Único



Because I have something worth living for.


Foi quando tudo terminou que eu realmente percebi sobre o que se tratava. Desde o começo, eu pensei que a minha vida girava em torno das perdas... Eu estava enganado. Tudo girava ao redor dos ganhos.


Quando eu abri os olhos, percebi que não se tratava apenas de mim, e sim de um conjunto.


Eu era somente uma peça do quebra-cabeça do todo; uma peça fundamental.
Mas não era por isso que a minha vida era mais valiosa do que as que escorreram por entre os meus dedos.


Eu perdi parte das minhas risadas, da minha proteção, da minha família. Perdi de tudo um pouco ou de tudo, muito.


Fui ferido e feri.


Feri pessoas próximas, como também inimigos. Feri-me aos poucos, sentindo a dor extraviando os meus ossos e bombeando, cada vez menos, sangue em torno do meu coração. Aos poucos a fraqueza me acurralou. Encontrei-me perdido. Em uma floresta qualquer. Hermione ao meu lado, dizendo-me que a minha varinha – a que eu pensei ser a única capaz de derrotar Voldemort – estava destruída. Para sempre. E me perdi mais um pouco. Afoguei-me no poço do desespero.


Por muito tempo eu quis chorar e sufoquei as lágrimas por respeito aos que haviam partido para me proteger. Eu não choraria por sinal de fraqueza. Eu lutaria, mesmo que lutar significasse perder a vida.


Significasse ficar longe de todos os meus ganhos.


Se eu morresse... Se eu morresse... Adiantaria o processo de reencontro com aqueles que tanto me faziam falta. Adiantaria. Perder-me-ia outra vez em um abraço de Sirius, ganharia um olhar orgulhoso de Lupin, procuraria palavras para me desculpar com Snape, desistiria logo no começo de encontrar palavras para agradecer Dumbledore, falaria para Dobby que um amigo como ele era o melhor que se pode ter no mundo... E, pela primeira vez em vida, sentiria um abraço dos meus pais.


Porque eu tive mais do que uma prova de que há uma vida após essa a qual eu levo.


Se eu morresse... As coisas teriam tido um fim diferente. Não sei se melhor, mas creio eu, que pior, pois apenas um poderia sobreviver. A profecia assim o dizia. E se fosse eu a morrer... Eu não gostava nem ao menos de imaginar.


Mas aquela não fora a minha hora.


Finalmente, quando as varinhas foram abaixadas, quando o abraço de Hermione se deixou desafrouxar e da boca de Ron um suspiro aliviado escapou, eu soube que eu precisava permanecer ali. Eu precisava, enfim, saber o que era viver sem ter um fardo nas costas para carregar.


Eu tinha Gina.


E uma família.


E um futuro.


Eu tinha muito, quando pensei ter tão pouco.


Os que eu perdi, não estavam necessariamente perdidos. Estavam guardados. Em meu passado, em meu pensamento, em minha vida, em meu coração. E eu sentia a presença deles ali. Como sempre senti a dos meus pais. E também senti que, finalmente, eles estavam em paz.


E os que eu ganhei... Bem, esses estavam ali, com a presença sólida e com um sorriso no rosto. Esses estavam ali, com suéteres tricotados pela Sra. Weasley, com sorrisos sardentos estampados nas faces coradas, com cabelos armados e respostas na ponta da língua e, principalmente, com disposição para reerguer as barreiras derrubadas e, por fim, seguir adiante, juntos em todas as situações...


Foi quando tudo terminou que eu percebi que, ao longo da minha vida, eu tinha ganhado muita coisa.


Coisas pelas quais eu viveria para sempre.

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