Três Vassouras



O vento gelado batia em meus cabelos, enquanto eu, me segurando de ansiedade e frio, ficava ali parada perto do Salgueiro Lutador, mexendo em minha luva.


A neve cobria meu casaco, fazendo-o ficar com pequenos pontinhos claros, parecendo enfeites e desenhos da estampa da roupa. A boina que estava em meus cabelos lisos e bem arrumados para este dia já devia estar úmida e branca, mas eu nem ligava, só queria estar com ele, queria que ele chegasse logo.


Sabia que era errado, assim, ele era uma pessoa que adorava quebrar as regras e eu totalmente o contrário: sempre certinha e estudiosa. Porém... parecia que quanto mais diferentes éramos mais queríamos estar juntos.


Chequei, pela milésima vez, se minha varinha estava comigo, mordendo os lábios. Ele escrevera um bilhetinho para mim no dia anterior, na aula de poções, para encontrá-lo ali e com a varinha umas 7:30 da noite.


Voltei a observar minha luva, esquentando meus dedos. Um barulho me fez assustar e me escondi atrás de uma árvore, com medo de ser o zelador da noite. Não podia ser pega fora da cama nesse horário!


O vulto ficou mais claro e Tiago andou em minha direção, sorrindo e segurando uma capa. “Calma, sou só eu...” Disse, chegando mais perto e segurando em minha cintura, me fazendo corar. “Desculpe a demora, Sirius ficou me amolando e dizendo que não devia ir com tantos agasalhos assim, que aonde vamos não estará frio...” Sorriu de lado, me dando um beijo.


Respirei fundo, fazendo meu coração parar de palpitar tão rápido. “Onde vamos? Achei que íamos ficar pelo castelo mesmo...!” Perguntei enquanto ele me levava mais perto do Salgueiro Lutador, ainda segurando em minha cintura.


“Não... pensei em irmos a um lugar mais aconchegante, também, é nosso segundo encontro...!” Falou ele, passando a capa que segurava para outra mão e pegando a varinha. “Petrificus Totalus!” Lançou o feitiço na grande árvore, fazendo-a ficar imóvel.


Tiago me olhou nos olhos, sorrindo. Ainda andávamos, cada vez mais perto do tronco da planta, onde ele me encostou e me beijou fazendo cada fio do meu corpo se arrepiar, totalmente contra aquilo. Mas eu não era contra. Passei a mão pelo seu pescoço, acariciando seu cabelo, e ele me soltou.


“Quero te pedir desculpas adiantado por onde vamos passar... é meio estreito e ruim, mas logo já vamos chegar ao lugar que quero ir...”


Continuei meio em dúvida, mas o segui quando passamos por um pequeno buraco de baixo do Salgueiro, indo para uma escada e subindo um pouco. Me agachava para não deixar a terra achatada raspar em meus cabelos, ainda segurando em sua mão. Logo passamos por uma porta, pisando em uma madeira. Olhei em volta, tentando me localizar.


“Espera um pouco...” Disse, arregalando os olhos. “Essa é a...!”


“Sim, a casa dos gritos. Mas calma, não é aqui que quero te trazer... isso só faz parte do atalho...” Sorriu ele, me puxando para perto de si. Eu olhava todos os cantos, sabendo que aquilo era errado e que não devia estar ali. “O que foi, está com medo? Calma, eu estou aqui, te protejo...” Falou, agora bem perto de mim, me fazendo ficar meio tonta e me dando mais um beijo. Fiquei sem palavras, como sempre. “Vamos, já estamos chegando...”
Saímos pela neve, andando juntos e avistando o povoado de Hogsmeade. Quando já estávamos bem perto ele parou, atrás de uma casa, me olhando.


“Sei que não devíamos estar aqui, e sei que se você não estivesse em um encontro comigo provavelmente estaria me dedurando numa hora dessas... então peço desculpas, Srta. Evans, mas não venho aqui diariamente, tá? Só em ocasiões especiais e... com pessoas especiais...” Tiago falou, chegando mais perto de mim.


“Bom, Sr. Potter, posso dizer que estou ligeiramente desapontada com você! Achei que ia ter um motivo para dedurá-lo com mais vinculo ao diretor, mas como acabou de usar uma defesa tão grande... acho que vou deixar essa passar...” Eu brinquei, sorrindo e colocando os braços em volta de seu pescoço.


“É, acho que cometi alguns enganos em relação a sua pessoa...” Ele também sorriu, me beijando e me deixando tonta mais uma vez. Era tudo que eu queria, suas mãos em minha cintura, me puxando para perto dele, sentindo o calor de seu corpo, e ao mesmo tempo era tudo que eu mais temia: amar de verdade a pessoa que mais odiei no passado.


Passou a mão em meus cabelos e me soltou, eu olhei em seus olhos, sorrindo mais uma vez. “É, acho que cometi alguns enganos em relação a sua pessoa...” O imitei. “Suas mãos ficaram em um lugar aonde eu podia senti-las...!” Ri um pouco, ele me acompanhou enquanto pegava sua capa.


“Você sabe que não podemos ser vistos. Então... trouxe isso.”
Ele me mostrou uma capa feita de um tecido fino e leve, me cobrindo com ela. Franzi as sobrancelhas, não entendendo. Tiago fez sinal para eu olhar para meu próprio corpo, eu o fiz.


“Ual! Uma capa de invisibilidade! Onde conseguiu? São raras!”


“Bom... não sei, acho que meu pai me deu.” Ele falou, pegando-a de novo. “Nós vamos comer em um lugar especial. Sei que geralmente os casais de Hogwarts vão para o Café da Madame Puddifoot, mas me desculpe... não a suporto!” Disse, rindo. “Então, para não irmos para o Três Vassouras e comermos em baixo da capa, decidi fazer uma coisa diferente... só me siga, ok?”


Eu assenti, entrando com ele debaixo da capa.


A neve do chão deixava as marcas dos nossos passos apressados para trás, mas estas logo se apagavam por causa do vento. Pontas me abraçava com tanta vontade, sempre olhando e desviando das coisas. Eu só sorria, feliz por estar ali, esquecendo de tudo e de todos. Esquecendo que teria que fazer o N.I.E.M., esquecendo da tarefa de herbologia, esquecendo os problemas com minha irmã, Petúnia, em minha casa... Esqueceria de tudo enquanto ele estivesse ao meu lado.


Passamos por um portão da parte dos fundos de algum lugar, ele tirou delicadamente a capa de minha cabeça e limpou um pouco de neve em meus ombros, sorrindo.


“Onde estamos?” Perguntei, olhando em volta. Aquela cobertura não me parecia familiar.


“Na parte dos fundos do Três Vassouras! Madame Rosmerta é uma amiga minha, sempre me deixa vir aqui com Sirius, Remo e Pedro. Posso pedir qualquer coisa e...” Falou, apontando para uma mesa bem arrumada, com velas e tudo. “Já ‘reservei’ um lugar para sentarmos...”


Eu corei, sentando em uma das cadeiras. Tiago correu até uma porta, parando para esboçar um sorriso para mim.


“Quer uma cerveja amanteigada?” Perguntou, eu assenti, retribuindo o sorriso. Ele correu para dentro, voltando rapidamente com duas cervejas amanteigadas. “Aqui estão...”


Sentou a minha frente e bebeu um grande gole. Eu gosto de beber em pequenos golinhos, minhas amigas odeiam isso. Ele deixou o copo de lado, me observando. Corei.


“O que foi...?”


“Nada, é que você... Você é realmente linda.” Ele disse, pegando em minha mão. Fiquei mais vermelha e voltei os olhos para meu prato. “E, por incrível que pareça, fica mais bonita ainda quando está com vergonha...”


Eu ri, olhando em seus olhos. “Ham... Você já contou para alguém sobre... a gente?” Perguntei, bebendo mais uns golinhos.


“Só para Sirius, ele vai nos ajudar quando voltarmos para não sermos pegos por ninguém... Acredite ou não, Almofadinhas é o que mais conhece o castelo!” Ele riu, ainda mexendo em minha mão.


Ficamos nos olhando por mais um tempo, até que ele arrastou sua cadeira para mais perto da minha, acariciando meu rosto.


“Não sei o que está acontecendo...” Falou, franzindo as sobrancelhas. “Mas acho que estou realmente apaixonado por você!”


Fiquei super vermelha e ele me puxou para perto de si, me beijando novamente.


“Uma das melhores noites de minha vida” Falei, já no Salgueiro Lutador. “E passou tão rápido...!”


Tiago riu, me encostando de novo na árvore e beijando meu pescoço até chegar em minha boca. Segurou em minha nuca, me pressionando contra o tronco, enquanto eu passava a mão pelos seus cabelos rebeldes. Ouvi um barulho e, sem solta-lo, olhei pelo canto do olho, Sirius estava parado, observando.


“Ham... Lílian, você tem uma coisa estranha na sua cara...” Ele disse, e eu me afastei de Pontas, passando a mão pelo rosto. “Ah, tudo bem, já saiu, era só um Tiago.”


Nós dois rimos, nos desencostando do Salgueiro e indo até Almofadinhas, de mãos dadas.


“Ééé, segundo encontro, ‘pegação’ ali, andando de mãozinhas dadas...” Ele brincou, cutucando o amigo. “Já quero ser o padrinho do casamento, ein? Ou melhor, do filho, pelo jeito que vocês estavam ali...” Disse, dando uma risada longa e gostosa.


“Que exagero!” Tiago riu, me abraçando. “Você sabe que eu nunca deixaria meu filho ter um padrinho como você!!”


Sirius o empurrou, rindo muito. Entramos no castelo, bem quietos, e cada um foi para seu dormitório. Pontas me dando um beijo de boa noite e um ‘te encontro amanhã cedo’.


Deitei na cama, sorrindo muito. Todas as minhas colegas de quarto já estavam dormindo, mas eu não conseguiria dormir. Porque agora ele estava em mim, estava em meu coração.


E eu não ia deixar sair.

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