Cher Antonie - Jorge/Angelina




Eu não posso partir com você
Por Van au début de sa vie
 


A água lhe invadia os ouvidos.


Os deixavam surdos.


E já faziam 3 meses que desejava mesmo ser surda.


Surda, muda, cega.


Desejava perder todos os sentidos, necessitava perder realmente todos eles.


Por que na verdade, já não os possuía.


 


“Eu estou realmente triste, mas eu não posso partir com você.”


“Eu não posso partir com você.”


 


A bela garota negra rabiscava com os dedos a areia quase cristalina.


Respirou fundo a brisa salgada que o mar oferecia.


O barulho das águas batendo nas pedras era profundo, e a luz da lua ofuscava todo o horizonte para além do oceano.


Ela se deitou deixando toda a areia tocar seu corpo.


 


- Angelina! - ouviu uma forte voz masculina lhe chamar.


Não deu atenção.


- Angelina! - a voz se aproximava.


Sentiu a água molhar seus pés.


Provavelmente o rabiscado estava por ir embora.


- Você não pode ficar aqui pra sempre sabia?


A garota olhou o rapaz em pé.


- Não? - disse esbanjando um sorriso amarelado.


- Vamos para dentro de casa – ele lhe estendeu a mão. - Vai cair um temporal Angie.


Ela pegou a mão dele e se levantou com sua ajuda.


- Tudo bem, você venceu...


Os dois caminharam rapidamente até a casa de praia de Antonie.


 


Como previsto, o temporal havia caído.


Enquanto Antonie preparava uma sopa  na cozinha, Angelina permanecia largada no sofá rodando sua varinha entre os dedos.


O pergaminho velho e a pena que tinha pedido ao amigo continuavam intactos sob a almofada roxo púrpura.


A menina mirava os objetos como se criasse coragem para tomá-los em mãos.


 


- Angie, você gosta de brócolis? - o rapaz apareceu pela porta da cozinha.


- Gosto...


- Ok – ele sorriu amplamente.


 


Assim que a guerra acabara, Angelina pedira ao amigo para passar uns dias com ele.


Antonie era um amor realmente. Era um francês extremamente educado e amigo.


Eles haviam se conhecido na copa mundial de quadribol, e desde então não pararam de se corresponder.


 


Desde os dias terríveis que passara por conta da guerra era ele que a confortava.


E ela, em uma atitude quase covarde, havia decidido fugir, de todos, de tudo que poderia lhe lembrar Fred.


Ela não podia voltar a Inglaterra.


Não enquanto Jorge estivesse lá.


E ele sempre estaria.


 


 


“Eu estou realmente triste, mas eu não posso partir com você.


De 20 a 24 eu tenho que trabalhar, eu tenho 4 dias de licença.”


 


Os dois estavam na mesa de vidro tomando a sopa quente que Antonie preparava como ninguém.


- Vamos mesmo na copa mundial né? - ele perguntou baixo, como se tivesse medo.


- Ah...


- Angie... Você disse que ia pensar bem sobre o assunto...


- Eu... Você sabe...


- Eu sei.


Ele respirou fundo.


- Eu tenho que retomar o meu trabalho na escola de vôo lá na Inglaterra – informou Angelina querendo se esquivar da melhor forma.


- Ainda falta duas semanas pras férias terminarem Angie...


Ela suspirou.


- A copa vai ser na Finlândia mesmo? - perguntou ao garoto.


- Vai... e... - ele fez uma pausa.


- E...?


- Eu já comprei os ingressos.


- Antonie!


- Ah, me desculpe Angie... mas – ele respirou fundo mais uma vez. - Eu realmente acho que você tem que tentar se divertir.


- Eu só não sei se isso vai me divertir – disse brava, enquanto se levantava bruscamente da mesa. - Deveria saber disso.


 


“Eu vou ao campo. Eu viajo no trem


Pelas montanhas, esse é  um caminho divertido!


 


Eu vou à praia com os amigos. Eu vou fazer algum esporte,


Eu vou esquiar!"


 


Irônica.


Por que não?


Era apenas o que sentia vontade de ser quando Antonie insistia  que ela precisava viver.


E como viver todas essas coisas em que Fred sempre estivera presente?


Como?


Não tinha como ser outra coisa se não, irônica.


 


 


O barulho de Antonie batendo na porta foi anunciado.


Angelina escondeu o pergaminho velho embaixo do travesseiro.


- Pode entrar.


Ele abriu a porta devagar.


- Só vim dar boa noite... - ele disse entrando no quarto.


- Tudo bem.


- Você tá brava ainda? - perguntou se sentando na cama, perto da menina.


- Um pouco na verdade.


- Hum... - ele abaixou a cabeça, parecia triste. Provavelmente, se sentia impotente.


- Mas eu tomei uma decisão.


Ele levantou rápido a cabeça.


- Vou voltar amanhã cedo pra Inglaterra.


- Como? - indagou muito surpreso. - Mas...


- Não posso mais ficar aqui, e muito menos viajar com você.


- Angie...


- Eu vou até Jorge, eu preciso ir.


Ele tocou sua mão, a apertou forte.


- Tem certeza?


- Tenho... - Angelina sorriu. - Estou enlouquecendo aqui.


A abraçou.


- Então, durma bem – sussurrou em seu ouvido. - Vou estar aqui se precisar.


 


 


Antes do amanhecer, a imagem retorcida de Angelina pôde ser vista no quarto.


Ela aparatou, deixando pra trás um bilhete amarelado, amaçado, e molhado pelo choro noturno.


 


“Caro Antonie,


 


Eu estou realmente triste, mas eu não posso partir com você.


De 20 a 24 eu tenho que trabalhar, eu tenho 4 dias de licença.


 


Eu vou ao campo. Eu viajo no trem


Pelas montanhas, esse é um caminho divertido!


 


Eu vou à praia com os amigos. Eu vou fazer algum esporte,


Eu vou esquiar!


 


- Feito pra mim, bom pra você. Deixa mudar e confundir!


 


- Deixa de lado o que se diz. Tem no mercado, é só pedir!...


 


- Me faz chorar... e é feito pra rir.”


 


 


 


O barulho insistente do sininho da porta da gemialidades Weasley batia sem parar.


A garota observava do outro lado da rua.


Depois de pelo menos, trinta minutos, criara coragem e entrara na loja.


Quando se deparou com todas as travessuras mágicas seus olhos se encheram instantaneamente de lágrimas.


Deu um passo pra trás.


- Opa, desculpa moça... - havia alguém as suas costas, e ela reconhecera a voz.


Ela se virou devagar e não se surpreendeu com o ruivo desajeitado em frente à porta.


- Angelina! - ele sim parecia bem surpreso.


- Oi Rony – ela suspirou, aliviada.


Ficaram se encarando por pelo menos 5 segundos.


- Rony... - ela continuou. - O Jorge está por aqui? - perguntou olhando disfarçadamente para os lados.


- Ah... não. - Ele respondeu sério.


- Hum... - ela hesitou. - Podemos conversar?


- Claro... - ele respondeu enquanto se dirigia ao balcão, onde havia um atendente e duzias de crianças.


Angelina o acompanhou. Tentava não olhar para os lados, estar ali, rodeada de todas aquelas invenções era inacreditavelmente destruidor.


- Rony... - ela o segurou pelo pulso.


- Oi – ele olhou para trás.


- Podemos conversar em qualquer outro lugar?


Por um momento ele pareceu notar os olhos da menina marejados de lágrimas.


- Ah, sim, lógico – respondeu o ruivo prontamente.


Eles se retiraram da loja e caminharam pelo beco diagonal entupido de gente.


Ao menos era bom ver que as coisas estavam em determinada parte normais novamente.


- Então Angelina, por onde tem andado?


- Vamos nos sentar ali - Angelina apontou um banco vazio.


- Na verdade, ficamos todos preocupados com o seu sumiço... - continuou Rony enquanto eles se sentavam.


Ela o encarou séria.


- Jorge também está preocupado? - a menina perguntou sem hesitar.


Rony suspirou como se tomasse coragem.


- Na realidade, eu não sei – respondeu.


- Não sabe?


- Jorge está lá em casa, e não tem saído do quarto desde que... ah...


- Fred morreu – ela o interrompeu.


- Desde que a guerra acabou – ele tentou deixar as coisas melhores.


- Eu imagino como ele esteja... - ela disse triste, o olhar vagando entre as pessoas.


- Na verdade, acho que ele está um pouco melhor... - começou Rony, um pouco inseguro. - Nas últimas noites ele jantou conosco.


- Hum...


Rony respirou fundo.


- Você que tem tomado conta da loja?


- Sim... Eu e Harry, mas hoje ele não pôde vir.


- E como está sua mãe?


- Mamãe está melhor que qualquer um, eu acho – disse com uma careta, como se precisasse se esforçar para lembrar. - Ela vem aqui uma vez por semana para tirar a poeira da casa do Jorge – apontou na direção da loja.


Agora Angelina respirou fundo.


- Talvez eu precise ir ver Jorge – disse Angelina.


- Eu acho que seria bom pra ele.


- Eu não acho... Da última vez ele foi muito grosso Rony... Eu realmente não sei.


- Angelina, as coisas tinham acabado de acontecer... Ele tinha acabado de perder Fred - contrapôs Rony com um ar de maturidade muito incomum. - Imagina como ele estava se sentindo? Ele não falava com ninguém nas primeiras semanas, e acredito que justamente para não ser grosso.


 


Angelina encarou a multidão.


Lembrou-se do sorriso esperto de Fred...


De como o sorriso de Jorge era igual ao de Fred.


 


 


 


A Senhora Weasley se dirigiu até a porta da Toca.


O ar surpreso de Rony não era nada comparado ao de Molly.


- Querida! - ela abraçou Angelina com muita força.


- Olá Senhora Weasley... - respondeu Angelina sem graça, enquanto Molly ainda quase quebrava suas costelas.


A Senhora Weasley a levou até o sofá.


A casa parecia muito vazia, exceto pelo barulho de comida sento preparada que vinha da cozinha.


- Então querida... O que aconteceu com você? Nunca mais apareceu aqui...


- Eu sei... eu estava na casa de um amigo, na França... Eu...


- Só um minuto querida... - interrompeu a Senhora Weasley. - Gina! - gritou em direção as escadas.


Nenhum sinal de Gina.


- Ah... é mesmo... ela saiu com Harry e Hermione... - lembrou-se em voz alta a Senhora Weasley.


- Eles estão bem?


- Sim querida, estão sim... - respondia quase freneticamente. - É que Gina ontem perguntou por você.


- Hum...


- Mas então querida, pode me contar...


- É... então, eu... não estava me sentindo muito bem por aqui, na Inglaterra, e esse meu amigo me chamou para passar uns dias com ele.


- Ah sim...


- Senhora Weasley – resolveu pedir antes que Molly a cortasse novamente. - Será que eu poderia conversar brevemente com o Jorge?


A Senhora Weasley parecia não esperar o pedido.


- Querida... Eu suponho que você já imagine... mas... - ela parecia criar forças para falar. - Jorge não está muito bem.


- Eu sei, lógico que sei, mas... - suspirou. - Preciso falar com ele.


- Tudo bem, eu vou chamá-lo – disse se levantando. - Mas por favor, não fique triste se ele não for muito gentil, ou não falar muito...


- Não se preocupe Senhora Weasley, não se preocupe.


- Já volto querida.


A senhora Weasley sumiu na escada, e depois de pelo menos trinta minutos ela voltou. Sem Jorge.


- Ele já está vindo querida, desculpe a demora...


- Tudo bem...


- Vou na cozinha terminar de preparar o jantar, tudo bem?


- Claro, fique à vontade Senhora Weasley.


 


Angelina esperou por aproximadamente mais quinze minutos.


Quando ouviu o barulho baixo de passos descendo as escadas seu estômago se contorceu.


Manteve seu corpo mais rígido que antes, sentada no sofá, e não ousou olhar para trás.


 


Ela viu pela sombra Jorge se sentar na poltrona ao lado do sofá.


 


Após cinco segundos Angelina o mirou, devagar.


Sentiu vontade de chorar automaticamente.


O cabelo e a barba estavam maiores, e os olhos ofuscados, não a encaravam.


- Jorge... - pronunciou baixo. Ele a olhou.


Não obteve resposta.


- Jorge, pode se sentar ao meu lado, aqui no sofá? - só ela sabia o esforço que era pedir aquilo.


- Por que? - A voz dele estava rouca e sem vida.


Aquele não era Jorge. Muito menos Fred.


Ele não era mesmo Fred, e ela sabia muito bem disso.


- Por que eu quero conversar com você – respondeu. - Preciso conversar com você, e você também precisa, você sabe.


Ele a encarou melhor, os olhos já pareciam um pouco mais normais.


Se levantou, e caminhou bem devagar até o lugar vazio no sofá.


Quando ele se sentou, Angelina pôde sentir o perfume de cravo, tão individual, que Jorge usava.


Ela ficou incrivelmente feliz com aquele simples aroma.


No fundo do seu ser ela sabia, sabia que Jorge só usava aquele perfume quando se encontrava com ela.


- Por que veio aqui? - ele perguntou quase sem voz.


- Por que nós precisamos um do outro.


- Precisamos?


Ela ignorou a indagação do ruivo.


- Estive esses meses com Antonie.


- Antonie? - indagou mais uma vez, como se realmente não soubesse quem era o rapaz.


- Sim, meu amigo que mora na França – respondeu a menina. - Achei que você soubesse quem ele era.


- Hum...


- Fred tinha ciúmes dele – disse sem pensar. - E em vão, é claro.


Jorge a encarou, parecia bravo, furioso.


- Não acho que devemos deixar de pronunciar o nome do seu irmão, Jorge. - continuou a garota.


Ele agora, pareceu relaxar novamente.


- Só não quero ficar mais triste do que já estou – disse o ruivo.


- E não precisa ficar – suspirou Angelina. - Na verdade você tem que voltar a viver.


- Não preciso que você me diga isso...


- Precisa sim... - afirmou a menina. - Todos esses meses, eu tive que ouvir Antonie me dizendo isso e coisas muito parecidas... E ele estava certo. Muito certo.


- Você  acha?


- Acho Jorge – respondeu calmamente. - Fred nunca ia querer te ver dessa forma.


- Ele não está aqui para me ver dessa forma.


- Você acha que eu não sei disso?


Silêncio.


- Eu estava enlouquecendo lá – continuou Angelina. - Eu só queria fugir. Eu pensei em tudo para não precisar me lembrar. - Uma lágrima começou a descer por sua face. - Pensei em viajar, ir à praia com meu amigo, esquiar, jogar quadribol... Pensei até mesmo em me trancar dentro de um quarto, assim como você.


Ele a mirou, comovido.


- Nada disso funcionou, ou funciona Jorge... Sabe por que?


Mais silêncio.


- Por que?


- Tudo me lembra ele... Tudo – disse, agora, mais lágrimas descendo no rosto. - A diferença, é que ele nunca ia querer nossas vidas afundadas desse jeito... Nunca.


Jorge pegou em sua mão.


- Ele ia querer que nós mudássemos, que deixássemos de nos confundir com esse passado... - ela continuou. - Com esse passado que não vai mais voltar.


- Você acha que ele está aqui entre nós?


- Acho... - Ela limpou o choro com a outra mão. - Ele está aqui, está lá fora, na sua casa, na sua loja... Em todas aquelas travessuras... Sempre dizendo “Ei, eu estou aqui seus bobões, me comprem, se divirtam, nunca deixem de viver... Eu estou aqui.”


 


Jorge a abraçou... Em um gesto terno, em um laço eterno.


Sempre deveriam estar juntos, e eles sabiam, sim, eles sabiam.


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