Capitulo 21



Capitulo 21:

Como poderia dizer não? Mesmo sabendo perfeitamente que não servia para ser senhor de coisa alguma, a tentação de ter Lilian era irresistível demais para um homem naquele estado: fraco, desesperado e desejando-a com todas suas forças.
E então Thiago concordou em ser o lorde Potter dos Evans, o senhor prometido da família. Também aceitou dar o sobrenome da família aos filhos que teriam, assim como o seu próprio em homenagem ao pai.
Para si mesmo, ele prometeu que faria tudo que estivesse ao seu alcance para cumprir o papel que lhe haviam designado. E Deus o ajudaria nessa missão. O resto, aconselhou Albus, ficaria nas mãos capazes de Lilian.
Pelo que podia dizer, Thiago tinha a impressão de que os tios e tias de Lilian queriam que ele fosse encantador e charmoso. E como era um assunto que dominava, não estava sendo nem um pouco difícil agradá-los. Estava sendo ele mesmo, e todos o adoravam, em especial as tias Ariana Mim e Laverna Wynne. As duas o escoltavam de um lado para o outro por Metolius, uma de cada lado, nos jardins, no grande salão, na sala de jantar. Já tinham inclusive ido algumas vezes à missa na Igreja St. Paul.
Ariana e Laverna apresentaram-lhe a caixa especial, o que intrigou e preocupou Thiago. Vendo os vários objetos que surgiam cada vez que a caixa era aberta, ele compreendeu a preocupação de Lilian em manter a família afastada de olhares mais curiosos. Qualquer pessoa que visse aquela caixa e a alegria das duas senhoras concluiria, sem a menor sombra de dúvida, que se tratava de bruxaria, e as levaria para a fogueira mais próxima.
Depois de muita insistência de ambas, Thiago abriu a caixa. Uma chave velha e muito antiga apareceu. Ari arregalou os olhos e abafou um gritinho histérico, e Laverna desmaiou na hora. Diante da reação das senhoras, ele recolocou a chave na caixa e fechou-a bem depressa. Foi o suficiente para Ariana também desmaiar.
Assim que voltaram a si, elas logo quiseram abrir a caixa. Ariana Mim pegou um brinquedo de criança, feito de ferro. A colher de prata que Laverna Wynne tirou também as desapontou.
— Sinto muito — desculpou-se Thiago. — Eu não sabia se vocês queriam ou não a chave, pois percebi que as duas ficaram muito incomodadas. E agora vejo que estão aborrecidas com o sumiço da chave. Deixe-me tentar abrir a caixa outra vez.
— Não adianta — respondeu Ariana. — Ela só aparece uma vez a cada cem anos e…
Thiago abriu a caixa e lá estava a chave.
— Olhem aqui — disse ele, pegando-a e colocando-a nas mãos ansiosas das duas senhoras. — Acho que a chave aparece várias vezes ao dia, uma vez a cada cem anos. Hoje deve ser esse dia. O que ela abre?
Levando em consideração a reação causada pela aparição da chave, Thiago não se espantou com o fato de ninguém, nem mesmo Alvo se lembrar para que, exatamente ela servia. Sabia apenas que várias gerações de Evans a tinham procurado sem sucesso, até aquele dia. Portanto, concluiu ele, aquele era mais uma das lendas daquela curiosa família.
Depois de uma longa discussão, que terminou com a decisão de guardá-la na caixa, a chave desapareceu. Por um tempo. Todas as vezes que Thiago abria a tampa, a chave estava lá. Dia após dia. Sempre ali, mas apenas para ele. As tias se encantavam, porém ele preferia descobrir algo mais interessante.
A srta. Petúnia aparecia ao final das tardes, pois costumava dormir até tarde. Era educada com Thiago e seus parentes, sempre disposta a conversar ou auxiliar os criados, mas passava grande parte do tempo distante.
Petúnia cuidara de grande parte dos negócios da família durante a ausência de Lilian, e passava a maior parte da tarde em Londres, conversando com banqueiros, mercadores e capitães dos vários navios dos Evans. Estava sempre vestida de preto, sempre parecia entediada e sempre desaparecia quando a noite chegava. O fato parecia não incomodar nenhum dos parentes, porém a curiosidade de Thiago foi aguçada, principalmente diante das aparições de um gato preto de olhos verdes que surgia de repente ao cair da noite e perambulava pela casa na escuridão. Durante o dia, não havia sinal do animal. Ele tinha suas suspeitas, mas havia alguns assuntos que estavam além de seu conhecimento, portanto, não se atinha muito a eles. Também ficava o mais longe possível do gato, pois todo seu corpo se arrepiava só de olhar para o bichano.
Quando não estava ocupado acompanhando as senhoras, James passava horas e horas jogando xadrez com tio Abe Culain, reservando sempre um lugar de honra ao lado do tabuleiro para a rainha. Ela nunca lhe parecera tão contente por receber tamanha atenção, apesar de todo o absurdo da situação.
De vez em quando, Thiago também tentava ajudar Alvo em suas experiências no porão, tarefa que adorava, em especial quando aprendia a criar explosões. Mais de uma vez os dois desceram as escadas cobertos de pó, rindo sem parar e muito contentes com seus feitos. Alvo acreditava que o jovem levava jeito para a arte da magia, mas o avisou que Lilian ficaria possessa se colocassem fogo em qualquer parte da casa.
James, que ficava mais impaciente a cada dia que passava, não estava preocupado com a reação de Glenys, apenas queria vê-la novamente e assegurar-se de que ainda o amava. Não que estivesse infeliz em Metolius; longe disso. Era mimado, paparicado e tratado como um príncipe por todos, até mesmo por John e Willem, que o tinham perdoado, bem como a Sirius Black, pelo ocorrido. Todavia, por mais agradável que fosse, faltava algo. Queria saber como sua amada estava, a reação de Daman, se depois de tudo Lilian ainda queria estar ao seu lado.
— Quando Lilian virá? — perguntou ele, olhando pela janela do grande salão em um final de tarde. — Algo deve ter dado errado para ela estar demorando tanto.
Alvo afagou-lhe o ombro com sua mão enrugada.
— Ela voltará logo, meu filho. Não se preocupe tanto assim. Além do mais, quanto mais tempo Lilian ficar fora, mais delicioso será o reencontro de vocês.
— Gostaria que o tempo fosse mais generoso comigo — resmungou ele, suspirando.
Dois dias mais tarde começaram a chegar cavaleiros em Metolius, deixando Ariana Mim e Laverna Wynne em alvoroço. Havia uma grande quantidade de convidados chegando, elas contaram, porém ninguém sabia precisar quem eram, nem quantos.
A srta. Petúnia recebeu a notícia e não fez nenhum comentário a respeito. Tratou apenas de acalmar as tias e de dar ordens para os criados.
Thiago, por sua vez, tentava manter-se distante para não atrapalhar, e passava as tardes caminhando pelo pátio e olhando para o portão, ou parado à janela do grande salão, observando e esperando. Era grande a tentação de escapar de Metolius na calada da noite e correr para um de seus antigos refúgios em Londres, o tipo de lugar onde se podia comprar e vender informações. Decerto alguns dos sujeitos que freqüentavam lugares daquele tipo teriam escutado, durante suas viagens, algo sobre Lilian ou, mais provável, sobre Sirius. Entretanto, ele decidiu não colocar seu plano em ação. Seria uma desfeita para com a família Evans arrumar qualquer tipo de problema. Além disso, tinha plena certeza de que o misterioso gato o seguiria, o que não queria de forma alguma, um sentimento que lhe deixava um peso na consciência.
Quando Lilian finalmente apareceu, foi tão de repente, que Thiago não conseguiu sair de perto da janela. Ela chegou montada em Nimrod, galopando pelo pátio, com os cabelos soltos. Sua expressão exalava alegria e exuberância. Ao descer do cavalo, dispensou a ajuda dos criados e saiu correndo para as escadarias.

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