Único



 Marlene Micknnon podia demonstrar que tinha atitude, auto-estima, e que era uma lutadora. Que não duvidava de seu potencial. Mas como a maioria das pessoas, Marlene só aparentava ser assim. Não que toda a personalidade da garota fosse uma fraude, mas sim, que ela também tinha seus segredos e seus pesadelos. Que a perturbavam, e muito.


 E nesse momento mais uma vez seu medo a assolava.


- Marlene, AH, MARLENE, porque eu tive que ter uma filha como você? Seria tão ruim eu ter tido um garoto, ou ao menos uma filha que me compreendesse em vez de me maltratar? SERIA? HEIN MARLENE? SERIA? – seu pai gritava aos quatro ventos, sem medir o tom da voz.


 O cheiro da bebida enchia a sala aos poucos, Marlene trancava a respiração para não vomitar. Odiava cheiro de álcool. Principalmente as bebidas baratas que seu pai tomava para se esquecer do mundo.


 Marlene segurava o choro, mas não tanto por tristeza, essa fase já havia passado, e sim, pois odiava ter que ficar quieta ouvindo insultos dirigidos diretamente para ela.


 A garota não tinha culpa por seu pai não ter ido bem no trabalho, ter brigado com sua mãe. E muito menos culpa de que o mundo que conhecia estava em guerra.


- Sua fedelha, quem você pensa que é? É uma insignificante, isso que você é. Nem ao menos para tirar boas notas no colégio você serve. É uma vergonha – Falava seu pai.


 Marlene não conseguia mais evitar o choro, estava frustrada. Por não poder fazer nada e por ter de ouvir aquilo tudo do seu próprio pai.


 Ao ver que a garota chorava o homem ficou vermelho, sua ira só aumentava. E como sempre iria descontar na filha.


 Ele puxou-a pelo braço, apertando seu pulso com força enquanto a balançava com a outra mão pelo ombro.


 Marlene tentava se soltar. Contorcia-se para sair dos braços que antes a pegavam no colo com carinho.


- Pai, você está me machucando – Marlene raramente falava em momentos assim, mas seu pulso realmente estava doendo.


-Está? – Disse seu pai com um sorriso sarcástico que mais parecia uma careta que beirava a loucura – Isso é pra você ver o que eu sinto. Tu e tua mãe não prestam pra nada, só pra gastar dinheiro e me encher, PORRA, EU MEREÇO COISA MELHOR QUE VOCÊS DUAS – Gritava o homem.


 Seu pai a assustava cada vez mais com os gritos. Ela sabia que ele estava fora de si, que poderia se descontrolar mais e ser agressivo. A bebida nunca fez bem ao seu pai.  Até seu oito anos achava que era só um surto passageiro. Mas quando cresceu sua mãe lhe contou o fato.


 Marlene não podia acreditar que seu pai, o ser que ela tanto amava, poderia ser capaz de ser assim.


 Quando tinha 10 anos seu pai lhe assustou profundamente. Falou tanta coisa para garota que ela nunca mais conseguiu tirar aquilo da cabaça, se tornando seu pesadelo.  Quando beirava os 13 o homem saiu um dia e voltou quase que nem conseguindo caminhar. E assim foi indo até hoje. Cada vez mais agressivo. Poucas vezes Marlene o enfrentou, e em todas elas a garota se arrependeu.


 Seu pai não lhe batia, mas suas palavras machucavam.


 Marlene pegou tanto nojo pela bebida que em todas as festas recusava. Não podia nem sentir o cheiro.


 


 Seu pai cambaleava pela sala, continuando a praguejar, havia soltado Marlene para poder socar a parede.


 A garota só ficava parada, ouvindo, sabia que não poderia falar nada. Tinha que esperar ele cansar de gritar com ela. E sempre parecia demorar uma eternidade.


 Ouviu-se um barulho da porta, Marlene deu um pulo para trás. Seu pai se virou instantaneamente para o hall de entrada.


- Lene. Eu estava te procuran... – Sirius disse entrando pela porta. Sua frase morreu ao se deparar com a cena.


 Marlene estava com a maquiagem toda borrada. Coisa rara, a garota nunca chorava sempre se mostrava forte. E do outro lado seu pai, completamente alucinado.


-O que está acontecendo aqui? – O maroto perguntou olhando de um para o outro. Não se importou em se meter em um assunto familiar. Marlene chorando não podia significar coisa boa.


-Não é da sua conta moleque – Falou o senhor Micknnon com a voz embargada devido à cachaça.


 Marlene estava paralisada. Não sabia se chorava, corria para os braços protetores de Sirius ou se o mandava embora.


-Olha, eu não sei o que está acontecendo, mas a Marlene vem comigo, agora – Sirius falou autoritário ao ver o que devia estar acontecendo.


 O homem se irritou, se aproximou da garota de supetão e a pegou pelo braço. Dessa vez com mais força que antes, se é que possível.


-Você acha mesmo que eu deixarei essa fedelha sair daqui? – Ele falava enquanto ria – Ela merece tudo que eu tenho pra dizer, ela merece, ELA ESTÁ ME MATANDO AOS POUCOS, ELA E A MÃE, DUAS... – Antes que o homem pudesse terminar de falar Marlene começou a se contorcer. Não conseguia respirar.


‘’Maldita hora pra se ter asma’’ pensou a garota.


-Solta ela – Sirius disse com raiva ao ver Marlene lutando para se soltar e respirar – Eu disse pra soltar-LA.


 Sirius ao ver que o homem nem se mexia, correu até a sala e soltou Marlene dos braços do pai. Em seguida lhe deu um soco, fazendo o mesmo cambalear.


 Marlene ofegou ao ver o que se passava. Aos poucos sua respiração normalizava, há tempos que não tinha um ataque.


-COMO SE ATREVE? – Gritou o homem avançando para cima de Sirius.


-EXPELLIARMOS - Marlene gritou.


 A garota não sabia como havia conseguido sacar a varinha tão rapidamente. Ao ver seu pai caído no chão inconsciente ela recuou. Nunca tinha feito nada, nem mesmo apontado a varinha em sua direção. Sirius parecia estupefado. Marlene havia o protegido


  Tinha lançado um feitiço contra o próprio pai.


-Vá embora - Marlene apenas conseguira dizer isso. Não queria Sirius ali. Já tinha problemas demais para resolver.


-Não vou deixar você sozinha – Disse Sirius.


-Você não devia estar aqui, eu não quero você aqui – Marlene dizia segurando o choro.


 Sirius chegou perto da menina e a abraçou. Ela começou a chorar, molhando a camisa do garoto.


-Eu ataquei meu próprio pai – Dizia ela entre soluços.


-Foi preciso Lene. Não se martirize por isso – Sirius dizia calmo afagando os cabelos negros da menina. Ele não sabia que ela podia ser tão frágil.


-Sirius. Me faz uma favor? – Marlene dizia controlando um pouco mais choro.


-Claro Lene, o que você quiser – Falou ele sorrindo serenamente. Tentava passar um pouco de paz para a garota.


-Me deixa sozinha, eu quero ficar sozinha – Dizia ela.


-Ele pode acordar – Falou ele preocupado.


-Ele é meu pai Sirius. E tenho certeza que ele só acordara amanhã – Respondeu ela.


 Sirius parecia realmente preocupado. Mas achava melhor não contrariar a garota.


 Ele só esperava que ela se protegesse. Não queria deixá-la sozinha.


-Certo – Disse ele, mas parando para pensar – Mas me mande noticias, ou eu juro que venho aqui e não respondo por mim Micknnon.


 Lene prometeu e o mandou embora.


 Quando o garoto saiu Marlene se sentou no sofá olhando para seu pai desacordado.  Chorou por um longo tempo. Logo depois o levou para cima. Deixando-o na cama a garota rumou para o quarto. Tinha que acabar com isso.


 Uma coisa pode ser dita de Marlene. Quando botava uma coisa na cabeça ninguém tirava.


 


 Sirius estava em seu quarto lendo um livro. Não conseguia se concentrar. Só pensava no que tinha acontecido. Sentia-se burro por ter deixado Marlene sozinha. Nem que tivesse que amarrá-la ele tinha que ter ficado.


 O maroto tinha começado a sentir algo diferente pela garota no quinto ano. Sempre tiveram uma amizade colorida. Os dois tinham atração um pelo outro, mas os gênios eram os mesmos. Sirius e Marlene gostavam de curtir, aproveitar a vida. Mas de uns tempos pra cá, ele não sentia atração por mais ninguém, e ela não saia de seus pensamentos. Ele sabia que ela também se sentia assim, a garota andava afastada, como se tivesse medo do que estava sentindo, arredia. Sirius tinha notado.


 Ele tinha ido falar com ela, despejar tudo que estava sentindo. Quando se deparou com tudo aquilo. Seu coração apertou ao ver Marlene chorando. Não conseguiu se controlar, esmurrando o pai da garota. Ele se sentia um idiota.


 Sirius saiu dos seus devaneios rapidamente. Ele estava passando o natal, assim como o resto das férias com James. E como um bom anfitrião, já sabia o barulho que a rede de pó de flú fazia quando chegava alguém. Sirius estava sozinho. James tinha ido ao cinema com Lily. ‘’A ruiva e suas manias trouxas’’.


 Sirius desceu a escada e se deparou com Marlene plantada na frente de sua lareira, ou a do James, tato faz.


 A garota tirava a sujeira de seu vestido quando viu que alguém lhe encarava.


-Bom, eu queria te agradecer Black – Disse ela calma.


-Você está bem? – Perguntou ele. Afinal, fazia 6 horas que tinha deixado a mansão dos Micknnon.


-Sim, eu estou – Disse ela amolecendo um pouco. – Quer dizer. Eu não tenho companhia para o natal.


-Como assim? – Sirius se arrependeu de ter dito isso, deveria ter dito que passaria com ela, e depois perguntado. Mas não deu tempo de concertar, ela já estava falando.


-Minha mãe está na França em alguma missão de auror. E bem meu pai – A garota ia continuar. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa Sirius a abraçou.


-Morena você pode passar o tempo que quiser aqui, e vai se uma honra ter você no natal comigo – Disse o garoto.


-A casa não é sua Sirius, não pode ir me convidando assim – Ria-se a menina.


 Sirius gostava de vê-la sorrir.


-Eu sei, mas também sei que James não iria discordar de mim. Ele não deixaria você sozinha. E mesmo que fizesse eu iria com você, onde quer que você fosse.


 Ao ouvir aquilo, os olhos de Marlene brilharam. Era muito bom ver Sirius falando aquelas coisas.


-Eu sei que sim – Falou ela retribuindo o abraço.


 Marlene levantou a cabeça e encarou os olhos azuis do maroto. Tão perto de si.


-Sirius, eu quero te agradecer – Disse ela.


-Eu não fiz nada que outra pessoa não faria Lene – Sussurrou ele no ouvido da menina. Fazendo ela se arrepiar.


-Não, eu queria agradecer por você ter me feito tomar coragem – Marlene falava séria. – Se não fosse por você eu nunca tomaria uma atitude.


 - Olha você só o estupo... – Falou Sirius sendo interrompido.


-Não estou falando disso Sirius. Estou tentando te dizer que eu fiz algo maior. O que deveria ter feito há muito tempo – Falou ela ainda perto do rosto dele.


-O que você fez Lene? – Sirius dizia começando a se preocupar.


-Como minha mãe eu também nunca tomava iniciativa. Ficava inerte, vendo as coisas acontecerem. Você me ajudou a ver que ele precisava de algo mais forte, algo que pudesse curá-lo. – Dizia a menina com lágrima nos olhos.


-O que você quer dizer com isso? – Sirius estava mais calmo, mas sua curiosidade aumentava,


-Quero dizer que eu o internei Six. Eu internei meu pai – Nesse momento Marlene não segurava mais a lágrima as deixava rolar. Sirius a abraçou forte querendo protegê-la e confortá-la.


-Isso é bom certo? Tenho certeza que isso é bom – Sirius dizia baixinho.


-Sim. É bom – Marlene disse ainda com a cabeça encostada no peito do maroto.


 Sirius pegou o rosto da garota para olhar seus olhos.


 Os dois se encaravam, Sirius limpou algumas lágrimas que insistiam em cair e puxou a garota para si.


-Eu vou estar sempre aqui com você Lene. Para o que você precisar. Não importa o que ou quando, eu vou sempre estar – Sirius disse antes de pegar na cintura da garota e a beijar.


 O beijo começou lento, apenas como um selinho. Sirius pediu passagem e Lena aceitou. Sentir a língua de Sirius explorando a sua era tão bom. O beijo foi ficando quente. Lene rapidamente já havia perdido o controle do seu cérebro.


 Já havia beijado Sirius muitas vezes. Mas nunca com todo aquele carinho.


  Sirius beijava cada canto de sua boca, puxando levemente seus lábios. Marlene mordia o lábio inferior do garoto o fazendo suspirar.


  Sirius começando a sentir falta de ar separou-se da garota e começou a beijar-lhe o pescoço.


-Eu sei que você vai estar sempre aqui Six. E eu não poderia desejar coisa melhor – Sussurrou a garota antes de morder levemente o pescoço de Sirius.


 Após a garota fazer isso os dois se beijaram novamente. Não havia nada que pudesse separá-los. Marlene agora se sentia protegida. Sabia que Sirius a faria passar por cima de seus medos, ele a ajudaria a tomar as decisões mais difíceis, a não temer o futuro.  Assim como ela faria o mesmo por ele.


 Ela nunca mais teria pesadelos.


 

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