Capítulo único



A tensão naquela sala era visível. Todos os sons não passavam de sussurros e qualquer barulho mais alto sobressaltava a todos. A cada segundo chegava mais e mais pessoas, vindas de todos os lugares. Ex-alunos, pais, amigos, aurores e comerciantes... Todos unidos num só propósito: ajudar Harry a vencer Voldemort. Harry já havia saído dali com a Luna a quase dez minutos, mas nos parecia uma eternidade.
Eu estava sentada a um canto, minha cabeça apoiada no ombro dele, conversávamos baixo.
-- Como eu pude ser tão desatenta... Li aquele livro inúmeras vezes...
-- Não é sua culpa, Mione. Mesmo que tivesse lembrado do diadema, nunca teríamos tido condições de pegá-lo... estaríamos aqui da mesma forma... – disse ele, alisando meu cabelo – e além do mais, nem sabemos se de fato foi o diadema que ele transformou em Hor...
-- Rony...
-- Desculpa. Naquilo!
Ficamos em silencio por algum tempo, apenas pensando.
Gina se aproximou da gente, com os olhos brilhantes de lágrimas.
-- Ele vai ficar bem. – pude ouvir sua voz baixa. – já enfrentou cada coisa...
-- Tudo vai acabar bem, Gina. Ele sabe o que está fazendo – era a mais pura mentira. Nenhum de nós sabia exatamente o que estava fazendo, agíamos por extinto, e havia dado certo até aquele momento. Eu precisava acalmar ela, e Rony pareceu notar.
-- É Gina. Ele já passou por coisa muito pior... Enquanto estávamos fora, tivemos que enfrentar seqüestradores, o ministério, e ele e a Mione saíram vivos de um encontro com a cobra de você-sabe-quem...
-- E mesmo antes disso... Ele enfrentou você-sabe-quem outras vezes, os comensais na sala da profecia, capturou a pedra filosofal. Nada disso é novidade para nós.
-- Ele me salvou de um basilisco. – ela dizia com a voz tremula – me salvou de um basilisco com apenas uma espada e uma fênix... ele vai conseguir- afirmou, mais para si do que para nós.
Rony levantou-se de repente, em um pulo, olhou para mim e me segurou pela mão, me arrastando pra longe
-- Gina, fica aqui e se o Harry voltar diz que a gente foi ao banheiro da murta...
-- O que vocês vão fazer lá?
-- Depois explicamos, só de o recado a ele – e me puxou para fora da sala
-- Rony, o que você ta fazendo?
Mas ele não respondeu, apenas apertou a mão na minha, e continuamos a correr. Descemos cinco andares correndo, sem nos falar. Entramos pelas passagens secretas até sairmos num corredor já conhecido.
-- O que a gente faz aqui?
Antes de responder, ele me empurrou para uma sala vazia.
-- Não é obvio Mione? Temos que destruir... aquelas coisas...
-- Isso eu sei, mas não entendo o porque estamos aqui embaixo...
Ele respirou fundo, me olhando profundamente.
-- Como Dumbledore destruiu a outra...?
-- Com a espada de Griffyndor... – de repente o entendimento se fez em meu rosto, e ele sorriu. O sorriso que me encanta e me deixa tonta. – Merlin! A entrada da câmara secreta... O basilisco....
-- Exatamente. Quando Harry achar... O outro objeto... Poderemos destruir...
-- Roy até onde sei temos que saber ofidioglossia para entrar, e não somos ofidioglotas!
-- Vamos tentar a sorte... – seu tom era sombrio.
Saimos da sala e entramos no banheiro. O lugar estava sujo e molhado, pelo jeito não era limpo ou usado desde a ultima vez que havíamos estado ali. O silencio era pontuado pelos soluços vindos do ultimo Box do banheiro: a murta.
Rony andou até a frente do Box, e empurrou a porta.
-- Murta?
-- O que é? – respondeu a fantasma, mal educada, mas logo abriu um sorriso nos ver – ah, são vocês! Vocês não deviam estar aqui...
-- Murta, alguém tem vindo aqui no banheiro? – ele foi direto ao ponto, não querendo perder tempo
-- Desde que vocês estiveram aqui da ultima vez, ninguém mais veio me visitar. Nem o pirraça vem aqui me perturbar mais...
-- Hm, nem mesmo pra entrar na... você sabe... na câmara secreta... – Rony abaixou a voz pra falar as ultimas palavras.
-- Não. Ninguém além de vocês sabe da existência da câmara nesse banheiro.
Nós nos entreolhamos. Seria possível Voldemort já ter dado instruções para os comensais sobre a entrada da câmara secreta?
-- Você acha que...
-- Não. Nem pensar. Eles não sabem. – afirmei – Ele não confiou aos comensais nenhum dos segredos mais importantes, não confiaria esse...
-- Mione, parece meio obvio que ele gosta de se mostrar pros outros – ele falava baixo, parecia pensativo – é claro que ele já espalhou a noticia que é herdeiro de sonserina... Se algum comensal for inteligente suficiente pra ligar os pontos...
-- Rony, os inteligentes estão infiltrados no ministério ou sob seus cuidados na casa dos Malfoy.
-- Snape é diretor de Hogwarts, esqueceu?
-- Teremos que tentar a sorte. Enquanto Harry não for descoberto teremos tempo suficiente pra agir... – andei em direção a pia onde eu sabia se localizar a entrada pra câmara secreta, Rony me seguiu e parou do meu lado.
-- Como a gente vai abrir? – me perguntei, apreensiva.
Pensei um pouco, empunhei a varinha e sussurrei:
-- alohomora. – nada aconteceu. No fundo eu sabia que não daria certo, mas tinha que tentar. – me deixe pensar um pouco.
Me afastei da pia, dando a volta no banheiro. Precisava pensar em uma forma de abrir, tinha que ter outra forma de abrir a passagem, não podíamos esperar Harry nos encontrar e nenhum de nós sabia ofidioglossia. Comecei a andar em círculos, Rony observava a pia atentamente, parecia pensativo e relutante. 
-- Hermione, acho que eu posso abrir a passagem...
-- Não somos ofidioglotas, Rony. E não há feitiços que façam esse tipo de portal se abrir...
-- Já ouvi o Harry falar língua de cobra inúmeras vezes, acho que posso... Tentar. – terminou ele, me olhando.
Ele abriu brevemente os lábios, olhando pra pia em forma de cobra, os olhos levemente desfocados e a voz baixa. Me aproximei e pude ouvir sua voz sibilante. ele estava falando a língua das cobras.
-- Rony, acho que não va... – mas ele fez sinal pra que eu parasse de falar. Apenas fitava a bica em forma de cobra e sibilava.
 De repente a pia se moveu. Rony se aproximou de mim e juntos observamos a passagem secreta se abrir.
-- Eu disse que funcionaria. – ele sorria, em triunfo.
-- Eu... Eu... Não entendo... Deu certo...!
-- O eterno tom de surpresa...!
Nunca havia visto a entrada pra câmara secreta e me impressionei com a profundidade do cano. Olhei lá pra baixo e tive vertigens. Não conseguia ver o fundo daquele túnel, Rony sentou-se na beira do cano e encarou o chão.
-- Se eu não voltar...
-- Rony, não fala uma coisa dessas, eu...
-- Não, Mione. Se eu não voltar, quero saiba que... Que... – me abaixei para ficar da sua altura, olhei-o nos olhos, me perdendo naquela imensidão azul
-- Você vai voltar. Eu confio em você Rony! – alisei seu rosto, me demorando com o dedo sobre seus lábios – E nem pense que eu vou deixar você descer sozinho...
-- Pode ser perigoso, Mione. E se tiverem comensais lá embaixo?
-- Então eu vou lutar com você. – respondi firme. Não queria mais me separar dele, e sabia que o momento de dizer isso estava cada vez mais próximo.
-- Eu vou na frente, e depois você pula, ok? – deu-se por vencido.
-- Ok! – tirei a mão do rosto dele com certa relutância, ele me olhou nos olhos, parecia querer dizer alguma coisa, mas foi em silencio que impulsionou seu corpo pra frente e desapareceu na escuridão. Ele não gritou, mas podia ouvir o som abafado do seu corpo batendo nas paredes do túnel. Esperei até um baque mais forte e pulei.
O túnel parecia sem fim, a escuridão o deixava mais assustador do que era, e não pude evitar as batidas contra as paredes, nem reduzir a velocidade. Já estava me perguntando até quando eu ficaria caindo quando meu corpo bateu de encontro a alguma coisa, alguém.
Caímos com um estrondo no chão talhados de ossinhos, eu por cima dele, nossos rostos próximos. Mais uma vez me perdi naquele azul que sempre me acalmava, mas só de imaginar algo acontecendo a ele, meu peito doeu e meus olhos arderam com lágrimas.
 -- Me desculpa. – disse sem graça, saindo de cima dele.
-- Você está bem? – ele também se levantou ficando de frente pra mim. Tentei esconder as lágrimas, mas naquele momento já era impossível – Mione fica calma. Como você mesma disse: a gente vai conseguir e vai ficar tudo bem. – ele afagou meu rosto, me fazendo fechar os olhos – Eu estou aqui – ele me puxou pra um abraço, respirar seu perfume era o melhor dos calmantes, há muito havia descoberto isso. – nada vai acontecer a você enquanto eu estiver aqui pra te proteger. – levantei a cabeça e olhei para ele. Talvez fosse a tensão do momento, ou a proximidade repentina, mas ele estava ainda mais lindo do que eu lembrava a segundos atrás. Ele sorria minimamente e me olhava de forma profunda, como se mais uma vez quisesse dizer algo importante, mas novamente não disse; apenas me soltou do abraço e segurou minha mão – é melhor a gente ir...
Ele me guiou por um caminho estreito e escuro, mas parecia saber pra onde estava indo, mantínhamos as varinhas em posição, esperando ser atacados a qualquer momento. No fim desse corredor nos deparamos com uma porta, onde duas cobras estavam entrelaçadas. Isso me deu arrepios, pareciam reais. Mais uma vez Rony começou a sibilar, e as cobras se desenroscaram, abrindo uma nova passagem e dando lugar a um cheiro insuportável, cheiro de carne em decomposição. Ele entrou primeiro, desceu as escadinhas e me ajudou a descer.
 Fiquei paralisada no mesmo lugar por alguns segundos. O lugar era assustador: varias colunas em formato de cobras sustentavam o teto alto, tinha marcas de sangue seco por toda extensão do pisco escuro e bem em frente à entrada, no fundo da câmara, uma estatua enorme de um homem velho. No primeiro instante imaginei ser Dumbledore, mas então me lembrei do local onde estávamos e deduzi ser Salazar Slytherin. Meu susto foi maior quando olhei pro lado e vi a origem do cheiro ruim: Uma cobra gigantesca, de mais de 20 metros jazia no chão a poucos metros de distancia. Seu corpo enorme estava em decomposição, tudo rodou quando vi aquela cena.
Rony se aproximou do corpo do animal de nariz tampado
-- Acho que temos que pegar algumas dessas, não é? - perguntou, apontando pras presas enormes.
Balancei a cabeça em afirmação, me aproximando também. Ajudei-o a retirar as presas com auxilio de magia, quando julgamos já termos o suficiente juntamos todas as enormes presas e voltamos a escadas. Rony subiu na minha frente e me ajudou a subir também. Voltamos caminhando pelo corredor até chegarmos à clareira talhada de ossinhos e sujeira, onde o cano desembocava.
-- Como vamos subir? – ele me perguntou, quando depositamos as presas no chão
-- Como vocês saíram da ultima vez? – perguntei
-- A ave de Dumbledore nos ajudou, nos levou.
Pensamos por um instante, então ele apontou a varinha pro alto e murmurou:
-- Accio Vassoura! – e uma vassoura gasta não demorou a nos encontrar na câmara.
-- Agora segura forte em mim, acho que o caminho é bem íngreme – disse ele, olhando pelo buraco de onde saia o cano.
Arfei, imaginando o tempo de vôo até o interior do banheiro, e segui para onde ele estava com a vassoura.
-- Acho que precisaremos nos livrar disso antes de subir – disse ele, apontando para as presas no chão. Apontei a varinha para elas e as fiz aparecerem no chão do banheiro. Respirei fundo e me virei para ele.
-- Vamos?
 -- Hermione, espera. – ele veio em minha direção, olhava fixamente nos meus olhos, senti minhas pernas virarem gelatina.
-- O-o que foi? – ele estava parado bem em frente a mim agora, os azuis dos seus olhos, fixos nos castanhos dos meus.
Sua Iris parecia, uma terceira vez naquela noite, querer me dizer alguma coisa. Ele me olhava com intensidade, parecia querer ler o que se passava na minha mente.
-- Mione, se alguma coisa acontecer lá em cima.. – começou ele, com a voz baixa, quase um sussurro – se eu não sobreviver a essa guerra, acho que você deveria saber de uma coisa...
-- Rony eu já disse, nada de ruim vai acontecer... Tudo vai dar certo! – Tudo tem que dar certo.
-- Mas e se não der Mione? Se... Se um de nós não... Conseguir... Não vou suportar saber que não tive coragem de falar! – ele se aproximou um pouco mais de mim, de forma que agora eu conseguia ouvir sua respiração lenta. – Hermione, eu... eu gosto de você...
-- Claro que gosta Rony, somos amigos, e eu também gosto muito de você – no meu intimo eu sabia que ele não falava desse tido de gostar, mas eu precisava ouvir ele dizer com todas as palavras.
-- Não como amiga Mione. Eu... Eu realmente gosto de você, entende? – ele afastou uma mecha de cabelo com os dedos, colocando-a atrás da minha orelha com delicadeza.
Achei que dali seguiria um discurso enorme onde falaríamos de nossos sentimentos e juraríamos amor eterno, mas totalmente contrario às minhas expectativas, ele agiu:
Puxou-me pela cintura e me abraçou, um abraço forte, reconfortante. Sentia ele inspirando o perfume dos meus cabelos, enterrei meu rosto em seu pescoço e respirei fundo seu perfume. Ficamos assim, sentido as sensações mais diversas, apenas em um abraço, sem nos preocupar por alguns minutos.
 Nossos peitos subiam e desciam em total sincronia. Nos afastamos minimamente e selei meus lábios nos dele, sem aprofundar o beijo, somente sentido o calos das bocas juntas. Uma atitude simples que me fez sentir mil coisas diferentes. Senti suas mãos apertarem mais ainda meu corpo junto ao dele, e me senti sendo direcionada para a parede da câmara escura. Tornei a abrir os olhos e tive uma visão estonteante: ele tinha os olhos fechados e a boca entreaberta, seu cabelo vermelho jogado sobre o rosto perfeito, seu peito subia e descia, agora mais rápido, enquanto ele novamente selava nossos lábios.
-- Eu te amo. – disse ele, sem separá-los.
Um arrepio subiu pela minha espinha e senti minhas pernas bambearem.
Esperei anos para ouvir essas palavras saírem da boca daquele ruivo. Afastei-me um pouco, olhando-o nos olhos, o azul agora brilhante por algumas lágrimas, seu rosto, sarapintado de sardas, agora mais vermelho que nunca, os lábios finos num sorriso pequeno, mas suficiente pra demonstrar toda a importância daquele momento. Lindo, lindo como sempre foi, como sempre o vi.
Me aproximei e selei meus lábios novamente nos dele, agora permitindo sua língua explorar minha boca entreaberta. Era extasiante poder sentir a língua quente e ágil em contato com a minha boca. Sonhei durante anos com isso, mas somente agora, no meio de uma guerra, no local mais improvável que pude de fato provar dessas sensações.
-- Eu te amo. – sussurrei em resposta, assim que se tornou possível.
Naquele momento eu tive certeza que nada de ruim poderia nos acontecer naquela noite. E que se caso acontecesse, estaríamos ali para proteger, lutar e guardar um ao outro, estávamos juntos naquela luta, e nada ou ninguém poderia tirar isso de nós. Éramos somente nós: Rony e Hermione, agora pertencendo a nós mesmos: Hermione e Rony.

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Comentários (1)

  • TCLestrange

    AHHHHHHHHHHH!.... De boa... na hora que ela afastou um pouco e falou dele com os olhos fechados, imaginei Rupert Perfeição Grint na minha frente!.. Fiquei totalmente sem ar!.. Demais! Foi digno deles!..

    2014-01-31
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