Capitulo 10



Capitulo 10





Os dois homens levaram os cavalos para beber água pouco antes de o sol se pôr. Eles passaram mais de meia hora discutindo se deveriam permitir ou não que Lílian e Ammy seguissem viagem em dois dos animas, mas acabaram decidindo que o cuidado extra e mais duas bocas para alimentar só lhes traria mais problemas. Alem disso, Ammy não gostava de cavalgar, e Lílian admitiu que, embora soubesse montar, não era tão experiente quanto seu irmão.





Tiago sentiu um grande alivio, apesar de não ter expressado seus pensamento em voz alta. Em seguida, eles se preocuparam em preparar a fortaleza para a chegada da noite e os perigos poderiam surgir , e só então Tiago teve tempo par a pensar em tudo que acontecera e no que significava.



Lílian estivera certa em todos os aspectos, e ele fora cego e teimoso por se recusar a enxergar a realidade que estava diante de seus olhos. Pior ainda, não se permitira acreditar, pois, se tivesse acreditado, seus planos de vingança contra Daman Evans não seriam mais os mesmos, e seu orgulho não aceitaria, em hipótese alguma, tal comportamento. Ele era o culpado por estarem passando por tudo aquilo, quase causando a morte de todos.



E a jovem prisioneira, que estivera sob seu poder até então, fora a responsável pelo equilíbrio entre o bem e o mal. Ammy tinha razão. Se Lílian não tivesse ajudado a derrubar os animais, Tiago sabia que ele e Sirius não teriam conseguido vencer sozinhos.



Agora, entretanto, tudo mudara. Tiago não sabia ao certo como, porem a certeza estava ali, deixando-o infeliz e desconfortável. A verdade era que não queria que as coisas mudassem entre Lílian e ele. Não a queria em outro cavalo. Queria mantê-la sob controle , por perto. Bem perto. No dia anterior chegara a pensa na hipótese de Daman Evans não encontra-los, o que os manteria juntos por mais tempo.



E já tomara uma decisão bastante importante: não entregaria Lílian Evans aos cuidados de sir Tom. Tiago a libertaria, é claro, em algum momento futuro. Todavia, ainda não tinha uma data específica em mente.



E agora esses pensamento havia desaparecidos. Tudo mudara.



Eles tiraram as sela, deram água e comida para os cavalos, deixando-os soltos para caminhar um pouco pelos arredores. Nimrod e Meretriz ficaram dentro da fortaleza, ao lado de seus donos, observando os outros animais saírem. Sirius, com a ajuda de Ammy, ajoelhou-se no chão e começou a abrir as sacolas que estavam presas as selas, em busca de algo que lhes pudesse ser útil nos dias seguintes.



Lílian ficou ao lado de Tiago, observando os cavalos se afastarem.



- Será que os homens voltarão para busca-los? – perguntou ela



- Podem ate tentar, pois são animas de grande valos, mas será um pouco difícil sem as sela e rédeas. Esta claro que não tinham preparo nenhum para a batalha. Nimrod sim. Ele odeia o cheiro de sangue, como todos os cavalos, mas não tem medo da morte.



Lílian não disse nada apenas olhava. Depois de alguns instantes os cavalos começaram a desaparece no meio do mato.



- Eles deverão passar a noite por ali, se nenhum perigo aparecer – murmurou Tiago.



- Ou aqueles homens podem voltar – comentou ela, passando as mãos nos braços para se aquecer.



Apesar de a fortaleza estar parcialmente me ruínas, o andar de cima estava em mais conservado , oferecendo-lhes um pouco mais de proteção. Os cavalos permaneceram no térreo, e no andar superior eles ficaram uma fogueira e camas com galhos e capim. Dois ficariam de vigília no telhado, enquanto os outros dormissem. Com as defesas preparadas para o ataque, Tiago acreditava que teria, uma noite sossegada , a salvo. Com apenas uma entrada na fortaleza, ele e Sirius poderiam render quaisquer invasores , porem era pouco provável que tentassem uma nova investida.



Seu maior medo era pelos cavalos, que não podiam ser levados para cima, mas era um risco que teriam de correr. Dificilmente Nimrod e Meretriz seriam roubados, afinal não era uma tarefa simples. Ammy e Lílian tinham tentado e falhado. Um era muito bem treinado para dar atenção a estranhos e o outro, muito malvado.



Pouco antes de o sol se por, os quatro estavam reunido ao redor da lareira exaustos e famintos, comendo e bebendo o pouco que lhes restava. Na verdade, a refeição não era das piores.Pão, queijo, algumas frutas e um pouco de vinho. Depois de terminar de comer, todos estavam bem mais animados.



- Lílian e eu faremos a primeira vigília – disse Tiago levantando-se e vestindo a capa – Tentem dormir. Nós os acordaremos por volta da meia-noite.











Lílian segurava a gola da capa contra o pescoço, tentando proteger-se da brisa fria que soprava. No céu, as estrelas e a lua brilhavam com intensidade, perdendo-se de vez em quando atrás das nuvens escuras que se movimentavam no céu.



- Choverá de manhã – comentou Tiago, encostado a parede olhando para Lílian, segurando a peça de xadrez na mão – O que ela faz além de os olhos brilharem?



- Eles dão a impressão de brilhar – explicou ela suspirando – Trata-se de um tipo de truque.



- Mas não é mágica. É um pouco estranho, pois a cor muda. De vez em quando os olhos da rainha ficam dourado, outras verdes. E agora quase ficaram azuis. São bonitos como os olhos de uma mulher de verdade.



Lílian nunca vira os olhos da peça ficarem azuis, e a curiosidade fez com que ela se aproximasse para examinar melhor. Parou ao lado de Tiago , que segurava a rainha como se fosse um ser vivo.



- Já percebi o que aconteceu – disse ela, rindo – Você a seduziu, como fez com a pedra.



Ele tirou a pedra do bolso da túnica com um movimento rápido e cuidadoso, segurando-a na palma de sua mão estendida ao lado da rainha de xadrez. A pequenina pedra acendeu no mesmo instante, emitindo uma luz suave.



- Parece que ela gosta bastante e mim – brincou Tiago, trazendo o objeto para perto do rosto afim de observa-lo melhor. – Minha doce criatura... Você brilha tanto para mim, não é pequenina?



O brilho da pedra aumentou, como se as faces de uma mulher estivessem enrubescendo.



- Eu jamais testemunhei uma demonstração tão pecaminosa de vaidade em toda a minha vida – disse Lílian com dedem – Não sei como permiti que você me convencesse a deixa-lo cuidar da pedra. É vergonhosa a maneira como você a trata.



- E agora ela brilha só para mim, não é, querida?



- Por que você a trata como se fosse uma mulher?



- Claro que é uma mulher – afirmou ele – Você duvida do meu conhecimento sobre esse assunto?



- Não, de forma alguma – Lílian suspirou – Não tenho a menor duvida sobre sua experiência com o sexo oposto. Nenhum homem na face da terra pode dizer que seduziu uma pedra. E agora uma peça de xadrez.



Tiago ergueu um pouco a rainha, virando-a de um lado para o outro.



- Não, eu não a conquistei com tanta facilidade. O coração dela já tem dono. Talvez o seu tio.



- Você só pode estar louco – disse Lílian – Sim, ela é muito querida por meu tio Culain, mas não é nada alem de um pedaço de madeira. Não há uma vida para se amar.



- Ah – murmurou Tiago, virando a peça para que ela pudesse vê-la – Agora os olhos da rainha estão cinzentos. Cinza- escuro. Não prateados. Você a ofendeu.



Lílian pegou a peça de xadrez e guardou-a no bolso.



- Então vamos deixa-la em paz para que ela possa arquitetar sua vingança. Meu tio só podia estar louco quando a confiou a mim



- A Pedra da Graça deve realmente ser muito importante para sua família, para seu tio ter lhe dado a rainha.



- Sim, é. Nem sei como lhe explicar. Agora a peça de xadrez... Não consigo imaginar meu tio sem ela.



- Então precisamos prega-la de volta de Caswallan assim que conseguirmos a Pedra da Graça.



Lílian ficou boquiaberta.



- Pega-la de volta? – repetiu ela – De Caswallan?



- Sim, pois eu não gostaria de ver seu tio sem a rainha de xadrez. E acredito que ela so ficará contente quando voltar para o lado dele.



Não era possível que Tiago estivesse lhe dizendo o que ela estava entendendo.



- Você decidiu me levar até Gales para encontrar Caswallan? – Lílian colocou a mão no braço dele , quase temendo acreditar na verdade – Eu lhe pago a quantia que você quiser. Bem mais do que sir. Tom lhe ofereceu e....



- Lily – interrompeu ele, segurando-lhe a mão – Eu não quero nenhum dinheiro, e não toque mais nesse assunto a não ser que queira me irritar. Você salvou a minha vida e a de Sirius também.



- Nessa caso, estamos quites. Você salvou a minha vida e a de Ammy. E devo muito a Sirius, pois ele se colocou na frente do que seria a minha morte.



- Se não fosse por mim e Sirius, nenhum de nós estaria neste lugar arriscando nossas vidas. –Tiago olhou para baixo, onde suas mãos se encostavam. – Não, Lily, eu errei ao prende-la a pedido de sim Tom , e errei ainda mais ao usa-a para satisfazer meu desejo de enfrentar seu irmão. Voe não me deve nada. Sou eu que lhe devo.



- Esta abrindo mão de lutar com Daman?



Tiago levantou os olhos, oferecendo-lhe o sorriso ao qual ela já estava se acostumando.



- Não. E mesmo que estivesse, agora já seria tarde demais. Seu irmão viria atrás de mim de qualquer maneira, mesmo que fossemos para Londres neste instante. Não há como evitar o que acontecerá entre mim e Daman.



Irritada, Lílian puxou a mão.



- Suas palavras não fazem o menor sentido. Não seria melhor se você ficasse em paz com meu irmão? Eu não quero vê você morto pelas mãos de Daman. Seria o inicio de uma grande inimizade entre nossas famílias, e eu não quero que isso aconteça.



Tiago riu.



- Minha família de certo sentiria a minha falta, mas é bem pouco provável que comecem uma guerra por minha cau.



- Como pode ter tanta certeza? –desafiou Lílian – Esta claro que, de certa forma, você foi reconhecido pelos seus pais. Foi você mesmo quem me disse.



- Sim, eu tenho muita sorte por ter sido reconhecido por ambos os lados da minha família, mas nada mudará as circunstâncias do meu nascimento. Nem o amor nem laços sanguíneos podem apagar esse pecado e por mais que meus familiares me amem, eles jamais permitiriam que seu sobrenome fosse alvo de tamanha humilhação. E eu nuca consentiria com tal atitude. Isto se, eu estiver vivo para faze-lo. É bem capaz que o seu irmão me despache para outro mundo apesar das minhas tentativas de impedi-lo –Tiago falou as palavras em tom de brincadeira mas Lílian não conseguiu achar graça.



- Duvido que sua família o deserdasse pelas circunstancias do seu nascimento. Muitos dos que nasceram sem tantas posses tornaram-se poderosos e ricos. Olho só para o falecido rei Henrique e seus irmãos, entre eles o duque de Exeter.



- Mas o pai deles, John de Gaunt , casou-se com a amantes e exigiu que todos seus filhos bastardos fossem reconhecidos tanto pela igreja quanto pela coroa. Isso jamais acontecerá comigo. Minha mãe é uma mulher nobre, descendente de uma família numerosa e muito importante, casada comum grande lorde e , a não ser por seu único pecado cometido em um momento de embriaguez, o meu pai, Lorde Potter, é extremamente devotado a esposa aos filhos legítimos.



Lílian notou que Tiago se esforçava para manter o sorriso nos lábios.



- Dentre todas essas pessoas bem-nascidas e confiantes – murmurou ele, baixando os olhos – eu sou o único deslize.



Tiago deu de ombros, como se não se importasse , entretanto o gesto não apagou a dor que Lílian viu em seus olhos e escutou em sua voz.



- São pessoas boas. Eu fui amado e bem tratado, e não tenho nenhum motivo para me queixar. Duvido que qualquer outra criança nascida nas mesmas condições tenha tido tanta sorte. Fui criado com os filhos legítimos do primeiro casamento de minha mãe e também com aqueles que ela deu mais tarde ao meu padrasto. Quando fiquei mais velho, fui morar com meu pai, que me criou junto com seus outros filhos. Eu tive bem mais do que merecia, e retribui levando uma vida desregrada e infrutífera - Tiago respirou fundo e ergueu os olhos para o rosto de Lílian – Tenho motivos de sobra para ser considerado a ovelha negra na minha família. Eles me salvaram de varias situações desastrosas no passado. Não espero que o faça outra vez.



Antes de se dar conta de seus movimentos, Lílian tocou-lhe o rosto.



- Eu os obrigaria a ajuda-lo – disse, envergonhando-se em seguida da declaração. Ela afastou a mão, porem Tiago segurou-a.



- é mesmo Lily?



- Sim – respondeu ela, soltando-se e virando-se para esconder o rubor que lhe cobria a face. O que ele pensaria escutando-a falar assim? Lílian já sabia. Tiago James Potter decerto acharia que ela se apaixonara como acontecia com todas as outras mulheres.



Nervosa, ela deu alguns passos, rente a parede. Para seu alivio , ele não a seguiu. Houve um silencio tenso por alguns instantes. E quando Tiago falou, foi como se estivesse responde as perguntas que a assombravam.



- Minha mãe casou-se pela primeira vez aos treze anos de idade. Ela fora prometida a essa homem desde o momento de seu nascimento, portanto, não podia opinar a respeito. Tratava-se de um lorde importante, bem mais velho do que ela, mas era uma pessoa extremamente boa e generosa. Pelo menos foi o que minha mãe sempre me contou. Ele adotou várias crianças, e ente elas estavam meu padrasto e o primo dele.. que é o meu pai.



A perturbação de Lílian desapareceu no mesmo instante. Com os olhos arregalados ela virou-se para Tiago , que estava encostado a parede alguns passos a frente. Ele tinha os braços cruzado diante do peito musculoso, protegendo-se da brisa fria da noite que fazia a capa esvoaçar. O sorriso sumiu do rosto formoso, tornando-lhe a expressão sombria.



- Eles são primos – murmurou Lílian, sem esconder a surpresa – Como isso é possível?



- Não é comum que parentes sejam criado junto em casas que não sejam as suas – admitiu Tiago –Os dois agiam mais como amigos do que como parente. Minha mãe era mais nova do que eles, e muito bonita. Ela e meu pai eram amigos, mas me padrasto se apaixonou perdidamente por ela. Vários anos se passaram. Minha mãe cumpriu seu dever dando trás filhos ao marido, meu irmão mais velho e duas irmãs, também mais velhas do que eu. Ele respirou fundo antes de continuar. – Meu pai e meu padrasto terminaram o treinamento e foram embora. Meu pai voltou para casa e casou-se com a moça que lhe fora prometida desde a infância, mas meu padrasto recusou-se a casar com a mulher escolhida pela família, alegando que não poderia entregar sua afeição a outra mulher que não fosse a esposa de eu pai de criação. Ele assumiu a administração da propriedade do pai, que um dia seria sua, e então, alguns anos mais tarde, ingressou no exercito e foi para a França servir o rei. Meu pai, que teve três filhos, foi logo depois com seu próprio exercito.



- E sua mãe? – perguntou Lílian, apertando a capa contra o peito para se proteger do vento frio.



- Ela passou os seis aos seguintes a partida do meu padrasto cuidado do marido que ficou doente, bem como da propriedade e dos filhos. Minha mãe tinha acabado de completar vinte e quatro anos quando ele morreu, deixando-a uma viúva muita rica e bonita. Os pretendentes não tardaram a aparecer, implorando para se casar com ela. E ameaçando também.



- Ameaçando? – repetiu Lílian, imaginando todas as implicações possíveis da palavra. Ouvira falar de mulheres forçadas a se casa com homens poderosos e ricos o suficiente para comprar a aprovação do rei a respeito do assunto. Ela arrepiou-se diante da idéia de tudo que a mãe de Tiago deveria ter passada na mão daqueles homens gananciosos.



- Sim, e embora minha mãe fosse uma mulher de muita fibra, ela sentiu necessidade de apoio. Tentou entrar em contrato com meu padrasto, mas descobriu que ele estava na França, então mandou uma carta para meu pai, pedindo-lhe que fosse ajuda-la. Meu pai tinha retornado da França um ano antes por ter se acidentado na batalha. Depois de curado, voltou a administrar sua propriedade, e engravidou mais uma vez sua esposa. Por mais estranho que possa parecer, a criança nasceu e morreu, no mesmo dia em que o marido de minha mãe faleceu.Meu pai abalado com a morte da única filha e de seu pai de criação, estava emocionalmente abalado quando viajou para atender o pedido de minha mãe. Ele jamais poderia ter lhe negado ajuda naquele momento, mesmo se quisesse, pois ela era esposa de seu pai de criação, portanto devia-lhe muito por tantos anos de treinamento.



Lílian imaginava perfeitamente o que tinha acontecido. Uma mulher e um homem tristes com a perda de uma pessoa querida.... buscando conforto onde não o teriam feito em outras circunstancias .



Tiago fez uma pausa e desviou os olhos dos rosto de Lílian, fitando o horizonte.



- Minha mãe e meu pai eram grandes amigos, mas foi um grande erro terem se encontrado em um momento daqueles. Ela estava muito abalada com todo o corrido e ficou extremamente agradecida quando meu pai despachou todos os pretendentes indesejados. E ele, com saudade da esposa e lamentando a perda da filha, passava as noites bebendo para afogar as mágoas. Em uma dessas noites , eles se entregaram um ao outro em busca de conforto. Na manha seguinte, os dois não sabiam o que fazer para se livrar do remorso que sentiam. Na verdade, acho que eles nunca mais teriam se encontrado se minha mãe não tivesse engravidado. Como era de se esperar meu pai partiu o mais depressa possível, e só mais tarde, através de uma carta enviada por minha mãe, ele descobriu o terrível fato de minha existência .



- Não fale assim! – exclamou Lílian, incapaz de conter as lagrimas que lhe inundaram os olhos – Não foi terrível! Não admitirei que você, nem qualquer outra pessoa fale assim!



- Mas é a realidade , minha cara Lílian – disse ele, ainda sem lhe dirigir o olhar – A dura realidade. Imagine a situação constrangedora de minha mãe por ter cometido um adultério tão grave. Na verdade, ela poderia ter mentido e dito que eu era filho de seu falecido marido, porém todos duvidariam que um homem doente fosse capaz de conceber um filho naquelas condições.



- Seu pai mostrou muita honra ao reconhece-lo como filho –afirmou ela – Foi uma atitude bastante arriscada, que poderia lhe traze conseqüências indesejáveis.



Tiago suspirou e assentiu.



- Sim, é verdade, ainda mais pela devoção que a esposa lhe dedicava. Eles foram e ainda são um casal completamente apaixonado. A sorte é que minha madrasta sempre foi uma mulher muito compreensiva. –Por fim Tiago olhou Lílian, lançando-lhe um sorriso tímido – Eu sou rodeado pela bondade e pela compreensão da minha família. Houve momentos em que eu quase enlouqueci.



Lílian sabia o que ele queria dizer com aquelas palavras. Ela também se sentia uma estranha entre seus parentes, porem todos lhe demonstravam muito amor e carinho para que ela fizesse qualquer tipo de queixa.



- E o que seu pai fez quando recebeu a carta de sua mãe?



- Na verdade, ele não pode fazer muito por ela. Meu padrasto soube da morte de seu pai de criação e voltou depressa para Inglaterra, na esperança de conseguir casar-se com minha mãe.



- E ele se aborreceu quando a encontrou grávida?



Tiago deu uma sonora risada.



- Não, mas estava pronto para matar o próprio primo, meu pai. Quanto a minha mãe, não. Ele a amava demais para ficar bravo. Ele a pediu em casamento e disse que me daria seu sobrenome e me trataria como um verdadeiro filho. Só que minha mãe é uma mulher extremamente orgulhosa e teimosa. Como você, creio eu.



- Como assim? –perguntou ela, franzindo a testa.



- Ela não entregaria facilmente seu coração a qualquer homem, como você . Você entregaria Lilian?



- Não, acho que não – respondeu ela, apesar de não ter certeza absoluta. A grande verdade era que seu coração já não lhe pertencia mais. Já o entregara àquele homem. Sem pensar duas vezes. Sem tentar controlar seus sentimentos.



Tiago deixou os braços pender para os lados.



- Minha mãe não amava meu padrasto da mesma maneira que ele a amava, e não foi nada fácil convence-la a se casar apenas por minha causa. Como uma mulher de extrema coragem, ela estava disposta a enfrentar a ira da igreja e da coroa, certa de que meu pai não a deixaria sozinha em um momento como aquele. E foi exatamente o que aconteceu. Ele lhe garantiu que me reconheceria como filho e que me daria seu sobrenome. Mesmo assim, minha mãe poderia passar por grande vergonha, e até ser punida, por ter concebido um filho bastardo tão pouco tempo após a morte do marido. A sorte foi que meu padrasto conseguiu persuadi-la a se casar com ele, o que lê garantiu proteção.



- E ela chegou a se apaixonar?



- Graças a deus – respondeu Tiago, enfático – Ela nunca tinha amado antes, amado de verdade, apesar de ter um carinho muito grande pelo primeiro marido. E quando se apaixonou... foi algo avassalador. Entretanto, esse amor não aconteceu logo. Eu devia ter uns cinco anos quando notei a mudança. Posso dizer que os esforços e paciência do meu padrasto não foram em vão. É um dádiva conquista o amor de uma mulher como minha mãe. Ou como você.



Lílian enrubesceu novamente, mas a escuridão da noite escondeu sua perturbação. Tiago também tinha o olhar distante perdido no horizonte.



- Eu não sou tão perfeita quanto sua mãe deve ser – disse com a voz tremula.



- Bem mais do que você imagina – falou Tiago, olhando-a. – E a prova disso é que eu nunca contei essa historia para ninguém. Nem mesmo para Sirius.



Afastando-se da parede, Tiago caminhou na direção dela com passos lento, determinado. Lílian tentou se mover, mas sentiu as pedras contra suas costas. Ele parou na frente dela, sem toca-la, porem tão perto que o calor do corpo másculo a contagiou.



- Tudo mudou entre nós Lily- murmurou Tiago – Você não é mais minha prisioneira.



Devagar, ele ergueu a mão, acariciando-lhe o rosto frio com seus dedos quentes, um toque tão delicado e suave que Lílian suspirou de prazer. Nunca fora tocada pó rum homem antes, não assim. Seu coração palpitava aceleradamente a medida que as caricias de Tiago continuavam.



- Eu prometi que não faria isso.... que não me permitiria ter sentimentos por você... Todavia, pela primeira vez na vida, não sei como me controlar.



Lílian engoliu em seco, esticando o braço para segurar a mão que estavas prestes a tocar-lhe os cabelos.



- Por favor, não – implorou ela, envergonhada por sua fraqueza – Faz alguns dias que você não tem companhia de uma mulher, por isso alguém tão sem graça como eu lhe arai. Por favor Tiago.... Não me torne o alvo de suas brincadeiras. Sei perfeitamente que não sou o tipo de mulher que o atrai. E jamais poderia ser – A voz de Lílian tremia e ela sabia que estava a ponto de chorar. Tomada pela humilhação fechou os olhos.



- é isso que você pensa de mim? – perguntou ele, interrompendo os carinhos no mesmo instante – Que eu teria coragem de usa-la para satisfazer meus desejos?



Tiago afastou-se e voltou para perto da parede, apoiando as mãos nas pedras frias.



- Sim, só pode ser isso. E por que seria diferente? Afinal de contar , eu a capturei e a tornei minha prisioneira. Todas a minhas atitudes servem para demonstrar o tipo de homem e que eu sou. E até a pior delas seria verdadeira. Por Deus – Ele se endireitou, passando as mãos nos cabeços desgrenhados. Então virou-se para Lílian outra vez – Agora você, Lílian... como pode se desprezar dessa maneira? Você é uma mulher mais que desejável.



- Claro que sou –zombou ela, com um riso choros. Lílian abriu as mãos ao lado do corpo – Olhe bem para mim. Olhe como sou atraente e feminina. Não faltam pretendentes para pedir minha mãe em casamento – Ela cerrou os dentes e fechou os punhos, levando-os ao estomago. Em seguida sentiu as mãos de Tiago envolvendo-lhe os ombros, puxando-a para perto de seu corpo quente e forte.



- Ah Lílian – murmurou Tiago, aninhando-a em seus braços – Se eu tivesse coragem... eu lhe provaria a veracidade das minhas palavras.



De repente, ele levantou a cabeça e seus braços penderam.



- Eles chegaram.



Lílian fungou e enxugou os olhos, virando-se para onde Tiago apontava, próximo ao celeiro.



- Você esta vendo?



- Onde? – perguntou ela, aproximando-se. – Sim, Ah.... estou vendo.



Os dois homens que se salvaram tinham voltado para buscar os corpos dos companheiro mortos, como Tiago previra. Tinham apenas dois cavalo, e colocavam dois corpos em cada uma das selas. Minutos depois, eles desapareceram de volta na floresta.



Lílian soltou a respiração e tentou acalmar os nervos.



- Será que eles voltarão depois de enterrarem os amigos?



- Acho pouco provável. Somo quatro contra dois, e eles já sofreram bastante em um dia. Depois de enterrar os corpos, eles seguirão por estradas mais calmas. E evitarão encontrar sim Tom como se ele fosse um leproso.



Lílian o encarou com preocupação.



- Se não receber noticias de seus homens dizendo que estamos mortos, sir Tom poderá mandar mais alguém atrás de nós. Ele fará de tudo para evitar que eu recupere a Pedra da Graça.



- Então ele terá de se esforçar muito, pois você a terá de volta, e logo. Mas não tenha medo de sir Thomas. Eu cuidarei dele – jurou Tiago – Por ora, vamos nos concentrar em seguir até Gales, em busca de Cawallan. Partiremos quando o dia amanhecer.



- Ah, Tiago, estou tão contente....



- Ainda é cedo para comemorar. Teremos um longo dia de viagem, depois outro mais. Amanhã a noite, porem teremos cama quente, comida gostosa e um teto decente sobre nossas cabeças.



- Aonde iremos? – perguntou Lílian, sem poder acreditar naquelas palavras. Nenhuma das tavernas nas quais tinham se hospedado se aproximava daquele luxo.



- Vou leva-la para casa de uma das minhas irmãs, que fica a um dia de cavalgada daqui. Não é caminho para Gales, mas perto o suficiente para que possamos fazer o desvio Você e Ammy se alegrarão com a companhia e conforto a que estão acostumadas, mesmo que por pouco tempo.



- Mas o que sua irmã achará de nos receber assim, tão de repente?



- O de sempre eu diria. Que o irmão é um andarilho que não se dá ao luxo de avisar sua chagada – Tiago riu ao ver a expressão de espanto no rosto de Lílian – Não tenha medo senhorita.Nathália ficará mais do que contente com a nossa visita. E vocês se entenderão muito bem. Na realidade, antes de nossa estada em Hammergate terminar, você ficara surpresa ao imaginar que ela e eu tenhamos algum tipo de parentesco.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.