Os desejos ocultos de Harry



Em Hogwarts o vice-diretor e professor de feitiços Filio Flitwick conversava com Neville Longbottom na sala dos professores.


–       O senhor tem certeza que a diretora não pretendia passar mais dias fora? Talvez visitar a família. – sugeriu Neville.


–       Minerva McGonagall nunca faz isso durante o ano letivo. E ela avisaria se precisasse fazer!


–       Se ela tivesse em apuros poderia nos enviar uma mensagem, um patrono...


Uma coruja pousou no parapeito trazendo um recado de Hagrid para que o vice-diretor e Madame Pomfrey o encontrassem em sua cabana. Flitwick chamou pela enfermeira e pediu a Neville que o acompanhasse.


Encontraram um homem muito ferido repousando na cama de Hagrid.


–       Não fui eu que o deixei assim. – explicou Hagrid. – O encontrei tentando entrar no castelo; não o levei para Ala Hospitalar por não saber quem é.


–       Fez bem Hagrid. – disse Flitwick.


–       Não há na nada que o identifique; olhei nos bolsos e nem carregava a varinha. Será que ele é trouxa?


–       Improvável. – respondeu Flitwick – Se ele estava tentando entrar; no mínimo sabe que Hogwarts está aqui.


–       Vou dar uma olhada do lado de fora dos portões pra ver se acho a varinha dele. – disse Neville. – Em todo caso saberemos mais quando ele acordar.


–       Posso tratá-lo aqui por enquanto. – disse Madame Pomfrey.


Quando anoiteceu Hagrid pediu ao irmão para recolher alguns barris cujo conteúdo não podia ficar no sereno. Grope levantou todos os barris de uma vez só, mas os largou de repente quando Hagrid caiu de joelho bem na sua frente; o homem que acolhera em sua cabana enterrava uma faca em suas costas.


–       Você não é real! – gritava.


Grope o tirou das costa de Hagrid e o arrastou para longe.


–       Esse gigante não é real!


–       Ele é real! E não vai lhe fazer mal! – gritou Hagrid arrancando a faca de suas costas.


–       Onde estou?


–       Em Hogwarts!


–       Minerva!


Quando os professores chegaram encontraram Grope pressionando o homem raivoso contra a parede. Dessa vez o levaram a Ala Hospitalar.


–       Wax... – repedia sem parar.


–       Ele mencionou a diretora. – disse Hagrid.


–       Wax! Tentou...


–       Esse homem parece estar sob efeito de algum feitiço muito forte. – disse Neville.


–       Ele disse o nome da diretora! O primeiro nome! – repetiu Hagrid nervoso. – Tenho certeza!


–       Será que fez alguma coisa com ela? – perguntou Madame Pomfrey preocupada.


–       Dê alguma coisa que o deixe consciente e o que faça falar! – mandou Flitwick.


Neville abriu o Profeta Diário na sala dos professores; a capa falava sobre os problemas do Ministério durante a convenção. Uma foto do Conselheiro Bertel ilustrava a matéria falando sobre sua morte repentina. Logo abaixo uma longa entrevista com a família do Revistador preso em Azkaban. A profª Trelawney sentou ao lado de Neville e, embora não tivesse perdido a mania de predizer a morte das pessoas, estava muito preocupada com o que pudesse ter acontecido a diretora McGonagall.


–       Ela está viva. – disse a Neville.


–       A senhora teve alguma visão ou coisa parecida?


–       Não. Eu só desejo muito que ela esteja. Achou a varinha do nosso hóspede?


–       Nem sinal. Não tenho idéia de como veio parar aqui; ele não pode ter vindo andando!


–       Alguém em Hogsmeade o reconheceu?


–       Rosmerta disse que não viu ninguém com as características dele. Gordo com a barba branca, mas sem bigode. Uma figura fácil de lembrar.


–       Flitwick vai falar com ele antes de avisar o Ministério sobre Minerva. – disse a profª Sinistra ao lado deles.


Neville passou o jornal para a colega.


–       Parece o Ministério está com muitos problemas...


–       A diretora de Hogwarts desapareceu Neville! Esse homem na Ala Hospitalar sabe de alguma coisa e não sabemos ainda como tirá-lo do estado mental que se encontra! – disse profª Sinistra.


–       Tem razão... Vou avisar Kingsley! – disse Neville deixando a sala.



De uma infância infeliz a uma adolescência sob a ameaça de Voldemort; Harry Potter aprendeu a não temer o rumo que a vida pudesse seguir e sim a se preparar e tirar o máximo proveito dos momentos de tranqüilidade; por isso nas semanas seguintes Harry se dedicou a ajudar a recolher o restante das varinhas perdidas, esteve presente em quase todas as reuniões dos Conselheiros, aprendeu a lidar com o ego de Bunko em Gringotes, e principalmente, começou a entender a política do Ministério da Magia.


Quando o outono estava próximo do fim já fazia algum tempo da partida de Rony, mas Harry ainda passava boa parte das noites acordado tentando espantar as lembranças do amigo e, principalmente, de Gina de sua mente. Hermione continuava a estudar a biblioteca da Sra. Kessler e nos fim de semana costumavam visitar os Granger. Os pais de Hermione não disseram nada sobre a partida de Rony; a mãe a cobriu de carinho e o pai agradeceu muito a Harry pelo apoio. Os dois acabaram se aproximando mais; Harry sempre achou que Rony devia dar mais atenção aos pais de Hermione, mas o amigo sempre tivera certa resistência ao Sr. Granger. Harry tentava explicar ao amigo que durante muito tempo Hermione passou férias na Toca, indo para Hogwarts e depois voltando pra casa em segurança.  


–       De repente acordaram na Austrália com a filha contando os perigos que havia passado e já de mãos dadas com você.


Essas lembranças só serviam para Harry se sentir pior. Os dois amigos fizeram tanto por ele. Harry só os queria juntos.


Em uma das visitas aos Granger a mãe de Hermione mencionou um colega de escola da filha.


–       Ele nem deve se lembrar de mim. – disse Hermione rindo.


–       Seu pai mostrou uma foto sua e ele se animou. Disse até para marcamos um jantar. O que acha Harry?


–       Gostaria de conhecer algum amigo seu do tempo de escola.


–       Talvez... não dê nenhuma resposta ainda mãe.


No caminho de volta Hermione notou que Harry estava muito calado. Dirigia o carro oficial do Ministério; um privilégio recém adquirido. Ela insistiu para que ele contasse o que o aborrecia.


–       Vi a camiseta do Chudley Cannons que Rony costumava usar na pilha que o elfo tinha acabado de lavar.


–       Ficou nas minhas coisas; Guiso deve ter pegado por engano ou... Rony voltou e está usando capa da invisibilidade.


–       Por que não se livrou dela?


–       Eu torço pelos Chudley Cannons.


–       Ah, sim esqueci! – respondeu Harry irônico. – Como eles estão no campeonato?


–       Nada bem...


–       Essa foi fácil. – respondeu Harry e Hermione sorriu. – Sente falta dele?


–       O que vivemos foi muito intenso Harry. Não acaba de uma hora pra outra... Agora ele está em Paris com outra garota e vão ter um bebê. Noticia de primeira pagina no Profeta Diário. Eu fui uma namorada tão ruim assim?


–       Não diga isso!


–       É como se alguém quisesse saber o quanto eu agüento antes de enlouquecer.


–       São babacas! Só querem vender jornais com mentiras e coisas horríveis...


–       Você sempre tentou consertar as coisas entre a gente. Desde Hogwarts, na Toca, na floresta, na sua casa, com meus pais...


–       Vocês juntos sempre foi importante pra mim.


–       É minha culpa que você e Gina não estarem juntos agora.


Harry parou o carro.


–       Não diga isso! Você sabe que eu a não deixaria passar por tudo isso sozinha. Fiz tudo errado... eu devia tê-lo pressionado mais. Dado uma surra nele ou sei lá.


Hermione o abraçou com força.


–       Agora – disse Harry se afastando – você pode conhecer melhor esse seu antigo colega; tenho certeza que seu pai fala muito bem de você.


–       Ainda é muito cedo. – respondeu Hermione enxugando os olhos. – Não tenho pressa e tenho andado ocupada estudando a biblioteca da Sra. Kessler. Uma nova visão sobre as Artes das Trevas é bem excitante.


–       Nada melhor que isso para aliviar a tensão; eu sempre te disse isso.


Os Conselheiros e o Ministro e Harry passaram uma manha inteira em reunião com um grupo de bruxos com problemas financeiros.


–       Devo lembrar-lhe Kingsley que estamos mais próximos da mina do Sr. Duralumínio do que Gringotes. – disse o representante dos comerciantes.


–       Não aceitamos o ouro do Sr. Duralumínio aqui. – respondeu Kingsley.


–       Então deveria pressionar Gringotes a liberar o empréstimo que pedimos! O Ministério arrecada impostos o ano todo e agora nós precisamos de dinheiro Kingsley.


–       Para que querem tanto dinheiro? – perguntou Harry.


Os bruxos trocaram olhares entre si.


–       O Ministério está próximo de baixar uma lei que nos obriga a pagar elfos! Juntando aos impostos... estaremos falindo em pouco mais de dois anos. Kingsley nos ajude! Estivemos com você desde que tomou posse...


–       Farei o possível. Bunko também vai criar caso em liberar essa quantia...


–       Ele é só um duende pelo amor de Deus!


–       O Conselheiro Rent os levará ao banco para sacarem o que Bunko permitir.


–       Está brincando Kingsley? – perguntou um dos comerciantes.


–       Terá o seu ouro. Não todo, mas uma parte será o suficiente. E se for recorrer a Duke Duralumínio será preso. Essa é minha decisão. Tenho que me retirar cavalheiros outro assunto requer minha atenção.


O representante cochichou com o grupo; Harry pode entender que as palavras que trocavam eram pesadas, mas após alguns minutos acabaram concordando. A Conselheira Hayes permaneceu calada e se levantou com os outros quando Kingsley saiu da sala. Ultimamente ela tratava Harry muito melhor do que o inicio do rapaz no Ministério.


–       Até mais tarde Harry... Conselheira... – disse Patrick deixando os dois para trás.


–       Ele vai conseguir liberar esse empréstimo. Toda a quantia. – comentou Harry.


–       Com certeza vai... Sr. Potter recebemos convites especiais para reinauguração do teatro bruxo; um grupo fará uma apresentação especial para o Ministério.


–       Nunca vi uma apresentação bruxa antes! – disse recebendo o ingresso Harry. O elenco do espetáculo fazia um reverência e apontava para a entrada do teatro.


–       O teatro esteve fechado por anos. Agora Kingsley quer incentivar a cultura e a diversão. Manter as alta sociedade bruxa feliz e distraída.


–       Parece realmente interessante.


–       Sr. Potter passe em minha sala qualquer hora dessas. Nunca tivemos chance de conversar. Outras pessoas no Ministério também são interessantes. Lembre-se do que lhe disse sobre Dolores Umbridge...


–       A senhora chegou a visitá-la no St. Mungus?


–       Não... – respondeu a Conselheira mudando a expressão – pelo que dizem ela só sairá de lá para o cemitério.


–       Provavelmente sim.


–       Diga-me uma coisa Sr. Potter... eu soube que a Srta. Granger está indo todos os dias a casa da Sra. Kessler. Por acaso ela comenta o que faz lá?


–       A Sra. Kessler permitiu que Hermione tivesse acesso a biblioteca dela.


–       Toda a biblioteca? Até a obra proibida de Lena Kessler?


–       É o que parece.


–       Por quê?


–       Não sei. Pesquisa eu acho...


–       É estranho ler sobre Artes das Trevas... uma bruxa como a Srta. Granger.


–       O que está insinuando Conselheira? Que Hermione vai começar a fazer feitiços proibidos? – perguntou Harry aborrecido.


–       Com certeza não... O convite da direito a um acompanhante. Leve a Srta. Granger ela deve estar precisando se distrair. Boa tarde.


Hermione estava sentada num banco no Beco Diagonal a espera de Harry; algumas crianças pediram para tirarem fotos com ela; Harry a observava de longe. A amiga sorria como não fazia há dias. Ele se aproximou devagar e a tocou no ombro; sentou ao seu lado e ficaram encolhidos observando as crianças voltarem para juntos dos pais.


–       Como foi o dia?


–       Tranqüilo. – respondeu Harry.


O banco que Hermione escolhera para esperar Harry ficava na direção oposta a Gemialidades Weasley. Fazia muito tempo que não passavam em frente à loja. Com exceção de Percy nenhum dos dois encontrou com mais ninguém da família. Harry imaginava se eles também o evitavam.


Pra variar, Hermione sabia tudo a respeito da companhia de teatro que se apresentaria.


–       Abrem o espetáculo com um ato de comédia. As peças são geralmente dramas sobre amores impossíveis.


Harry pensou em perguntar alguma coisa sobre a Sra. Kessler, mas se recusou a dar crédito às palavras da Conselheira Hayes; além do mais Hermione lhe contaria se percebesse alguma coisa ilegal envolvendo a Sra. Kessler. A amiga pousou a cabeça no ombro dele e por alguns momentos ficaram em silêncio esperando à tarde fria chegar ao fim.


Na noite da estréia dividiram um camarote com Patrick e Heckett.


Patrick cumprimentou Hermione formalmente beijando as costas de sua mão. Hermione quase sorriu; Patrick seguiu o olhar dela. No camarote ao lado estavam Percy e a namorada Audrey.


–       Desculpe... – disse encabulada.


–       Vamos mais para o fundo a vista daqui é muito boa e não vamos perder nada.


Harry também os viu; notou a aliança na mão de Audrey e concluiu que estavam noivos; imediatamente pensou na Sra. Weasley e o marido brindando a felicidade do filho... e Gina. Há tempos Harry evitava abrir a pagina de esportes do Profeta Diário; podia haver alguma foto da ex-namorada. Harry se lembrou das alianças guardadas em seu malão.


–       Nunca encontrarei alguém para usá-las. – pensou.


A tristeza diminuiu um pouco com a apresentação do grupo de comediantes. Eram quatro homens; dois vestidos de crianças e outros dois de mulher. O mais gorducho contava piadas e fez uma imitação simplesmente hilária de Voldemort parando um ataque para amarrar o cordão dos sapatos. De repente tudo ficou escuro.


–       Senhoras e senhores! – disse o mais gorducho dos quatro.


–       É o diretor do grupo! – disse Hermione a Harry.


–       Temos o prazer e a audácia de apresentar pela primeira vez num palco! Um dementador.


A multidão começou a murmurar se era mesmo possível.


–       Peço a todos que se mantenham calmos; ele está bem treinado.


–       Treinado? – perguntou Patrick. – Isso é possível Hermione?


–       Não!


–       Nós o chamamos de Retalio. Não façam movimentos bruscos e relaxem; temos controle absoluto sobre essa criatura.


Uma fumaça branca surgiu no palco e a temperatura começou a cair violentamente; Harry olhou para Patrick, mas o jovem conselheiro não tinha os olhos no palco e sim em Hermione procurando a mão de Harry.


–       Isso não foi comunicado ao Ministério! – disse o Conselheiro Remigio virando para ver Kingsley.


–       Mais uma besteira do Ministério. – disse alguém da platéia.


No centro do palco um dementador surgiu.


–       Façam o possível para manter seus pensamentos alegres!


Harry apertou a varinha no bolso das vestes.


O dementador começou a voar em círculos às vezes ameaçava ir até a platéia que, assustada, se encolhia nas cadeiras.


–       Pensamentos felizes! Por favor, senhoras e senhores senão não poderei controlá-lo! Por favor, senhor não pense que sua sogra serviria de ótimo aperitivo para um dragão! Isso não é um pensamento feliz! Estou perdendo o controle!


Harry e mais algumas pessoas ficaram de pé.


–       Pensamentos felizes! Senhora o que está pensando agora? –


Uma mulher na primeira fileira com a cara assustada respondeu gaguejando:


–       No dia que meu filho nasceu!


–       Ótimo!


–       E o senhor!


–       Meu filho... ele era tão bonito... – respondeu o Conselheiro Remigio hesitante.


–       Excelente! Pensamentos felizes!


O dementador se agitou.


–       Nos camarotes agora! O senhor ruivo aí em cima!


–       Percy! – disse Harry.


–       Rápido! Um pensamento feliz!


–       Foi aprovada a lei para retirada mínima de galeões em Gringotes...


–       Esse é seu pensamento feliz?


O teatro ficou mais escuro; o dementador foi direto a Percy e muito próximo do rapaz explodiu em flores. As luzes se acenderam e uma moça surgiu em meio a fumaça.


–       Um pensamento feliz pode salvar o dia! – disse entregando uma rosa ao rapaz.


Demorou até a platéia entender que tudo fora uma encenação; Harry estava pronto para lançar seu patrono.


–       E olhe! O senhor deve ser bem querido! Veja quantas varinhas à mão!


Percy se levantou e viu Harry, Hermione e outras pessoas de pé. Corado acenou para todos. Aos poucos todos começaram a bater palmas.


–       Lembrem-se! Pensamentos felizes! – disse o grupo reunido no centro do palco.


–       Eu realmente achei que era um dementador! – disse Hermione impressionada.


–       Pensando bem foi um bom número... – disse Heckett. – A sogra de aperitivo para um dragão... um pensamento feliz. Foi engraçado.


Todos começaram a rir menos Harry.


–       Harry? Você está bem? – perguntou Hermione.


–       S-sim, que loucura...


–       Claro que foi combinado. – respondia Percy às pessoas que o cumprimentavam. – Estou noivo; é óbvio que é a coisa mais feliz que costumo me lembrar!


O palco foi tomado por um cenário grandioso para contar a historia de uma bruxa apaixonada por um trouxa; um soldado enviado à guerra. A trajetória dos dois amantes emocionou principalmente as mulheres; no fim do primeiro ato todos saíram para o saguão para beberem alguma coisa. Harry encontrou Anjelica Twitch e a mãe.


–       Estamos no camarote ao lado.


Os dois comentaram sobre a morte de Waxflatter.


–       Estou tentando descobrir alguma coisa sobre ele. – disse Harry.


–       Pode esquecer falar com minha mãe; ela evita o assunto como pode.


–       A diretora da escola de magia que eu e Hermione estudamos estava no funeral. A esperávamos em casa e eu esperava poder saber mais sobre esse homem, mas acho que ela tinha pressa em voltar à escola.


–       E o Sr. Weasley?


–       É um momento delicado para eu me aproximar...


–       Ah, sinto muito...


–       Sua mãe o ajudava quando ele ainda trabalhava no Ministério em uma seção sobre objetos trouxas. Ela deu a ele uma escova de dente elétrica quando ele se aposentou! Foi engraçado.


–       Mamãe tem senso de humor! Pelo menos tinha até a morte do meu pai.


–       Waxflatter esteve visitando uma ex-funcionária do Ministério, Dolores Umbridge. Sua mãe também a conhecia?


–       Essa mulher invadiu nossa casa no meio da madrugada para levar minha mãe para ser julgada por traição; queria mandá-la para Azkaban!


–       É bem estranho... O Sr. Weasley, McGonagall, sua mãe e até Umbridge! Waxflatter conhecia a todos!


A Sra. Twitch se aproximou e entregou o programa dos próximos espetáculos a filha.


–       A Conselheira Hayes acabou de sair... Ela adora teatro. – comentou.


–       Talvez não tenha se sentido bem; aquela coisa deixou muita gente passando mal. – disse Anjelica.


–       A Sra. Kessler também não veio. – observou a Sra. Twitch.


–       Hermione contou que ela piorou nos últimos dias. – explicou Harry.


–       A Srta. Heckett era a assistente do Sr. Corso? Ele partiu?


–       Segundo ela às vezes Corso se isola para escrever, pensar ou fugir de algum marido raivoso.


Os corredores estavam lotados e Harry levou um esbarrão de um rapaz.


–       Desculpe-me Sr. Potter.


–       Não foi nada.


–       Sr. Potter sou Adso assistente do Sr. Olivaras.


–       Ah, sim. – disse Harry o cumprimentando. – Como está o Sr. Olivaras?


–       Lá embaixo na segunda fileira; cochilou boa parte do tempo. Olá. – disse o rapaz olhando Anjelica.


–       Ah, essa a Srta. Anjelica Twitch e a mãe. – apresentou Harry.


–       Muito prazer. – disse Adso sorrindo.


–       Soube que ele é um especialista em varinhas. – disse a Sra. Twitch quando rapaz saiu de perto deles.


–       Mamãe por favor...


–       Só estou comentando... é um bruxo...


–       Minha mãe gostaria que eu me casasse com um bruxo. – disse Anjelica a Harry.


–       Se você freqüentasse mais eventos como este conheceria mais rapazes.


Anjelica olhou para o teto e riu; Harry se lembrou da Sra. Granger falando do amigo de Hermione. Será que a Sra. Weasley empurrava Gina para algum conhecido da família?


Do outro lado da sala um Revistador tocou o ombro de Patrick.


–       Sr. Rent pode me acompanhar?


–       Agora?


–       Um detalhe que precisa de sua atenção senhor.


Patrick olhou para Hermione e pediu licença.


–       Esse jeito dele – comentou Heckett – tão responsável... tão eficiente! Ele não tira os olhos de você.


–       Não percebi. – Hermione disse sem graça.


–       É porque ele é muito bom.


Mal humorado Patrick seguiu o Revistador para longe de todos.


–       O que foi Twain?


–       Alguns funcionários do Bocadio se reuniram e depredaram tudo.


–       Como isso aconteceu?


–       Não havia segurança suficiente. O senhor deve reconsiderar a vigilância da casa dos Weasley.


–       Fale baixo!


–       Eles não vão voltar senhor! Se acontecer alguma coisa com Solomon enquanto isso...


–       Aconteceu alguma coisa? – perguntou Harry se aproximando.


–       Um começo de tumulto em frente ao pub de Solomon Bluter. – Patrick respondeu depressa.


–       Ele deu queixa ao Ministério?


–       Sim. Vá logo – mandou Patrick – e não deixe o tumulto aumentar! Não faça nada até eu chegar!


–       Sim senhor. – disse Twain se afastando.


–       Ele não tem folga? – perguntou Harry. – Parece que o vejo todos os dias.


–       Sabe como são esses garotos; sempre querem estar por perto do que acontece e tentar uma promoção.


–       É o garoto que encrencou com Kingsley por causa de Crackit, o lobisomem.


–       Nem me lembrava dele. – respondeu Patrick encolhendo os ombros.


O segundo ato da peça começou. No palco a bruxa apaixonada pelo soldado trouxa estava sozinha em seu quarto. O monólogo foi triste e carregado de emoção; Harry observou novamente a platéia. Por todos os lados pessoas discretamente enxugavam algumas lagrimas. Parecia que a cada palavra todos acabavam se lembrando de um amor perdido.


–       Com licença. – disse Heckett saindo do camarote.


Na sala de espera ela se apoiou na parede com a mão tapando a boca.


–       Você perdeu alguém. – disse Harry a surpreendendo e conjurando um lenço.


–       Você também... – respondeu Heckett soluçando.


Os dois estavam muito próximos; Harry a segurou pela cintura. Ela resistiu no começo, mas acabou cedendo e apertando corpo de Harry contra o dela. Quando Harry a puxou pela nuca para beijá-la Patrick abriu a porta e os dois se separaram.


–       Ops! Desculpe...


Harry se afastou se sentindo muito mal. Heckett o empurrou e saiu apressada.


–       Hermione perguntou de você; e como não agüentava mais essa chatice sai para ver se tinha ido ao banheiro ou algo assim, mas parece que não... – disse Patrick rindo.


–       Não sei o que me deu!


–       Tudo bem! Todos temos momentos...


Harry se moveu depressa, mas Patrick o segurou pelo braço.


–       Se isso não for a sua varinha talvez queira demorar mais um pouco para voltar...


Ao final do espetáculo um bruxo contava o final da trágica história declamando um poema.


–       “Um amor como nunca se viu...
Condenado a não ter fim!”


Aplausos acompanhados de lágrimas tomaram o teatro.


–       Foi incrível! Todos sonham em ter um amor assim... – disse Hermione emocionada.


–       Eles morreram. – disse Patrick. – Eu preferia ficar vivo e me casar com outra. O que acha Harry?


–       Não sei...


–       Foi lindo. – disse Heckett enxugando os olhos passando por eles.


–       Nunca tinha visto Heckett assim. – comentou Hermione. – Ela sempre é tão indiferente a tudo.


–       Foi uma noite de muitas emoções para ela. – disse Patrick piscando para Harry.


Nos dias seguintes Harry tentou ao máximo esquecer o que tinha acontecido entre ele e Heckett.


Kingsley o chamou em sua sala; Madeleine Hayes estava de saída passou por ele sem dizer nada. Andava mais rápido que o normal e logo sumiu pelo imenso corredor.


–       Madeleine vai entregar o cargo um pouco antes do tempo. – disse Kingsley.


–       Por quê?


–       Problemas em casa; o marido pediu. Estão planejando uma viagem há anos.


–       Estranho... – disse Harry – Madeleine Hayes nunca me pareceu uma mulher que desistisse das coisas.


–       Casamentos sólidos e o Ministério não combinam Harry.


–       O casal Weasley.


–       Uma exceção é verdade, mas Molly Weasley é dura na queda. Você sabe disso.


–       Espero que aproveitem a viagem.


–       Harry – começou Kingsley – Solomon Bluter fez uma queixa sobre as pessoas que atacaram o pub.


–       São as mesmas que ele mantém presas.


–       Oficialmente todos freqüentam o pub de livre espontânea vontade e somos obrigados a responder ao Sr. Bluter.


–       Imagino que ele me queira no caso só para me aborrecer.


–       Vá até lá escute tudo o que ele tem a dizer; faça parecer oficial. Ele também vai fazer parecer.


Patrick encontrou com Harry.


–       Acabei de saber de Madeleine! Ela vai deixar o cargo!


–       Ela acabou de contar a Kingsley!


–       Eu disse que aqui as paredes têm ouvidos! Eu conheço Madeleine – comentou Patrick com Harry em voz baixa no corredor – ela não faz nada que marido quer. Talvez ele tenha finalmente a enfeitiçado!


Os dois começaram a rir e Patrick disse repente:


–       Acabei de convidar Hermione para jantar no sábado.


–       Vamos visitar os pais dela no sábado.


–       Serio? Ela não disse nada sobre isso e acabei de falar com ela.


–       Foi até minha casa falar com ela?


–       Achou que eu ia convidá-la por carta? Um homem faz essas coisas pessoalmente!


–       O que ela respondeu?


–       Que ia pensar. Gostaria que você a ajudasse a decidir... a meu favor é claro.


–       Não acho que...


–       Você e Heckett podem nos acompanhar! Aposto que ela aceitaria um convite já que vocês já se conhecem um pouco melhor.


O tom de Patrick deixou Harry incomodado.


–       Aquilo não era pra acontecer!


–       Tudo bem se deixar pelas emoções de vez enquanto. Heckett nem é muito feia.


–       Só não contei a Hermione por que...


–       Por que aquilo que não era para acontecer, mas... aconteceu! Não deixe Hermione esquecer: sábado às oito horas! Eu fiz reservas!


O resto de sol do dia foi encoberto por nuvens carregadas; começou uma fina garoa e Harry teve pressa de entrar no Bocadio. Os Revistadores cercavam Solomon atrás do balcão; o ambiente estava frio e escuro.


–       Você aqui? – Harry perguntou ao Revistador Twain. – Você nunca tira uma folga?


–       Gosto do meu trabalho. – o rapaz respondeu com o mesmo ar arrogante que desafiou Kingsley.


–       O que aconteceu com seu nariz? – perguntou Harry observando perfil do rapaz.


–       Quadribol.


–       Certo... Podem ir.


–       Temos ordens de acompanhar o senhor.


–       Esperem lá fora. – mandou Harry.


Solomon interrompeu a conversa entre os dois oferecendo a Harry uma bebida. Twain saiu e os outros Revistadores o seguiram.


–       Uma dose do Velho Dragão?


–       Não. Onde está seu ajudante? Aquele narigudo.


–       Férias. – respondeu Solomon enchendo o copo de Harry e tomando um gole da garrafa.


–       Conte o que aconteceu?


–       Um grupo de Veelas atacou alguns clientes e os elfos iniciaram uma bagunça na cozinha. Acabou que atearam fogo em tudo. Como pode ver pouca coisa sobrou do bar.


–       Sabe o que provocou o tumulto?


–       Um bruxo disse uma coisa a Veela não gostou e quebrou um copo na cabeça dele. Naylon sempre me disse para não deixar certos clientes entrarem com as varinhas, mas alguns homens não fazem nada sem elas...


–       Onde estão todos? Fugiram?


–       Se ausentaram Sr. Potter.


–       Vamos ser sinceros Sr. Bluter: por que não está atrás deles o senhor mesmo? Por que chamou o Ministério?


–       Era a coisa certa fazer, não? Fui roubado, agredido e meu honesto estabelecimento depredado! É sua obrigação descobrir onde estão minhas coisas e prender que as levou!


A incômoda sensação que Harry sentia pela provocação de Patrick se misturou com a raiva de que já tinha de Solomon; o desdém como o tratava o fazendo parecer um garoto idiota frente a um grande homem. Será que ele ouvira falar quem ele era? Quem já tinha enfrentado ou quem eram seus amigos? Já ouvira falar em Dumbledore?


–       Não vou ajudá-lo ir atrás dessas pessoas para se vingar. Estão livres!


–       Quem os ajudará? Quem os acolherá? O Ministério distribuirá empregos ou casas? – disse Solomon gargalhando. – Eles voltarão! Todos sempre voltam! Hagrid vinha aqui quase todas as noites até você surpreende-lo. Tenho uma lista de nomes tão nobres que o faria ficar mais zangado do que já está. Bando de hipócritas!


Solomon conjurou algumas moedas de ouro e atirou a Harry.


–       Minha contribuição mensal para o Ministério!


Harry apanhou uma moeda do chão.


–       Esse ouro é o de Duke Duralumínio.


–       Um grande homem.


–       Dumbledore era um grande homem! Arthur Weasley é um grande homem! Severo Snape! Você é a escoria dos bruxos. Mesmo que muitos venham aqui se aproveitar do que você oferece!


–       A sociedade a que o senhor serve precisa da que eu encubro! Ainda mais com as mudanças que estão acontecendo; aqui é um dos poucos lugares onde um bruxo ainda tem o poder! 


–       Está preso por distribuir ouro não oficial. – disse Harry chamando os Revistadores. – Levem-no ao Ministério.


–       Muitos se escondem numa capa de nobreza Sr. Potter, mas são hipócritas e mais nojentos do que você pensa que eu sou!


Solomon segurou Harry.


–       Você não é certinho como parece! Não gosta de regras e nem de receber ordens! O que? Nunca se sentiu atraído por uma coisa que não pode ter? Se tivesse a chance não a tomaria para você? Sei que sim! Está em seus olhos...


–       Levem-no! – exclamou Harry com raiva. – O tirem da minha frente!



A loja embaixo do apartamento de Patrick vendia ingredientes para poções. Patrick aparatou nos fundos; uma velha fumava um charuto de ervas e enchia garrafas com lesmas vivas.


–       Seus ingredientes só amanha Sr. Rent! – disse a velha sorrindo e dando uma baforada.


–       Conseguiu pilhar muitas casas com as varinhas roubadas?


–       Uma porção! Se estiver precisando de alguma coisa é só dizer. Temos desde panelas até as mais finas porcelanas! Roupas, relógios, candelabros...


–       Preciso de meus ingredientes!


–       Devo recebê-los amanha de manha. Não se preocupe. Soube que atacaram o pub?


–       Quem não sabe?


–       Solomon o culpa por relaxar a segurança. Está muito zangado! Tome cuidado; ele não é de brincadeira.


–       Ele já não tentou matá-la uma vez?


–       Duas. Solomon é um porco, mas é meu cunhado. Minha irmã ficou uma fera quando revidei! Acusou-me de ter estragado o natal.


–       Que chato... Sra. Lancey preciso de ajuda. Tenho um encontro...


–       E aquela sua namorada nojenta?


–       Ela foi embora.


–       Garota nova hein? Por isso está afobado? Se ela gostar de você tem que aceitá-lo como você é! Amaldiçoado ou não!


–       Às vezes gostaria de apenas fazer a barba como um cara qualquer...


–       Seu pai fez o que fez, mas o deixou mais forte e mais resistente que qualquer outro cara qualquer! – disse a Sra. Lancey dando um tapa na testa de Patrick.


–       É que sorte a minha...


–       Você já podia estar morto há muito tempo. Não seja ingrato!


–       Preciso de sua ajuda em outra coisa também. Sofri um atentado já faz um tempo; a senhora tem alguma coisa que faça o ferimento parar de coçar?


–       Deixe-me ver o ferimento.


Patrick tirou as vestes; a marca do arpão e as queimaduras estavam bem inflamadas.


–       Tem um buraco aí! Dá pra ver do outro lado da sala! Como posso tratar isso?


–       Se eu mudar de forma vai melhorar.


–       Então mude! Vou ver alguma coisa que pare a coceira. Só faço isso porque você me lembra muito os meus garotos!


–       A senhora podia me dar mais dos ingredientes...


–       Receberá a quantidade de sempre! O trato com Solomon é bem claro e precisa ser cumprido. Já lhe disse Patrick ele não é de brincadeira!


–       Ele precisa de nós. Eu sei que preciso mais da senhora do que dele!


–       Mude sua forma para tratar esse ferimento, mas não tire toda roupa! Sou uma senhora de respeito. – respondeu a Sra. Lancey rindo.


Antes de voltar para frente da loja a mulher viu Patrick tirar um frasco da vestes e tomar todo seu conteúdo. O rapaz se encolheu e a mulher só pode ver a sombra de Patrick na parede mudar de forma. Os ombros ficaram mais largos e curvados. Uma espécie de espora surgiu no calcanhar e por ultimo uma calda. A mulher pode ouvir os ossos do rapaz estalando e concluiu que ele devia ter sentido muita dor durante toda a transformação.


–       Seu pai estava mesmo com muita raiva de você rapaz...


Após alguns minutos ela voltou com uma tigela cheia de um tipo de massa. Patrick estava escolhendo algumas camisas.


–       Estava pensando em usar alguma coisa mais despojada. – comentou Patrick sentindo a presença dela.


A pele antes muito clara tinha um tom avermelhado; a voz era mais grave, mas o sotaque francês continuava.


–       Que tal a vinho?


–       É pode ser.


Enquanto a Sra. Lancey fechava seu ferimento Patrick começou a cutucar uma tigela cheia de pequenos escorpiões; a bruxa bateu em sua mão com um martelo.


–       Desculpe.


–       Patrick, há um boato de um grupo convocando os perdidos, os ladrões e criaturas na Travessa do Tranco. Usam capuzes esfarrapados para esconder o rosto; gente muito estranha.


–       O que eles fazem para atrair essa gente?


–       Prometem um novo mundo.


–       Novo mundo? E há que acredite?


–       Pelo que ouvi são ligados a Arte das Trevas muito antiga. Acho que sãos responsáveis por atacarem o pub de Solomon.


–       Será?


–       Dezenas de criaturas atacaram a pessoa que provavelmente mais temem na vida! Não tiveram essa idéia do nada.


–       Harry comentou uma coisa que uma Veela disse, mas essa história de novo mundo não dá pra levar a sério...


–       Obrigaram Solomon a pedir ajuda ao Ministério! Ninguém na Travessa do Tranco quis dar informações sobre os que fugiram!


–       Será que precisam de ajuda? Se Solomon me demitir vou ter que procurar outro bruxo corrupto e assassino pra ser amigo.


–       Você acha que é brincadeira? Estou lhe avisando Patrick...


–       Até o Lorde das Trevas precisou de aliados. Se souber de alguma coisa importante sobre essa gente me avise. Preciso renovar meu círculo de amizades.


A Sra. Lancey sorriu e deixando amostra seus dentes esverdeados pelo charuto de ervas.


–       A propósito aquele imbecil do Twain é amigos dos meus filhos agora e não sai mais daqui! Ele quer descobrir quem deu aquela surra nele e toda vez que bebe fala um monte de asneiras! Me deixa com dor de cabeça.


–       Darei um jeito nele. Depois pago a camisa preciso me preparar para fazer uma garota se apaixonar por mim!


–       Esses garotos... – disse a mulher acendendo outro charuto.



Depois de entregar Solomon ao Ministério Harry se encontrou com Hermione. A chuva caia forte e entraram num café; ele se lembrou que meses atrás sentaram na calçada tomando cerveja amanteigada; na ocasião ele insistia que Hermione o acompanhasse à Toca para ela e Rony fazerem as pazes.


–       Você não devia ouvir esse homem Harry! – disse Hermione se referindo ao que Solomon disse quando foi levado ao Ministério.


–       Aquela Veela disse que eu não poderia fazer nada por ela e tinha razão. Eu queria acabar com Solomon Bluter, mas não ele é o único culpado se até um Conselheiro esteve lá para se divertir. O que podemos fazer?


–       Você fechando o pub, mesmo que temporariamente, já é alguma coisa. Tenho certeza que Patrick vai de descobrir um jeito de manter Solomon preso.


–       Ele a convidou para sair?


–       Sim, mas ainda não confirmei.


–       Ele é um cara legal; acho que podem ser dar bem. Não seria estranho pra mim se é o que está preocupando você. – disse Harry tentando parecer natural.


A lembrança daquele rápido momento com Heckett o deixou envergonhado demais e por mais que já tivesse tentado não conseguia contar a Hermione.


–       Estávamos sentados aqui alguns meses atrás – continuou ele – e aquele garçom estava fazendo o mesmo que está fazendo agora: olhando para você.


–       Por que incentivou Patrick a me convidar para sair? Achei que não...


–       Hã? – perguntou Harry confuso.


–       Ele me disse que você sabia e que achava uma ótima idéia. Eu estava em duvida, mas agora se você diz que não acha estranho...


–       Naquele dia... você usava um vestido azul. Então Hagrid chegou e você puxou sua mão da minha como acabou de fazer agora.


–       A Sra. Kessler está me esperando... – disse Hermione se levantando rápido e saindo para calçada. – Parabéns por prender Solomon Bluter.


Num instante a chuva a deixou encharcada e ela aparatou. 


O garçom entregou a conta a Harry olhando a cadeira vazia que Hermione deixara.


–       Perdeu alguma coisa? – Harry perguntou irritado.


–       Não, eu não.



A prisão de Solomon Bluter causou um alvoroço no Beco Diagonal. Uma foto de Harry foi publicada no Profeta Diário. Kingsley, no entanto ressaltou ao Conselho que Solomon poderia ser solto em breve.


–       Foi incrível o que fez Harry! Conseguiu pegá-lo por um detalhe! – disse a Conselheira Deanna Troy.


–       Agora Solomon sabe que não é intocável.


–       Parabéns Harry. – disse Patrick.


–       Como está o movimento na Travessa do Tranco?


–       Ainda estão surpresos.


–       Quanto tempo até ele ser solto?


–       Primeiro ele vai ter achar quem o represente e, infelizmente, as corujas que ele recebe só entregam propagandas. As que chegam com propostas para defendê-lo não o sei que acontece; elas simplesmente não conseguem manter as cartas presas junto a elas.


Em outros tempos Harry acharia graça na esperteza de Patrick, mas alem de querer manter Solomon preso seguindo todos os protocolos do Ministério não tinha esquecido o que Hermione dissera.


–       Vai haver um pronunciamento do Conselho para a imprensa; quero que esteja presente Harry. – disse Patrick.


–       Quero que Percy Weasley também esteja.


–       Por quê?


–       Ele recolheu todo o ouro de Duralumínio; se não fosse por ele restringir o ouro a Travessa do Tranco e forçado Solomon a usar o que já tinha recebido... Solomon não estaria preso agora.


–       Tem certeza? Você leu o Profeta Diário! Foi uma bela manchete: Mais uma vez herói!


–       É o certo a fazer Patrick.


–       Se você acha... mandarei avisar Percy. Espero que não de tempo dele escrever um discurso.


No sábado Harry acordou tarde; Hermione ainda não tinha se levantado. Ficou um tempo deitado no sofá pensando e olhando a escada. Teria que voltar ao seu quarto em algum momento. Acabou saindo sem tomar café; foi à quadra de quadribol rebater uns balaços e voar um pouco. A quadra era um dos poucos lugares para bruxos fora do Beco Diagonal. Apesar de ser sábado a rua estava movimentada e apenas algumas pessoas notaram que ele carregava uma vassoura nos ombros. Ouvia comentários sobre a proximidade do inverno. Seria possível o tempo ter passado tão rápido? Logo seria natal.


–       Sem suéter Weasley esse ano...


Harry viu Anjelica Twitch em frente ao bar que levava ao Beco Diagonal. A garota parecia nervosa e estava sozinha. Ele então se ofereceu para abrir a passagem para a rua dos bruxos e acompanhá-la até a loja de varinhas. O tumulto que Harry causou na porta da loja foi grande. A maioria das pessoas lhe dava parabéns por tirar uma figura asquerosa como Solomon das ruas. Harry não se animou muito; já que sabia que muitos bruxos de boas famílias eram clientes assíduos do pub.


–       Eu sabia que você era famoso, mas não imaginava que fosse tanto! – disse Anjelica impressionada com o movimento de garotas querendo abraçar Harry.


A loja estava do Sr. Olivaras estava quase vazia.


–       Minha mãe sempre sonhou entrar comigo aqui.


–       Você gostaria de ser bruxa?


–       Honestamente? Não. Quase tive um ataque quando vi aquele desmembrador.


–       Dementador. – corrigiu Harry rindo. – Odeio dementadores.


–       Vi você se levantar quando o filho do Sr. Weasley parecia que ia ser atacado; aliás, muitos se levantaram. Hermione também; o rapaz que estava com vocês no camarote o de olhos cinza...


–       Patrick.


–       Ele não se mexeu.


–       Ficou assustado será? – perguntou Harry achando graça.


–       Não. Ele nem estava olhando para o palco.


–       Estava olhando Hermione por acaso?


–       Sim.


–       Eles vão sair hoje.


–       Acho que ele não tem muita chance. Eu a vi chorando no camarote quando vocês dois saíram... imagino que pelo o rapaz que andaram comentando nos jornais. 


–       É. Eles se separaram faz pouco tempo; eu me separei da irmã dele.


–       Sinto muito.


–       Acontece...


–       Por que homens querem sempre passar a idéia que está tudo bem? Está na sua cara que não está. Nem uma coisa e nem a outra.


–       Dá pra perceber é?


–       Muito! Por que você não diz a ela que... por que não diz para ela não ir?


–       Ela merece tentar.


–       Eu vi Hermione chorando naquela noite, mas eu também a vi sorrindo e não foi com o Sr. Rent.


Adso agradeceu a Harry pela gentileza de ter acompanhado Anjelica. Depois de se despedir do casal Harry deu uma longa volta e parou de volta na porta da loja do Sr. Olivaras que já estava fechada; não queria voltar e ver Hermione se arrumando para sair mesmo ainda sendo muito cedo. Foi quando notou uma coisa do outro lado da rua; viu um homem sair do prédio e enfeitiçar a porta.


–       Senhor! – chamou Harry atravessando a rua.


–       Sim?


–       O que tem nesse prédio? O que funciona aí?


–       É uma fabrica de bebidas. Faz pouco tempo que mudamos pra cá; se procura o antigo dono ele morreu.


–       Não. Não procuro ninguém. O que tem nos últimos andares?


–       O depósito. Você é Harry Potter?


O homem tirou das vestes uma garrafa e entregou a Harry.


–       Mande aquele desgraçado do Solomon para Azkaban e lhe mando um caixote de presente!


–       Obrigado. Farei o possível.


Hermione acabara de sair do banho e tentava escolher algum vestido para o encontro de mais tarde. Não queria usar nada chamativo; separou dois vestidos e dois pares de sapatos. Harry abriu a porta do quarto coma um furacão.


–       Veja isso!


–       AAhhh Harry! – gritou Hermione caindo sobre a cama e apertando o roupão. – Não faça isso!


–       Veja!


Hermione leu o rotulo da garrafa.


–       O Velho Dragão e daí?


–       Veja o desenho! É um Rabo Córneo Húngaro! O mesmo dragão que eu vi no Beco Diagonal no mesmo prédio! Esse conhaque usa no rótulo e nos cartazes a imagem desse dragão. Viu? Eu disse que tinha visto um dragão!


–       Será que iam fazer alguma promoção e trouxeram um dragão de verdade? Que loucura!


–       Vou investigar! Rony devia ter visto; ele estava logo atrás de mim!


–       Se ele visse que você estava em perigo teria feito alguma coisa...


–       Sim... teria.


–       Como está o movimento nas ruas? Comentários sobre a prisão de Solomon?


–       Alguns. Encontrei Anjelica Twitch no Olivaras; ela está saindo com Adso. – disse Harry abrindo a garrafa do velho dragão. – Quer um gole?


–       Não obrigada!


–       Parece lava derretida pela garganta.


–       Como é o pub de Solomon?


Harry explicou sobre a entrada a arena e por últimos os quartos decadentes. Contou também sobre o centauro que viu no dia da luta com o ciclope e as Veelas.


–       Crackit me contou que Solomon obriga os elfos a enterrar os corpos das criaturas que morrem nas lutas.


–       Ele disse onde eles enterram?


–       Não. Ninguém sabe.


–       Você já tinha lido a respeito de pessoas como Solomon em algum lugar? Que usam Veelas para... satisfazer bruxos?


–       Bom... é difícil colocá-lo em alguma categoria. Ele escraviza criaturas e isso não é novo.


–       Estou me referindo bruxos pagando para Veelas ou outras bruxas para... você sabe...


–       Essa parte não é muito comentada na historia da magia. – respondeu Hermione. – Já li respeito sobre bruxos que seqüestravam mulheres trouxas para poderem dar continuidade à linhagem mágica. As garotas eram escolhidas ainda crianças; tinham que esperar o bruxo atingir a maioridade então se casavam. Crianças trouxas eram devolvidas aos pais da moça trouxa.


–       E se não nascesse nenhuma?


–       O bruxo pegava outra mulher; as crianças devolvidas eram mortas pelos trouxas. Depois a situação e se inverteu; com os homens morrendo nas guerras as bruxas seqüestravam trouxas e, depois dos filhos nascerem, os faziam escravos. Meninas e meninos trouxas tinham o mesmo destino cruel.


–       Que selvageria.


–       Apesar da falta de informações é ingenuidade pensar que Solomon foi o primeiro no mundo bruxo a oferecer sexo em troca de dinheiro.


Harry não disse nada; Hermione achou graça do constrangimento dele.


–       Vai usar um desses? – perguntou Harry olhando os vestidos sobre a cama.


–       Ainda não me decidi.


–       Não precisa ser muito elegante; vocês só vão comer...


–       Patrick fez reservas em um restaurante francês.


–       Que original...


As oito em ponto Patrick saiu da lareira. Usava camisa vinho; calça e sapatos pretos. Não parecia nervoso ou ansioso o que deixou Harry aborrecido e sem a mínima vontade de falar. Hermione desceu e deu um tímido sorriso.


–       Podemos aparatar dentro do restaurante; é legal não ter que ficar esperando.


Harry se levantou e beijou o rosto de Hermione.


O elfo serviu um sanduíche a Harry; o relógio em cima da lareira devia estar enfeitiçado pois a hora simplesmente não passava.


–       Quanto tempo para comer? Entrada, prato principal e sobremesa! – disse Harry ao elfo.


–       A Srta. Granger nem come muito. – concordou Guiso.


–       É!


Harry ficou deitado olhando o teto; acabou pegando no sono. Uma luz verde se formou no interior da lareira e Heckett apareceu.


–       Oi. – disse Harry ficando de pé.


–       Trouxe um livro para Hermione; você entrega?


–       Claro.


Sentaram no sofá; Harry pegou o livro e o jogou no chão. O olhar de Heckett era diferente de tudo que ele já tinha visto em uma garota. A sala estava iluminada pela lareira e pelos olhos dela. Ela murmurou alguma coisa e o tocou na cicatriz; as pontas dos dedos eram frias e Harry podia jurar que ouvia uma musica de fundo. A beijou com vontade e quando abriu os olhos estavam sobre a mesa do Salão Principal em Hogwarts.


–       Vai Harry! – gritavam Fred e Jorge.


Sirius bateu no ombro de Harry.


–       Esse é meu afilhado!


Harry conseguia ver o corpo de Heckett, mas não a si mesmo; ela não o olhava nos olhos. Ele não sentia nada; não havia nenhum prazer naquela cena. Na ponta da mesa Cho Chang e Gina cochichavam.


–       Você é um hipócrita Harry! – disse Hermione sentando com elas.


Solomon Bluter apareceu e apertou a mão de Hermione.


–       Tenho que concordar com a Srta. Granger.


–       Vai Harry! – disse Fred. – Está quase lá!


O rosto de Heckett se contraia; a freqüência cardíaca de Harry aumentou; ele colocou uma das mãos no pescoço dela e apertou.


–       Isso é um sonho! Só um sonho.


As vozes ao seu redor diminuíram e ele acordou no chão com a nuca doendo. Minutos depois Hermione e Patrick chegaram.


–       O que houve? – Patrick perguntou.


–       Nada. – respondeu sentindo o corpo queimar.


Tirou toda a roupa enquanto subia correndo para o banheiro; encheu a banheira e se atirou na água gelada. Patrick e Hermione entraram no banheiro.


–       Harry? Você está bem? – perguntou Hermione preocupada.


–       Tive um sonho. Estava nu em Hogwarts...


–       Já sonhei que fui trabalhar nu. Todos no Ministério fingiam não perceber. – disse Patrick rindo.


–       Gina e Cho estavam lá.


–       Quem é Cho?


–       Ex-namorada. – explicou Hermione respirando aliviada.


Harry sentiu o corpo esquentar novamente, mas era de pura vergonha. Estava nu ali com Patrick e Hermione trocando sorrisos entre si. Ouviu os dois se despedirem e só saiu do banheiro depois de ter certeza que Hermione tinha ido dormir.


Na manha seguinte ele contou parcialmente a Hermione sobre o sonho.


–       Não era o tipo de sonho que você e Patrick acharam que era! Quer dizer era, mas não com todas as garotas!


–       Não entre em mais detalhes, por favor!


–       Por que fiquei daquele jeito só por ter um sonho erótico?


–       Não sei. Eu nunca tive um sonho erótico. – respondeu Hermione encolhendo do ombros.


Um pensamento desagradavel veio a mente de Harry.


–       Está achando que fiz isso para chamar atenção não é?!


–       Espero que não! Por que foi você que insistiu para eu sair com ele!


–       Eu não... estou me sentindo muito fraco.


–       Patrick disse que eu mimo muito você; Rony também achava isso.


–       Não sou mimado! – disse Harry se levantando e derrubando o prato de aveia no chão.


–       Ah! Essa atitude foi bem madura Harry Potter.


Um das coisas que Harry se lembrou do sonho foi que Solomon o chamou de hipócrita e concluiu que era sua consciência pesada por não contar a Hermione sobre Heckett. Ele contaria se ela não o tivesse deixado tão zangado. Durante o dia todo o ar satisfeito de Patrick também o aborrecia. Com certeza ele ter feito papel de idiota proporcionou a ele o final quase perfeito de noite.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Giselle di Launnblecc

    Cara. Sério uma coisa voce conseguiu direitinho. Confundiu todos os meus neuronios. Não demora com o proximo por favor. Pode ser? 

    2012-02-27
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.