Capítulo Único



Título: Belos Olhos Esverdeados
Autor: Naty L. Potter
Categoria: Challenge Janeiro/2010, Primeiro "Eu Te Amo", Presente de AS para Karen, POV, Multi-livros, Angst.
Advertências: Contém spoilers da história do Severo, contida nos livros e também em entrevistas.
Ship: Snape/Lily
Classificação: PG
Capítulos: One shot
Completa: [X] Yes [ ] No
Resumo: Snape faz um relato sobre sua vida e sua morte, e nisso conta tudo sobre seu grande amor.


N/A: Nunca pensei q escreveria uma fic com o Snape, mas fiz parte de um amigo secreto, tirei uma pessoa que o adora, e a ideia surgiu. Escrevi essa fic mesmo sem entender muito do assunto, ñ sei se está boa.



Belos Olhos Esverdeados

Cá estou. Sentado em uma escrivaninha velha, com um livro em branco a minha frente.

Não gosto de pensar nele como um diário. Acho isso estúpido e sem sentido. Penso nele como alguém pra conversar. Nele, posso ver tudo de outro ângulo, refletir, e tentar encontrar os erros que cometi em minha.

Começarei do início. Não do meu início, não do dia em que nasci, mas do dia em que me descobri sendo diferente. Do dia em que descobri que sou o que muitas pessoas evitariam. Do dia em que finalmente encontrei meu verdadeiro eu.

Eu tinha onze anos, e estava indo a Hogwarts. Minha cara fechada, como sempre esteve, e tudo a minha volta parecia estranho, errado. Todos aqueles rostos felizes... tolice. Não há porque ser feliz, não há porque sorrir. O mundo era uma desgraça, e muito se enganam aqueles que acreditam na vitória do bem, ou do mal. Não havia vitória. Havia apenas uma disputa eterna que nunca acabaria, e enquanto essa disputa existisse, o mal sempre aconteceria de alguma forma, em algum lugar.

Foi então que vi, parada próxima a mim, com o olhar temeroso e tímido. Uma pequena menina, de cabelos ruivos e olhar esverdeado. Seu nome era Lily Evans, uma menina trouxa que pouco sabia sobre bruxaria, a quem eu conhecia desde minha infância.

Sentamos em cabines separadas. Ela não me vira, e eu na verdade não havia ido atrás dela.

Hogwarts era um lugar grande e mágico. Feitiços por todos os cantos, e tudo o mais que uma pessoa normal não esperaria ver.

O diretor, alto e imponente, em pé, a frente de todos, anunciou os novos alunos. Como um ritual antigo, ocorreu a seleção das casas.

Foi a primeira de muitas seleções que vi na vida, e pessoas de todos os tipos passaram por lá. Um Black. Um Black que foi para Grifinória. E eu? Eu fui para Sonserina, a casa de bruxos do mal e pessoas arrogantes, onde a riqueza e o nome contavam mais do que qualquer habilidade.

Foi preciso tempo para que eu me habituasse à Hogwarts. Os almoços e jantas, sempre acompanhado de centenas de crianças. E eu sempre a observava. Lily Evans ficava na mesa mais distante do salão, do outro lado. Nós mantínhamos uma amizade distante, mas eu sempre ansiei por mais.

Eu a observava em todos os momentos que meus olhos a viam.

Eu queria ser como os outros, comunicar-me fácil, ter habilidades em quadribol e nas matérias, mas não tinha. Minha única habilidade reservava-se a sala de poções, onde o professor Slughorn apreciava meus feitos, e apreciava os de Lily também, que possuía uma extrema habilidade para todas as matérias.

Os anos foram passando, e mesmo assim, eu continuava a observá-la. Ela era meu desejo mais profundo, mais intenso. Eu não possuía sentimentos adolescentes bobos, como os outros. Eu sabia que o que sentia por ela era maior do que qualquer coisa, mas ela não me correspondia. Ela era apenas minha amiga, alguém que eu notava não querer nenhum tipo de envolvimento comigo.

E um dia, isso se partiu. Nosso laço de amizade, que apesar de não ser o que eu queria eu prezava tanto, foi quebrado por mim. Mas mesmo assim, continuei a observá-la assiduamente.

Por sempre estar observando Lily, acabava por ver também, seu outro admirador. James Potter apreciava Lily tanto quanto eu mesmo.

Havia uma linha tênue que nos dividia em mundos diferente. James Potter era o capitão do time de quadribol, o melhor da classe em todas as matérias, o mais popular, o mais bonito... Ele era o tipo de pessoa do qual a Lily não deveria gostar.

Mas ela quebrara as regras. Ela se rebelava, negava, mas até para mim, que era inexperiente nesses assuntos, ficava cada dia mais óbvio os sentimentos dela por ele. Eu tentei de tudo. Tentei fazer com que ela me notasse, tentei não parecer invisível, mas falhei. Lily Evans não admitia, mas seus olhos, que eu conhecia tão bem, não negavam. Ela estava apaixonada pelo Potter.

Meses se passaram. Meses em que eu continuei sozinho e em que Potter continuava a perseguir Lily.

Talvez meu erro tenha sido este. Ver meu inimigo atacar e simplesmente ficar quieto, observando, sem correr atrás de meus sonhos, do meu coração.

Não demorou muito para que acontecesse o que não foi exatamente um choque para mim. James Potter conseguira. Ele a conquistara tão miseravelmente, que era possível vê-la envolvida naquele relacionamento de uma maneira completamente entregue.

Começaram a namorar sério. James mudara, parara de mexer comigo – pelo menos quando estava com ela, o que, na verdade, era o tempo todo – e ela também mudara. Ela não era mais desconfiada dele, ela simplesmente era apaixonada por ele. Assim como ele era por ela; diziam os amigos próximos.

Para mim isso não importava. O que importava é que no final, o que eu sempre esperara aconteceu. Eu fiquei sozinho, derramando lágrimas secretas por sobre o leite derramado. E ela continuava seguindo sua vida, ao lado de James e seus amigos.

Anos se passaram e eu recebi a notícia. Lily e James teriam um bebê. Um filho que seria fruto do relacionamento dos dois. Que foi criado a partir de algo que eu desejava insanamente poder ter vivido com Lily. Mas não vivi. Por total culpa minha.

O menino nascera, e fotos dele acabaram chegando a minha porta. Notícias correm, e dizem que as ruins correm mais ainda. Pois aquelas fotos eram notícias péssimas. O pobre menino havia nascido igual ao pai, e sua única qualidade eram os olhos esverdeados de sua mãe. Eu recortei os olhos, e os guardei no bolso, onde volta e meia visitava para encarar os belos orbes esmeralda que tanto amava.

Em uma noite fria de chuva, enquanto observava pela milésima vez aquela foto, chegou-me um jornal. Uma edição extra do profeta diário, que possuía em sua capa uma foto que me aterrorizou por todos os anos de minha vida. Lá estava a foto de Lily e James Potter, mortos.

E naquele momento eu consegui perder algo que nunca tive. Eu perdi Lily, seu encanto, seu brilho e sua vivacidade. Eu me perdi naquele momento.

Anos se passaram em que minha vida não fazia mais sentido. Havia me tornado professor de Hogwarts, mas isso simplesmente ocupava meu tempo, e não minha cabeça ou coração.

Em um dia comum de trabalho, eu vi entrando pela porta do salão principal, uma imagem que se fixara em minha cabeça por anos. Lá estava, idêntico ao pai em cada detalhe, com as belas íris verdes da mãe. Harry Potter estava no salão, sendo selecionado para Grifinória.

Por todos os seis anos em que o acompanhei na escola, protegendo-o, tudo o que apreciava no garoto eram os olhos. Os olhos que tanto amei e nunca tive.

Enfim, foi chegando o momento que inicia minha estadia aqui, onde estou, como um fantasma que ninguém nunca viu, e que sonha em finalmente se libertar e partir de uma vez.

Iniciou-se uma nova guerra, e eu era visto como um espião por ambos os lados.

Não há muito que contar sobre este período, considerando-se que nele nada há de importante. A única coisa que é necessária a esta altura, é o ponto final e crucial de minha história.

Um momento foi tudo o que foi preciso para que eu entendesse que ali, naquele momento, chegara minha hora. Minha hora de mudar tudo, de salvar minha história, de fazer ao menos um favor por aquela que idolatrei em toda a minha vida. Foi naquele momento que decidi fazer com que a morte dela não fosse em vão.

Permiti a mim mesmo a chance de me redimir, fazendo o ato tolo de não me defender, de permitir que Nagini me envolvesse e me matasse de forma tortuosa, porém rápida.

Como um fantasma que sou, cujo ninguém sabe da existência, sou o único que ouviu as palavras que eu mesmo pronunciei, e sou o único testemunho daquele ato.

Após me matar - ou pensar assim-, Nagini foi embora com seu mestre, e Harry Potter se aproximou de mim. Entreguei-lhe a lembrança mais preciosa que possuía, e o olhei profundamente nos olhos, nos olhos que brilhavam como os de sua mãe, e em um único momento em que ele se distraiu, eu pronunciei quase sem voz, as três palavras que sempre desejei dizer para ela, mas nunca disse:

— Eu te amo, Lily...

E foi então que perdi o sentido.

E hoje cá estou, preso em uma velha casa escondida muito longe do local onde vivi por quase toda a minha vida, escrevendo em um caderno qualquer encontrado na rua, sobre o quanto demorei em revelar meus sentimentos.

Sou um fantasma que, tenho certeza, está a destinado a viver o resto da vida - ou morte, não sei-, apenas com uma imagem na cabeça: A daqueles belos olhos esverdeados.


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.