One-Shot



Há quatro anos ele observava as mudanças que ocorriam com ela. Crescera, se tornara uma bela jovem, tão bela quanto seu amor um dia fora. Nunca pode lhe dar a merecida atenção, nunca conseguiu tratá-la com o devido respeito, acreditava que nunca conseguiria sentar-se com ela e conversar. Tinha certeza de que conversariam de igual para igual, mesmo ela tendo apenas 16.


Caminhava pela neve em Hogsmeade em direção à Casa dos Gritos – lembranças antigas lhe assolaram a mente, poderia ter morrido naquela casa. Talvez tivesse sido melhor assim, talvez a morte fosse uma melhor opção. Perdera seu grande amor e jamais conseguiria estar ao lado jovem que lhe interessava. Pelo menos – pensava ele – poderia guardar as memórias de sua mão se estendendo no alto para responder uma questão, seu olhar alegre quando sabia que ele tinha a elogiado indiretamente, mas ela jamais saberia da vontade que ele tinha de conhecê-la, de tornar-se ao menos um amigo.


Sentou na neve e se perdeu em lembranças, não só suas, mas dos pensamentos da menina com cabelos castanhos esvoaçantes. Ele riu, ela não gostava dos seus cabelos, mas ele adorava, achava incrivelmente belo como seu rosto de porcelana ficava com uma áurea mais selvagem quando seus cachos estavam soltos, eles moldavam seu rosto como se ela fosse uma pintura. Fora interrompido por uma bola de neve que por pouco não o acertara, viu meninos aterrorizados correndo de costas, e ela. Parada com as mãos na boca, no rosto um ar de quem não sabia se ria ou se perguntava se estava tudo bem.  Começou a andar em sua direção.


-       Desculpa professor Snape, te acertei?


-       Não senhorita Granger, mas foi por pouco...


Neste momento não consegui manter meu semblante sério, sorri. Ela me olhou como se nunca tivesse me visto antes, e realmente, não tinha. Eu sabia que tinha deixado minha máscara de indiferença cair, e decidi não colocá-la de volta, ao invés disso enchi minha mão de neve e acertei sua cabeça. Levantei de forma ágil e saí correndo esperando sua reação, mesmo com 36 anos estava em forma, trabalhar como um agente duplo não era de todo o ruim. Olhei pra trás e a vi parada em choque, como se não entendesse o que tinha acontecido...por Merlim, será que eu era tão assustador assim, que o ato de simplesmente brincar com alguém, aproveitar a neve branca do inverno fosse algo tão surpreendente.


Sim, eu era. Não eu, mas o professor Snape. Aquele que nunca a elogiara, que nunca lhe dera valor. Mas por que ela não tinha fugido com os outros alunos, será que ela não me odiava por completo? Sorri plenamente, talvez ainda existisse algum tipo de esperança, ela realmente era o tipo de pessoa que buscava o melhor em todos, lembrava tanto Dumbledore. Me virei novamente buscando sua presença com os olhos, nada. Meu sorriso se apagou; ela certamente voltara para perto dos amigos, afinal por que ficar perto do seboso?


Hermione observava seu professor escondida atrás de uma árvore, preparava o melhor momento para jogar a bola de neve perfeita que estava em suas mãos. Viu seu rosto passar por diversas emoções: confusão, dúvida, tristeza, alegria e novamente tristeza. Como queria ser uma legilimens para ler o que se passava na cabeça daquele homem com olhos tão belos. Ela nunca confessara a ninguém, mas tinha certeza de que Snape não era aquele carrasco que aparentava, e ele demonstrou isso hoje, ele simplesmente sorriu e jogou uma bola de neve em mim, como se fosse uma criança. Ela sorriu, mirou e jogou.


A neve branca entrou em contato com os cabelos negros. Ele sorriu novamente. Ela não desistira dele! Estava apenas procurando um ponto estratégico para se esconder. Se abaixou e buscou neve com as mãos, procurou ao seu redor e foi acertado por mais uma bola branca. Tinha que admitir, a mulher -  mulher Snape?! Menina! Menina! Aluna! – além de ser brilhante tinha uma excelente pontaria. Ele a viu correr e foi atrás dela. Arremessou as duas bolas, apenas uma atingiu os cachos castanhos que ele tanto gostava. Ela ria alto e ele continuava a persegui-la, até que ela tropeçou em uma raiz escondida pela neve e caiu.


-       Hermione!


A menina não respondia seus gritos, ele finalmente chegou ao seu lado, colocando as mãos no ombro da jovem falou preocupado encarando o rosto com os olhos fechados:


-       Hermione, você está bem?


Ela abriu os olhos e sorrindo jogou a neve que estava em sua mão nos cabelos de Severo. Ele fechou a cara para ela, e sem saber o por quê começou a fazer cócegas na menina. Ela revidou jogando mais neve, mas não conseguia parar de rir. Ele ria com o som da alegria dela, queria ouvir aquele riso para sempre, ainda que isso não fosse muito tempo.


-       Sev...seve..Severooo! Para com is..iss...oooo por fa...vor! – ela pedia entre risos, eu parei ao escutar meu primeiro nome.


-       Por que me chamou de Severo?


-       Por que me chamou de Hermione? E por que começou a fazer cócegas em mim?


Sua máscara voltou para o lugar e ele começava a se levantar, quando sentiu algo quente em sua mão. Ela o segurava, indicando que ele voltasse para onde estava.


-       Você não precisa ficar assim perto de mim...


-       Assim como? – respondi na minha voz fria.


-       Assim. Bancando o professor Snape.


-       Eu sou seu professor, senhorita Granger, caso tenha esquecido.


-       É que por cinco minutos você pareceu ser alguém eu sempre imaginei que fosse...


-       E quem seria esse alguém senhorita Granger?


-       Severo. Simplesmente Severo Snape...


Encarei seus olhos castanhos sem falar nada. Como era possível? Como ela conseguia me ler assim, saber como eu era de verdade?  Ninguém tinha conhecido meu verdadeiro eu desde que Lilly se fora, somente Dumbledore...Ouvi sua voz me chamar, e pelo tom não era a primeira vez que o fazia.


-       Severo...Eu sei que você é um homem bom. Eu confio em você, sei que foi um Comensal da Morte, que na primeira guerra bruxa se tornou agente duplo, e tenho certeza que você desempenha o mesmo papel nesta nova guerra que estar por vir...


-       O que lhe dá tanta certeza? Que eu saiba seus amigos não acreditam em nada disso... – pensei em Potter e Weasley, como eles tinham sorte de tê-la como amiga, como eles tinham sorte em conviver com uma pessoa tão interessante. Desviei meu olhar.


Ela segurou meu rosto de forma carinhosa e me encarou.


-       Isso Severo, isso é o que me dá a certeza de que você é tudo o que eu penso – seus olhos estavam fixos no meu – eu não sou legilimens, mas não preciso ler a sua mente para te entender ou para saber o que você quer...- a última frase ela disse num sussurro. Percebi que ela sabia que eu estaria lendo a sua mente em poucos segundos.


Segundos estes que não foram o suficiente, pois quando vi seu olhar entendi o que ela dizia com não precisar se legilimens, ela me desejava tanto quanto eu a desejava. Como se ela estivesse seguindo meus pensamentos, se inclinou na minha direção e me beijou. Me senti quente sobre a neve fria, tinha certeza que os flocos brancos ao meu redor se transformariam em água com a intensidade daquele beijo.


Nos separamos, mas continuamos próximos um do outro. Não encontrava palavras e ela parecia ter a mesma dificuldade. Olhei ao nosso redor, nenhum sinal de estudantes, isso era bom. Estávamos realmente isolados de todos. Senti ela sorrir, não sei explicar como, pois estava com a cabeça em outra direção, mas eu sabia que ela sorria para mim.


-       Desde quando a senhorita sabe quem eu sou de verdade?


-       Hermione. Prefiro que me chame pelo nome quando não estivermos em sala ou no castelo. Desde o primeiro ano eu desconfiava, mas no segundo eu tive certeza.


-       Primeiro ano...eu entendo, teve aquele episódio com o Potter na vassoura e Quirrel tentando matá-lo, mas segundo? Por que no segundo Hermione? – ela sorriu diante do uso do seu nome.


-       Severo, como um legilimens tão talentoso não saberia quem roubou pele de ararambóia do seu estoque particular? Você sabia o que eu estava tentando fazer e não disse nada... – eu sorri, realmente nada lhe escapava.


-       Eu queria saber se você conseguiria preparar uma poção polissuco no segundo ano...só isso. – a beijei novamente e desejei profundamente que a guerra não existisse, que eu pudesse simplesmente ficar em seus braços esquecendo tudo o que acontecia ao meu redor.

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