Capítulo III



Faltava um dia pro natal. A meia dúzia de adolescentes pelos quais eu não iria estragar o natal da mamãe estavam no quarto de James, brincando de alguma coisa. Aquela loira havia chegado. Só havia sobrado um lugar no meu quarto, mas ela deu um tipo de chilique e se recusou a ficar com “uma traidora como eu”. James pediu pra ela dormir no meu quarto só hoje, depois ele arrumaria as coisas.


Ele provavelmente tentaria trocar de lugar com ela. Mas isso era complicado, considerando que aí ela e Sirius dormiriam juntos, no mesmo quarto.


- Com licença – a cabeça do meu pai apareceu mais uma vez.


- Pode entrar – fechei o meu livro e sorri.


- Como você tá? – ele se sentou de frente pra mim.


- Bem. De verdade.


- James veio conversar com você?


- O pai dele pediu?


- Não. Só tive a sensação de que ele não agüentaria muito tempo. Seu olhar anda de matar, sabia? Passa uma tristeza que só vendo.


- Ele veio.


- James é um bom rapaz. E com certeza te considera uma irmã. Quem sabe aos poucos ele não consegue resolver as coisas por lá?


- Não sei... As coisas por lá estão meio sérias – dei um meio sorriso, daqueles desanimadores.


- Quer me contar o que aconteceu?


- Quero. Mas tenho medo do que você vai dizer.


- Eu não vou te julgar. Você é a mulher que eu mais amo – ele segurou minha mão.


- Tudo bem. Eu não sei o que eu fiz de fato. Mas me falaram que eu contei aos Sonserinos sobre uma coisa séria do nosso grupo, tudo pra poder ficar com um deles. E parece que eu fiquei com o garoto no fim das contas, na frente do Sirius.


- Calma. Vamos entender. Que coisa séria? Que grupo?


- Eu e quem mais tá aí. Tirando a loira que chegou. Nós tínhamos uma espécie de plano, não era bem plano, mas nós tínhamos coisas planejadas. E eu contei pros Sonserinos, o que estragou tudo e deu vantagem pra eles.


- Vantagem em quê?


- Coisas incompreensíveis pra quem não é de Hogwarts, papai.


- Certo. E você contou pra eles?


- Como eu vou saber? Eu não me lembro de nada.


- Não lembra por quê?


- Não sei por quê. Não lembro.


- O que você lembra? Alguma coisa tem que estar na sua cabeça.


- Bem, nós estávamos na festa. Eu fui pro banheiro sozinha, porque a Lily estava ocupada terminando com o ex-namorado dela. Uma sonserina puxou conversa comigo lá, e depois eu me lembro de ter ido com ela pra algum lugar, porque ela tinha falado alguma coisa dos meus amigos. Depois as coisas começam a ficar embananadas.


- E esse menino que você “ficou”?


- Um cara que o Sirius não gosta muito, digamos.


- E ele viu mesmo? Você e esse menino juntos?


- Diz a voz do povo que sim, mas eu não me lembro disso.


Meu pai respirou fundo.


- Você fez uma bela bagunça, uh? – ele perguntou sorrindo.


- Pelo visto sim – ri um pouco.


- Muitas coisas podem ter acontecido, Marlene. Esses tais de Sonserinos podem ter te dado alguma coisa, adormecido você. Inventado todo o resto.


- Eu sei. Acha que eu não pensei em todas as coisas possíveis? Mas eu vou falar o que pra quem? Não sei onde procurar provas da minha inocência ou da minha culpa. Ninguém acredita em mim pra me ajudar a começar... É complicado.


- O James não tá bem com você?


- Continua sendo complicado. Ele não vai descobrir nada de repente, por mágica.


- Já é alguma coisa. Agora esquece isso, por mais difícil que pareça. Vou tentar pensar em algo e depois nós conversamos de novo – beijou minha testa. – Já tá tarde, vai dormir um pouco e descansar. Eu te amo.


- Eu também papai. Obrigada.


Ele saiu sorrindo e desligou a luz. Procurei fazer o que havia mandado e fechei meus olhos. Não demorou muito pra eu dormir.


 


                                                            [...]


Acordei ouvindo vozes bem baixinhas que vinham da porta do meu quarto.


- Sirius – ela riu um pouco – Para com isso!


- Ah Clarisse, deixa de ser chata – soube que ele sorria.


- Você que é um tarado, viu?


- Não sou nada. Você que é linda demais. É difícil resistir – um beijo.


- Uhm, você é fofo. Mas eu preciso dormir um pouco, mesmo.


- Tudo bem – um bico.


Coisas óbvias.


- Boa noite, meu lindo.


- Boa noite, maravilhosa.


Ela entrou no quarto. Acendeu a luz e me viu acordada.


- Não pensa que eu não sei que você estava escutando tudo. Conheço mulheres, McKinnon. Sou uma delas – arrumou sua própria cama e apagou a luz.


- Não precisava nem estar escutando. Você não é a primeira com quem ele fala e faz essas coisas – retruquei assim que ela havia deitado.


- Mas sou quem ele faz agora. Aposto que isso te mata por dentro, não é?


- Não mesmo. Até porque, não quis dizer que ele fazia essas coisas comigo. Fazia com elas, todas as outras. Só me resta acreditar que vocês vão ter o mesmo fim.


- Isso se chama inveja, queridinha. Você dava de tudo pra estar no meu lugar.


- Ai que você se engana. Não trocaria o que eu tive com o Sirius pelo que você vai ter.


Ela se levantou, sentando na cama. Eu olhava pra ela, ainda deitada. Os olhos dela tinham um brilho de raiva, de quem sabia que eu estava falando a verdade. De quem sabia que o Sirius nunca a amaria como me amou, e as coisas não seriam as mesmas que foram pra mim.


- Não me irrite, McKinnon. Só porque eu beijo o homem que você deseja, eu recebo os carinhos dele, sou eu quem ele quer, sou eu quem ele pede. Seja uma boa mulher, se é que você ainda é capaz de pelo menos isso. Mantenha o que resta da sua dignidade.


- Ainda não conseguiu me afetar, Clarisse. Ainda não vi o desejo nos olhos do homem que te beija, não vi os mesmos carinhos que eu recebi, nem o vi te pedindo com todos os ossos, como fazia comigo. Acho que você que devia manter sua dignidade e tentar ser mais mulher que isso. Pelo menos admita o que todos nós já sabemos: você é só mais uma pro Sirius. Não é mais uma Marlene.


- Depois do que você fez com ele, devia saber que ele mudou bastante.


- Ele pode me odiar agora, mas me amou antes. Como nunca vai amar você. E isso é fato – eu falava calma.


Tinha certeza das palavras que saiam da minha boca.


- O que nós tínhamos, Clarisse, vocês nunca vão ter. Boa noite – me virei.


Pude a ouvir contando até dez pra não me puxar e me bater. Aquilo ia tornar tudo ruim demais pra ela.  Esperei sorrindo todas as palavras de raiva dela acabarem e adormeci. Adormeci bem mais feliz do que antes.


 


                                                               [...]

N/A no próximo capítulo, hihi 

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