O falso desmaio



Já tinha passado um bom tempo desde que estávamos em Hogwarts, e os professores estavam impressionados com o meu talento e o de Hermione. Tudo bem, o dela era bem mais surpreendente ainda por ela ser uma nascida trouxa. Mas mesmo assim, eu executava feitiços como uma aluna do quarto ano, fazia transfigurações excelentes e minhas poções continuavam sendo surpreendentes. Percebi que não só os outros alunos ficavam surpresos com minhas poções, mas também o professor Snape. 


As aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas eram, na minha opinião, uma piada. O professor Quirrel apenas passava a matéria e nós não fazíamos nada em termos de prática. Ele parecia completamente incapaz de lutar contra qualquer coisa, posso apostar que o professor Snape derrota ele em um duelo facilmente. Mas mesmo sendo uma aula tola ele me causava um nervosismo estranho, eu sempre tinha a impressão de que ele estava escondendo algo. Só poderia ser impressão mesmo, afinal: o que aquele professor gago poderia fazer de assustador?


Hoje é Halloween e apesar de termos um jantar mais festivo, ninguém foi liberado de aula nenhuma. Eu realmente preferia ter o tempo livre, daqui a 10 minutos tenho que estar na aula de feitiços. Pelo o que eu tinha lido hoje aprenderíamos o Vingardium Leviosa, eu ri com a lembrança do trem: eu e Suzana fazendo tudo levitar, pena que a aula era dupla com a Grifinória... Eu sentia falta da Suzana, estava me sentindo cada vez mais afastada dela. Quase não tínhamos aulas conjuntas e os tempos livres não batiam nunca! O resultado é que eu estava andando cada vez mais com Draco e Zabini, o que não era de todo mal, afinal eles eram da minha casa, divertidos e até razoavelmente inteligentes. Droga! Aula dupla com a Grifinória de feitiços, vingardium leviosa...Eu já tinha tido esse flash, era hoje que a Hermione ia corrigir o ruivo, isso iria ser engraçado...


Entrei na sala e me sentei com Blás, eu sempre preferia sentar com o Draco nas aulas de feitiços, digamos que o Blás podia ser bem desastrado quando tinha que movimentar a varinha, mas a chata da Pansy já tinha se sentado junto dele. No lado oposto da sala vi a cara de insatisfação de Ron ao perceber quem seria sua dupla, novamente eu ri para mim mesma, eles dois iriam se casar... O Professor Flitwick começou a explicar o feitiço e quase todos os alunos faziam anotações desesperadas. Claro, fazer coisas flutuarem era certamente algo extremamente divertido, pode até não ser tão útil como um alohomorra, mas é bem mais legal. Ele entregou uma pena para cada dupla.


Assim que a nossa pena encostou a mesa Blás começou a fazer movimentos bizarros com o braço da varinha tentando fazer ela flutuar, meu deus, retire o que eu disse sobre ele ser inteligente! Eu olhei pra frente e vi o ruivo praticamente bater na pena com a varinha falando o feitiço totalmente errado, era a hora e eu tinha que fazer minha pena flutuar antes da de Hermione.


-       Blás! Blás! – ele parou de balançar o braço e me olhou – Você tá fazendo errado! O movimento é redondo, e quando falar o leviosa você deve focar no “ô”, ele é mais redondo, posso te mostrar?


-       Claro senhorita Rosier-sabe-tudo. – ele disse rindo, pois sabia que eu era bem melhor do que ele em feitiços (e em todas as outras matérias).


-       Vingardium leviosa. – Falei calma no exato momento em que Hermione erguia sua varinha para fazer o feitiço.


-       Parabéns senhoria Rosier! 20 pontos para a Sonserina por ser a primeira a conseguir fazer a pena flutuar – ele parou e olhou outra pena que se erguia flutuando na sala – Senhorita Granger! Meus parabéns! Grifinória receberá 10 pontos, pois foi a segunda.


Seu olhar encontrou o meu, eu sorri de forma ligeiramente presunçosa para minha rival de notas, tudo bem, eu tinha uma vantagem que ela não sabia, tinha meus flashes. Mas era uma disputa justa, quer dizer... se eu não fosse boa e não estudasse não conseguiria fazer metade do que eu faço, com flashes ou não.  Para minha surpresa ela sorriu de volta como se me desse os parabéns, claro, ela devia me admirar da mesma forma que eu a admirava, afinal nenhuma de nós se humilhava ou perturbava, era apenas uma disputa amigável por ser a melhor.


O sinal bateu e eu ouvi o ruivo falando algo sobre Hermione, que passara correndo por ele batendo em seu ombro. Acho que foi intencional, parecia que ela queria que ele soubesse que a culpa de ela estar chorando era dele.


Me juntei aos meninos e fomos para uma aula de herbologia (dupla com a Lufa-Lufa). Eu gostava bastante das aulas na estufa, não só por que eu ficava conversando com a Suzana e suas amigas da Lufa-Lufa, mas também por que tinham umas plantas bem interessantes. Essa aula foi especialmente divertida por que a professora Sprout nos deu metade da aula para cortarmos aboboras para a decoração do castelo, exatamente como os trouxas fazem no Halloween. Acho que isso era pra mostrar que essa coisa de sangue-puro era algo totalmente sem propósito e que trouxas podem ser divertidos. Eu adorei! Minha abobora com a Suzana ficou o máximo, ela tinha um dente só e olhos bem malvados, a dos meninos tinha ficado muito feia! A Pansy fez com eles e pelo o que eu vi do resultado ela insistiu que a abobora deles tivesse cílios, longos e gigantescos cílios.


No almoço pudemos ver que as nossas aboboras já estavam sendo posicionadas pelo salão principal. Mal podia esperar pelo jantar, desde que recebi aquela carta do meu pai falando do jantar de halloween eu pensava naquela noite.


Mal percebi já estávamos chegando no salão principal para as comemorações. Meu pai tinha razão, Hogwarts realmente caprichava na decoração, tinham até morcegos vivos decorando o salão. Parei na mesa da Lufa-Lufa pra falar com a Suzana, bati um papo e depois me dirigi à mesa da Sonserina, não sem antes olhar para a mesa da Grifinória procurando por Hermione. Vi os gêmeos Weasley, o irmão mais velho que era monitor, Dino Thomas, Harry, Wood – que me cumprimentou educadamente e discretamente com um aceno de cabeça, respondi da mesma maneira – Rony, Simas que sempre queimava as coisas na aula, mas nada de Hermione. Dei de ombros, afinal, não poderia fazer nada por ela não sabendo onde ela estava... Me sentei na mesa e olhei na direção da mesa dos professores e percebi: Quirrel não estava na mesa, não sei por que achei isso estranho e minha mente me levou ao aviso de Dumbledore no primeiro dia de aula sobre o corredor do terceiro andar.


Estava tomando meu suco de abóbora, meu prato já estava pronto na minha frente, mas eu não comia. Pensava na poção curativa avançada que eu tinha feito em uma sala abandonada que estava nas minhas vestes, queria mostrar logo para o professor Snape. Tive a idéia depois de fazer uma poção na última aula, tal como na cura-furúnculos eu tinha conseguido aumentar a velocidade da cura, mas aquela poção não serviria para determinados ferimentos como cortes e arranhões, só funcionava para aqueles feito por magia... Eu tinha decidido então criar uma avançada, não que não existissem poções para isso, mas era muito lento e normalmente ardia muito (experiência própria, me arranhei feio no último treino de quadribol e fui parar na ala hospitalar).


Foi quando meus pensamentos foram interrompidos por um Professor Quirrel desesperado.


— Trasgo.. Nas masmorras... Achei que devia lhe dizer. — Em seguida desabou no chão desmaiado. Houve um alvoroço. Foi preciso explodirem várias bombinhas da ponta da varinha do Professor Dumbledore para as pessoas fazerem silêncio.


—             Monitores — disse ele com voz grave e retumbante —, levem os alunos de suas casas de volta aos dormitórios, imediatamente!


 


Ah sim, muito inteligente, levem seus alunos para os dormitórios. Como se os dormitórios da Sonserina não fossem praticamente nas masmorras!  Olhei para Draco e Blás que pareciam ter pensado a mesma coisa e ficamos parados. Foi quando eu vi: os professores já tinham saído em busca do trasgo, todos os alunos praticamente já tinham se retirado, professor Quirrel levantava discretamente de seu desmaio, olhava para os lados e saia correndo como se jamais tivesse passado mal. A mesma sensação ruim de antes se apoderou de mim, olhei para os meninos e eles já estavam caminhando na direção do nosso salão comunal, gritei para eles irem indo, e com toda a minha coragem desobedeci a ordem do diretor. Não só uma ordem, mas duas: pois me dirigi imediatamente ao corredor proibido.


Cheguei ao terceiro andar e parei. O conhecido barulho do farfalhar de uma capa longa e negra chegou aos meus ouvidos, logo em seguida uma porta batia. Fiquei a espreita atrás de uma das armaduras quando vi o professor de defesa contra as artes das trevas se aproximar da porta. Ele abriu somente um pedaço e logo em seguida recuou com a varinha em punhos pronto para atacar. Meu estômago revirou, eu não poderia deixar ele atacar Snape. Por dois segundos eu me concentrei tentando obter algum flash... foi então que veio a noite em que meu primo desafiou Harry para um duelo, Fofo, um cachorro de 3 cabeças, era isso que estava dentro daquela porta. Se Snape fosse atacado lá dentro o cachorro provavelmente o comeria, mas e se Quirrel tivesse tentando ajudar Snape? Eu não confio nesse homem de turbante...


-       Petrificus Totalus – mal percebi que lançava o feitiço em Quirrel, pelo menos falei baixo. O homem caiu petrificado na frente da porta, certamente não tinha a menor idéia de onde tinha sido acertado.


-       Quem está aí? – Snape saiu com a perna sangrando da sala e se deparou com professor Quirrel petrificado. Olhou ao redor, eu tomei coragem e saí de trás da armadura o encarando.


Seus olhos encontraram os meus, tentei pedir desculpas sem falar nada e acho que ele percebeu, pois assentiu com a cabeça. Virei de costas e saí correndo na direção do salão comunal quando ouvi novamente sua voz.


-       Não vá para sua sala comunal, me encontre em minha sala.


Engoli em seco e meu estômago revirou mais uma vez. Eu não poderia pegar uma detenção, isso seria muito ruim para meu currículo e minha disputa com Hermione. A melhor aluna jamais deveria receber uma detenção. Torci para que ele quisesse só me agradecer. Entrei em sua sala e ri alto. Me agradecer! Provavelmente iria tomar uma bronca por ter atingido um professor! Espero que só seja uma bronca, sem detenções... Parei na frente de uma estante que nunca tinha prestado atenção: livros, muitos livros de poções. Estiquei meu braço para pegar um, mas recuei. Eu não tinha autorização para pegar os livros, eram dele e não meus. Tirei o frasco da poção curativa avançada do bolso e o ergui contra a luz para verificar a cor: azul marinho transparente, não tinha sofrido nenhuma alteração. Ouvi a porta se abrir.


-       Muito bem senhorita Rosier, o que fazia naquele corredor?


Droga, droga, droga! O que eu ia dizer? A verdade soava ridícula: tive um mau pressentimento. Isso lá era motivo para desobedecer alguma regra? Mas era a única explicação que eu tinha.


-       Todos os professores já tinham saído do salão principal, e o professor Quirrel continuava desmaiado. Praticamente todos os alunos já tinham saído quando ele levantou, como se não tivesse passado mal – ele levantou uma sobrancelha e eu continuei – olhou ao redor e saiu correndo e não foi na direção das masmorras. Eu não gosto do professor Quirrel – meu rosto queimava – não confio nele, acho que tem algo de errado, então decidi ir atrás dele. Conheço esse castelo como a palma da minha mão então peguei uma escada-atalho e cheguei antes dele, praticamente ao mesmo tempo que o senhor fechava a porta – seu olhar claramente questionava como eu sabia que era ele – sua capa tem um som específico, eu tenho um ouvido excelente, consigo saber se o senhor está chegando de longe - meu rosto ficava mais quente. Foi quando ele chegou, olhou para os lados novamente e abriu somente uma parte da porta, ele recuou e apontou a varinha para dentro pra atacar. Como eu não confio nele e o senhor estava lá dentro eu decidi o petrificar, quer dizer, não decidi exatamente, quando eu vi eu já tinha feito.


-       Quer dizer então que a senhorita achou que outro professor fosse me atacar? – ele perguntou com a mesma voz de sempre.


-       Sim senhor. Como eu disse: não confio no professor Quirrel.


-       Nem na minha capacidade para me proteger, estou certo senhorita Rosier?


Eu poderia jurar que ele tinha um tom de brincadeira quando perguntou isso. Obviamente meu rosto ficava mais vermelho. Claro que eu sabia que ele tinha a capacidade de se proteger, mas como eu iria explicar que eu sabia da existência do cachorro? Ele iria achar que eu desobedeci a regra e entrei na sala. Dumbledore, o diretor era minha salvação!


-       Claro que não professor. Achei apenas que o senhor poderia estar ferido, uma vez que no banquete do início do ano o diretor disse que quem visitasse o corredor poderia ter uma morte lenta e dolorida, e pelo o visto acertei – olhei na direção de sua perna machucada e suja de sangue – não é professor?


-       Senhorita Rosier .... – ele começou a falar, mas parecia não ter muito o que dizer – Não é aconselhável petrificar professores por aí, mas agradeço seus esforços em me auxiliar. Certamente os acontecimentos de hoje não devem ser mencionados a ninguém. Pode se retirar para a sala comunal e dormir.


Concordei com a cabeça e um sorriso nos lábios, ele realmente me agradeceu! Obviamente eu não iria comentar aquilo com ninguém! Imagina, vai que o professor Quirrel descobre quem o petrificou!? Medo! Me virei para sair quando me lembrei da minha poção, a perna de Snape! O machucado era uma mordida de cachorro, não era criado por magia, então minha poção poderia servir... Será? Era ousar muito em uma noite só, mas como eu já estava ali...


-       Professor..


-       Sim senhorita Rosier – percebi um tom ligeiramente irritado.


-       Eu desenvolvi essa poção – estendi o frasco para ele que pegou imediatamente – talvez seja útil para o senhor agora. – Apontei para a perna machucada.


-       Como se é de imaginar eu tenho poções de cura senhorita Rosier, não preciso das suas.


-       Eu alterei a poção – ergui o vidrinho contra a luz para que ele visse a cor – esta age de forma mais rápida em ferimentos que não foram causados por magia e não arde tanto. Já testei o resultado, eu tinha planejado mostrar para o senhor – encarei o chão, pois sentia o calor dos seus olhos me observando – hoje depois do jantar. Acrescentei raízes de hermofídico e substituí o muco de verme-espelhado por caldo da vagem suporífera, o primeiro acelera o processo de cura e a substituição faz com que a ardência seja infinitamente menor, acho que dá pra se criar uma poção que não tenha esse efeito, mas ainda estou aprimorando.


Falei isso tudo tão rápido com medo de uma real bronca que fiquei praticamente sem ar, e ainda assim eu não respirava.


-       A senhorita testou o resultado? Aonde?


-       Em mim mesma, eu cortei o dedo com papel da carta dos meus pais, eles não usam pergaminho e o papel trouxa muitas vezes corta, professor.


-       E funcionou?


-       Sim senhor.


-       Deixe o frasco aqui, se não tiver o efeito que a senhorita promete amanhã Sonserina irá perder 30 pontos por sua ousadia.


-       Boa noite professor.


Coloquei o frasco em sua mesa e me retirei para as masmorras.

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