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Marlene se sentou na cama, esfregando os olhos. Bocejou, tentando entender por que acordara.


 


Fifi olhava pela janela de seu quarto, quietinha, comportamento estranho para uma cadela normalmente tão espevitada. A garota levantou-se da cama e abriu as cortinas para olhar o que estava acontecendo.


 


O cão negro estava lá, sentado no chão, embaixo da chuva. Olhava para cima e latia de vez em quando, esperando-a.


 


Marlene sentiu uma raiva enorme consumi-la. Aquele atrevido! Ainda ousava ir até a sua casa como cão e ficar latindo embaixo de seu quarto! Deitou-se na cama e se tampou, tentando dormir.


 


Operação sem sucesso. Os latidos ficavam cada vez mais altos, impedindo-a de adormecer. Ela grunhiu e colocou o roupão, descendo as escadas acompanhada por Fifi e abrindo a porta. O cão a esperava lá, sentado.


 


-O que está fazendo aqui? Vai embora! Vá embora! – Apontou para o portão, irritada. – Volte para o seu dono ou sei lá o que ele era seu! Deve ter enganado aquele rapaz, também. Ou são todos da mesma quadrilha, se aproveitando de garotas por aí. Pouco me importa – Ela fez menção de fechar a porta, mas Fifi ficou no caminho.


 


Sirius abençoou a cadela por gostar dele, naquele momento.


 


-Vamos, Fifi, não se misture com ele – Disse olhando a cadela, que não se demovia de sua intenção.


 


Fifi desceu os degraus e foi até ele, cheirando-o. Então esfregou a cabecinha no peito dele e voltou para a dona, mordendo-lhe a ponta do robe.


 


-Nós não vamos ficar com ele de novo, Fifi. Deixe de ser assanhada e venha para dentro – Marlene comandou, mas a cadela simplesmente não saía da frente da porta. A morena bufou.


 


O cão negro foi até um dos arbustos do jardim da casa dela, e um homem vestindo somente uma calça preta voltou de lá. Ele tinha o mesmo olhar do cão, pedinte, e estava todo molhado. Marlene revirou os olhos.


 


-Olha, eu não vou... – Foi interrompida pelos latidos altos de Fifi, que pulou no colo do rapaz. Muito bonito, ele, por sinal. Sirius pegou a cadelinha no colo e acariciou suas costas, fazendo-a derreter, e ele, rir.  Marlene quase bateu com a cabeça na parede ao ver que se sentia atordoada pelo som daquela risada.


 


-Ah, ótimo, você seduziu a minha cadelinha, bom mesmo, muito obrigada, seu tratante – Disse com raiva, vendo-o se aproximar lentamente, os pés descalços no mármore frio. Ele devia estar congelando.


 


-Eu não a seduzi, Marlene. Cães só gostam de quem não oferece ameaça, e de quem gosta dos donos deles – Ele tocou o rosto dela com a mão livre e ela se esquivou do toque. – Eu gosto de você.


 


-Ah, claro. Acho que o faro de Fifi está com problemas, porque você é um aproveitador barato e muito do sujo! – A garota tomou a cadela dos braços dele e colocou-a para dentro de casa, tentando fechar a porta.


 


Ele a impediu, segurando-a.


 


-Eu não quis te enganar, garota! Me escuta, droga, foi tudo um mal entendido! – Ela voltou a abrir a porta, irritada, e ele abriu os braços – Eu estou aqui, na chuva, latindo na sua janela por mais horas que consegui contar. Eu gosto de você. E faço qualquer coisa que pedir – Com aquela última frase ela mordeu o lábio inferior e fitou o chão, incerta.


 


-Qualquer coisa? – Perguntou para tirar a dúvida. Ele assentiu com a cabeça.


 


-Qualquer coisa. – Sob aquela afirmação tão certa, Marlene retrocedeu.


 


-Então seja meu cão. Tudo continua como estava, como se nada tivesse acontecido. – Declarou resoluta, sabendo que ele não iria aceitar aquilo.


 


Ou...


 


Sirius imediatamente se transformou no grande cão negro, se livrando da calça presa às patas com dificuldade. Sentou-se na frente dela e esperou seu comando, como sempre fora.


 


Marlene pegou a calça dele do chão e torceu-a, fitando o cachorro. Mandou Albert dar-lhe um banho e logo colocou-o para dormir no quartinho com Fifi, indo dormir em seguida.


 


Triste, muito triste, e sem saber o porquê.


 


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