five



A floresta era densa, úmida e escura, e os três já caminhavam em espiral por ela durante três horas, buscando sempre a luz do sol como Dumbledor os prevenira. Cada um com sua mochila, Lílian liderava os três, uma determinação que nenhum dos outros dois nunca tinha visto. E só caminharam o primeiro quarto da montanha.



 



-Lily... espera – Sirius, no fundo, estava ofegante – Fazem dois anos que eu não pratico atividade física nenhuma além de sexo, me desculpem – Ele se sentou sobre uma pedra, arfando, fazendo os outros dois pararem. Remus sentou-se ao lado do amigo e Lílian sentou-se na frente dos dois.



 



-Está fazendo minha amiga feliz, seu bastardo? – A ruiva perguntou em brincadeira, mesmo sem conseguir tirar James da cabeça. Pegou o cantil de água e tomou um gole, respirando fundo.



 



-Estou sim. Ao menos ela diz que sim. – Sorriu levemente -  Mas me conta, onde arrumou esse condicionamento físico? – O moreno perguntou á ruiva, fazendo-a rir.



 



-Acha que ficar num manicômio é fácil assim? – Deu de ombros – Eu não entendia por que estava ali, e mais um daqueles monstros se contorcia dentro de mim antes de sair. Eu corria e me batia com muita força pra fazer a dor passar – A ruiva fitou a terra, os pensamentos longe – Nunca passava.



 



-Certo, já está anoitecendo. Acho melhor não nos movermos durante a noite, pra que o barulho ou o cheiro não o atraia para cá – Remus analisou e fez Lily suspirar, abraçando os joelhos.



 



-Nunca pudemos entender o que houve entre você e James – Sirius se manifestou, recostando-se em uma árvore. Lílian suspirou.



 



-Eu me lembro de muito pouco. Mas o que eu me lembro...  – Ela suspirou, contendo as lágrimas – Tudo podia ter sido diferente, eu sei disso. É tudo minha culpa.



 



-Lily...



 



-Não, parem já os dois. –Fungou – Eu sei que a culpa é minha. Eu preciso salvá-lo.



 



Os rapazes não mais tentaram contestá-la.



 



-Agora, você precisa dormir. Eu vou ficar acordado vigiando, já que estou a menos tempo sabendo disso e, por essa causa, provavelmente tive mais sono que vocês  - Sirius declarou  e desencostou-se da árvore para manter-se acordado.



 



Os outros dois assentiram e se ajeitaram como puderam no chão. O cansaço era grande, então adormeceram logo, enquanto Sirius olhava em volta com muito cuidado, procurando, de varinha na mão, qualquer coisa que os ameaçasse.



 



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Lily abriu os olhos devagar, desconfortável. A umidade que entrava por seu nariz lhe dizia que choveria logo. Suas costas doíam e ela estava sentindo um pouco de frio pela primeira vez na viagem. Olhou em volta procurando seus dois companheiros de viagem.



 



-Sirius? – Chamou-o assim que percebeu que ele não estava ali com eles. – Sirius? – Chamou mais alto – Remus, acorda – Cutucou-o com a mão, fazendo-o despertar um tanto assustado.



 



-Sirius! – Levantou-se, a luz do sol cegando-a momentaneamente. Olhando para a esquerda, entretanto, viu o que não queria enxergar, tendo de acostumar os olhos para ver na sombra à sua direita, onde o morro barrava a luz do sol.



 



-Procurando por ele? – Lílian arrepiou-se de asco ao ver a pele pegajosa, a voz muito grave e rouca, os olhos amarelos, os chifres. Lílian conhecia aquela figura, muito maior que uma figura humana. Memórias de soltaram de sua mente, como se antes estivessem presas por uma barreira, e agora ela pudesse ver tudo.



 



Tudo que ele fizera consigo enquanto estava desacordada, e quando a enfeitiçou para que não lembrasse, mesmo quando ele absorvia sua felicidade para que ela ficasse mais e mais fraca, no dormitório de Hogwarts.



 



Teve de usar todo seu auto controle para não vomitar ali mesmo. Seus olhos cheios de lágrimas fitavam o monstro, que tinha Sirius desacordado, cativo sobre os ombros.



 



-Troco ele pelo que você tem na mochila – O monstro disse, Remus e Lily de pé, na defensiva. A ruiva sabia do que ele estava falando.



 



O bebê-monstro.



 



-Solte ele e traga James aqui e eu te dou essa coisa – Ela bradou com a mochila na mão, movendo-a. O monstro hesitou.



 



-Cuidado! Vai machucá-lo! – Ela quase sorriu ao ouvir ver a cara monstruosa cheia de preocupação. – Que péssima mãe você é... Nem cuida direito do filho!



 



Lílian sentiu a raiva começando a dominá-la, mas foi distraída por Remus, que colocava algo em sua mão, algo que pegara do saco que Dumbledor dera a eles.



 



-Por que teve que raptar Sirius, hein? – Lily indagou, tentando ganhar tempo. – Onde está James? Você o perdeu, não foi? – Sorriu levemente, aproximando-se da sombra bem devagar. O monstro rugiu para ela, dando alguns passos para frente também.



 



-Cale-se e me dê o bebê! Eu não tenho tempo pra isso! – Voltou a se afastar devagar, guiando-o para mais e mais perto do sol. A ponta dos chifres negros e curvados já estava no sol, mas ele não sentia. Ela continha suas mãos de tremerem, a energia e a ansiedade, a expectativa da vitória muito próxima, mal podia respirar da adrenalina e do medo.



 



-James Potter fugiu de você depois de dois anos! Como você é desleixado! – Ela disse por fim, sorrindo. O monstro deu mais um passo a frente e Remus jogou uma bomba pequena aos pés dele, cuja explosão o fez tropeçar para frente e largar o corpo de Sirius.



 



 Lily correu para perto, a grande adaga curva feita de cobre em suas mãos. Segurou o chifre, que parecia feito de ossos em sua mão, e cortou a nuca dele inteira, vendo líquido ligeiramente viscoso, negro, escorrer por suas mãos. O monstro se contorceu algumas vezes, mas não emitiu som algum.



 



Lily puxou Sirius pelos braços rapidamente e se ajoelhou ao lado dele, sentindo seu pulso. Ele respirava normalmente, só estava desacordado.



 



-E agora? – Ela indagou sentada no chão enquanto Remus se aproximava do outro com a bolsa para examiná-lo.



 



Remus somente deu de ombros, a respiração curta, ainda nervoso. –Cuidar de Sirius, procurar James.



 



-Ainda tem armadilhas nessa colina – Lily suspirou aliviada quando viu Sirius acordar lentamente – Mas pelo menos podemos andar em linha reta agora. Será muito mais rápido.



 



-E o que faremos com ele? – O loiro indagou enquanto Sirius gemia e punha a mão na cabeça, com dor. Remus apontava para o monstro morto ao lado deles.



 



-Temos de tirar os chifres, é o que Dumbledor nos mandou fazer. E, com o chifre, matar o bebê-monstro – Lily virou-se de costas para os dois rapazes. – Eu estou enjoada, esse cheiro de mato, sujeira, monstro... – Sirius, que já estava sentado, colocou uma mão no ombro da garota.



 



-Você lembrou, não lembrou? – Ele perguntou em um murmúrio – Eu pude ver tudo quando ele me pegou. Ele me fez ver. Mas você lembrou...



 



Lily virou-se para o moreno, os olhos cheios de lágrimas. Lily abraçou-o, soluçando baixinho, sendo correspondida no abraço por ele.



 



Permaneceram quietos, sentados até que Lily conseguisse parar de chorar, algum tempo depois. Remus se levantou ao ver a menina secar o rosto com as mãos.



 



-Agora podemos fazer uma fogueira. – Ele disse espreguiçando-se, aliviando toda a tensão em seu corpo. – Temos que matar o bebê monstro logo, e achar James. Se o que você disse está mesmo certo, Lily, ele pode estar em qualquer lugar num raio de alguns quilômetros daqui. – Lily fitou-o com a expressão preocupada.



 



-Precisamos achá-lo logo. Vocês... Podem matar o bebê? – Ela perguntou com a voz ligeiramente fraca, os olhos ainda chorosos.



 



Os dois rapazes assentiram e levantaram-se, deixando-a apoiada em uma árvore, abraçando os próprios braços.



 



Sirius  segurou o cifre enquanto Remus pegava uma das adagas para cortá-lo. Passaram algum tempo serrando o chifre negro. Sirius fez cara de nojo quando o sangue negro derramou ao terminarem.



 



-Eca, Remus... Pega lá o monstrinho pra que eu possa matá-lo logo – Remus assentiu com a cabeça e saiu correndo para pegar a mochila, dando-se por falta de algo ali.



 



-Lily? – Chamou-a olhando para a floresta, a mochila na mão. – Lily! – Gritou, sem resposta alguma.



 



-Onde ela foi? – Sirius perguntou caminhando até o lado de Remus, o chifre pingando sangue nas mãos.



 



-Eu não sei, mas antes que algo dê errado, mate esse bicho e vamos procurá-la. – Ele disse preocupado, no que Sirius assentiu, preocupado.



 



Lily deveria ter tido algum motivo muito forte para sair dali no estado em que se encontrava. Só esperavam que ela não se metesse em perigo.



 



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