Flores de Sangue
Capítulo
Flores de Sangue
O campo de lavanda próximo ao Monte Furano[1] se encontrava destroçado e manchado de sangue, parada no meio daquela paisagem aterrorizante, eu olhava para o horizonte em estado de choque pela primeira vez na vida. Na minha mão direita estava minha katana[2] coberta com o sangue dos corpos que jaziam sob meus pés. Meu longo cabelo loiro estava sujo, pra falar a verdade, eu estava totalmente coberta de sangue.
- Aya. – braços familiares me trouxeram de volta para a realidade. – Pensei que não a veria mais. Eles quebraram as regras e usaram as varinhas, mancharam seus espíritos guerreiros.
- Aqueles comensais desgraçados, mesmo sendo japoneses cederam à barbárie dos ocidentais. – eu me separei de Yuki e olhei para o rosto dos corpos ao alcance da minha visão, me espantando por meus companheiros caídos parecerem que estavam apenas dormindo.
- Como eles cederam as táticas ocidentais para batalhas teremos que treinar os guerreiros mais precisamente, não contra laminas, mas sim contra feitiços, para que possam atacar e se defender rapidamente. – Yuki limpou o meu rosto com a manga de seu traje.
- Yuki. Estou bem – eu dei um passo para trás. – Precisamos nos concentrar agora na busca por sobreviventes.
- Sei disso, sou o líder da Akatsuki, mas estava preocupado com minha filha, imagina se algo tivesse acontecido com você. – no sorriso amoroso dele eu percebi o seu cansaço.
Era difícil eu expressar meus sentimentos, às vezes até duvida se tinha algum, mas naquele momento eu abracei Yuki com toda a força que tinha, fazendo meus olhos marejarem. – Também estou aliviada em ver que você está bem.
Ele me deu um terno beijo na testa e nos separamos, ele pegou o norte e eu o sul na procurara por sobreviventes. Caminhando pelo mar de corpos meus olhos corria soltos a procura de qualquer sobrevivente, mas em minha mente, logo que iniciei a procura, o único rosto que vinha era o de Shin, meu primeiro e único pupilo, e meu estimado amigo de infância.
Chegando quase no fim do campo sem encontrar um sobrevivente e sentindo a esperança se esvaindo eu percebi alguém se mexendo e corri naquela direção.
- Shin, meu deus, como você ficou desse jeito? – quando eu vi o rosto dele fiquei pasmada, seus olhos estavam fora, em choque.
- Aya-chan[3]... – mal consegui ouvir sua voz.
- Vamos, vou levá-lo para casa. - Saquei minha varinha da bolça que carregava presa no short e aparatei com ele para a fortaleza escondida no topo do Monte Furano.
Deixei-o aos cuidados de nosso médico, Hoshizuki-sensei[4] e aparatei de volta para o campo de lavanda para ver se encontrava mais alguém, aparatar a uma longa distancia em poucos segundos era cansativo. Logo que cheguei me desequilibrei um pouco, quando me recuperei da desaparatação eu vi Jin carregando dois homens inconscientes.
- Precisa de ajuda?! – nem esperei resposta e já passei o braço de um deles pelos meus ombros. – Ao norte fui até o fim da plantação e encontrei apenas o Shin, os restantes estavam mortos. E pro seu lado? Apenas esses dois?
- Olá pra você também Kinha.
Eu gostava desse apelido, era um diminutivo de Bonequinha de pano, que até hoje não seu o porquê dele me chamar assim
– Esses são os últimos, já resgatei 15, parece que pra esses lados havia menos comensais da morte desonrosos.
- Bom vou levá-lo ao Hoshizuki-sensei e volto logo, temos que ver quantos Yuki conseguiu achar e varrer o lado oeste.
- Yuki acabou de me contatar, dizendo que podíamos retornar que ele já havia terminado de vasculhar e encontrou um número muito pequeno de sobreviventes, apenas 22.
Eu vi o desgosto em seus olhos, já que havia sido ele o treinador desses homens.
– Não foi culpa sua, Jin, os Comensais da Morte traíram o espirito guerreiro deles. Você sabe que em uma batalha entre antigos guerreiros não é permitido magia, então, por favor, não fique se culpando. Vamos pra casa, vou fazer pra você e Yuki aquela torta de limão que vocês adoram.
Sorri para ele ternamente, hoje estava sendo o dia de ternura, ri por dentro e aparatei na ala médica. Hoshizuki-sensei pegou o homem que eu carregava e o entregou a uma enfermeira para segurar meu rosto entre suas mãos me olhando seriamente.
- Você está bem? – ele examinou cada pedacinho de mim com os olhos.
- Eu estou bem sensei, você me conhece, é difícil alguém me derrotar. – olhei para os lados a procura de Shin.
- Isso é verdade, a única vez que tive que cuidar de você foi quando tentou ganhar em uma luta contra Yuki, o que eu considero total suicídio já que ele vira outra pessoa quando está com uma katana em mãos, acho que se não fosse por Jin você estaria em picadinhos.
- Isso é verdade, devo minha vida a Jin desde aquele dia, mas mudando de assunto, onde está o Shin? Deixei-o aqui não faz muito tempo.
- Aquele moleque foi para o quarto dele, disse que estava bem, mas duvido, ele foi torturado por muito tempo com a maldição cruciatos, estou preocupado. Ficaria grato se você fosse conversar com ele já que ele ouve apenas você.
Tomei uma poção revigorante a contragosto, mas tenho minhas duvidas se me liberariam se não a tomasse. Corri o mais rápido que pude para os aposentos de Shin, aquele guri tinha problemas quando se tratava da ala hospitalar.
- Eu quero saber quem lhe deu permissão para sair da ala hospitalar. – entrei escancarando a porta com tudo, mostrando que estava braba com ele. – Você entende que foi severamente machucado.
- Como se você não soubesse como odeio ficar lá. – vi que seus olhos ainda demonstravam espanto.
- Acho que ninguém te conhece melhor do que eu. – sentei-me no sofá ao seu lado. – Esta se sentindo melhor?
- Acho que sim, depois do segundo cruciatus nem sentia mais nada. – ele deu um sorriso forçado, vi que estava cansado. Suas mãos tremeram ao lembrar-se da sensação que o feitiço imperdoável causava.
- Tudo vai ficar bem, depois de uma bela noite de sono estará novo em folha.
Fiquei conversando com Shin por um bom tempo, principalmente sobre os momentos engraçados que presenciávamos no treinamento dos novatos.
[1] Imagem dos campos de lavanda – http://www.nippobrasil.com.br/3.turismo/554/furano1.jpg
[2] Espada japonesa. http://i3.iofferphoto.com/img/item/414/729/41/o_RED-DRAGON-KATANA-SWORD-103696.jpg
[3] Chan – expressão usada por pessoas com relações mais intimas, traduzido poderia ser ayazinha.
[4] Sensei – nesse sentido significa medico, doutor.
Comentários (1)
Bom parece que a luta foi bastante desleal.
2011-06-29