlqr erro, por favor, me avisem. Beijoos!

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Comentários (5)

  • Isis Brito

    Ah, e eu preciso dizer que adoro as cenas com o Harry e com a Hermione!! Independentes de serem de pura amizade ou (como revela o shipper) de amor... xDA cena do abraço foi fofa demais!! xD 

    2012-02-11
  • Isis Brito

    Adoro o jeito como vc escreve, o desenrolar da história... Tá tudo tão magnífico, que seria pecado eu dizer que há algo de errado por aqui... xDAdorei muito o prólogo e o primeiro capítulo! História interessante... =DEstarei aguardando atualização. =) 

    2012-02-11
  • Thierry Grima

    Perfeitos, Prólogo e Julgamento. Realmente você escreve muito bem! E como já disse em Equilibrium, você mantém uma linha constante no desenrolar do capítulo que muito agrada a minha leitura!Quanto ao capítulo propriamente dito, poxa, eu fiquei realmente com dó da Luna, é uma das personagens que eu aprecio muito, principalmente por acreditar que ela é uma personagem extremamente maleável e assim como a própria personagem do Rony. A Hermione se faz a personagem perfeita para trabalhar em fics, edicada e deveras incisiva nos olhares e nas palavras, confesso que eu gostei muito da forma como ela está se portando na sua fic. Achei o tamanho do capítulo ótimo, mas você realmente faria um favor em escrever capítulos BEM longos para que possamos nos deleitar mais de boa escrita!Beijos de um novo fã! 

    2012-02-07
  • rosana franco

    A Hermione esta precisando descontrair e muito,ainda bem q o Harry e a Luna estão por perto pra segurar a onda dos dois.

    2012-01-15
  • Jan G. Potter

    Ah, o abraço tão característico entre Harry e Hermione *-* ou será "Hermione e Harry"? Sempre é ela quem o abraça! SAHUSHAUSH Tadinha da Luna. Muito triste ver o pai dela na ala psiquiátrica. :( Mas ela vai superar, com certeza. E espero que essa amizade dos dois morenos se torne logo colorida, kekeke. Vai esquecer o Ron mais depressa, KKK. Bem, aguardo continuação ansiosamente! Beijinhos,Jan

    2012-01-06
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