Capítulo II



Snape estava sentado na lateral da cama de Hermione no quarto improvisado para atendimento aos feridos, no Largo Grimmauld. O Mestre chamara seu elfo, Elggie que trouxera uma bacia com água e toalhas rapidamente preocupando-se em ser útil. Snape passou a toalha umedecida no rosto da menina tentando amenizar a febre. Com a outra mão apontou a varinha recitando pequenos feitiços.


- Hum hum- Madame Pomfrey pigarreou e Snape se levantou prontamente recuperando a pose.


- A Srta. Granger foi atacada por dois dementadores.- Disse forjando um tom de indiferença.


- Quanto tempo de exposição?- A doutora perguntou preocupada.


- Não sei ao certo, pode avisar Alvo?- Pomfrey assentiu- Deixei a poção ali, caso precise- Completou apontando para um frasco com um líquido azul identificado como Poção do sono sem sonhos na mesinha ao lado da cama da menina.


Snape colocou a penseira sobre sua escrivaninha. Não se lembrava de como chegara ao quarto que ocupava na sede da Ordem, se havia pessoas nos corredores, ou feridos precisando de ajuda. Nada importava, ele a deixara vulnerável e agora... Ele apontou com a varinha para a própria cabeça e murmurando baixo um feitiço começou a puxar um fio prateado derramando-o na penseira. Inclinou-se para frente para mergulhar o rosto.


“Snape estava na ala hospitalar do Castelo de Hogwarts, viu sua lembrança deitada na cama, jovem, o rosto mais pálido que atualmente, o corpo franzino e os negros olhos vazios


aterrorizados. Dumbledore sentado em uma cadeira ao lado dele tentando atrair sua atenção, mas o jovem olhava fixo para um ponto na parede da frente.


-Severo- O diretor colocou a mão paternalmente sobre a do jovem chamando-o - Severo.


Snape olhou, parecia que pela primeira vez se dera conta de que não estava mais num canto sujo da cela de Azkaban. A voz fraca praticamente sussurrou.


 - Estamos em Hogwarts?


 Dumbledore afirmou com a cabeça, o olhar preocupado.


- Devo desculpas por não ter conseguido tirá-lo antes, provei a importância das informações que me trouxe, mas o Ministério insistiu...


- Que eu fugi para o lado vencedor- O jovem interrompeu, um arrepio percorreu-lhe a espinha e ele tremeu.


- Eu lamento muito- Alvo completou, mas Snape já estava perdido em suas lembranças outra vez.


- Severo, por favor.


 Snape não respondeu, fechou os olhos e começou a tremer. Dumbledore se levantou e pegando um pano úmido na mesa pressionou contra o rosto dele, com a outra mão, puxou os braços para que ele soltasse os joelhos e se deitasse mais confortável. Não demorou muito para que a tremedeira passasse, ele abriu os olhos gritando:


- Ele a matou!


- Severo, olhe para mim, não é real, você ficou muito tempo exposto aos dementadores.


 O lado racional do futuro professor de poções absorveu o que o diretor lhe falava.


- O que você vê?


- Lilly Potter morta.”


 Ele retirou a cabeça da penseira, para pular aquela parte, mas repetiu o processo para a extração do pensamento e voltou a mergulhar o rosto no líquido prateado de uma lembrança  de dois dias depois.


 “Snape ainda estava na ala hospitalar, só que agora mais pálido ainda, as feições num contorno cansado e preocupado, os ataques não paravam e era questão de tempo para que ele sentisse a presença dos dementadores novamente, mesmo estando seguro e protegido no castelo. Dumbledore também estava lá:


- Sobre o que conversamos ontem tomou alguma decisão?


- Alvo, eu agradeço a sua ajuda, mas não posso esquecê-la, não quero obliviar isso.


O diretor olhou para o jovem com compaixão.


- Não há outra escolha para acabar com isso, meu menino, temo que terá que conviver até que pare...”


Snape ouviu batidas e reconhecendo que não faziam parte da lembrança, retirou o rosto. Foi até a porta encontrando o diretor. Ele acenou para dentro e permitiu sua passagem.


- Severo, acabei de chegar, Madame Pomfrey me falou sobre o que aconteceu com a Hermione.- disse olhando por cima do ombro do professor e avistando a penseira recém usada.- Você reconheceu o caso, então.


- Ela não pode passar por isso Alvo, é só uma menina.- Ele já não escondia a dor em sua voz- Ela não pode ficar presa, achando... achando que não pode mais ser feliz- Sua voz fraquejou.


- Dê a ela o direito da escolha que você não teve.


- Eu não vou obliviá-la.


- Eu jamais pediria isso. Ela ficou menos tempo exposta, não haverá tantas conseqüências.


- O que ela vê?


- Ela acha que nunca mais o verá, se pergunta o que fez a você para tratá-la daquela maneira da última vez que se viram e que a odeia.


- Hermione contou isso a você?


- Não, deixou que eu visse.


O professor se sentiu invadido com a informação de que uma terceira pessoa tinha vivenciado momentos que eram só deles. Ele pensara muito sobre o que aconteceu desde que a mandou embora, passaram quase dois meses convivendo depois que as aulas acabaram, trancados na sede, mas praticamente sem trocar palavras. Ele via os olhos dela inchados e supunha que ela chorava durante as noites, mas não podia, a evidência de uma guerra iminente, ele não podia estar envolvido, já errara antes, a mulher saíra morta e ele ficou ferido durante anos, não arriscaria a vida de Hermione. E agora percebia que não adiantou nada, ela estava ferida, ferida por causa dele.


-Vamos, Severo, ela precisa de você. Já a tranqüilizei sobre os resultados da guerra- a voz do diretor lembrou-o de sua presença.


 - Eu não acho que esteja pronto para isso. Ela também não, a Guerra acabou, Hermione está livre para viver, verá que o mundo é muito maior do que posso oferecer a ela.


- Por hora, apenas ofereça sua ajuda, Severo, deixe que a menina decida o que é melhor para ela.


 - Eu preciso de um tempo.


- Eu acharia melhor que começassem em breve. Ahh a terrível nobreza Grifinória.


Snape olhou-o ameaçadoramente e o Velho apenas sorriu deixando-o sozinho no quarto.


 


[Continua]

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