Capítulo Único



Sobre o que fomos - Capítulo único




Hoje faz 19 anos que não nos vemos. Ela estava lá na 9 e ¾ abraçada ao marido que sorria ao ver a animação de Scorpius ao colocar as bagagens no trem vermelho. Draco me viu e acenou para mim soltando-a e vindo em minha direção. Eu me adiantei até eles seguida de Marion que olhava tudo com curiosidade.


- Como está? – perguntei a ele que me deu um rápido abraço.


- Muito bem. E vocês? – questionou pegando nos cabelos loiros de minha filha que lhe sorriu tímida.


- Bem. – rebati simples.


Astoria se aproximou com Scorpius ao seu lado.


- E Marion, quando ingressará em Hogwarts? – disse com curiosidade.


- Ah. Não, Marion estudará em Durmstrang. – respondi um pouco sem graça. Minha família toda havia estudado em Hogwarts, mas aquele lugar me trazia lembranças demais para que eu continuasse conectada, mesmo que indiretamente, a ele. – Nós nos mudamos em uma semana. – e a encarei. Ela me olhava interessada. – Eu vim me despedir.


- Mande-nos notícias. – pediu sincero. Draco sempre fora um bom amigo, nem sempre estava certo, era tímido e meio covarde, mas um bom amigo.


Abracei-o e beijei as bochechas de Scorpius encarando seus olhos por alguns segundos. Lembrava-me os dela. Parei em frente a Astoria que permaneceu firme, esperando. Depositei um leve beijo em seu rosto, peguei a mão de Marion, acenamos e caminhamos entre crianças e pais agitados.         


~x~


Não, ela não havia me convidado. Depois da nossa briga, ela me evitou, me ignorou e me maldisse. Quer dizer, eu acredito que ela o tenha. Mas Draco havia me convidado. De boca mesmo, sem frescuras. Acho que ele não fazia idéia...


Então, eu fui. Fui para ver se ela levaria mesmo aquilo até o final ou se acabaria por me dizer que fora apenas uma brincadeira de mau gosto. Sentei-me na terceira fileira e notei a expressão chocada de Dafne quando me viu ali. Ri internamente. Ela sabia que poderia esperar qualquer coisa de mim.


Mas eu esperei quieta até ouvir a música começar a tocar. Vir-me-ei ficando de pé e a vi postada na entrada da igreja, num vestido branco simples, os cabelos escuros soltos, as mãos nervosas segurando o buquê e um sorriso inquieto nos lábios.


Ela começou a caminhada a passos leves, sempre com aquele sorriso, acenando para os conhecidos por quem passava. Ao chegar perto de onde eu estava ela me notou. E como não notaria? Vi-a perder o sorriso e cambalear um pouco. Seu pai a segurou mais firme pelo braço e disse-lhe algo. Ela sorriu nervosamente para ele e concordou com a cabeça, ainda me encarando. Passou por mim evitando meu olhar que a fitava insistentemente.


 


- Se alguém tiver algo contra a união deste casal – disse o padre – que fale agora ou cale-se para sempre.


Dafne me procurou na platéia com urgência. Percebi seu medo. Mas eu nada disse. Levantei-me e me dirigi à saída enquanto o padre dizia:


- Então eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.


~x~


Tive raiva dela. Eu também estava magoada, desolada, me sentindo enganada e usada. Mas eu sentia raiva. Fechei uma mão em punho e encarei firmemente seus olhos negros. Senti tanta raiva que nem mesmo me lembrei de chorar. Pensei em estapear-lhe a cara. Ela merecia. Mas me limitei a xingá-la de todos os nomes feios que me vieram a cabeça no momento. Cuspi as palavras nela enquanto Astoria limitava-se a manter a cabeça erguida enquanto me escutava.


- Dos piores tipos que existem, você faz parte da escória. – disse-lhe, os olhos brilhando um vermelho-raiva.


- Você sabia que um dia uma de nós tomaria essa decisão. A de acabar. – rebateu dura – Isso não duraria para sempre.


- Isso – frisei – era o meu para sempre.


- Eu sinto muito, então. – respondeu tensa. – Eu vou me casar com Draco. Você sempre soube que isso poderia acontecer.– eu ri dela.


- Quem o namorava era eu. – relembrei-a – Como eu poderia saber que me apunhalaria duplamente?


- Ah, então você podia namorá-lo enquanto estávamos juntas, – resmungou num tom de revolta e raiva – mas se eu digo que decidi casar com ele, estou errada?


Encarei o chão somente por alguns segundos. Eu estava perdendo a razão nessa discussão pela minha mania de falar antes e pensar depois.


- Eu o larguei por você. – sussurrei voltando a encará-la.


- E eu estou te largando por ele. – falou cruzando os braços.


E isso me doeu como um tapa.


~x~


Terminar com Draco foi o mais fácil de tudo. Ele me disse estar aliviado por eu ter feito isso ao invés dele. Para as nossas famílias era só um contrato. Mas não pra nós. Não depois de tudo o que Voldemort nos trouxe. Ficamos marcados. Para sempre. Uma marca, eu arriscaria dizer, pior do que a Marca Negra. Seríamos, para o resto de nossas vidas, comensais ou filhos de comensais, sonserinos, seguidores de Voldemort e indignos de felicidade.


Não. Eu me negava a ser podada também por meus pais.


Foi uma discussão feia. Muitos gritos, gestos frenéticos, penteados desfeitos e feições histéricas, mas já estava na hora de ser Pansy e não Parkinson.


~x~


Apoiei sua cabeça em meu peito e a senti agarrar a minha blusa enquanto chorava copiosamente. Suspirei internamente. Não era como se eu tivesse escolhido fazê-la passar por aquilo. Aconteceu. E aconteceu além do alcance dos meus braços.


- Eu vou acabar com isso, meu bem. – sussurrei-lhe – Eu prometo. Que minha família me deserde, eu não ligo.


Ela se afastou de mim e me encarou. Enxuguei algumas de suas lágrimas com os dedos.


- Mas eles esperam que você se case com Draco. – rebateu vencida.


- Eu sei, mas eu não me importo com o que eles querem. – afirmei decidida – Eu escolho continuar contigo.


Astoria sorriu-me simples e me beijou. Abracei-a. Eu não sabia o que isso poderia me custar, mas estava disposta a arriscar.


~x~


Abri os olhos lentamente. Estiquei um dos braços pela cama e a encontrei. Perguntei-me se havia melhor sensação do que acordar ao lado dela. Sorri virando meu corpo pra ela que dormia gostosamente. As costas nuas e a coberta até a cintura. Enfiei uma mão entre seus cabelos e os afaguei. Percebi-a remexer-se lentamente e gemer, relutante a acordar. Beijei-lhe o rosto e a vi sorrir.


- Bom dia. – me desejou sem abrir os olhos.


- Bom dia. – lhe respondi.


~x~


Quando deixei Hogwarts no final do ano letivo foi uma provação. Uma prova do que sentíamos uma pela outra. Teríamos um ano inteiro longe uma da outra e eu o usei para me organizar. Precisava de um novo refúgio para os nossos encontros e precisava, especialmente, pensar em todos os detalhes que a nossa vida dupla envolvia. Se Dafne nos descobrira em Hogwarts, lá fora qualquer um poderia.


~x~


Encontrei-a sozinha na Torre de Astronomia, não por acaso. Passei a semana a seguindo, buscando uma brecha para conseguir falar a sós com ela. Ela logo cedeu. Astoria gostava de repetir que o meu olhar era penetrante, que ela cedia as vontades dele.


Contou-me que Dafne descobrira sobre nós e que elas acabaram discutindo.


- Ela é minha irmã, eu confio nela. – repetiu-me pela terceira vez – Sei que ela não contaria nada aos meus pais, mas eu não sei o que fazer. Estou com medo. – a abracei.


- Ela vai entender. – disse-lhe baixinho – É assim que você é feliz. Ela vai entender.


~x~


No meio da nossa história ainda havia Draco, ocasionalmente. Ele nunca reclamara do fato de eu ter ficado um pouco mais distante e eu só pude agradecê-lo por isso.


Eu levava essa vida dupla em Hogwarts. E para mim meu plano estava indo perfeitamente bem. Bom, não era bem um plano. Eu só esperava que esses últimos dois meses em Hogwarts passassem sem que Astoria e eu fossemos descobertas. Depois? Bom, depois, sim, nós tínhamos um plano. Tão mal elaborado quanto este, mas um plano.


 


Mas as coisas não terminaram como eu esperei. Era sexta-feira e Astoria não viera se encontrar comigo. No final de semana, evitou meu olhar, fugiu, me ignorou, uma vez a encontrei no corredor e ela até mesmo correu de mim. Fiquei preocupada, mas, acima de tudo, fiquei com o coração na mão.


~x~


Amor? Como eu poderia saber? E que tipo de pergunta louca era essa? Ela era irmã de Dafne. Não poderia ser mais errado. Mas eu, na verdade, não conseguia lembrar de nada disso quando estávamos juntas, escondidas na Sala Precisa, como fazíamos todas as sextas-feiras a noite desde que voltamos das férias.


Eu ficava horas afagando seus cabelos castanhos enquanto ela lia um livro ou tirava um cochilo com a cabeça apoiada no meu colo. Ela gostava de encarar meus olhos, pensativa.


Astoria riu de canto de boca.


- Gosto do seu olhar. – comentou afagando meu rosto.


Mas o melhor mesmo era o seu beijo.


- Eu prefiro a sua boca. – rebati marota.


Ela me sorriu escorregando sua mão até o meu pescoço enquanto eu a envolvia em um beijo.


~x~


Eu só soube o que era depois que ela sutilmente disse estar balançada por mim. Depois disso, eu soube o que era, pois, quando eu percebia, já estava pensando nela ou a observando ajudar a mãe nas tarefas de casa.


Eu soube o que era quando em uma das noites em sua casa naquelas férias eu acordei e a encontrei deitada ao meu lado. Um dos braços em cima de mim, a respiração serena e o cheiro de rosas nos seus cabelos.


Não consegui parar de encará-la. Acho que fiquei assim por uns bons minutos até ela despertar. Corei ao percebê-la acordada. Tudo era muito confuso para mim.


- Espero que não se importe... – disse-me como se sentisse culpada – Tive um sonho ruim e o quarto da Dafne está trancado. Aí eu pensei que poderia vir dormir contigo.


Escorreguei uma mão ate a sua bochecha. Até hoje não sei como, nem por que. Simplesmente o fiz. Questionei-me se a sua boca seria também tão macia. E só percebi que encarava seus lábios porque ela os mordeu, nervosamente. Então voltei a encará-la nos olhos e percebi um brilho diferente neles. Pensei que fosse a claridade da lua entrando pela janela do quarto, pensei que fosse a minha imaginação. Pisquei os olhos. Não era um sonho.


Então sorri besta, movi a cabeça lentamente na direção dela que parecia me aguardar e a beijei doce. Ela parecia me aguardar há algum tempo. E parecia saber que, diferente de mim, ela sempre soube.


 



Grega:


Honestamente, honestamente, eu não gostei da fic, por isso, se a minha segunda idéia, sim, eu tive uma segunda idéia, sair, ela será presente seu também. Estou doente desde o dia 20 e isso me atrasou horrores.

Trabalhar com sonserinas ou com comédias não são meus pontos fortes, daí, tentei te agradar no que estava mais ao meu alcance. Uma amiga minha ficou de betar, mas, né, eu terminei a fic no dia da entrega. Espero que goste mesmo assim e que ela esteja legível. Caso não, aceito as críticas numa boa porque melhorar é sempre a primeira opção.

Ah, duvido que você soubesse mesmo que era eu quem te tirou, mas eu curti o nosso papo pelo site. Foi divertido. xD

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Comentários (3)

  • Lana Silva

    Eu achei a fanfic muito linda. A maneira como você narrou, a historia sendo contada do fim para o começo... Parabens. Ideia genial e a fanfic é maravilhosa!Beijoos! 

    2013-02-20
  • Bruna Behrens

    Muito obg pelo comentário, Mione. Vc sempre com ótimas sacadas (:

    2011-12-26
  • Mione03

    Eu juro que amei a fic. Eu sou mais de ver a Astoria com a Hermione,mas não resisti a essa londrina e vim ler sua fic, e confesso que achei a história incrível sortuda, sem falar na maneira como você escreveu os fatos, do mais atual para o maisantigo, que eu particularmente adoro. Acho que tinha algo por trás desse casamento da Astoria com o Draco, mas se tem uma coisa que gostei foi a frase que a Astoria disse para a Pansy quando estava terminando com ela. Parabéns pela fic e até mais. Beijos mione03

    2011-12-26
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