L'Âge D'Or, A Era de Ouro

L'Âge D'Or, A Era de Ouro



L’Âge D’Or (Legião Urbana)



Cidade de Hove, sul da Inglaterra, madrugada do dia 13 para 14 de março, 1980.



A prendi a esperar, mas não tenho mais certeza



Era noite, e o pequeno grupo se apressou desesperado pela rua sombria. Eles deveriam ser rápidos, havia uma vida em perigo.

Sophia Dalton era teimosa, recusara proteção mesmo depois de escapar por um fio dos Comensais da Morte. Quando a notícia do segundo ataque chegou à Ordem da Fênix, ela já estava longe. O espião só soube dizer o nome do cemitério, sem maiores detalhes.

Quem havia sobrevivido às sessões de tortura sabia o quão terrível era. Mas esses eram minoria, geralmente os capturados morriam.

Era isso que Sirius Black mais temia. Ele só desejava encontrar Sophia, a sua Sophia, ainda com vida. Que ela fosse salva e não virasse as costas à luta por causa daquela noite!



Agora que estou bem, tão pouca coisa me interessa



Sirius Black amava Sophia mais do que amava sua própria vida. Foi isso que disse à ela quando colocou o anel de prata com uma safira em seu dedo. Ela riu, apreciando a pedra azul brilhar sob a luz.

Ele lembrou-se disso enquanto dobrava uma esquina e avistava o cemitério. Sob a luz agora fraca da cidade, ele foi parado por um velho auror, que em duas semanas seria encontrado com a cabeça separada do corpo na sala de sua própria casa.

- Black, pare! Você também, Lupin! – Remo se juntou a eles, com o rosto da cor da cal da parede. – Vocês têm certeza de que querem entrar lá? Pode ser…

Sirius não se deu ao trabalho de responder, saiu correndo em direção aos portões de ferro fundido.



Contra minha própria vontade sou teimoso, sincero

E insisto em ter vontade própria.




Respirando fundo antes de entrar, ouviu uma voz conhecida às suas costas:

- Vamos, ela precisa de você – murmurou Remo Lupin.

Sem pensar mais, Sirius enveredou-se entre túmulos e criptas. Outros membros da Ordem se espalhavam pelo enorme cemitério, procurando por Sophia. Nenhum Comensal.

Sirius podia ver que Lupin estava tão nervoso e preocupado quanto ele.

- Acalme-se, vamos achá-la, Remo.

- Você sabe que ela é como minha irmã. Se acontecer alguma coisa, eu…

Lupin se calou não era preciso dizer mais nada.

Já haviam ocorrido mortes o bastante.



Se a sorte foi um dia alheia a meu sustento

Não houve harmonia entre ação e pensamento.




Muitos pares de pés corriam entre os epitáfios. Um grito bastou para reunir todos eles. Sirius estava próximo, e foi o mais rápido que suas pernas permitiam, com Remo em seu encalço.

O que viu foi um choque. Os curandeiros ainda não haviam chegado, então Sophia estava do modo como fora encontrada: caída de bruços em uma poça de sangue, com os enormes olhos fechados.

Ele se adiantou e a tomou nos braços. A cabeça da moça pendeu para o lado.

- Curandeiros! Ela precisa de um hospital! – gritou.

- Eles estão correndo para cá, Sirius – murmurou Lupin, contendo-se.

Sophia abriu os olhos semicerrados e encarou seu noivo aflito. Estava fraca, confusa, e não dava sinais de reconhecimento.



Qual é teu nome, qual é teu signo?

Teu corpo é gostoso, teu rosto é bonito




- Phie – Sirius balbuciou. – Você está bem? Está me reconhecendo? Sou eu, Sirius, lembra-se?

Os curandeiros estavam a somente alguns metros de distância, mas ela subitamente mudou de expressão e o beijou. Todos respiraram mais aliviados ao verem que ela estava bem.

Sirius se afastou, pedindo explicações e levantando-se. Ela se levantou e inclinou-se para beijar seu pescoço, ao mesmo tempo em que um auror que havia acabado de chegar teve um lampejo de compreensão e berrou:

- Afastem-na dele! Ela vai matá-lo



Qual é teu arcano, tua pedra preciosa –

Acho tocante acreditares nisso.




Um dos presentes puxou Sophia pelo braço antes que seus lábios tocassem o pescoço de Sirius. Ela sentiu o puxão e virou a cabeça, tentando cravar os dentes nos dedos que a haviam impedido de ter uma belíssima refeição.

Sirius Black, totalmente horrorizado com o que presenciara, empurrou-a com força para longe. Ela caiu com o rosto na terra, e subitamente tomou consciência do que era e havia feito.

Seus olhos marejaram vermelhos, enquanto uma voz rouca dizia:

- Parada, não se mexa até eu mandar.

Mas Sophia não pôde se conter. Levantou-se e tentou explicar ao noivo, porém sua mente estava em tal estado de letargia e confusão que só foi possível dizer:

- Me perdoa! Por favor, eu não queria!

Sirius somente balançou a cabeça, incrédulo, e saiu correndo entre os túmulos, a decepção sendo mais forte que tudo. Sophia se sentiu completamente solitária vendo o rapaz abandoná-la. Ela tentava explicar essa triste sina a si mesma.



Já tentei muitas coisas, de heroína a Jesus



Seus olhos encontraram os de Lupin em meio às faces hostis e varinhas levantadas. Ele estava mais pálido que cera, tremendo.

Sophia sentiu uma súbita onde de sede subir por sua garganta. Sem agüentar mais aqueles rostos mirando-a, correu na direção oposta a Sirius, para os portões de ferro.

Lampejos brancos passaram ameaçadoramente próximos à sua cabeça, mas alguém gritava para pararem – e para ela própria interromper sua fuga desesperada.

Não se importava com o que aconteceria a si, apenas pensava na frustração de Sirius, e na vergonha que sentia do que quase fizera a ele, desejava se esconder. E também na mediocridade de ser tão orgulhosa a ponto de recusar um pouco de proteção que fosse.



Tudo o que fiz foi por vaidade.



Passando pelas grades, ao se deparar com a rua que parecia tão diferente, ela deixou as lágrimas de sangue transbordarem. Não pôde dar mais um passo que não fosse para se debruçar no muro do cemitério e chorar para os tijolos.

Ouviu alguém vindo. Não se importava, poderiam até atravessar seu coração com uma estaca que não se importava.

- Phie – Lupin murmurou. – Phie, como você está?

- Vá embora e me deixe sozinha – Sophia sussurrou de volta, ainda com o rosto virado.

- Não, posso ver que precisa de ajuda.

Ela se virou para encará-lo, com manchas vermelhas descendo dos olhos.

- Olhe para mim, veja só no que me transformei! Eu quase matei Sirius! Ah, Sirius! Espero que um dia ele me perdoe… estou sozinha, meu amigo…

- Não, estamos juntos. Ou eu também não passei por isso?



Jesus foi traído com um beijo

Davi teve um grande amigo




Ela esboçou um sorriso triste.

- Preciso ir embora, Remo, não posso continuar aqui.

- Não faça isso. Eles não vieram te pegar porque sabiam que você falaria comigo. Por favor, volte comigo e não se torne uma inimiga.

- Não é isso, a questão é que não posso ficar sabendo o que fiz. Não se preocupe, vou estar bem na medida do possível.

Lupin observou-a sair correndo pela calçada e sumir na esquina por onde os aurores vieram. Então se virou para entrar no cemitério, triste como há muito não estava.

Os outros membros da Ordem da Fênix não gostaram nem um pouco de Sophia ter fugido, porém ele os ignorou seguiu direto para as criptas mais escondidas. Não precisou procurar muito, e logo achou Sirius sentado numa tumba, os olhos mirando o nada.

- Minha vida sempre foi um caos. Agora minha noiva se foi.



Não sei mais se é só questão de sorte



Lupin olhou para Sirius, sentado com as costas apoiadas no epitáfio. Não se agüentando de raiva, meteu-lhe um soco no rosto, com toda a força e ódio que pôde reunir.

- Mas o que você pensa que está fazendo? – levantou-se Almofadinhas, com um grande hematoma arroxeado se formando no canto da boca.

- O que você pensa que está fazendo? Phie te ama, seu animal!

- Ela tentou me matar, Remo! Matar justo a mim… – sua voz sumiu, lúgubre e macambúzio.

Lupin não respondeu, sabia que era duro para todos. Virou as costas e foi embora.



Uma semana depois, ninguém tivera notícias de Sophia, ela tinha desaparecido como fumaça. Lupin estava voltando para casa, depois de mais uma reunião da Ordem, quando sentiu um arrepio na base da espinha. Igual um outro dois dias atrás.



Eu vi uma serpente entrando no jardim

Vai ver que é de verdade dessa vez




- Eu te esperei para conversarmos – ele disse, sem virar-se.

- Eu te procurei antes, mas não tive coragem de me revelar.

Remo Lupin se virou e deu de cara com uma Sophia diferente de todas as que já viu.

Parecia mais bela e sedutora, metida num jeans apertado e numa blusa curta, embora não muito decotada. Sua boca vermelha exibia um sorriso que era a própria tristeza, e os grandes olhos castanho-esverdeados o miravam sem piscar. Os tênis de boa marca que tinha nos pés não eram dela, Lupin sabia. O anel de noivado continuava preso no dedo anular direito.

- Precisei de ajuda, mas não queria chateá-lo. Até que estou bem agora.



Meu tornozelo coça, por causa de mosquito

Estou com os cabelos molhados, me sinto limpo.




Remo abriu a boca para lhe falar sobre Sirius, mas ela o calou com um gesto.

- Vim hoje porque ouvi umas coisas. Tiago e Lílian não estão seguros, você sabe, mas o submundo tem coisas mais interessantes para contar. Vão atacá-los amanhã, Voldemort já sabe onde estão. Tive que vim avisá-lo, Remo! Você sabe como gosto deles! Tiago era meu colega de snap explosivo, e Lílian sempre me salvava das detenções não merecidas.

Aluado ensaiou um sorriso.

- E alguma vez você não mereceu uma detenção?

- Sempre que vocês me arrastavam para elas! Eu na biblioteca, vocês aprontando. Eu no corredor, vocês corriam e o zelador me pegava junto… quer mais exemplos? – ele abanou a cabeça, lembrando. A expressão dela se tornou controlada – Mas agora vamos falar sério. É deprimente ser o que sou, então não espere me ver mais. Nunca mais.



Não existe beleza na miséria

E não tem volta por aqui,

Vamos tentar outro caminho.




Sophia virou as costas sem dizer mais nada, e Remo deixou que ela fosse. A safira brilhou na escuridão, em algum canto fora da vista de Sirius Black. Então se tornou perfeitamente perceptível.

Havia alguma coisa lá, Sirius sabia. Olhou pela janela de seu apartamento, para a rua sombria. Tão sombria quanto no dia da morte de Sophia, na pequena cidade de Hove, um centro de estudos sobre trouxas.

Ele suspirou e se forçou a parar de refletir sobre ela. Mas, ao olhar para fora novamente, teve certeza de ver um par de olhos por um momento. Não, não ela. Sabia estar sendo vigiado, mas não ela.



Estamos em perigo só que ainda não entendo

É que tudo faz sentido

Não sei mais se é só questão de sorte

Não sei mais não sei mais não sei mais




Sirius pegou as chaves da moto e saiu apressado. Os Potter, precisava vê-los, tinha uma má intuição.

Fez o motor roncar, acelerou e empinou para cima, num vôo suave e barulhento no bairro vazio. Enquanto voava pelos céus, teve certeza de ver algo brilhando lá em baixo, na rua onde morava.

Seu pensamento tornou aos amigos… teria que mudar os planos. Mudar drasticamente o combinado. Ainda tinha tempo, não tinha? Podia salvar os amigos.

Mas algo se debatia em sua mente, tentando sair e tomar a forma de uma idéia. Uma imagem disforme de alguém muito branco, uma cor que insistia em se tornar mais nítida. Um tipo de verde duma armadilha.



Lá vem os jovens gigantes de mármore

Trazendo anzóis na palma da mão.




Na rua, Sophia tentava tirar o anel de noivado. Estava preso, somente Sirius conseguiria retirar, pois o desgraçado pôs um feitiço. Então ela cortaria o dedo.

Tornou a olhar para cima, para o pontinho brilhante que era ele. Largou o dedo, dando-se temporariamente por vencida.

Será que Sirius Black entendera o recado? “Salve os Potter, morra por eles se preciso, mas salve-os”.

Havia algumas poucas vantagens em ser uma vampira, algo no estilo de ter acesso aos assuntos dos Comensais da Morte. E depois fugir do país sendo perseguida por Voldemort. Todo bem, ela não pretendia ficar na Inglaterra mesmo, tinha a América inteira para descobrir.

Lançou um olhar ao anel de safira, sorriu desafiadora e virou as costas ao apartamento de seu ex-noivo.

O mundo começava naquele momento, cheio de descobertas a frente. Se era algo novo, seria uma nova Sophia.



Não é belo todo e qualquer mistério?

O maior segredo é não haver mistério algum.






N/A: a música é "L'Âge D'Or", como deve ter percebido, do grupo Legião Urbana. Eu achei que ficou bonitinha... isso foi antes do feitiço Fidelius ser feito. Por favor comente! Bjos, Lis West.

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