Palpite



Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor...


 


- Merda! – o ruivo reclamou, jogando o lençol de lado, saindo da cama...



Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente...


 


Parou, a mão no trinco da porta...



E o arrepio frio
Que dá na gente...


 


- Merda! – tornou a repetir, fechando as cortinas com violência, ao lembrar das imagens de seu corpo enrolado ao dela, numa noite de verão, naquela mesma varanda...



Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo…


 


Abriu a geladeira, pegou uma cerveja. Um, dois, três goles... Empurrou a garrafa de lado. Nada conseguia tirar o gosto de Hermione de dentro de si...


 


Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!...


 


Pegou as chaves de cima da mesinha de centro. Aparatou no beco diagonal...



Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste...


 


Abriu a loja. As luzes encontravam-se apagadas. Típico dos dois...


 


- Eu não agüento mais! – ouvia reclamar, sua voz vinda dos fundos, num tom choroso


 


- Mione...


 


- Não, Jorge, não dá mais! – ouviu a dizer, cortando seu irmão – Ele não gosta de mim. Definitivamente não gosta!



E aí!
O amor pode acontecer...


 


Nunca entendera essa insegurança dela. Amava-a mais do que tudo em sua vida. Como ela podia duvidar?


 


- Você deixou ele ao menos se explicar? – seu gêmeo questionou, e Fred cruzou os braços, recostando-se junto ao balcão, pronto para ouvir a reclamação da vez.


 


- Não. – ouviu-a dizer, contrariada, e não conteve um sorriso.


 


Conhecia Hermione bem o suficiente para saber que aquele era o tom que ela costumava usar quando sabia que estava errada, mas não queria dar o braço a torcer. Poderia jurar que sua garota encontrava-se, naquele exato momento, com os braços cruzados junto ao peito, o nariz arrebitado, o rosto virado para a esquerda, os lábios pressionados fortemente um contra o outro...


 


- Ele é um idiota! – ouviu-a reclamar.


 


Revirou os olhos, sorrindo, já acostumado aquilo. Fora exatamente pelo jeito turrão e cabeça-dura que acabara se apaixonando por ela.



De novo pra você
Palpite!…


 


- Hermione, por Merlin... – Jorge argumentou, e Fred pôde ouvir o banquinho que o irmão estivera sentado se arrastar – Você tem que parar de ser desconfiada desse jeito! Não é porq... – mas calou-se, de pronto.


 


Fred enrijeceu o corpo, ficando sério, exatamente a mesma postura adotada por seu irmão diante da grifinória.


 


- Pode continuar! – a morena disse, sua voz saindo ferina e ressentida – Você ia dizer o quê? Que não é porque o Rony me traiu que o Fred vai fazer a mesma coisa?! – uma pausa – Vocês são irmãos. – a morena disse, e Fred identificou um leve tremor no tom adotado por ela. O tom que ela costumava adotar quando estava magoada, mas não queria demonstrar para os outros sua tristeza – É claro que você vai defendê-lo. – continuou – Me desculpa, Jorge. Não deveria ter envolvido você nisso... Realmente, não deveria...


 


- Uhum... – o ruivo murmurou, e Fred riu pelo nariz, sabendo o que ele diria – Assim como você me envolveu em todas as outras briguinhas de casal de vocês... – uma risada da parte de Jorge – Hermione, vem cá...


 


Fred andou cinco passos, mantendo-se ainda no escuro. Contudo, pôde ver os fundos de sua loja, iluminada por um pequeno lampião. Hermione encontrava-se nos braços de Jorge, o rosto escondido no peito do ruivo. O gêmeo afagava os cabelos da morena, tentando tranqüilizá-la. Fred sentiu um enorme carinho pelo irmão. Afinal, sempre que brigavam, era a ele, Jorge, quem Hermione procurava para desabafar. E era ele, Jorge, quem sempre apaziguava a situação...


 


- O que ele fez dessa vez? – ouviu-o perguntar, paciente como sempre.


 


Fred apurou os ouvidos. Não sabia o que havia feito de errado. Sabia apenas que, assim que chegara da loja, horas atrás, as coisas de Hermione não encontravam-se mais no apartamento que dividiam. Havia apenas um bilhete, que dizia ‘Você conseguiu, parabéns!’, junto com a cópia da chave dela, num chaveiro de pompom lilás.


 


- Não vai me dizer que é mais uma daquelas brincadeiras bobas dele! – Jorge se antecipou – Você sabe que Fred é bobão, Mione! – o ruivo franziu o cenho ao ouvir aquilo – Foi o quê, dessa vez? Ele ficou te azucrinando porque você conseguiu o segundo lugar de melhor funcionário do Ministério da Magia, não o primeiro?


 


- Não. – Hermione disse, e Fred viu-a se afastar.


 


Um aperto no peito. Ela estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Ficou apreensivo. Hermione jamais ficara daquele jeito, não desde que começaram a namorar, onze meses atrás... A última vez que a vira assim...


 


Cerrou os punhos, inconscientemente. Ainda não conseguia acreditar no que seu próprio irmão fizera à morena...


 


- Aqui. – a morena retirou algo de dentro da bolsa, entregando ao gêmeo – Pode ver, eu não me importo!


 


Fred sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. Reconheceu a pequena caixa preta com fita rosa. Um sorriso nos lábios... Então aquilo fora a causa de todo o estresse da sua sabe-tudo...


 


- É muito feio bisbilhotar as coisas dos outros, sabia? – Fred entrou na pequena sala que servia de depósito, as mãos nos bolsos da calça do pijama.


 


Jorge levou um susto e quase caiu da bancada em que acabara de se sentar. Hermione também se surpreendeu. Evidentemente, não esperava encontrar o ruivo ali. Porém, sua surpresa foi substituída por indignação e raiva numa fração de segundo.


 


- E é muito feio bisbilhotar a conversa alheia. – disse, irritada, fios de cabelos voando de seu coque.


 


Achava-a linda irritada...


 


- Touché. – disse, aproximando-se dela, puxando-a pela cintura para si, no que a morena se desvencilhou.


 


- Jorge? – ela perguntou, voltando-se para o outro gêmeo.


 


- Dessa vez, não chamei! – o ruivo se defendeu, erguendo as mãos no ar.


 


- Imaginei que você estivesse aqui. – Fred disse, tornando a puxar a garota para si, que novamente se afastou – Venhamos e convenhamos, amor, você não é nem um pouco previsível em matéria de escolher um lugar para conversar... – alfinetou, marotamente, indo se sentar ao lado do irmão.


 


Hermione trincou os dentes, furiosa.


 


- Acho que vou beber no Duende Perneta. – Jorge disse, levantando-se – Briguinha de casal não é comigo...


 


- Não, Jorge, espera. – Hermione disse, séria, prostrando-se na frente do gêmeo de seu namorado – Abre a caixa. Abre e vê se eu não tenho razão. Vê se, depois disso, eu posso confiar em algum Weasley macho que não o seu pai.


 


- Se você não confia em nenhum Weasley macho... – Jorge disse, pegando a caixa e a balançando no ar.


 


- ... como vai confiar nele? – Fred completou, indicando o irmão com a cabeça.


 


Ambos sorriram, o que fez a garota se enfurecer mais ainda.


 


- Como namorado, nenhum Weasley presta! – vociferou – Só que eu não vou cometer o mesmo erro com o Jorge. Esse daí, eu não namoro nem que me dêem o cargo de ministro da magia!


 


- Magoou! – Jorge disse, fingindo-se de ofendido. Em seguida, porém, piscou um olho para a garota, indicando que entendera o que ela queria dizer.


 


- Gostei do pacote. – comentou, inocentemente, abrindo a caixa de presente.


 


Seus olhos se arregalaram ao ver o que tinha dentro. Voltou-se para o irmão, o queixo caído, esperando uma explicação.


 


Fred simplesmente deu de ombros, sem deixar de sorrir.


 


- Comprei. – disse, um sorriso maroto no canto da boca – Tava só esperando a hora certa pra poder usar...


 


- Seu desgraçado! Urgh!!! – Hermione gritou, sem se conter, saindo correndo da loja em seguida, as lágrimas escorrendo por sua face.


 


- Fred! – Jorge reclamou, zangado.


 


- Relaxa, irmão. – o ruivo disse, pegando o pacote, fechando-o, e saindo apressado – Não tenho culpa se aquela sabe-tudo é cega ao ponto de não entender que isso... – e ergueu a caixa, um enorme sorriso no rosto - ... é pra eu usar com ela...


 


Jorge assentiu, compreendendo tudo, caindo na gargalhada enquanto via o irmão correr atrás da namorada.


 


Tô com saudade de você
Do nosso banho de chuva...


 


- Espera, Mione... Espera! – Fred disse, puxando a morena pelo braço, obrigando-a a se virar.


 


- Me solta! – ela reclamou, chorosa, tentando, em vão, se desvencilhar dos braços do ruivo – Eu nunca mais quero ver você. Nunca mais!!!


 


- Me escuta, sua maluca! – o ruivo dizia, segurando-a pelo antebraço, no meio da rua deserta do beco diagonal – Você precisa me ouvir.


 


- Não quero! – Hermione gritou, furiosa, soltando-se e começando a correr.


 


- Mas vai ouvir! – Fred gritou de volta, segurando-a pela cintura, impedindo-a de seguir em frente...



Do calor na minha pele
Da língua tua...


 


Flocos de neve caíam vagarosamente. Não havia ninguém ali, a não ser o jovem casal...


 


- Eu te odeio! – Hermione berrou, ao sentir o ruivo pressioná-la contra a parede, impedindo-a de fugir dali.


 


-Ah, é? – ele zombou, levantando o queixo dela com uma das mãos – Pois eu não acredito...


 


E a beijou ali mesmo, tirando todo o fôlego e fio de pensamento que a grifinória pudesse ter...



Tô com saudade de você
Censurando o meu vestido...


 


- Eu te odeio! – Hermione tornou a dizer, sua voz, porém, não passando de um simples murmúrio.


 


Fred sorriu, cariciando a face dela com os dedos.


 


- Pois eu te amo, sua cabeça-dura. – disse, carinhosamente, seus lábios colados ao ouvido dela, provocando-lhe arrepios seguidos em sua espinha... – Te amo mais que tudo...



As juras de amor
Ao pé do ouvido...


 


Hermione choramingou baixinho. Como queria que aquilo fosse verdade... Mas não era... Nada que Fred falasse era real... Verdadeiro...



Truque do desejo...


 


Surpreendeu-se quando ele se afastou, deixando-a livre. Confusão encontrava-se estampada em sua face.


 


Viu-o subir a rua, onde o pacote, o maldito pacote, encontrava-se largado no chão... Seu conteúdo exposto...


 


Guardo na boca
O gosto do beijo…


 


Observou-o se abaixar e apanhar a peça íntima. Fechou os olhos, tentando conter uma nova enxurrada de lágrimas.


 


- Isso... – ouviu-o dizer, aproximando-se – Não acredito que você decidiu se estressar por isso!


 


Seus punhos se fecharam e ela abriu os olhos. Raiva estampada nas íris castanhas...


 


Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!...


 


- Se você acha isso pouco! – disse, caminhando na direção dele, arrancando a roupa de suas mãos – Me diz, como você ficaria se descobrisse, no meio das minhas roupas, uma cueca Box preta, embrulhada em papel seda, prontinha pra eu dar de presente pra outro cara?!



Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste...


 


- Ficaria muito puto. – o ruivo assentiu, no que a morena fez uma careta, expressando que era exatamente aquilo que ela estava sentindo, aquilo e muito mais... – Muito puto. – repetiu, arrancando a roupa das mãos da morena – mas, no meu caso, ou no seu caso, é diferente!



E aí!
O amor pode acontecer...


 


- Diferente por quê, Friederich Weasley?! – Hermione reclamou, furiosa – Por que você é homem e eu, mulher? Por que você pode trair à vontade, com quantas quiser, e eu não?!



De novo pra você
Palpite!…


 


- Não, sua cabeça-dura! – ele a chacoalhou pelos braços, tentando fazê-la entender – Porque isso simplesmente não é pra outra mulher. É pra você!!!


 


E aí!
Será que você volta?...


 


- Era pra vir acompanhado disso. – o ruivo retirou uma caixinha de veludo vermelha de seu bolso, abrindo-a – Mas eu só consegui pegar hoje. – disse, dando de ombros, seu tom de voz baixo, tentando desesperadamente fazê-la acreditar em si – Não tinha do seu tamanho...



Tudo à minha volta
É triste...


 


- Era pra ser seu presente de um ano. – explicou, segurando as mãos da morena juntas, apoiando-as em seu peito – Era pra ser uma noite especial... Eu esperava fazer um jantar romântico à luz de velas, depois eu te daria esse anel... – disse, sinceridade presente em cada palavra – Esperava que você dissesse sim ao meu pedido de casamento... – riu, baixinho – E... – um novo sorriso, maroto - ... esperava que isso... – indicou o anel - ... a deixasse imensamente feliz... ao ponto de que fosse fácil convencê-la a usar isso... – ergueu a lingerie sensual preta - ... pra mim...



E aí!
O amor pode acontecer...


 


- Tem até um par de botas de couro preta... – Fred continuou, dando de ombros – Salto fino... Pena... – disse, suspirando – Vou ter que ligar pra loja e cancelar o pedido...



De novo pra você...


 


Hermione estava zonza. Se aquilo fosse verdade... Era verdade... Tinha que ser verdade...


 


- Você... – sua voz estava completamente embargada – Você... comprou isso... pra mim...? – disse, tentando convencer a si mesma de que o namorado falava a verdade – Então, você não me acha... – fechou os olhos, tentando conter as lágrimas...


 


Frígida. Seca. Desinteressante... Essas foram as palavras usadas por Ronald Weasley ao terminar o relacionamento com ela. Segundo ele, este foi o motivo de sua traição. Hermione não era o suficiente para ele... Segundo ele, jamais seria boa o suficiente para algum homem...


 


- Eu te amo, Hermione. – Fred disse, erguendo, delicadamente, o queixo da morena, suas íris azuis presas nas íris castanhas dela – Você é perfeita pra mim, amor. Mais do que perfeita. Eu jamais... jamais... – enfatizou - ... vou me cansar de você. Só achei que seria legal... tentar uma coisa nova... Já que é uma data tão especial pra mim... pra gente...


 


Hermione se desmanchou em lágrimas nos braços do ruivo. Levou um certo tempo para que ele conseguisse acalmá-la...


 


Sem se importar com nada a não ser ela, Fred a pegou nos braços, aparatando em seu apartamento. Uma seqüência de beijos apaixonados deu início ao que prometia ser uma noite de amor intensa e sem igual.


 


No dia seguinte, Hermione fez questão de paparicar o amor de sua vida, numa tentativa de pedir perdão por ter desconfiado dele. Fred jamais seria igual a Rony. E ninguém algum dia conseguiria ser igual a Fred... A morena já deveria saber disso...


 


O ruivo se surpreendeu ao ser apanhado na loja, na tarde seguinte, pela namorada. Surpreendeu-se por ela ter pedido para ele a acompanhar à loja em que ele lhe comprara a lingerie...


 


Mais surpreso ainda ficou quando Hermione saiu da loja, carregada de sacolas...


 


- As botas. – ela começou a explicar, após dar um beijo longo nos lábios dele – Decidi pegar de uma vez. E comprei mais isso... – abriu as sacolas, vendo-o arregalar os olhos, surpreso – Além dessas lingeries, que, creio eu, vai dar pra fazer uma surpresa a cada dia pra você por cerca de um mês... Decidi que inovar seria uma boa mesmo... – e riu, as bochechas corando – Tem de tudo aqui... Até um chicotinho pra fazer par com as botas...


 


Fred a ergueu nos braços e a beijou intensamente.


 


- Chicote, sem chicote... botas, sem botas... – disse, abraçando-a pela cintura, seus lábios colados ao pescoço dela - ... Desde que eu tenha você ao meu lado pelo resto da vida... Eu não preciso de mais nada...


 


Hermione assentiu, tornando a beijar o rapaz. Sabia que, com Fred, seria feliz. Que nele, ela podia confiar...


 


E isso não era mais um mero...



Palpite!...

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