Capitulo Único.



Aconselho que leiam escutando a música "Why" da Avril Lavigne, já que a fic foi escrita inspirada nessa musica. Sem mais delongas.....

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Capitulo Único – Na Toca.


 


 


Por Vick:


 


- Você deveria falar com ele, Vic. – Kathy me disse pela milésima vez naquele dia.


- Não. Não vou falar com ele. – eu disse relutante largando o garfo em cima do meu prato, que fez um barulho desnecessário.


- Você é insuportavelmente teimosa, Victoire. – Katherine reclamou irritada.


 Eu olhei para ela indignada, sem acreditar nas palavras dela. Era obvio que ela ficaria do lado dele, ela sempre ficava do lado dele. Extremamente irritante.


- Ele deveria ter acreditado em mim. – eu disse me levantando com raiva da mesa do jantar.


 Algumas pessoas que estavam perto de nós ficaram me encarando enquanto eu saía enfurecida do Salão Principal. Era realmente um grande bosta de dragão! Era ridículo, extremamente ridículo Ted preferir acreditar naquela vaca da Nathalie ao invés de acreditar em mim.


 Eu estava quase atravessando a porta quando choquei com alguém.  Olhei para a pessoa e ergui arrogantemente uma sobrancelha. Ted me olhou com uma mescla de tristeza e indiferença que me machucou.  Phillip que estava ao seu lado, bufou impacientemente.


- Sai da minha frente, Lupin, estou indo encontrar com o Johnny – eu disse maldosamente.


  Os olhos de Ted ficaram instantaneamente mais escuros, mas ele não deixou se abater.


- Bem típico de você, Victoire. – ele disse, a indiferença em sua voz parecia apunhalar meu peito. – Agir como se os outros não tivessem sentimentos. – ele me olhou de maneira fria. – Não sei como pude me envolver com você. Você me fez de idiota! – completou muito baixo.


 Ele passou por mim, fazendo questão de esbarrar em meu ombro. Eu não tive nem tempo de pensar em uma resposta a altura de tão chocada que eu estava. Eu olhei por sobre o ombro, reprimindo às lagrimas a tempo de ver Phill gesticulando com ele. Eu tinha esquecido completamente da presença de Kathy até senti-la tocando levemente meu baço.


- Você está bem, Vic? – ela me perguntou, cautelosa.


- Estou bem. – eu disse estranhamente ofegante. – Eu só... eu só preciso...


 Não terminei a frase, saí correndo pelo corredor até sentir o vento frio bater cortante em meu rosto. Corri até o a margem do Lago Negro, e me deixei cair de joelhos na neve. Curvei meu corpo para frente, incapaz de segurar o choro que rasgava minha garganta. As lágrimas corriam por meu rosto geladas, cortantes.


 Meu corpo tremia, mas eu não sabia dizer se era de frio ou se era por causa do choro desesperado. Eu agarrei meus cabelos, tentando me causar dor, mas parecia ser insignificante em comparação ao que meu coração sentia naquele momento. As palavras frias e secas de Teddy ainda ecoavam em minha cabeça. Eu tremi mais, lágrimas incessantes banhavam meu rosto.


 Eu estava fraca, incapaz de continuar ali, de joelhos na neve, sozinha, mas também incapaz de voltar para o conforto do castelo. Eu me deitei no chão, sentindo o gelo molhar minha roupa, mas não me importei, sinceramente não me importei. Continuei ali, de olhos fechados, sentindo a ardência em minhas bochechas molhadas, os tremores violentos do meu corpo.


- Vic? – escutei uma voz assustada me chama, mas ignorei. – Vic! – ela parecia mais urgente.


A pessoa derrapou ao meu lado, me sacudindo pelos ombros. Muito pesadamente e fazendo um esforço sobrenatural, eu abri meus olhos. Cega. Senti-me cega tamanha a ardência. Reconheci o rosto de Phill um pouco fora de foco. Ele parecia assustado e desesperado. Ele me ajudou a sentar, e tirou o casaco que vestia, jogando em meus ombros.


- Vic, você está bem? – a voz dele não passava de um sussurro.


Eu respirei fundo duas vezes, tentando controlar o choro, mas um soluço estrangulado escapou de meus lábio e novamente eu me entreguei ao choro descontrolado. Eu me apoiei sem forças no peito de Phill e foi reconfortante quando ele me abraçou. O choro veio ainda mais forte.


- Vamos entrar. Você está congelando aqui. – ele disse me forçando a levantar com ele. – Vamos para enfermaria, Madame Pomfrey lhe dará uma poção.


 Eu não encontrei minha voz para protestar e mentir dizendo que estava tudo bem, e que tudo que eu precisava era de um bom banho quente e me enfiar debaixo dos cobertores da minha cama. No meu interior, eu sabia o que Phill estava fazendo era certo, por isso me deixei ser levada.


 Entramos na enfermaria, e logo minha mente se encheu de lembranças. Novamente rompi em lágrimas quando revivi o momento em que Ted segurava firmemente minha mão após o incidente na biblioteca há pouco mais de um mês. Parecia ter ocorrido em outra vida, com outras pessoas enquanto eu era uma mera espectadora que assistia a cena de longe.


 Madame Pomfrey saiu de seu escritório quando ouviu o barulho, e logo correu em nossa direção. Seus olhos se arregalaram ao ver meu estado, provavelmente lastimável.


- O que aconteceu, Srta. Weasley? – ela me perguntou me levanto para um leito. – A senhorita está ensopada e tremendo! – ela se virou para Phill, exigindo uma explicação. – o que aconteceu com ela?


- Eu não sei. – ele respondeu. – Eu a encontrei em frente ao Lago Negro deitada.


- Dei-Deitada?! – perguntou assustada. – Na neve? – ela olhou para mim, a expressão severa. – A senhorita está perdendo o juízo? – e deu as costas – Esses Weasley, sempre dando trabalho. – resmungou.


 Eu me sentei na cama e olhei para a enfermeira que mexia freneticamente em um armário cheio de poções. Meu corpo ainda tremia violentamente por causa do frio, mas felizmente o choro havia cessado. Olhei para Phill que me fitava preocupado.


- Não conte para ele. – pedi. Minha voz estranhamente estrangulada.


- Mas, Vick, Ted precisa saber o que ele está fazendo. – ele retrucou.


- Não. Ele não está fazendo nada. – eu falei firme.


- Ele quem causou isso! – ele falou exasperado.


- Não. – eu falei. – Olhe, não quero que ele saiba por que ele simplesmente não tem mais nada a ver comigo. Ele mesmo disse isso, não foi? Que eu o fiz de idiota? Então! – meus olhos já se enchiam de lágrimas. – Ele não acreditou em mim.


- Ele está confuso, Vick. – Phill o defendeu. – Está cheio de duvidas e inseguranças. Você sabe como ele é!


- Não, eu não sei. – eu respondi balançando a cabeça. – Eu achei que soubesse.


  Madame Pomfrey se aproximou, encerrando o assunto. Ela me fez tomar uma poção com um forte gosto de ervas amargas e secou minha roupa com a varinha. Mandou que eu voltasse imediatamente para a Sala Comunal e que só saísse de lá no dia seguinte.


 Phill caminhou ao meu lado em silêncio, o seu casaco ainda me agasalhava e eu o agradeci por isso, já que eu estava apenas vestindo meu suéter Weasley. De minuto em minuto eu sentia o olhar protetor dele sobre mim. Eu suspirei pesadamente ao pensar em ter que encarar toda a Sala Comunal, em ter que encarar aqueles olhares intrigados, em ter que olhar o sorriso triunfante de Nathalie Burrows, tem ter que encarar ele. Eu só queria sumir, só isso.


- Não se preocupe, Vick, Ted não vai está ai dentro agora. – Phill falou para me tranqüilizar, talvez entendendo o que se passava em minha cabeça. Eu o olhei, confusa. – Ele está voando no campo de Quadribol. – explicou.


- Pouco me importa o que ele está fazendo. – eu falei atravessando o buraco do retrato após murmurar a senha para a Mulher Gorda.


 Eu entreguei o casaco de Phill e fui para o dormitório. Tomei um banho e vesti uma roupa quente e me enfiei debaixo das cobertas. Aos poucos, senti as lágrimas novamente invadindo meus olhos. Meu coração doía tanto, tanto. A dor era surreal. Eu fechei os olhos, fungando baixinho, deixando que as lágrimas molhassem meu travesseiro.


 Ouvi quando a porta do quarto bateu fracamente e vi quando Kathy surgiu por de trás da cortina da minha cama. Ela tentou sorrir para mim, e eu dei um espaço para ela se sentar. Ela acariciou meus cabelos, tentando me consolar.


- Phill me contou o que aconteceu. – ela disse. – Ele está tão irritado com Ted, você precisa ver. – ela suspirou. – Você quer conversar sobre isso? – eu neguei com a cabeça. – Quer que eu fique aqui com você?


 Eu olhei para Kathy, sentindo meus olhos arderem e tentei inutilmente sorrir.


- Esta tudo bem, vai ficar tudo bem. – eu menti. Minha voz parecia ser de outra pessoa. – Só preciso ficar um pouco sozinha, se você não se importar. – me forcei a dizer.


 Ela alisou meus cabelos e deu um sorriso contido antes de sair do quarto. Eu fechei meus olhos, sentindo novamente um oceano de lágrimas molharem meu rosto. A dor no meu peito apertava cada vez mais, me sufocando aos poucos. Como tudo aquilo acontecera? Eu ainda tentava entender.


 


***Flash Back****


 


 Torre de Astronomia, eu gosto desse lugar. Daqui eu posso ver todo o terreno de Hogwarts, e a vista para as montanhas é linda. Eu gosto desse lugar porque foi aqui que tudo começou. Aqui é o meu paraíso particular.


 Sempre nos encontramos aqui, mas gosto de chegar um pouco mais cedo para admirar a vista. Se bem que admirar a vista com ele é bem melhor do que sozinha. É simplesmente maravilhoso compartilhar isso com ele. Algo tão simples e tão maravilhoso.


 Ouço os passos abafados vindo da escada em caracol, é ele. Viro-me para frente, com meu melhor sorriso. Estou com tantas saudades. Nem parece que estive com ele hoje no almoço.


 Eu o vejo entrar, mas tem alguma coisa errada. Meu sorriso morre.


 É inevitável. Noto como ele está sério. Seus cabelos estão escuros e seus olhos negros. De fúria contida. Eu o encaro, confusa.


- Está tudo bem? – pergunto.


 Ele me encara, sério. Seu rosto está estranhamente desfigurado, numa careta, tentando controlar seus impulsos. Eu me aproximo e toco seu braço gentilmente, mas ele se afasta com brusquidão.


- Ted? – eu chamo, assustada.


 Ele olha pra mim e eu vejo um clarão vermelho passar por seus olhos. Não me afasto.


- Como você pode ser tão cínica? – ele atira.


 Eu o olho, sem entender.


- O quê? – pergunto.


- Como você se atreve a brincar comigo desse jeito? – ele fala, sua voz é um rosnado rouco e assustador. – John Taylor, Weasley? Esse nome te trás alguma lembrança? – ele pergunta entre dentes.


 Eu franzi a testa.


- Não estou te entendendo. – eu falei, me irritando. – Johnny e eu somos amigos, sempre fomos. Mas qual é o problema nisso?


- Onde você estava ontem à noite?


- No meu dormitório.


- NÃO MINTA PARA MIM, VICTOIRE! – ele gritou, me assustando.


- Eu estava no meu dormitório, Teddy! – eu falei, com a voz esganiçada.


- Mentiras! Mentiras! Só isso que sai da sua boca! A Kathy viu você levantando da cama de madrugada, e a Nathalie viu você na Sala Comunal com o Taylor! – ele cuspiu.


- Ela o quê? – minha voz saiu uma oitava mais alta – Por Mérlim, Ted, isso é loucura! Escuta bem o que você está falando!


 Ele balançou negativamente a cabeça e passou as mãos nos cabelos, andando de um lado para o outro. Eu continuava parada, atônita demais para ter qualquer tipo de reação. Ele parecia transtornado.


- Teddy? – odiei a forma que a minha voz saiu fraca e súplice.


 Ele parou e me encarou, os olhos tristes e magoados. Não gostei do que vi, odiei ver a desconfiança e a decepção naqueles olhos, na expressão do rosto dele.


- Ted? – minha voz saiu tremida, embargada.


 Ele nada disse, simplesmente sacudiu a cabeça e passou por mim, sem me olhar, sem dizer uma palavra.  Eu fechei os olhos e senti as primeiras lágrimas salgadas molharem meu rosto. A tristeza infinita atingir meu peito como uma onda violenta. E raiva. Raiva por ele não ter me escutado, por não ter acreditado em mim, por ter desconfiado dos meus sentimentos. Raiva de Nathalie por destruir o que eu mais amava.


 Corri. Corri pela escada em caracol, pelos corredores desertos, até chegar ao meu dormitório e chorar feito uma criança que cai e se machuca. Chorar para parar a dor incessante.


 


***Fim do Flash Back***


 


 Não me dei conta de quando peguei no sono, mas provavelmente, tive uma noite agitada. Meu corpo doía e meus olhos ardiam. A lembrança em forma de sonho ainda estava fresca em minha cabeça.


 Abri meus olhos, relutante. A claridade cegou por alguns segundos, mas logo notei que o dormitório encontrava-se vazio. Sentei-me na cama, sentindo um desanimo sobrenatural se apossar de mim. Não queria ter que encarar as pessoas lá fora, não queria ter que encarar ele. Só de pensar nele um nó apertava em minha garganta, me sufocando.


 Obriguei-me a levantar, não podia continuar nessa melancolia. Eu precisava ser forte. Tomei um bom banho quente, sentindo um pouco das minhas forças voltarem. Vesti um jeans claro e um agasalho quente. Sequei meus cabelos com a varinha e coloquei uma presilha neles.


 A Sala Comunal estava estranhamente cheia para um dia de domingo. Também, com a chuva de neve caindo do jeito que estava ninguém se atreveria a colocar os pés fora do calor confortável e acolhedor da Torre da Grifinória. Vi Kathy conversando com algumas meninas do nosso ano e segui para lá.


- Vic! – ela disse quando me viu. – Você me parece bem, mas perdeu o café da manhã. – me repreendeu.


 Eu forcei um sorriso.


- Eu estava cansada. – falei. – Acho que vou à cozinha pegar algo para eu comer. Vem comigo?


- Eu até iria, mas lá fora está um frio infernal. – ela se desculpou.


- Tudo bem. – eu disse e me afastei.


 Foi até bom ela não ter vindo comigo, queria ficar um pouco sozinha. Atravessei o buraco do retrato e logo o vendo gélido atingiu minhas bochechas. Olhei feio para as janelas do corredor. Cruzei os braços no peito tentando me aquecer e andei o mais rápido possível até a cozinha.


 Eu quase corria pelos corredores a fim de evitar o frio quando escutei um barulho numa sala. Parei abruptamente em frente à porta, quando escutei novamente um barulho de algo se chocando dentro da sala. Rolei os olhos, pensando ser Pirraça destruindo mais uma sala de aula. Empunhei a varinha, preparada para me defender dele, e abri a porta. Meu queixo caiu. E eu senti raiva, nojo. A cena era nauseante. Eu sentia meu estomago se revirar dentro de mim.


 Algumas carteiras estavam desalinhadas e outras viradas no chão. A mesa do professor encostada na parede. Uma camisa e um suéter masculinos jogados no chão, um casaco cor de rosa estava em uma das carteiras viradas, esquecido. Sentada em cima da mesa do professor, estava Nathalie com as pernas envolvendo a cintura de Ted, a blusa desabotoada até o meio, o sutiã à mostra. Ambos pareciam ofegantes e estavam com os rostos vermelhos quando me encararam.


  A primeira coisa que vi foram as marcas avermelhadas nas costas de Ted, provocadas pelas unhas compridas de Nathalie. Ela parecia conter um sorriso vitorioso, ele parecia indiferente á ela, mas decidido a fazer. Contudo, alguma coisa em minha expressão fez com que ele se afastasse bruscamente dela e desse um passo em minha direção. Eu balancei a cabeça negativamente, contendo as lágrimas. Ele abriu a boca uma ou duas vezes para falar, mas não disse nada. Eu o encarei, a expressão indagadora, como se o tivesse perguntando o porquê daquilo tudo, o porquê dele provocar aquilo tudo.


- Fecha a porta quando sair. – foi o que ele me disse.


 Não fui capaz de segurar a lágrima que correu por meu rosto e ele pareceu imediatamente arrependido de tudo. Pareceu ter enxergado toda a armação de Nathalie, e visto toda a besteira que tinha feito.


- Pra mim chega. – eu disse antes de sair e bater a porta com força.


 


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Por Teddy:


 


- Espera... – eu ainda tentei dizer.


 Passei a mão no cabelo, pensando na grande merda que eu tinha feito. Olhei para o chão, onde minha camisa estava jogada, toda embolada. Foi quando me lembrei de Nathalie, com a blusa aberta sentada em cima da mesa. Peguei minha camisa do chão e a vesti.


- Ted? – eu escutei a voz dela me chamando. Senti nojo de mim mesmo.


- Por que fez isso? – perguntei sem encará-la.


- Fiz o que? – ela devolveu a pergunta.


 Escutei quando ela saltou da mesa e os saltos da bota batendo no chão de mármore sinalizando que ela se aproximava. Senti seus braços enlaçando envolvendo minha cintura; respirei fundo. Me afastei bruscamente quando senti ela beijando minha nuca.


- Não é inventando mentiras que você vai conseguir o que quer, Nathalie. – falei enquanto vestia meu suéter. – É dela que eu gosto. – falei antes de sair da sala.


 Corri até a Sala Comunal da Grifinória para procurar Vickie e explicar tudo a ela. Havia sido um erro, eu havia cometido um erro. Eu fora manipulado, me deixara ser manipulado. Me senti um idiota, havia perdido a pessoa que eu mais amava.


 Entrei afobado na Sala Comunal, meu olhos percorrendo o lugar lotado de gente conversando. Foi quando vi Phill e Kathy conversando, eles me encararam. Phill fechou os olhos, lamentando-se. Provavelmente havia deduzido que algo acontecera, que eu tinha caído na real e que fizera uma besteira das grandes e que Victoire sabia. Kathy veio em minha direção, enfurecida e decida.


- O que você fez? – ela me perguntou.


- O quê? – eu perguntei, tentando disfarçar.


 Ela deu uma risada fria, sem vida.


- Essa sua cara de culpado não me engana, Ted Lupin. – ela disse apontando o dedo ameaçadoramente para mim. Eu nunca a tinha visto daquele jeito. – Cadê ela?


- Não sei, estou procurando. – falei desesperado. – Phill, você a viu?


- Não, cara, não a vi. – ele respondeu.


- Não! – Kathy disse, a voz ligeiramente mais alta. – Você não vai atrás dela, Lupin, você não vai. Você não tem noção do quanto está a fazendo sofrer, deixa ela em paz. Você sabe o que fez com ela ontem?


- Mas do que...? – eu perguntei confuso, olhando para Phill.


- Exatamente, não sabe. – Kathy disse passando por mim com raiva.


 Eu ainda a vi passar correndo pelo buraco do retrato, provavelmente para procurar Vic. Vic. Aquilo me fez pensar no que Kathy disse. O que eu havia feito com ela ontem? Além de afrontá-la no Salão Principal na hora do jantar. Fora a última vez que eu a vira.


- O que aconteceu ontem? – perguntei para Phill.


- Ela me pediu para não contar, Teddy, desculpe. – Phill disse encolhendo os ombros.


- Não me importa se ela disse isso, eu tenho o direito de saber, Phillip! – falei exasperado.


 Ele me olhou com raiva e me puxou para o dormitório. Alguns alunos nos seguiam com olhares. Ele fechou a porta com força atrás de mim, e eu o olhei sem entender.


- Não adianta me olhar com essa, Ted. – ele disse com raiva. – Eu avisei para não acreditar na Burrows! Falei que ela estava mentindo pra você! Mas você preferiu acreditar nela!


- Eu sei que eu fui um idiota, tá legal? – falei desesperado. – Agora me diz o que aconteceu ontem!


- Depois daquele seu showzinho ridículo o Salão Principal, eu a encontrei chorando, deitada na margem do lago Negro, tremendo de frio. Ela tava sem forças até pra chorar se você quer saber. – ele disse. – A garota tava desesperada pra querer te mostrar a verdade, mostrar que ela realmente gosta de você.


- Eu...


- Agora você fica aí, me olhando com essa cara de paspalho! – Phill me disse, o rosto vermelho. Ele respirou fundo e colocou a mão na testa, se acalmando. – O que aconteceu, cara? – perguntou.


- Eu fiquei com a Nathalie. – eu falei.


- Cara...- ele lamentou, sentando-se na cama.


- E a Victoire viu. – falei passando as mãos nos cabelos, andando de um lado para o outro. Parecia um pesadelo. – Ela viu.  Eu estava atracado com Nathalie.


 Olhei para Phill, desolado. Ele suspirou e abriu a boca pra falar alguma coisa, fiquei esperando suas palavras de consolo. Mas as palavras que eu esperava não vieram, foram outras que vierem, e que eu sabia que se tornariam realidade.


- Você estragou tudo, Teddy. – ele disse, e eu sabia. – Ela não vai querer falar com você, cara. Não agora.


- Merda, Phill. – eu falei.


- Dá um tempo pra ela.


 Eu dei o tempo para ela, realmente dei. Mas ela não queria falar comigo, não queria me ver nem pintado de ouro. Tentei abordá-la no final de suas aulas, chamar sua atenção nos almoços e jantares, interceptar na biblioteca. Nada. Nenhum resultado, e foi assim por duas semanas.


 Logo, chegaram as férias de Natal, e ela iria para a Toca. Eu iria pra Toca. As pessoas iam perceber, iam sentir faltas das nossas implicâncias, já que nem isso esse ano teria. Ela nem ao menos se dava ao trabalho de me xingar ou mandar alguma gracinha maldosa.


 Eu estava na minha cabine quando a vi passar pelo corredor do trem. Eu levantei rapidamente e abri a porta do compartimento com um estrondo, assustando Phill que estava lendo alguma coisa sobre quadribol no Profeta Diário. Vic não olhou para trás, ela sabia que era eu.


 A viagem de volta transcorreu tranquilamente, sem nada de emocionante acontecer. Eu me despedi de Phill, desejando-lhe um ótimo Natal e que o manteria informado sobre qualquer novidade. Caminhei devagar para onde minha família me esperava. James contava animadamente algo para meu padrinho enquanto Albus ouvia tudo aquilo parecendo maravilhado. Lilly correu em minha direção se jogando em meu colo.


- Hey, ruiva! – eu disse a suspendendo. – Você esticou. – beijei seu rosto.


- Trouxe algo de Hogwarts para mim? – ela me perguntou beijando meu rosto.


 - Trouxe uma flâmula da Grifinória para colocarmos no seu quarto. – eu disse baixinho no ouvido dela.


- Uma flâmula da Grifinória?! – ela perguntou com os olhinhos brilhantes. – Obrigada, Teddy!


 Eu a coloquei no chão e ela foi correndo contar a novidade a tia Gina. Meu padrinho sorriu para mim e me abraçou. Parecia que não me via há tempos.


- Você está diferente, Teddy. – ele falou.


- Estou normal, padrinho. – falei olhando de esguelha para Vic que falava alguma coisa com a irmã mais nova.


  Meu padrinho pareceu ter entendido tudo e deu dois tapinhas em meu ombro. Eu sorri para ele tristemente e encolhi os ombros. Meu olhar e o de Vic se cruzaram por um segundo e eu estremeci. Mas ela o desviou, parecendo magoada e quebrada por dentro. Eu realmente tinha estragado tudo.


- Vamos logo. – eu disse olhando para os pés. – Quero ver minha avó.


  Meu padrinho me olhou. Ele sabia o que aquilo queria dizer. É claro que eu sentia falta de minha avó, mas sempre que eu pedia para vê-la era para ela me levar ao cemitério ver meus pais, e isso geralmente acontecia quando eu estava triste com alguma coisa. Meu padrinho e minha avó eram as duas pessoas no mundo que mais me conhecia. Eu tinha meu padrinho como um pai e minha avó como mãe.


 A viagem para a minha casa havia sido rápida. Sinal que meu padrinho havia finalmente aprendido direito a dirigir o automóvel trouxa. Eu vinha atrás com as crianças, Lilly no meu colo, prestava atenção em cada palavra que James contava as maravilhas do castelo, a comida, os jogos de quadribol, a Sala Comunal.


 Olhei pela janela do carro e vi minha avó nos esperando sentada na varanda da casa. Ela se levantou num salto quando nos viu. Pela primeira vez desde a briga com Vic dei um sorriso sincero. Ver minha avó era um alivio.


- Dona Andrômeda! – eu disse correndo para abraçá-la. Eu a suspendi num abraço forte e caloroso.


- Teddy! – ela disse rindo. – Oh, querido, ponha-me no chão.


 Eu a coloquei no chão, dando um beijo estalado em sua bochecha. James, Albus e Lilly correram para dentro da casa de minha avó, provavelmente para meu quarto onde passavam horas e horas brincando. Meu padrinho e minha tia entraram na casa logo depois de nós.


- Nada de fazer mágicas com essa varinha, James Sirius! Não quero receber nenhuma notificação do Ministério! – tia Gina gritou. – Andrômeda, como vai? – ela perguntou a minha avó a cumprimentando. – Desculpe por essa entrada nada educada.


- Que isso, querida. Sentem-se, vou preparar um chá. – minha avó respondeu.


- Não é preciso, Andrômeda. – meu padrinho disse. – Não vamos realmente demorar, as crianças ainda querem passar na Toca.


 Eu me sentei no sofá, alheio a conversa de minha tia e minha avó, e alheio aos barulhos estranhos que vinham do meu quarto. Geralmente, eu entrava em pânico quando esses barulhos ficavam altos, mas estranhamente hoje, não me importava o que James ou Albus estavam quebrando.


- Teddy? – meu padrinho meu chamou. – Quero lhe mostrar uma coisa no carro, vamos lá ver?


 Eu ergui uma das sobrancelhas. Se havia uma coisa que o famoso Harry Potter não sabia fazer era inventar uma desculpa para chamar os outros para uma conversa. Eu me levantei do sofá e o segui para fora de casa enquanto minha avó finalmente conseguira convencer minha tia a ficar para o chá.


 Meu padrinho abriu o capô do carro e começou a falar de motores e outras coisas que eu não entendia. Eu fingia prestar atenção olhando por cima do ombro dele enquanto ele falava, talvez tentando chegar ao assunto que realmente queria.


- É, dindo... – eu chamei sem graça, colocando as mãos nos bolsos.


- Entendeu? O arranque do carro é realmente bom, não vejo a hora de poder te ensinar a dirigir...


- Dindo! – eu o interrompi, fazendo com que ele olhasse para mim. – Você sabe que eu não entendo absolutamente nada de carros, e não confio nem um pouco nesse treco. Prefiro vassouras.


- Você é mesmo filho de seu pai. – ele deu um sorriso torto.


- Sou. – eu disse rindo. – Mas garanto que vovô Arthur ficará encantado se você explicar para ele a função do motor. – falei. – Não precisa me enrolar pra falar comigo.


 Ele me olhou e suspirou, passando a mão na cabeça. Eu coloquei as mãos nos bolsos e me recostei no carro, ao seu lado, esperando ele começar a falar.


- O que está acontecendo, Teddy? – ele me perguntou.


 Eu olhei para o céu claro e branco que de algum jeito bonito me fazia lembrar de Vick. De como ela ficava mais bonita no inverno, o rosto levemente rosado, os cabelos pareciam ainda mais platinados e de algum jeito ruivos no sol de inverno. E os olhos azuis pareciam cristalinos.


- Nada. – eu respondi.


- Ted, eu não sou seu pai, mas eu sou seu padrinho, pode me contar tudo. – ele falou. – Não estou aqui pra julgar e sim para ajudar.


 Eu suspirei e olhei para meu padrinho, um sorriso triste se formando em meu rosto.


- Eu sei que você só quer ajudar, dindo. – falei – Mas eu realmente não quero conversar sobre isso ainda.


 Ele colocou a mão em meu ombro e o apertou, dando sinal de seu apoio e de que entendia.


- Vai ficar tudo bem entre vocês. – ele me disse, me surpreendendo. – É preciso que você e ela conversem. Só isso.


- Obrigada, padrinho. – eu sorri.


 Um barulho de algo explodindo em meu quarto nos assustou e eu olhei para a janela da frente onde vi Lilly pulando desesperada em minha cama.


- Acho que Jay fez All explodir alguma coisa no meu quarto. – comentei enquanto voltávamos para dentro do calor aconchegante da casa.


 


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Por Vick:


 


 Eu estava deitada no meu quarto quando escutei três batidas na porta, antes que eu respondesse a cabeça de meu pai aparecera. Eu dei um sorriso e ele entrou, sentando-se a beira de minha cama.


 Sempre tive uma relação muito aberta com papai, ele era meu melhor amigo, a pessoa que mais me conhecia nesse mundo. Era obvio que ele desconfiava que algo acontecera comigo, afinal, minha desculpa de dor de cabeça não convenceria nem mesmo a um trasgo.


- Está se sentindo melhor, chers? – ele perguntou.


- Ainda não, papa. – falei. – Não dormi muito bem de ontem para hoje. – outra desculpa esfarrapada, como se aquilo fosse enganar Bill Weasley.


- Sei. – ele disse desconfiado.


 Vi ele tirando os sapatos e eu ri quando ele me empurrou para o lado, para que pudesse se deitar ao meu lado. Eu me aconcheguei em seu peito, me sentindo tão confortável como não me sentia há tempos. Ele começou a acariciar meus cabelos e eu fechei os olhos, sentindo o carinho e o cuidado de meu pai.


- Sua dor de cabeça tem nome? – ele me perguntou.


 Ele não precisou falar outra coisa para eu sentir as lágrimas que eu tanto relutava em deixar cair inundar meus olhos. Eu me aconcheguei melhor no peito de meu pai, me agarrando a sua camisa.


- Chers? – ele me chamou assustado. – Vick, querida, o que aconteceu?


 Eu começara a chorar o choro estrangulado e desesperado que rasgava minha garganta. Chorava para aliviar aquela dor dilacerante que cortava sem piedade meu coração.


- Shiiu! – ele fez me abraçando mais forte. – Calma, filha, eu to aqui. Pronto, bota tudo pra fora.


 Eu abracei ainda mais forte meu pai, me sentindo confortada e consolada. Eu o olhei, num pedido mudo que aquilo só ficasse entre nós, que ele entendeu e aceitou. Me recostei novamente em seu peito, chorando ainda mais forte. Vi de relance quando ele fez um feitiço trancando a porta e silenciando o quarto. Chorei até o cansaço tomar conta de mim, chorei até adormecer.


 Acordei horas mais tardes com mais batidas na porta do meu quarto. Abri preguiçosamente os olhos, sentido a ardência neles. Provavelmente eu estaria com uma cara horrível e inchada de sono e choro.


- Entre. – eu disse com a voz rouca.


 Papai apareceu segurando uma bandeja com meu jantar. Eu me sentei na cama, dando novamente um espaço para ele. Eu comi a deliciosa comida que mamãe preparara, reparando o quão faminta estava, afinal, eu só havia comigo algumas besteiras no trem.


- Quer conversar? – ele perguntou, indo direto ao assunto. Eu neguei com a cabeça – Você não quer me contar quem é ele?


- Não existe “ele”, papa. – eu falei, enchendo a boca de pudim de rins. Meu pai me olhou com aquela expressão cética. – Não existe mais “ele”.


- Então existiu um “ele”? – ele perguntou.


 Eu descansei o garfo na bandeja e encarei o mar pela janela do meu quarto. O vento forte de inverno fazia com que as ondas quebrassem violentamente à margem. Eu suspirei e disse:


- Não sei nem se um dia chegou a existir. – falei.  Era tão fácil conversar com papai. – É tudo tão complicado.


 Meu pai riu baixo, atraindo minha atenção.


- Não sei por que você está rindo, pai. – falei zangada.


- Estou rindo por que vocês adoram dizer que tudo é complicado. – ele disse passando a mão na cicatriz em seu rosto. – O que pode ter de tão complicado, Victoire?


 Ele levantou da cama e pegou a bandeja do meu colo, depositando um beijo em minha cabeça. Vi meu pai sumir atrás da porta e me perguntei o que ele acharia se o causador daquilo tudo fossa ninguém mais, ninguém menos que Teddy Lupin.


 Eu olhei novamente para a janela, vendo as ondas do mar quebrando com violência. Pensar em Teddy fazia meu coração doer. Todo aquele problema a troco de nada. Simplesmente por ele ter acreditado em outra pessoa.


 Eu simplesmente não podia continuar naquela melancolia, era ridículo. Essa não sou eu. Porém, fingir que tudo está bem em Hogwarts é uma coisa, outra coisa bem diferente é fingir que tudo está bem para pessoas que me conhecem tão bem.


 Levantei-me da cama e fui para o banheiro. Vi meu reflexo no espelho. Deplorável. Meus cabelos precisavam urgentemente de um trato, meu rosto estava inchado, e meus olhos vermelhos e com olheiras. Liguei o chuveiro no mais quente possível e me enfiei debaixo da água.


  A água fervendo fez com que meus músculos relaxassem um pouco e me fez esquecer um pouco dos problemas. Fechei os olhos, sentindo a agua bater em minhas costas e algumas lágrimas correrem por meu rosto. Da mesma forma que eu rapidamente esquecia os problemas, eu lembrava.


 A lembrança viva em minha cabeça de Teddy atracado com Nathalie na sala de aula ainda me atormentava de forma impiedosa e torturante. As vãs tentativas dele de se desculpar fazia tudo ser ainda tão mais doloroso. Eu ainda tentava entender como tudo chegara aquele ponto.


 


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Por Teddy:


 


  Eu olhei para trás verificando se vovó estava bem. Ela estava agachada junto à sepultura de meu avô murmurando coisas. Virei-me para frente, encarando os túmulos de meus pais. Algumas flores mortas e neve sujavam as lápides, me agachei e puxei a varinha para limpá-las.


- Oi, pai. – eu disse baixinho. – Oi, mãe. – eu conjurei duas coroas de flores de inverno e coloquei cada uma em uma sepultura. – Férias de Natal, por isso estou aqui, não fui expulso de Hogwarts ainda. – eu ri baixinho. – Não tive a oportunidade de contar a vocês, embora eu ache que minha avó já tenha contado. Eu quase fui expulso mesmo de Hogwarts há pouco tempo. Briguei com um garoto na biblioteca. Por causa da Vic. Eu já tinha contado pra vocês dela, que eu estava bem, gostando dela. Aah é, nós estávamos juntos, nessa época. Estávamos juntos até pouco tempo. – eu suspirei, me sentando entre as duas lápides. – Mas aí eu fiz besteira. Provavelmente sou tão talentoso como você no amor, pai. – eu ri. – Mas pelo menos você teve a chance de reverter à situação a seu favor, né? Não sei se eu vou ter. Eu pisei mesmo na bola. – eu funguei auditivamente e limpei uma lagrima com a manga do meu casaco. – Acreditei em outra pessoa e não na Vic. Eu fui tão cruel com ela, mãe. Logo com ela! – eu passei a mãos com força na cabeça, bagunçando meu cabelo. – Uma garota disse que ela estava me traindo, e eu acreditei. E depois, pra piorar, ela me viu com essa mesma garota. Seu filho é um trasgo insensível, mãe. – eu disse entre um suspiro. – Ela nunca vai me perdoar. E eu gosto tanto dela. Eu acho que a amo, droga! – exclamei. – O que você faria, pai? Mamãe te aceitou, mesmo você sendo um cabeça dura, mas você não fez nenhuma burrada. Quero dizer, até fez, mas consertou. Não sei se o que eu fiz tem perdão.


  Eu vi minha avó se levantar e vir em minha direção. Vovó sempre parecia mais leve depois que passava umas horas no cemitério conversando com vovô. Sim, eu e ela tínhamos esse costume. Era um jeito de mostrar que eles estavam sempre com a gente, mesmo que estivessem mortos.  Enxuguei rapidamente o rosto molhado de lágrimas quando ela já estava próxima o suficiente.


- Ficou um bom tempo conversando com eles. – ela disse apoiando-se em meu braço. – Fazendo magia fora da escola, Ted? – ela ralhou, apontado para as duas coroas de flores que eu havia conjurado.


- Já sou maior de idade, vó. – eu disse.


- É verdade. – ela disse. – Sua mãe sempre gostou das flores de inverno, embora tivesse um talento natural de quebrar todos os vasos de casa. – nós rimos. – Despeça-se deles e vamos pra casa. Está esfriando.


 Vovó conjurou duas rosas vermelhas e colocou nas sepulturas de meus pais. Murmurou algumas palavras e saiu, me dando espaço para me despedir deles.


- Eu vou consertar as coisas com a Vic. Eu vou me desculpar. – eu falei – Tenho que ir, vovó quer ir pra casa. Eu volto no dia de Natal. – eu falei passando a mão nas lapides. – Tchau.


 Os dias passaram rápidos, e logo a véspera de Natal chegou. Vovó me acordou cedo para irmos a casa de meu padrinho, onde ela e tia Gina iam preparar algumas comidas para levar para A Toca a noite. Antes de ir para casa de meu padrinho, passei no cemitério, para desejar um feliz Natal a meus pais.


 A casa de meu padrinho parecia um pandemônio. Tia Hermione e tio Rony também estavam lá com Rose e Hugo, que estavam correndo pela casa com James, Albus e Lilly. Meu padrinho e meu tio se divertiam em uma partida de xadrez de bruxo quando eu cheguei.


- Cavalo na H3! – tio Rony disse sorrindo. – Xeque.


- Eu sempre perco nessa mesma jogada! – meu padrinho exclamou, levemente irritado.


 A dama dele fez o caminho até o cavalo de meu tio, jogando-o para fora do tabuleiro com violência. E mais uma vez tio Rony venceu meu padrinho com o bispo.


- Seu padrinho nunca aprende, Ted. – tio Rony disse se levantando da cadeira pra me cumprimentar.


- Não é que ele nunca aprende, é que é impossível te vencer. – eu falei.


  Nesse mesmo momento, Lilly veio correndo e se jogou em minhas costas me dando um beijo estalado na bochecha. Rose apareceu com aquela pose mandona de sempre, mas com um sorriso cativante no rosto.


- Isso não é verdade, Ted. – ela disse me olhando. – Papai sempre perde pra mim.


- Isso é porque ele te deixa ganhar, Rosie. – Hugo disse jogando uma almofada na irmã.


- Isso não é verdade! – ela retrucou se defendendo de outro arremesso de Hugo. – Papai! – ela reclamou


 Tio Rony ergueu as sobrancelhas para o as crianças e tomou a almofada das mãos de Hugo que se preparava para jogar na irmã.


- Não jogue almofadas na sua irmã. – ele falou. – E eu não a deixo ganhar no xadrez.


 Ela atirou a língua para Hugo e saiu correndo da sala, subindo a escada provavelmente indo para o quarto de Albus ou James. Hugo correu atrás dela. Lilly que continuava em minhas costas cochichou baixinho em meu ouvido enquanto meu tio e meu padrinho conversavam.


- Trouxe a flâmula?


- Trouxe! – eu disse sorrindo.


- Vamos pendurá-la, então. – ela disse indo para o chão e me puxando escada a cima.


 O quarto de Lilly parecia tanto com a Sala Comunal da Grifinória que a porta só faltava ser o retrato da Mulher Gorda. Todo decorado em vermelho e ouro, com fotos dos times de quadribol antigos: desde o tempo do avô até fotos do atual time. Bandeiras, tapeçarias, flâmulas e tantas outras coisas enfeitavam o quarto da garota.


- Estamos ficando sem espaço. – eu disse me sentando na cama dela e tirando da mochila uma flâmula novinha.


- Uau, Ted! – ela disse pegando da minha mão. – Essa é linda!


 Ela olhava para a bandeira com os olhos brilhando. As cores brilhavam intensamente no tecido e um leão balançava a juba. Ela subiu em cima da cama e apontou para um pequeno espaço na parede atrás da cabeceira.


- Ali dá? – ela me perguntou.


- Sim, senhora. – eu disse sacando a varinha e prendendo o tecido na parede.


 Ela sorriu maravilhada para a parede, agora sem espaço nenhum para mais nada. Olhando satisfeita para a parede coberta de recordações da Grifinória ela disse:


- Jimmy também me trouxe uma coisa. Olhe! – ela apontou para um vaso com uma flor. – Papai disse que não é perigosa. – Ela muda de cor. – ela abaixou repentinamente a voz – Jimmy disse a papai que o Nev deixou ele pegar, mas na verdade, ele pegou escondido. Segredo, tá? – ela disse me dando o dedinho.


- Segredo. – eu cruzei o meu com dela, selando nosso pacto.


 Eu me deitei na cama de Lilly e a olhei. Minha priminha era a miniatura de minha tia. Esperta e abusada, com um gênio tão forte que nem os irmãos mais velhos se metiam com ela. Ela havia me escrito uma carta dizendo que da última vez que All tentou irritá-la ela havia feito o jantar explodir no rosto dele.


- Por que você está triste? – ela me perguntou, de repente.


- Não estou triste, ruiva. – eu falei olhando para ela sorrindo.


- Está sim, senhor. – ela disse sentando ao meu lado. – Não é porque eu sou pequena que todos precisam mentir para mim. – ela falou zangada. – Eu sou uma criança e não uma burra.


- Hey, quem andou mentindo pra você? – perguntei.


- Você e Victoire. – ela disse cruzando os braços. – Papai me nos levou antes de ontem ao Chalé das Conchas para visitar a tia Fleur e o tio Bill e Vic estava triste. – ela contou brincando com um unicórnio de pelúcia. – Quando perguntei por que ela estava chateada ela disse que era só imprensão minha.


 Eu olhei atônito para Lilly. Então Vic estava sofrendo, ainda estava sofrendo por minha causa. Eu havia passado o feriado todo de Natal evitando a Toca com medo de encontrá-la, mas eu sabia que isso seria inevitável no Natal e eu seria obrigado a ver com meus próprios olhos o que eu fizera.


- É estranho. – Lilly disse.


- O que é estranho, ruiva? – perguntei.


- Você e Vic estarem tristes. – ela disse de repente. – Você inventando desculpas bobas para não ir à casa da vovó. Vic se trancando para estudar na Toca. Vocês nunca perdem a oportunidade de implicar um com o outro e agora...


- E agora sua imaginação está um pouco fértil demais, não acha, Lilly? – eu falei rido.


 Eu nunca havia duvidado da esperteza da minha prima, mas assim já era demais, né? Como uma garota de nove anos consegue captar as coisas com tanta facilidade?


 Ela deu uma risada gostosa e se deitou ao meu lado. Ficamos em silencio, contemplando o teto encantado com estrelinhas douradas do quarto dela.


- Ouvi mamãe dizer para papai que você gosta da Vic. – ela disse baixinho, como se me contasse um segredo.


- É feio ouvir a conversa dos outros, Lills. – eu falei. – E é claro que eu gosto da Vic, ela é da família. Mesmo sendo loira.


- Não, seu bobo! – ela riu. – Mamãe quis dizer que você gosta da Vic como a ela gosta do papai.


- Você não deveria mesmo escutar a conversa dos mais velhos, Lilly. – eu falei sério.


- Eu acho que você gosta da Vic também. – ela disse.


- Ok, mocinha, chega desse assunto. – eu disse me sentando na cama. – A senhora está muito nova para pensar nessas coisas. Suas preocupações têm que ser com as suas magias descontroladas e tentar não fazer mágicas na frente de trouxas.


 Ela deu uma gargalhada gostosa e me abraçou.


- Ninguém precisa saber da nossa conversa, ruiva. – eu disse erguendo o dedinho.


- Nosso segredo. – ela disse cruzando o dedinho com o meu.


- Agora vá brincar com seus irmãos e com seus primos.


 Ela saiu correndo do quarto e eu desci para a sala onde meu padrinho e meu tio discutiam a temporada de quadribol. Logo, começávamos a discutir sobre a temporada de quadribol em Hogwarts, cujo comando do time da Grifinória este ano estava em minhas mãos. Eles me davam conselhos sobre jogadas e estratégias, mas minha cabeça estava longe dali.


 Logo, a correria na casa dos Potter havia começado. Tia Hermione e tio Rony já haviam ido para casa para irem para A Toca mais tarde, o problema era fazer James e Albus pararem de brigar e irem para o banho. Tia Gina estava enlouquecendo gritando com os garotos, enquanto meu padrinho estava encarregado de ajeitar o laço do vestido de Lilly. Vovó terminava de arrumar a cozinha e eu terminava de arrumar as coisas para irmos para a Toca.


- CHEGA! – o grito de tia Gina fez todos se mobilizarem. – James Sirius e Albus Severo, não importa quem começou, quero os dois embaixo do chuveiro agora! – os dois correram para o andar de cima para o banho. – Pelo o amor de Merlim, Lills, o que seu pai fez com esse laço? – ela disse arrumando o laço do vestido de Lilly com a varinha. – Já está pronto, Harry?


- Estou terminando de arrumar as bolsas das crianças com Teddy. – ele disse. – Sua tia está surtando. – ele disse com um sorriso satisfeito.


- Você parece feliz com isso, dindo. – eu disse.


- É Natal! – ele disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo. – Jay, All não demorem!


 Depois de muita confusão e gritos de tia Gina, aparatamos na Toca. James e Albus correram para dentro da casa torta e aconchegante, Lilly caminhava ao meu lado de mão dadas comigo. Da janela da sala, pude ver os cabelos loiros de Vic. Suspirei e me forcei a entrar na casa.


 


 


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Por Vick:


 


  Meu coração parou quando eu o vi parado na sala. Ele cumprimentava as pessoas com o que parecia ser um sorriso forçado. Prendi a respiração quando nossos olhos se encontraram por um segundo. Obriguei-me a desviar os olhos, ainda doía muito.


 Mais por instinto do que qualquer outra coisa, me retirei da sala para cozinha, querendo ficar longe daquele ambiente lotado de gente, cheio dele. Minha avó estava terminando de assar o peru quando entrei na cozinha.


- Quer ajuda? – perguntei a ela.


- Oh, não querida. – ela disse. – Porque você não vai lá se divertir com seus primos?


- A sala está tão cheia. – eu disse franzindo o nariz numa careta.


  Minha avó me lançou um olhar desconfiado, como se soubesse que havia algo de errado, afinal, a Toca cheia era algo tão comum que simplesmente não incomodava ninguém. Sentei-me à mesa evitando olhar para vovó, ultimamente, tenho evitado olhar todos. Não quero que percebam que estou quebrada por dentro.


- Está tudo bem, querida? – ela me perguntou.


 - Só estou com um pouco de dor de cabeça. – menti.


- Quer uma poção?


- Não, já vai passar.


  Minha avó deu um sorriso antes de sair da cozinha e ir para sala, me deixando sozinha. Apoiei a cabeça nos braços e fiquei ali, sentada na cozinha, sozinha, de cabeça baixa, perdida em meus próprios pensamentos amargurados enquanto todos estavam na sala comemorando o Natal. Pelo menos eles tinham motivos para comemorar. Eu não.


 Eu havia planejado o Natal perfeito. O Natal em que todos ficariam sabendo que eu e Ted estávamos juntos. É claro que haveria o choque inicial, o susto de papai e a confirmação das suspeitas de minha mãe e tia Gina, mas tudo não passara de planos. Planos que foram frustrados por Nathalie Burrows e por Ted Lupin. A culpa não era só dela. Ele havia acreditado nela ao invés de acreditar em mim.


 Escutei o barulho da porta da cozinha se fechando atrás de mim, eu sabia quem era, eu conhecia aqueles passos. Levantei-me rapidamente, querendo sair o mais rápido possível da cozinha. Eu não aguentava nem ao menos olhar para ele. Tentei passar, mas ele obstruía a passagem. Respirei fundo, ainda sem encará-lo, doía demais.


- Sai da minha frente. – falei ríspida.


- Não. – a voz calma dele me irritou.


- Eu mandei sair! – eu disse finalmente o encarando.


 Tomei um susto ao ver o quão abatido ele estava. Grandes olheiras habitam seus olhos anormalmente castanhos e sem vida, os cabelos geralmente ruivos quando estava em família hoje era cor de palha e o rosto estava cansado. Ainda assim, não me dei por vencida. Não ia se aquela cara de arrependido que iria compensar tudo.


- As pessoas estão percebendo. – ele disse apontando para a porta que daria para a sala. – Até tio Percy veio me perguntar se estava tudo bem.


- Não me interessa se as pessoas estão percebendo, Lupin. – eu falei; minha voz mais gélida que a neve que caia lá fora. – Agora saia da minha frente. – mandei.


- Não! – ele disse. – Não até eu falar com você.


 Eu respirei fundo, já sentindo um nó apertar minha garganta. Por que ele não percebia que eu queria ficar longe? Que ele tinha me machucado demais.


- Não quero falar com você. – falei tentando manter a voz firme, mesmo sabendo que ela havia saído tremida.


- Eu preci...


- Se você não quer sair, ótimo. – eu disse, coma voz embargada.


 Eu dei meia volta e saí para o quintal gelado. Senti alguns flocos de neve pousar em meus ombros, umedecendo minha blusa. Havia esquecido meu casaco na sala. Limpei discretamente uma lágrima que teimou em escorrer por meu rosto. Senti a ardência em meu rosto quando vento cortante bateu, me abracei tentando me aquecer.


 Nem um minuto se passou quando eu escutei a porta da cozinha bater. Rolei os olhos, sentindo mais uma torrente de lágrimas gelados correrem por meu rosto. Eu sentia a presença dele atrás de mim, podia ouvir sua respiração pesada.


- Vickie, eu... – ele começou a falar, mas parou.


 Fazia tanto tempo que eu não ouvia ele me chamar pelo meu apelido, o que ele me deu. Meu coração disparou ao ouvir meu nome saindo de sua boca. Eu funguei, tentando controlar as lágrimas incessantes que caiam por meu rosto. Limpei-as discretamente com uma das mãos.


- Eu não devia...


- Não, não devia. – eu disse com a voz embargada.


 


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 Por Teddy:


 


  Que eu era péssimo com palavras, isso não era novidade para ninguém, mas não encontrar nenhuma para pedir desculpas naquele momento era suicídio. As palavras pareciam se enrolar toda vez que eu abria a boca para falar e ver Vickie ali, na minha frente vulnerável, por minha causa, me matava.


 Eu a ouvia fungando baixinho e de vez em quando ela secava o rosto com uma das mãos. Seu corpo estremecia por causa do frio, e isso me fazia ter vontade de abraçá-la em meu peito, mantendo-a quente em meus braços, mas alguma coisa me impedia de chegar perto dela. Eu estava simplesmente parado no lugar, como uma gárgula.


- Escuta, eu sei que foi burrice. – eu comecei. – Eu fui o cara mais estúpido do mundo. Eu não acreditei em você, não confiei em você.


- Demorou pra perceber. – ela me disse rispidamente.


- Mas eu estava cego, só de pensar em você com outro...


  Ela se virou rapidamente para mim, o rosto manchado de lágrimas, exatamente como eu temia. Seus olhos azuis claros estavam vermelhos, assim como a ponta de seu nariz.


- E quando eu lhe dei motivos pra pensar que eu estaria com outro, Ted? – ela me perguntou, inconformada. – Pelo o amor de Merlim! – ela exclamou colocando uma das mãos na boca.


-Você nunca deu motivos! – eu me apressei a dizer. – Eu sei disso! Mas eu estava tão inseguro! Tentando entender por que uma garota como você estaria interessada em alguém como eu! – eu parei de falar, respirando fundo. – As pessoas pensam que só porque eu costumava ficar com todas as garotas eu me sentia o tal. Eu nunca me senti assim, sempre me sentia usado, por todas elas.


- Isso não justifica o que você fez. – ela disse, cruzando os braços.


- Eu sei. Nada justifica. – eu falei. – Mas a ideia de você com outro foi mais fácil de aceitar.


- Aceitar? – ela perguntou incrédula. – Você é um completo idiota!


- Acredite ou não, era tão mais fácil aceitar que você preferia estar com outro a estar comigo. E a Nathalie...


- Não fale o nome dela! – ela disse com a voz esganiçada.


- E ela fez tudo parecer que era verdade. Que você sempre usava as pessoas a seu favor, que usava e depois descartava. – eu disse. – Mesmo eu sabendo que você não é assim, eu acreditei. Acreditei porque era mais fácil de acreditar que você tinha enxergado quem eu realmente era.


- E quem você, Ted? – ela me perguntou, as lagrimas correndo por seu rosto.


 Eu olhei para o céu, procurando por palavras.


- Sou um órfão criado pela a avó e pelo padrinho, que foi acolhido como igual pela família mais maravilhosa que eu já tive o prazer de conhecer. – eu disse. – Isso que eu sou. – falei.


 Ela balançou a cabeça negativamente, parecendo não acreditar no que ouvia. Ela limpou o rosto e se aproximou de mim poucos passos. O rosto enfurecido.


- Você é um idiota, influenciável. Isso que você é! – ela disse. – Uma pessoa que não consegue lidar com suas inseguranças e fica colocando a culpa em coisas que não tem nada a ver. Assuma a merda que você fez pelo menos uma vez na sua vida, Lupin! – ela disse friamente antes de passar em mim, fazendo questão de passa longe, como se tivesse nojo de mim.


  Eu escutei a porta da cozinha bater com violência e encolhi os ombros. Esfreguei o rosto com força impedindo que algumas lágrimas caíssem. Vic estava certa, eu não poderia culpar minhas inseguranças. Eu fizera a burrada, agora tinha que me virar para consertar, se é que tinha conserto.


  Entrei na casa novamente e corri para a sala. Percorri os olhos, procurando pelos cabelos loiros arruivados de Vick, mas só via os cabelos ruivos dos Weasley. Meu olhar cruzou com o do pai de Victoire e naquele momento, naquele exato momento eu tive a certeza de que ele sabia. Ele me olhou com a expressão fechada e cruzou os braços, esperando uma explicação. Eu baixei a cabeça e voltei para a cozinha, sabendo que ele viria me confrontar, esperei.


- Então é você. – eu me sobressaltei quando escutei a voz calma de tio Bill.


 Eu o olhei, e as palavras novamente pareceram fugir da minha cabeça, eu fiquei completamente mudo, o encarando pateticamente. Ele sentara à mesa com um copo de hidromel nas mãos, me olhando.


- Eu sempre gostei de você, Teddy. – ele disse, calmo demais. – Tive a grande honra de conhecer seus pais. Aprendi muito com seu pai.


- Obrigado, tio. – eu disse sem saber o falar, tenso.


- Eu sempre soube que havia algo mais nessas implicâncias de vocês dois. – ele me disse, agora mais serio. – Sempre soube que um dia ia dar em alguma coisa. Não me oponho a isso, afinal, é melhor eu ver a minha filha com alguém que eu conheça e confie do que com qualquer outro. – ele deu uma golada na bebida. – Mas eu não criei a Victoire para ficar chorando por causa de besteira de namorado. Eu não criei a minha filha pra ser feita de boba, Ted. – ele disse friamente. – Você pode ser filho de Remus e Ninfadora Lupin, afilhado do meu cunhado e ser da família, mas não vai brincar com a minha filha. – ele se levantou. – Eu não vou permitir isso.


 Eu arregalei os olhos para ele e me apressei a dizer.


- Nunca foi a minha intenção, tio Bill, eu juro. Estou tentando consertar as coisas. – falei rapidamente. – Eu preciso que ela me perdoe.


 Ele me olhou, ainda serio.


- Ou você faz a minha filha feliz, ou fica longe dela, Ted. – ele disse. – A opção deixar ela triste não existe. E como eu já disse, eu prefiro vê-la com alguém que eu confie. Não me faça perder a confiança em você, rapaz.  – ele abriu a porta para voltar para a sala, como se a conversa não tivesse acontecido, completou. – Ela está no meu antigo quarto.


 Subi sorrateiramente a escada que dava para os quartos sem ser visto. Eu parei à porta do quarto e encostei a testa nela. Eu ouvia as fungadas baixas de Vick vindo de dentro do aposento e sentiu o peito inflar de dor. Colocou a mãe na maçaneta e a girou devagar, não ia bater e oferecer a chance de ser rechaçado de novo.


 Ela não se manifestou quando eu entrei e selei a porta atrás de mim, na verdade, não fez nada, fingiu que eu não estava ali. Ela estava sentada na cama de costas para mim, brincando distraidamente com alguns fiapos da colcha.


- Seu pai veio falar comigo. – eu disse baixo.


 Ela levantou a cabeça um pouco ao escutar, mas ainda não virou para mim.


- Ele sabe sobre nós. – eu disse.


- Não existe mais “nós”. – ela disse.


 Eu suspirei parado no mesmo lugar olhando para as costas dela, coberta por seus cabelos loiros arruivados. Sentei-me no chão, recostado a parede do quarto. Continuamos em um silêncio mortal por minutos que pareciam horas tortuosas.


- Seu pai disse que era pra eu te fazer feliz ou ficar longe de você. – eu disse quebrando o silencio gelado. – O problema é que eu não to conseguindo te fazer feliz, mas não consigo ficar longe. – eu suspirei. – Eu sei que não há justificativas para o que eu fiz, nem desculpas, e nem em ter que jogar a culpa. A culpa foi minha. Eu deveria ter acreditado em você.


 Eu olhei para ela, ainda de costas, seu corpo balançava por causa do choro, e aquilo me fez ficar ainda mais desesperado. Victoire simplesmente não parava de chorar, e eu nunca a tinha visto chorar, não daquele jeito, não por minha causa.


- Acho que as coisas chegaram a esse ponto por não querermos assumir o que temos. – eu falei. – Achei que você tinha vergonha de mim. Mas eu sei que não tem, acho que sempre soube. Não sei... acho que estou tentando novamente transferir a culpa para outra coisa. – murmurei.


  O silencio dela me matava por dentro. Eu queria que ela explodisse comigo, me xingasse, me batesse, fizesse alguma coisa. Aquele silêncio era a pior das torturas, a pior das maldições.


- Me perdoa, Vick. – eu pedi; a voz embargada.


 Ela me olhou. Os olhos azuis vermelhos, assim como a ponta do nariz. Mesmo com a cara de choro e a face molhada de lágrimas, eu não pude deixar de reparar em sua beleza estonteante. Como ela era linda, mesmo com a expressão sofrida.


- Você me machucou tanto. – ela disse; a voz rouca e embargada. – Sem a mínima necessidade. Eu nunca te dei motivos pra fazer o que você fez.


- Eu sei. – eu falei, fungando. – Mas eu...


- Não sei se posso confiar em você.  – ela confessou.


- Me diz o que eu tenho que fazer, Vickie. – eu falei. – Eu só não consigo mais ficar longe de você. Tem sido uma tortura desde o inicio.


 Ela se levantou da cama e se ajoelhou na minha frente. Há semanas que eu não ficava assim tão perto dela, eu queria tocá-la, mas tinha medo de que ela se afastasse; então simplesmente a olhei. Decorei cada traço delicado de seu rosto, cada sarda em seu nariz.


- Eu te amo. – eu me ouvi dizendo sem querer antes que ela falasse qualquer coisa.


  Seus olhos azuis se arregalaram pra mim, parecendo duas grandes orbes. Eu não sabia se havia dito aquilo no momento certo, mas eu simplesmente não consegui segurar, as palavras só saíram espontaneamente.


- Eu sei que esse não era exatamente o propicio pra te falar isso, e não foi como eu imaginei. – eu disse. – Mas não vou me desculpar por isso, não vou me desculpar por algo que eu sinto. Eu realmente te amo, Victoire.


 Eu vi quando uma lágrima correu por sua bochecha, limpei-a. Tocá-la era tão bom, sentir sua pele macia em minha mão. Acariciei seus cabelos, depois sua nuca, e vi seus olhos fecharem lentamente.  


- Ted... – ela disse entre um suspiro.


- Me perdoa. – eu pedi de novo fechando os olhos. – Me perdoa...


 Eu aproximei meu rosto do seu, tanto que conseguia sentir a respiração ofegante dela soprando em minha boca. Seu gosto entorpecente me inebriou e eu não consegui mais me conter. Venci o espaço que nos separava, juntando sua boca com a minha.


 O beijo começou lento, calmo, mas logo a saudade nos fez perder a cabeça, tornando tudo mais urgente. Nossas línguas se encontravam e eu sentia como se tivesse tomando um choque. As mãos dela passeavam em meus cabelos, bagunçando-os do jeito que eu tanto gostava. Depois de um tempo que pareceu ser mínimo, o ar se fez necessário e nos separamos.


- Eu prometo, eu nunca mais vou te fazer sofrer. – eu sussurrei. – Eu te amo tanto.


 Eu não esperava por ouvir o mesmo dela aquela noite, afinal eu a havia feito sofrer. Mas aquela era Victoire Weasley, a garota mais surpreendente de todas, a mais maravilhosa de todas.


- Eu te amo também. – eu a ouvi dizer.


 Eu sorri com a testa colada na dela, os olhos ainda fechados. Aquilo era como musica para meus ouvidos. Ela me amava. Ela me amava mesmo.


- Vem. – ela disse. – Vamos contar a todos, não quero mais me esconder das pessoas.


 Eu abri os olhos, e encontrei o céu claro e límpido que eram os dela. Eles sorriam para mim, sorriam com tal felicidade que eu não tive como conter um sorriso, ainda maior do que eu já estava na cara.


 Nós descemos e contamos para a família que estávamos juntos. Nossas tias e a mãe de Vic ficaram emocionadas, falando que já sabiam, minhas avós e meu avô ficaram chocados na hora, mas aceitaram numa boa, o problema mesmo foi lidar com nossos tios, que por minutos torturantes tornaram-se apenas tios de Vic. Depois de varias implicâncias e ameaças e gritos histéricos de Vic, fui deixado em paz.


 Então veio a hora de dormir, a Toca lotada de gente sempre tinha o esquema perfeito. Tudo ficaria como sempre, eu e Vic na sala junto com as crianças, tio Rony e tia Hermione no antigo quarto dele, tia Gina e meu padrinho no antigo quarto dela, os pais de Vic no antigo quarto do pai dela, tio Percy com a esposa em seu quarto, vovó no quarto de hospedes junto com tio Charlie e tio Jorge e tia Angelina no antigo quarto dele. Era impressionante como sempre havia um lugar na Toca para todos.


  Eu estava deitado em um dos sofás acariciando os cabelos de Lilly que dormia confortavelmente no chão ao lado de James quando ouvi uma movimentação do outro sofá. Virei à cabeça e encontre os olhos azuis de Vic me olhando. Com as atuais circunstancias, fomos obrigados a dormir longe um do outro, e eu que não seria o louco de desobedecer a uma ordem direta de Bill Weasley.


 Ela me olhava, só me olhava. Eu retribui o olhar, sentindo-me mais quente e confortável do que nunca. Eu não tinha ideia de como era bom amar e ser amado em troca, não tinha ideia de como podia ser feliz, apenas por saber disso. Se aquilo era ser feliz, então eu estava completo, porque meu coração aprecia explodir.


 Eu fizera Vic sofrer uma vez pra nunca mais. Era verdade que era linda de qualquer jeito, mas nada era mais maravilhoso do que aquele brilho nos olhos azuis dela. E proporcionar aquele brilho era ainda mais gostoso.


 Na penumbra da sala aconchegante e fracamente iluminada pelo fogo da lareira, vi os lábios de Vickie formarem as palavras “Eu te amo” antes dela fechar os olhos e dormir. E foi com aquela imagem que eu me deixei entregar ao sono, me sentindo mais feliz e realizado que nunca. 


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N/A: E aí pessoal, o que acharam? Demorou pra sair a continuação de NB, mas está ai! Gostei bastante dessa. Resolvi fazer essa uma pouco mais sofrida para que eles pudessem finalmente assumirem o que tinham, senão eles iam ficar sempre anquela de medo do que a familia ia achar e no final, não ia dar certo. Como quase não deu. 
 Apesar de ter feito eles sofrerem bastante, eu gostei do final, gostei de colcoar o desfecho na visão do Ted, que é um fofo! Estou apaixonada por ele! *-*
 Bom, é isso, espero que tenham gostado e eu logo, logo vou começar a escrever a próxima!
 Beeeijos meus amados leitores!
 Carol Peeters. :D

 

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