Na pista de um elfo doméstico



Capítulo 5: Na pista de um elfo doméstico



Na cozinha todos pareciam muito atarefados, pelo menos mais do que o normal. O ano letivo iria começar em breve então era preciso preparar o banquete de abertura com todo o luxo ao qual os alunos de Hogwarts estavam acostumados. Não que fossem mimados, a maioria nem chegava perto disso, mas ninguém podia negar que nenhuma escola favorecia tanto seus alunos, nem Beauxbatons nem Durmstrang dão tantos privilégios para seus alunos, em parte alguma do mundo jovens bruxos são capazes de usar magias tão avançadas como em Hogwarts e em tempo algum uma escola teve autorização do governo para treinar bruxos de modo que se tornem tão superiores aos demais. Sem a menor sombra de dúvida, Hogwarts recebeu um voto de confiança do qual devia se orgulhar.

De qualquer forma, todos pareciam muito atarefados, se via elfos correndo para todos os lados, enquanto tentavam cozinhar pratos que seriam motivo de orgulho para qualquer mestre-cuca, limpar cada grão de poeira do lugar, polir toda a prataria até que se visse seu reflexo nela, entre outras tantas coisas.

Enquanto Sirius se aproveitava da situação para verificar se a comida não estava envenenada, Lupin e Alex procuravam por Dobby. Depois de muito perguntar descobriram que ele fora enviado junto de uma equipe para a Sala Comunal da Grifinória com o objetivo de preparar os dormitórios para a chegada dos alunos.

Ambos concordaram de que não haveria problema se eles fossem até a Torre da Grifinória sem avisar Dumbledore, afinal, o que um membro do Ministério faria lá? Extremamente relutante, Sirius deixou a cozinha tendo provado apenas um quarto do que lá havia e os três se encaminharam para o sétimo andar por passagens que nem o mais insistente explorador poderia encontrar.

Não houve grandes contratempos durante o caminho até a Torre, porém, um pequeno imprevisto surgiu quando já estavam de frente para o retrato da Mulher Gorda.

-Não sabemos a senha!!! - exclamou um desiludido Lupin.

-Meu caro amigo, você tem o dom de perceber o que já é óbvio! - resmungou Sirius - Só me faltava essa, e agora?

-Agora, temos que voltar até o escritório de Dumbledore para perguntar a senha.

-Eu faço isso - se prontificou Sirius.

-Não, é ,melhor deixar comigo, se você for pego no meio do caminho por alguma pessoa ou fantasma indesejado teremos sério problemas.

-Como quiser.

Lupin se afastou do grupo a passos largos e desapareceu numa esquina. Quando já era impossível para ele ouví-los, Sirius falou:

-Então, parece que não há muito o que fazer por enquanto.

Alex não respondeu, continuou a olhar para a esquina em que Lupin desaparecera.

-Ei, Alex! Olááááá... Terra para Alex, responda Alex.

A garota tomou um susto e pulou para trás.

-Seja lá o que aconteceu com você, a partir de agora vou andar sempre com uma câmera. Não posso perder outra oportunidade assim - disse Sirius enquanto gargalhava.

-Ha Ha Ha... muito engraçado - respondeu forçando uma cara zangada.

-Ei! Não precisa ficar brava, eu não vou ficar segurando uma câmara para tudo quanto é canto só para pegar você fazendo alguma coisa mirabolante... se bem que hoje merecia uma data no calendário - Sirius fez uma careta - Mas, mudando um pouco de assunto, como vão indo você e o Remus? - disse com uma cara inocente.

-...

-Mal, pelo que dá pra ver. Ah, qual é Alex, todo mundo sabe que está acontecendo qualquer coisa entre vocês.

-Não é bem isso Sirius. Já faz muito tempo e...

-Eeeeeeee?!?!?!?!?!?!?!?

-Eu só acho que não vai funcionar, eu não sou exatamente o tipo dele. Veja bem, ele é inteligente, calmo, amigável e sempre acha uma solução para tudo, e não precisa esconder que eu sou a pessoa mais agitada que você já conheceu.

-Não preciso e nem tento, você e Thiago foram feitos da mesma forma, não param nem se fossem acorrentados ao chão.

-Exato viu o que eu digo?

-Fala como se Thiago e Lily fossem parecidos. Nunca ouviu falar que os opostos se atraem?

-SIRIUS!!!!!!!!!!!!!!! - Alex gritou com todas as forças fazendo sua voz ecoar pelo corredor.

No instante seguinte, quando Alex estava prestes a exterminar o último dos Black, Lupin apareceu na mesma esquina na qual havia sumido pouco antes com uma expressão de completo terror.

-O que você pensam que estão fazendo? O ministro Fudge está aqui e deu para ouvir esse berro do outro lado do castelo, será que já passou por essas cabeças que se pegarem Sirius aqui é o fim?

Tanto Alex quanto Sirius empalideceram enquanto processavam a informação, o ministro não tardaria em chegar.

-Dumbledore o está atrasando. Enquanto isso nós entramos na torre e não sairmos até que ele ou a Pr.ª Mcgonagal apareçam para nos dar carta branca. Entenderam? - ambos confirmaram com um aceno de cabeça.

-Ótimo! - Lupin virou-se para o quadro da Mulher Gorda - Misterionsia!

O buraco na parede se abriu e entraram em completo silêncio. O quadro mal voltara ao seu lugar quando o corredor foi invadido pelo som de passos, do lado de fora era possível identificar duas vozes masculinas, mas nenhum dos presentes era apto para descobrir seus donos. Como não havia mais nada a fazer, escutaram a conversa rezando para que nenhum dos dois tivesse a senha para a Torre.

-Viu alguma coisa?

-Não, nem sinal.

-Isso só pode ser mais um truque de Dumbledore, provavelmente já suspeitava de que estávamos procurando.

-Fale baixo, quer que nos descubram? Nesse lugar as paredes tem ouvidos, sabia? Vamos, acho que tinha visto alguma coisa no 3º andar antes dessa gritaria.

Os três esperaram até que o som de passos desaparecesse, depois se entreolharam, quem eram essas pessoas e o que estavam procurando?

-Então? - disse Sirius incerto.

-Então o quê? -disse uma voz fininha.

Todos se viraram para se deparar com um elfo doméstico com uma expressão não muito agradável. Ele usava um uniforme branco com detalhes em amarelo, um distintivo dourado com um grande CM reluzia preso a sua blusa.

-Ora, o que alguém faz aqui a esta hora? Não vem que estamos ocupados? - continuou em tom enfurecido.

-Nos desculpe, não era a nossa intenção atrapalhar - disse Lupin tentando concertar a situação - Precisamos falar com um elfo doméstico que atende pelo nome de Dobby, nos disseram que estava trabalhando aqui.

-Oh, me perdoem, achei que eram mais agentes do Ministério xeretando nosso trabalho - a expressão do elfo amenizou-se até se tornar agradável - Eu sou Bonu, Chefe da Manutenção de toda Hogwarts, qualquer problema é só me chamarem - Bonu estendeu o indicador para uma das escadas - Dobby está no dormitório dos alunos do quarto ano, é a quinta porta, há uma placa indicando em caso de dúvida, batam na porta duas vezes e esperem que a abram.

-Muito obrigado - agradeceu Lupin antes de subir a escadaria até encontrar uma porta onde se lia “Dormitório dos Alunos do Quarto Ano”, assim como disse Bonu. Lupin bateu na porta três vezes com um nó nos dedos e esperou até que uma figura já bem conhecida aparecesse.

-Dobby, a quanto tempo!- cumprimentou Remus com um grande sorriso.

-Muito bom dia Pr.º Lupin - Dobby fez uma reverência ao mesmo tempo em que abria um sorriso de orelha a orelha, depois desviou o olhar para os companheiros de Lupin - Quem seriam?

-Ah! Estes são Sirius Black e Alexandra Potter.

-POTTER?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!

-Sim, ela é prima de Thiago e tia e madrinha de Harry.

-É um imenso prazer conhecê-la, senhorita Alexandra - disse Dobby enquanto fazia uma enorme reverência.

-É um prazer conhecê-lo também Dobby, pode me chamar de Alex.

-Como desejar senhorita Alex!

-Por que será que tenho a impressão de que ele gostou de você? - todos riram perante o comentário de Sirius.

Depois das apresentações, todos se sentaram nas camas e conversaram sobre qualquer assunto, assim ficaram sabendo que com as frequentes visitas de membros do Ministério Dumbledore decidiu que os elfos domésticos deveriam estar mais organizados para não deixarem nada escapar, especialmente considerando que muitos dos visitantes trazem um ou dois criados que acabam se misturando entre os empregados da escola com o intuito de conseguir alguma informação para seu mestre.

Para resolver esse problema, o diretor criou um uniforme para os elfos domésticos e os dividiu por tarefas nomeando um chefe para cada departamento, Bonu era o Chefe de Manutenção e estava vasculhando os dormitórios com sua equipe para consertar qualquer problema que encontrassem e também para uma revisão antes das aulas. Dobby mostrou com orgulho o distintivo de prata com um grande M, identificando a equipe da qual fazia parte. Os outros departamentos eram Limpeza, Refeições, Jardinagem e Trato de Criaturas, cada qual tinha seu próprio uniforme e um chefe que organizava o grupo. Limpeza usava roupa azul-marinha e o chefe era Wese, o uniforme de Refeições era rosa e sua comandante era Winky (que se recuperou de toda a depressão quando a confiaram para o cargo e agora era muito respeitada pelos colegas), Jardinagem se vestia de verde e estava sob as ordens de Mia e Trato usava amarelo com as orientações de Tori.

Dobby conversava animadamente enquanto procurava por qualquer coisa nas camas que poderia fazê-las cair. Depois de uma análise completa do cômodo, ele pegou pena e pergaminho e escreveu em poucas linhas um relatório para Bonu. Terminado o trabalho deu um longo suspiro e perguntou:

- Há alguma coisa em que Dobby pode ser útil para os senhores e a senhorita?

- Bem, Dobby, na verdade há uma coisa...

O elfo ficou a escutar em silêncio a voz incerta de Lupin.

-Nós precisamos muito da sua ajuda. Deve ser duro para você, mas nos ajudaria muito se pudesse nos contar sobre certas coisas que poderia ter observado durante seu tempo com os Malfoy.

Dobby ficou repentinamente estático, levantou-se de sopetão e começou a tremer só de ouvir aquele nome. Sirius se aproximou de Dobby e ajudou-o a sentar-se, se ele desmaiasse seria melhor que não fosse no chão. Talvez a pergunta devesse ter esperado mais um pouco, mas não tinha outro jeito, era agora ou nunca. Percebendo a tensão da situação, Alex ajudou Sirius a amparar o pobre Dobby e falou com ele em um tom muito doce.

- Dobby, eu sei que é difícil para você. Eu nem tento imaginar o que é servir os Malfoy por tantos anos e não receber nem ao menos um sinal de gratidão, por mais mísero que fosse. Nunca consegui ficar mais de dois minutos no mesmo cômodo que Lúcio sem levantar a voz para criticá-lo por isso ou aquilo. Ainda posso me lembrar de todas as vezes que me declarei contra seus planos, todas as vezes que interferi em seus assuntos, todos os que defendi dele. E sabe do que isso tudo adiantou? Pode-se dizer que muito, pode-se dizer que nem tanto, menos de um décimo das pessoas com quem conversei sobre o assunto me deram atenção, mas esse um décimo poderá convencer outro um décimo, que convencerá outro e assim a corrente atinge a todos. E mesmo se não alcance os dez décimos não terá sido um esforço em vão, podem ser um ou sessenta, desde que haja pelo menos um que se torne diferente, um que mude, vale a pena a dor de cabeça. Então por favor Dobby, mostre para mim que você mudou também, me mostre que não vai ficar com medo dos Malfoy, eles já estão sendo investigados pelo Ministério e não há nada que possam fazer sem que haja suspeitas. Tudo depende de você Dobby, pense bem.

O elfo enxugou as lágrimas, e ainda trêmulo disse com voz fraca:

-Está bem, Dobby vai ajudar.

Alex abriu um sorriso.

-Muito obrigada, Dobby. Não faz idéia de o quanto isso é importante para nós.

-Como Dobby pode ajudar?

-Nós precisamos que nos fale sobre os prisioneiros de Lúcio. Haviam celas na mansão, não haviam?

-Sim, muitas celas, muitas pessoas dentro delas.

-Você se lembra de quem eram as pessoas nas celas?

-Dobby não lembra porque Dobby nunca as viu. Dobby não descia lá embaixo.

-Mas havia um elfo que cuidava do lugar e levava as refeições.

-Quem levava a comida era Sneff, Sneff sempre ia lá embaixo, antigo amo castigava muito Sneff quando ele demorava.

-Como era Sneff?

-Sneff era MUITO organizado, sempre fazia tudo no horário, mas o amo não gostava dele, não era muito forte, não aguentava carregar coisas muito pesadas mas consertava tudo em segundos. Sneff sempre foi bom nisso, Dobby aprendeu a consertar coisas com Sneff.

-Você disse que Lúcio não gostava de Sneff só porque ele não era muito forte?

-Não, Sneff era muito útil mas muito bom, tinha pena das pessoas nas celas, amo achava que ele podia soltá-las, então prendia Sneff com correntes.

-O que aconteceu com Sneff? - depois de dizer isso Alex sentiu que estava ficando muito tensa, sem dúvida alguma estava chegando perto de onde queria.

-Sneff foi vendido, para homem muito esquisito, velho curvado com os cabelos untados com óleo.

-Sabe o nome dele?

-Dobby não sabe, mas Dobby ouviu que ele tem uma loja na Travessa do Tranco.

-Travessa do Tranco, muito apropriado. Dobby, só mais uma coisa, você sabe o que aconteceu com as pessoas nas celas?

-A maioria morria em pouco tempo, só sobraram dois, um dia Dobby viu levarem eles embora, Dobby não sabe para onde.

-Você se lembra quem eram?

-Dobby não viu os rostos, estavam cobertos, com capa preta, um homem e uma mulher, Dobby ouviu as vozes.

Lupin, Sirius e Alex sentiram o coração parar repentinamente, ao que tudo indicava, Thiago e Lílian deixaram a casa dos Malfoy ainda com vida.

-Dobby, você sabe há quanto tempo isso aconteceu?

-Há seis anos, levaram eles à noite em 31 de julho.

Os três trocaram olhares, seria coincidência que eles tivessem sido levados no dia do aniversário de Harry, bem no ano em que ele entraria para Hogwarts? A resposta mais provável era não, havia alguma coisa por trás disso, tinha que haver.

-Muito obrigada mesmo Dobby! Nós nem sabemos como agradecer, por favor, se conseguir lembrar de mais alguma coisa, nos avise.

-Dobby ajuda sempre que puder.

Os três enfim desceram até a Sala Comunal, onde receberam mais instruções de Bonu sobre como sair sem que ninguém os perceba, o que era um tanto inútil se considerarmos que estava falando com os criadores do Mapa do Maroto, mas em todo caso...

Com algumas idas e vindas por passagens secretas, chegaram ao escritório de Dumbledore e falaram sobre as revelações de Dobby e sobre as vozes que ouviram fora da Torre.

-Podemos facilmente descobrir quem eram os intrusos, basta perguntar para os fantasmas se viram alguém no 3º andar depois do pequeno exagero da senhorita Alexandra - Dumbledore deu uma piscadela para Alex, suas bochechas quase que ficaram da mesma cor do seu cabelo só de pensar no pequeno exagero cometido por ela - Quanto a Sneff, seria bom procurarem por algum vendedor que mantivesse contato constante com os Malfoy nos últimos seis anos, no Ministério não vai ser difícil encontrar uma lista dos lojistas da Travessa do Tranco, o difícil será descobrir quem são seus clientes mais usuais e o que geralmente compram, já que esse tipo de informação é confidencial, teremos que nos virar nesse ponto - o diretor fez uma pausa, alisou a imensa barba e disse em seguida - Creio que seria um tanto “escandaloso” se o Sr. Black aparecesse no Ministério e infelizmente não permitem cães lá. Nesse caso acho que Lupin e Alex devem ir sozinhos atrás da lista, enquanto isso, Sirius poderia ir até a Travessa do Tranco e perguntar para os moradores locais se há alguma loja em especial que Lúcio tem o costume de visitar. Sugiro que comecem amanhã, será melhor se descansarem esta noite.

Todos concordaram com um aceno de cabeça.

-Nesse caso acho que seria melhor se hospedarem em Hogwarts, mesmo nestes tempos de crise, ela continua sendo o lugar mais seguro. Vou mandar preparar seus quartos.

Dumbledore saiu da sala e voltou alguns minutos depois com um elfo doméstico que os guiou até seus aposentos.



------------------------------------------NA MANHÃ SEGUINTE----------------------------------------



Alex acordou com excelente humor aquela manhã, fazia muito tempo que não visitava aquela escola que sempre considerou como seu segundo lar. Aquele lugar em que tinha morado por sete anos de sua vida, como sentira falta dele e mesmo assim nunca tentou visitá-lo nem ao menos uma vez em todos esses ano, afinal, apesar daquele ser o lugar onde a maior parte de suas lembranças de infância e adolescência se passaram era também o lugar que fazia reviver tudo o que tinha acontecido para seus amigos durante a Era das Trevas que Voldemort criou. Era difícil olhar o anuário, ver todos aqueles rostos novamente e ter de lembrar o que aconteceu para cada um deles, cada história trágica que acabava com um final infeliz.

Mas já estava na hora de enxugar as lágrimas e ser forte e, talvez, ela pudesse mudar o destino de duas dessas pessoas. Lembrou-se de quando Thiago e Lílian se mudaram para Godric’s Hollow, era um tempo em que não havia o que temer, vivam felizes lá, eles e seu filhinho Harry, nada de tormentos na vida do casal. Alex olhou a foto que deixara no porta retrato sobre a cômoda, lá estavam seu primo abraçando Lily que carregava um bebê em seus braços. Pareciam tão felizes, seria muito bom se tudo pudesse voltar a ser dessa forma, ou melhor, tinha que voltar a ser dessa forma e ela faria tudo o que estivesse ao seu alcance enquanto ainda restassem esperanças.

Uma batida na porta fez Alex acordar de seus devaneios.

-Quem é?

-Sou eu Remus, já está pronta? Temos uma hora para tomar café da manhã e partir.

-Eu já estou indo!

Alex abriu a porta para ver o rosto de Lupin com seu sorriso habitual. Desceram até a Salão Principal onde foram servidos café, rosquinhas, frutas e algumas especialidades do lugar. Na mesa se encontravam também Sirius, Hagrid, Mcgonagal, Flitwick, Dumbledore e (para a surpresa de Alex e Remus) Tonks. Conversavam animadamente ao mesmo tempo que reviam mais uma vez os procedimentos a serem tomados caso Sirius seja descoberto na Travessa do Tranco.

-Que bom que chegaram - disse Dumbledore - temos muito o que discutir.

Ambos se sentaram à mesa e cumprimentaram a todos, depois de falarem sobre um tema qualquer por uma boa meia hora, Dumbledore pediu silêncio ao grupo.

-É muito bom ver todos reunidos apesar das circunstâncias. Em nossa atual situação seria melhor se planejássemos tudo com extremo cuidado e dedicássemos esse momento precioso para isso - ele fez uma pequena pausa - Graças a Dobby conseguimos algumas informações preciosas sobre - ele baixou o tom de voz até se este se transformasse em um sussuro - os Potter - ele voltou a elevar a voz - Mas receio que estas informações não são exatamente úteis, uma vez que só reforçaram nossas suspeitas, porém, elas nos levam a outra fonte, esta sim poderia nos dar os dados de que tanto necessitamos. Acho que todos já foram informados das condições em que nos encontramos, o que nos impede de fazer movimentos muito bruscos na frente do Ministério. Por isso, preparei um plano de ação que, espero eu, possa ser seguido sem maiores complicações.

Dumbledore tirou a varinha de um dos bolsos e conjurou uma lousa que se autoescrevia. Dumbledore recomeçou a falar enquanto seu discurso era esquematizado com traços de giz.

-Como eu ia dizendo, montei um plano de ação. Em minhas reflexões examinei atentamente o objetivo a que estamos nos dedicando no momento e os meios que temos para consegui-lo. Ao que parece nossa melhor fonte seria Sneff, mas este foi vendido para um comerciante cuja loja se localiza na Travessa do Tranco, o comprador de Sneff deve ser um homem velho e curvado, além de ter alguma relação com os Malfoy, ou seja, sua loja deve ter sido freqüentada pelos Malfoy há seis anos atrás. Então, estas são as características prováveis do comprador de Sneff, não seria difícil encontrá-lo, mas há um pequeno detalhe, a lista dos fregueses de qualquer loja é estritamente confidencial, e esta não deve ser uma exceção. Nesse caso, nossa única opção é entrar no Ministério por um motivo qualquer, distrair os responsáveis pelo controle de lojas de artigos mágicos e fazer uma cópia da lista, creio que Alex e Remus podem fazer isso sozinhos sem maiores problemas, mas como não há garantia de sucesso Sirius em sua forma de cão e Tonks deverão ir até a Travessa do Tranco para fazer um reconhecimento do local e, se possível, descobrir a localidade da loja. Depois de encontramos a loja, teremos que convencer o dono a nos deixar falar com Sneff, isso se o elfo ainda estiver em sua posse, nesse caso teremos que descobrir o que aconteceu para ele, mas isso será decidido mais tarde. Tudo bem até aqui? - a pergunta foi respondida por um aceno positivo vindo da mesa - Certo, então, quanto a desculpa para Alex e Remus irem ao Ministério será uma mensagem muito importante que deve ser levada pessoalmente ao Ministro Fudge por conter informações que poderiam se tornar extremamente perigosas se caíssem nas mãos erradas.

-Mas que informações daremos a eles? - Mcgonagal perguntou relutante - Também não seria perigoso deixá-los saber sobre os assuntos da Ordem?

-Não colocarei nada realmente relevante, apenas alguns pequenos detalhes que valem muito pouco para nós e são o bastante para impressionar, já que eles não estão a par da situação - ele fez uma pequena pausa para deixar os outros raciocinarem - De qualquer forma, Remus e Alex irão para o Ministério com esse propósito, causarão uma distração qualquer e copiarão a lista. Todos entenderam?

O diretor sorriu ao receber uma resposta afirmativa, sentou-se e fez com que o quadro já completamente cheio de forma quase ininteligível desaparecesse. O café da manhã terminou sem contra-tempos.

Quando o relógio bateu dez horas, todos já estavam prontos para partir. Dumbledore os encontrou no hall de entrada com um envelope na mão, quando todos já estavam presentes, tirou um pergaminho de dentro dele.

-Espero que tenha ficado convincente, é melhor darem uma olhada caso Fudge tenha alguma dúvida.



Meu prezado amigo e colega,



acredito que já tenha percebido o quão desesperadora a segurança de bruxos e trouxas tem se tornado desde o retorno de Você-Sabe-Quem. Portanto seria melhor se lhe informar sobre alguns fatos relevantes dos quais tomei conhecimento a pouco tempo.

Em primeiro lugar, seria bom apontar que o Você-Sabe-Quem tentará tirar a atenção das autoridades nesse primeiro momento. Ele crê que ainda não possui aliados o bastante para fazer uma aparição pública, espera reconquistar um pouco mais de sua saúde e melhorar sua aparência doentia antes. Como alguns dos grandes generais da História diziam “o poder está na aparência do poder”, e ele não é tolo para subestimar essa máxima.

Essa necessidade de permanecer nas sombras é a oportunidade perfeita para preparar o terreno para o inevitável, por mais longe que vá sua fama teremos mais chances se o encontramos já prevenidos, sem falar que isso nos dá a vantagem de um possível ataque surpresa.

Em segundo lugar, tome cuidado com seus próprios aliados, se tiver um exército de mil homens, você nada mais tem do que mil possibilidades de ser traído. Tome especial atenção para com os objetivos daqueles que te apóiam e analise suas motivações, quais deles poderiam encontrar maiores chances de sucesso nas fileiras inimigas? Afinal, nem todos vêem em Você-Sabe-Quem um inimigo. Cuidado especial com os dementadores nesse caso, lembre-se de que tudo o que eles desejam é uma alma da qual se alimentarem e não se importam para quem trabalham desde que sejam satisfeitos.

Em terceiro e último lugar, controle as informações passadas para a imprensa, qualquer desleixe e ficaríamos de mãos atadas. Jornais que não medem as conseqüências do que publicam são uma excelente fonte para quem não o quer bem. Nesse pedaço, devo criticar-lhe pela ecessiva exposição que o determinados jornais, o Profeta Diário em especial, tem dado a Harry Potter. Aquela criança ainda é o principal alvo de Você-Sabe-Quem, e fazê-lo aparecer em todos os cantos definitivamente não é a melhor forma de protegê-lo.

Por enquanto é tudo o que posso fazer por você, se mais algum fato relevante cair em minhas mãos levarei-o até as suas na primeira oportunidade.



Alvo Dumbledore



Depois de lerem a carta, todos a aprovaram, era um bom motivo para aparecerem repentinamente no Ministério, sem falar que seria uma excelente forma de fazer Fudge acordar, ele tem se preocupado muito com sua imagem e pouco com o que era preciso fazer.

Dumbledore devolveu a carta ao envelope e escreveu com tinta verde fosforescente “Entregue em mão ao Ministro da Magia Cornélio Fudge”, em seguida lacrou-o com o brasão de Hogwarts. Remus a guardou em sua capa, os detalhes finais sobre o plano, como iriam distrair os funcionários do Ministério ou que feitiço usariam para copiar a lista, foram acertados, enfim, tudo estava pronto.

Lupin e Alex iriam aparatar para perto da cabine telefônica que levava ao Ministério, de lá falariam com Fudge e lhe entregariam a carta, tirando qualquer dúvida que ele pudesse ter, no caminho, preparariam uma pequena surpresa para todos.

Sirius e Tonks, por outro lado, iriam para o Beco Diagonal (Sirius como cão e Tonks com mais uma de suas mil aparências), deveriam fingir que estavam vendo as lojas e se deslocariam progressivamente para a ruela que levava a Travessa do Tranco, então, devem procurar por alguma loja cujo dono deva ser um velho curvado e que, de preferência, seu estabelecimento tenha algum tipo de artigo que possa interessar pessoas como Lúcio Malfoy, se bem que lá esse tipo de loja deva ser muitíssimo comum. Por fim, deverão perguntar para os moradores locais de forma pouco suspeita se já viram alguém da família Malfoy por lá, ou pelo menos um criado dela. As pessoas não são muito amigáveis lá, mas também não possuem laços de fidelidade quando se tem a oportunidade de falar mal de alguém. Enquanto andam, farão um mapa, semelhante ao Mapa do Maroto, para poderem rever as possibilidades e descobrir o comprador.

Enquanto isso, Dumbledore e os outros professores estariam em Hogwarts disponíveis em caso de algum problema, e se revesariam para vigiar Harry, que, como disse o diretor, era o alvo mais provável de Voldemort.

Feita a última revisão, todos aparataram, cada um para seu destino. Cinco minutos após os quatro bruxos terem desaparecido, Dumbledore se virou e começou a subir as escadas, parou no décimo degrau, se virou e, olhando para o saguão vazio, disse para o nada:

-Boa sorte.

Ele então virou novamente para continuar seu caminho, mas foi interrompido por um pio estridente. Olhou para trás e, no meio do Saguão de Entrada, se encontrava uma coruja caída no piso frio com a asa machucada. Dumbledore acolheu-a e usou-se de um feitiço de cura, ao se restabelecer a coruja da neve esticou a pata onde haviam um envelope com o selo lacrado, o pergaminho dentro fora escrito com uma letra muito conhecida sua e da qual não poderia se esquecer, afinal, Harry era a pessoa que mais admirara em toda a sua vida e, pelo tamanho do texto que escrevera, deveria ter muito a lhe dizer. Grudado a carta, estava um bilhete com uma letra ainda mais conhecida, que dizia apenas:

A sorte está lançada, e desta vez, não está do seu lado!

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