Na tequila e na cerveja



Lily Evans terminou de calçar os sapatos e deu uma olhada para sua imagem no espelho de corpo inteiro. Gostou do que viu: os olhos verdes cintilavam sob a maquiagem escura e os cabelos ruivos contrastavam pesadamente com o vestido claro de paetês, que brilhavam cada vez que a luz incidia sobre eles.


Sorriu. Aquela noite prometia, ela sabia disso.


- Você está pronta? – perguntou Marlene McKinnon, sua melhor amiga, irrompendo pelo quarto. – Nossa, você está deslumbrante!


- Obrigada, você está linda também. – Lily agradeceu com um sorriso, admirando-a. Usava um tubinho preto rendado e os cabelos presos num rabo de cavalo, deixando o rosto bonito completamente à mostra.


- Eu acho que hoje teremos uma noite divertida.


- Teremos, sim. – respondeu Lily, pegando a bolsinha tira-colo. - Precisamos sair mesmo, ou acabaríamos explodindo. Esqueceram de avisar ao Frank que a Inglaterra aboliu a escravidão no século XIX.


- Frank... o que falta na vida dele é uma mulher. Se ele tivesse uma namorada, duvido que fosse tão viciado em trabalho. Mas ele é um bom chefe, sempre nos tratou muito bem. – Marlene pegou a própria bolsa e conferiu se estava tudo certo. – De qualquer forma, eu gosto dele. Hm, batom, bala de menta, dinheiro, identidade, celular, camisinha...


- Marlene!


- O quê? Ah, não se faça de puritana, Lily. É sempre bom estar preparada para emergências. Nós nunca sabemos quem podemos encontrar. – abriu a gaveta da cômoda de Lily, pegou um preservativo e jogou para ela. – Leve também, melhor prevenir do que remediar.


- Eu não vou precisar, mas tudo bem. – olhou o relógio. – Vamos, o táxi deve estar chegando e, daqui a pouco, Emmeline vai começar a ligar perguntando onde estamos.


- Odeio a pontualidade dela. – resmungou Marlene.


- Você odeia várias coisas na Emmeline.


- Verdade. A língua maior do que a boca, a voz afetada, o desespero quando se trata de homens, a carência... mas só isso. Eu gosto dela.


Lily soltou uma gargalhada, concordando.


- É por isso que os homens sempre dizem que as mulheres são falsas e não prezam a amizade. – disse.


- Isso é ridículo. Eu nunca falei de você pelas costas.


- Você fala na minha cara mesmo.


- Exato. E isso é amizade verdadeira. – as duas saíram para a rua movimentada e entraram no táxi que as esperava. – Blue Night, por favor. – Marlene acrescentou para o motorista.


Chegaram ao seu destino, pagaram a corrida e contemplaram a fachada iluminada da boate. Vida pulsava lá dentro e as paredes do prédio pareciam tremer com a batida da música. Lily fez uma nota mental de agradecer à Alice por ter resolvido comemorar seu aniversário no melhor clube noturno da cidade. Era exatamente do que ela precisava: uma noite em que sua única preocupação fosse a quantidade de drinques que desceriam pela sua garganta. Faria questão de que sua sexta-feira fosse apenas sobre isso. Nenhum problema, só festa.


Ela e Marlene encontraram Alice, Emmeline e mais alguns colegas do trabalho na fila e a comemoração começou ali mesmo. Puxaram Alice num abraço triplo e lhe desejaram parabéns, praticamente gritando para se fazerem ouvir por causa da música alta que atravessava as paredes da boate.


- Somos apenas nós ou precisamos esperar mais alguém? – Lily perguntou.


- Ainda vem mais algumas pessoas, mas elas ainda não chegaram e nós não vamos esperar. Eu não quero perder tempo de festa. – disse Alice, com um sorriso. – Sabem por quê?


- Por quê?


- Hoje é open bar.


- Meu Deus, é hoje que eu saio carregada daqui. – Marlene afirmou e a maioria deles concordou com ela.


- E vocês viram quantos homens lindos tem aqui? – disse Emmeline, o radar de homens ligado na freqüência mais alta. Marlene e Lily se entreolharam e soltaram uma risadinha.


- Emme, espere até estar suficientemente bêbada antes de se jogar para cima de alguém. – disse Lily. – Porque, por via das dúvidas, a culpa é sempre da bebida.


- Meu amor, você quer ensinar o padre a rezar missa? – Emmeline respondeu com um sorriso debochado, jogando os cabelos loiros para trás.


Finalmente, a fila foi liberada e eles puderam entrar. A Blue Night era um ambiente luxuoso, com pequenos lounges, um deles rapidamente ocupado pelo grupo, espalhados por dois dos três andares, duas pistas de danças e três bares. O terceiro andar era onde ficavam a área vip e os quartos usados pelos clientes que quisessem estender a noite. Os olhos de Marlene brilharam quando ela fez essa descoberta.


A primeira coisa que eles trataram de providenciar foi um pedido especial. Enquanto Emmeline subia no espaço que o DJ ocupava e murmurava algo em seu ouvido, Marlene foi até o bar. Quando elas se reuniram aos outros na pista de dança novamente, o DJ anunciou em meio à música:


- Feliz aniversário, Alice Stewart! Seus amigos lhe desejam uma noite sensacional! Aqui está o presente da casa! – todos eles gritaram quando um garçom muito habilidoso passou por entre as pessoas na pista e depositou na mesa diante deles uma bandeja cheia de copinhos, limões, saleiros e uma garrafa de José Cuervo.


- Presente da casa uma ova! – gritou Marlene. – Hoje é open bar.


- Não interessa, Marlene, é bebida decente de graça. – disse Lily, ajudando a encher os copinhos. Distribuiu-os aos amigos e cada um pegou uma fatia de limão. – Todos servidos? – eles concordaram. – Ok, um brinde à Alice!


- Alice! – gritaram todos eles. Porém, antes de beberem, entoaram em uníssono. – Na alegria e na tristeza, na tequila e na cerveja, até que a morte nos separe, amém! – e viraram seus shots. A tequila desceu queimando a garganta de Lily, que enfiou o limão na boca e depois lambeu o sal do dorso da mão.


Definitivamente, aquela noite prometia. E estava apenas começando.


Um shot de tequila. Dois shots de tequila. Três shots de tequila. Quatro... cinco... seis... sete. Tudo não passava de um borrão, nada fazia sentido e já não sabia a diferença entre realidade e imaginação. Lily não estava nada bem. Na verdade, “bem” era uma palavra que não fazia mais parte do seu vocabulário. Ela não sabia mais o que estava fazendo e nenhum dos amigos estava muito melhor.


Estava na pista, rodeada de pessoas, dançando de se acabar. Se estava sozinha ou acompanhada de algum dos amigos, não tinha a menor ideia, mas estava se divertindo. De repente, ela sentiu um par de mãos fortes envolver sua cintura. Mesmo bêbada, ela retesou o corpo e tentou se desvencilhar do homem que a segurava, mas ele apenas aumentou a força do aperto e tentou virá-la de frente para ele. Arregalou os olhos, meio em pânico porque estava muito fraca para se soltar, tentando chamar a atenção de alguém. Então, sabe-se lá surgida de onde, ela ouviu uma voz:


- Ei, cara, solte a minha namorada. – Lily virou o corpo, tentando ver seu salvador. Era alto e parecia forte. Não sabia quem era aquele homem ou se podia confiar nele, mas algo em sua voz a deixou tranqüila. – Agora!


- Namorada, é? – desdenhou o que a segurava. Provavelmente, não era idiota porque percebeu que havia algo estranho ali. Com uma risada debochada, ele soltou Lily e a jogou para cima do desconhecido, que a amparou. – Prove.


- Quantos anos acha que temos? Não precisamos provar nada, amigão. – o desconhecido disse, passando o braço, protetoramente, pelos ombros de Lily. Ela se aconchegou a ele, sem conseguir resistir. – Agora, suma daqui.


O brutamontes, como Lily o apelidou em sua mente, sorriu e agarrou o pulso dela.


- Acho que não. – disse e começou a puxá-la. Com medo, porque ele era muito mais forte do que ela, Lily tentou se soltar, agarrando-se ao braço do desconhecido.


- Me solte! Me solte agora! – ela gritou. – Está me machucando! – mas ele não a atendeu.


Irritado, o desconhecido armou um soco e acertou com tudo no queixo do brutamontes, que, desequilibrado, acabou soltando Lily. Antes que ele pudesse se reerguer, o desconhecido puxou Lily pela boate e abriu uma porta que ela não tinha visto antes. O ar fresco da noite a atingiu como um balde de água gelada.


- O que é esse lugar? – perguntou com a voz enrolada, sentando-se na tampa de uma caçamba de lixo.


- Os fundos da boate, nada muito especial. – ele respondeu.


- Percebi. – riu Lily. Olhou para ele e desejou poder vê-lo com clareza, mas, depois de quase dez shots de tequila, isso era quase impossível. Aliás, estava começando a ficar enjoada. Mesmo assim, deu um sorriso de agradecimento para ele. – Obrigada por ter me ajudado lá dentro, foi muito gentil.


- Não tem problema. Eu precisava mesmo conferir se minhas aulas de boxe estão dando resultado e, quando eu vi seu olhar de pânico quando ele te agarrou, achei que seria a oportunidade perfeita.


- De qualquer forma, obrigada. Você me salvou. – ela disse quando ele sentou-se ao lado dela na tampa da caçamba. Aproximou-se dele. – Que coisa ridícula... além de tentar me agarrar, ainda mandou que nós provássemos que éramos namorados.


- É, mas não seria sacrifício nenhum provar isso a ele. – o desconhecido disse, sorrindo calmamente para Lily, como se estivesse comentando do tempo.


- Absolutamente nenhum sacrifício. – ela concordou no mesmo tom de voz, aproximando o rosto do dele. Mesmo de muito perto, a vista dela ainda estava embaçada e ela só via bem os olhos castanhos dele. Franziu a sobrancelha e apertou os olhos, tentando vê-lo melhor.


- Está tudo bem? – ele perguntou, seu hálito de vodca batendo no rosto dela.


- Estou. Só queria não ter bebido tanta tequila, porque gostaria muito de me lembrar disso amanhã quando acordar. – respondeu e o beijou. Ele correspondeu com entusiasmo, agarrando-a pela cintura.


Lily nunca fora beijada daquele jeito antes. Estava descobrindo sensações novas, que sabia não serem resultado da bebedeira: pernas bambas, coração a mil, palmas suadas, pensamentos enevoados... e que diabos eram aqueles sinos badalando dentro da cabeça dela?


Decidiu ignorar aquilo por um momento, mais preocupada em se agarrar o máximo possível ao desconhecido. Beijaram-se desesperadamente por algum tempo, mas Lily não queria se separar dele nem para recuperar o fôlego. Lembrando-se de Marlene, ela tateou a bolsinha e a abriu, pegando o preservativo. Ainda sem descolar os lábios, começou a desabotoar o cinto dele. Porém, quando chegou ao botão da calça, ele colocou a mão sobre a dela, interrompendo-a.


- O quê? – ela perguntou, desapontada.


Ele sorriu, embaraçado.


- Eu sou um bom garoto, fui criado para sempre tratar bem as mulheres. – Lily olhou para ele sem entender, o cérebro lento. – Por mais que eu queira e, acredite, eu quero, não vou fazer isso. Mal nos conhecemos, você está bêbada e, provavelmente, acordaria arrependida.


Lily, ao invés de ficar decepcionada ou irritada como ele achou que ficaria, sorriu, absolutamente derretida. Ela gostava dele.


- Isso é... inesperado. – ela disse, com um sorriso idiota. Não sabia se era porque ainda estava bêbada ou se era ele que causava esse efeito. O desconhecido deu uma risadinha sem graça. Lily guardou o preservativo e colocou a mão sobre a dele, dando um apertão carinhoso. – Mas muito, muito, muito fofo. Não é sempre que um cara é atencioso assim. Gostei de você.


- É, eu causo esse efeito nas mulheres.


- Ah, entendi. Esse é seu artifício para levar as mulheres para a cama.


- Eu quase te levei para a cama sem usar artifício algum. – ele argumentou. Lily riu.


- Touché.


Definitivamente, ela gostava dele.


- Bom, eu sei o que disse, mas não significa que a gente precisa parar. – disse ele. – Não sei se vou conseguir manter minhas mãos longe de você.


Lily sorriu e voltou a se aproximar dele.


- Não pense que eu sou fácil, como é muito provável que esteja pensando, mas fique à vontade. – e ele avançou para beijá-la novamente.


Eles não sabiam quanto tempo ficaram ali se beijando, mas sabiam que era bastante. Lily achava que estava melhorando e que poderia finalmente visualizar todo aquele homem maravilhoso que estava ali com ela quando seu celular tocou alto dentro da bolsa. Bufando irritada pela interrupção, pegou o telefone e checou o número. Suspirou.


- O que é, Marlene? Não, eu não sumi... não, espera! Marlene, eu estou nos fundos da boate, aonde colocam o lixo. É claro que eu estou acompanhada, por que mais eu estaria aqui fora? Não quero saber se a Alice está viva ou morta, é aniversário dela, deixe-a comemorar! Não, não vou embora, Marlene. Tchau! – disse e fechou o celular. Voltou-se para o acompanhante desconhecido novamente – Então, aonde estávamos?


Tentaram retomar de onde pararam, mas, em menos de cinco minutos, a porta dos fundos se abriu, revelando uma Marlene bastante irritada.


- Não quero saber se você quer ir ou não embora. Nós estamos indo! Alice tem que ir ao hospital tomar glicose! – praticamente gritou, agarrando Lily pelo braço sem sequer pedir desculpas pela intromissão ou olhar para o homem ali parado.


- Marlene! Marlene, espere! – Lily fez força para o outro lado, tentando se segurar ao desconhecido como fizera horas antes quando o brutamontes tentou agarrá-la. Mas Marlene sóbria, como Lily percebeu naquele momento, era muito mais forte do que ela bêbada, e continuou a puxá-la. – Está legal! Espere um segundo.


Lily, ainda presa à amiga, se esticou e tascou um beijo no desconhecido. Quando começaram a aprofundá-lo, foram separados bruscamente pelo puxão que Marlene deu no braço de Lily.


- Tchau! – gritou, enquanto era dragada para dentro da boate. As duas se embrenharam pela multidão e chegaram à porta de entrada, onde estava o resto do grupo. Alice estava sendo amparada por dois rapazes, completamente embriagada. Lily entendeu o que Marlene quis dizer: se demorassem mais ali, Alice acabaria num coma alcoólico. Enquanto entravam no taxi, Lily deu uma última olhada para a fachada da boate, lembrando-se do desconhecido.


Espera, ela pensou, desconhecido?


- Ah, merda! Merda, merda, merda!


- O que foi? – perguntou Marlene, empurrando-a para dentro do taxi.


Ela fez uma expressão desolada e choramingou.


- Não perguntei o nome dele!


- Ah, e daí? Você nunca mais vai vê-lo de novo.


- Não, Lene, é sério, é diferente...


Mas Marlene não queria ouvir. Empurrou-a com força para o banco traseiro.


- Cala a boca, Lily. Temos que ir ao hospital!


Num misto de resignação e ódio, ela entrou no taxi e fechou os olhos, tentando se recordar do desconhecido que a tratara tão bem naquela noite.


Quem seria aquele homem?

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N/A: Oi oi oi! Primeiro capítulo postado, galero! Espero que gostem :) Comentem, ok? Beijos,
Liv 

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Comentários (2)

  • hell yeah

    AMEEEEEEEEEEEEEI! sério, muito engraçado ver a lily desse jeito, bebendo desse tanto hahahaha e o desconhecido... ai, eu estava precisando encontrar um desses viu? haha

    2011-09-24
  • mariana radcliffe

    aeeee lily doidona, quase 10 shots, essa é potente hahaha, o ~desconhecido~ muito fofo, apesar de que levar a menina pra onde fica o lixo não seja muito romantico né. mas ok, ela tava bebaça mesmo hehe. véi, dá um soco na marlene, porque ela não encheu a cara tambem e deixou a lily pra sempre lá com o moço? se a alice entrasse em coma alcoolico de lá ela não passava (ando prestando atenção nas aulas de quimica). agora vamos lá torcer pra lily achar o macho da vida dela uhul

    2011-08-14
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