Sobre sonhos e raposas



Capítulo 4 – Sobre sonhos e raposas


         Harry estava, no momento, sentado num beco que havia entre duas lojas. Era bem escuro, mas ele, atrás das latas de lixo, estava vendo uma coisa engraçada.


         Na ponta de seu dedo havia uma bolinha de luz, ele dobrou o dedo novamente e novamente a luz apagou. O moreno sorriu, já tinham se passado duas semanas desde que descobrira magia e, graças a ela, ele sobrevivia.


         Era estranho, mas estava ficando melhor nisso. Já tinha conseguido fazer roupas novas aparecerem e quando ficava com fome demais aparecia uma refeição deliciosa.


         Em um dos dias tinha chovido e ele conseguira fazer com que a água que batesse nele fosse transformada em água encanada, de forma que ele tomou um banho com roupa e tudo, e depois, simplesmente secara-se.


         Com certeza mais fácil. Nesse instante, ele descobria que podia fazer luz surgir, isso seria absolutamente útil, caso precisasse enxergar.


         Seus sonhos agora continuavam cada vez mais fortes e mais longos. Sempre se encolhia em um beco, fazendo um cobertor aparecer. Se deitava, e dormia por umas doze horas, tendo vários sonhos numa mesma noite, sobre aquela família.


         Constantemente ouvia o homem, que descobrira ser Tiago no mesmo dia que descobrira a magia, falar “magia involuntária”. Ele também descobrira que a mulher era Lílian.


         Ele bocejou e olhou para o céu, já estava de noite e a lua iluminava as ruas, junto as estrelas.


         Harry desejou com todas as forças que um cobertor e um travesseiro aparecessem. Um cobertor, de repente, apareceu, mas o travesseiro não veio de repente. Um tijolo caído no chão, bem próximo dele, ganhou uma forma arredondada e aos poucos foi virando um travesseiro macio e de penas.


         O moreno deitou-se de barriga para cima, pensado. Várias coisas passavam por sua cabeça.


         O que aqueles sonhos significavam? Ele já tinha tido uma prova de que as pessoas que apareciam neles eram reais, só não sabia como as via – a magia não podia chegar a esse ponto, podia?


         E Paul e Jheiny, estariam bem? Ele ainda pensava nisso, mas os gêmeos deviam ter ficado nos Estados Unidos, então, ele provavelmente nunca mais os veria.


         Adormeceu, pensando se, algum dia, acharia uma família e não teria mais que usar mágica para sobreviver.


         Seus sonhos foram típicos com as mesmas pessoas.


         O homem de cabelos pretos arrepiados, olhos castanho-esverdeados e óculos, Tiago, estava sentado em um sofá vermelho. Ao seu lado, com a cabeça em seu ombro, estava Lílian, os cabelos ruivos flamejantes, os olhos verdes-vivos.


         Em outro sofá vermelho, tinha mais um casal. O homem tinha cabelos pretos comportados até a bochecha e olhos num azul piscina, que chamavam a atenção imediatamente. Do seu lado, de mãos dadas, estava uma mulher de cabelos negros caindo como molas e olhos verdes escuros.


         E, sentada na poltrona, tinha uma garota que não devia ser mais velha que ele. Tinha cabelos pretos e encaracolados, olhos azuis vibrantes e um rosto delicado. Era, com certeza, filha do casal no sofá.


         Mas ele já tinha visto todas essas pessoas, Tiago, Lílian, o outro casal e aquela criança. Em seus sonhos já tinha visto todos eles.


         Conversavam. Tiago olhava uma carta, terminou de ler e disse:


- Engraçado – comentou, mais para ele mesmo do que para os outros.


- O que, Pontas? – perguntou curioso o homem de cabelos pretos e olhos azuis.


- Sabe, Sirius, há muito tempo vem acontecendo magias involuntárias por toda Londres, não é? – indagou Tiago.


Sirius respondeu, depois de pensar um pouco: - Bom, sim. O setor de Aurores e o setor de Controle da Magia não vem trabalhando juntos esses dias?


- É, na primeira vez fui eu e Alberto, mas não foi necessário um obliviador porque os trouxas nem repararam. Mas o Controle da Magia não consegue achar, nem os Aurores – explicou Tiago.


- Engraçado, isso, não é? – perguntou a mulher de cabelos negros.


- É sim, com certeza – murmurou Tiago, bem baixinho, como se fosse para ele mesmo.


         Harry despertou de repente. Respirou fundo.


         Os sonhos já estavam começando a ficar estranhos... Como ele conseguia ver o que pessoas de verdade faziam? Será... Magia? Mas a magia se estendia a ponto de ver vidas?


         Quando ele se levantou do cantinho que ele estava, Harry percebeu que algo estava errado. Afinal, quando foi que os prédios tinham ficado maiores?


         Ele olhou para o lado, a lata de lixo com certeza estava maior... Ou era ele que tinha diminuído?


         Uma gota de chuva pingou em seu nariz. Logo em seguida, mais gotas pingaram, um temporal estava caindo em Londres. Harry suspirou. Ótimo.


         Encostou-se o máximo na parede, deixando que a calha do em frente a porta lateral da loja que estava encostado o ajudasse a ficar seco. Harry estava com fome, mas não seria uma boa idéia comer no meio dessa chuva toda.


         Ele olhou para o céu, era difícil distinguir se era noite ou dia, mas viu o sol brilhando fracamente por trás de algumas nuvens. Dia.


         Quando a chuva parou, ele levantou-se. O primeiro lugar que seus olhos bateram foi na poça de chuva que se formou ali na sua frente, e refletia sua imagem.


         Ele... Não era ele, não podia ser ele! Harry tinha quatro patas, só para começar. Pêlos pretos, que pingavam molhados. Uma cauda peluda e macia, com a ponta branca. Os olhos ainda eram verdes e aquela sua estranha cicatriz de raio estava de uma pelagem branca.


         Os pêlos de sua barriga e patas eram brancos, também.


         Ele era uma raposa! Meu Deus do céu!


         Começou a correr pela calçada, as poucas pessoas que andavam se afastavam gritando, algumas provavelmente nem sabiam que bicho ele era.


         Mas Harry não ligou, só continuou correndo, estava assustado demais. Quando passou por uma pracinha, já estava ficando cansado demais.


         Parando devagar, respirou fundo e sentou-se no meio-fio de uma calçada molhada. Olhou a placa da rua: Largo Grimmauld. Ele não fazia idéia de que parte de Londres isso ficava.


         Tentou fazer comida aparecer, desejou com todas as forças, como sempre fazia. Não funcionou. Tentou, de novo e de novo. Não funcionava. Será que tinha haver com a forma de raposa que estava? Tinha que achar um jeito de virar garoto novamente.


         Ergueu a cabeça e olhou para as casas a sua frente. Onze doze e treze. De fora, não pareciam muito grandes, mas nunca se sabe sobre esses sobrados. Andou em direção a casa número doze, a que estava bem na sua frente.


         Passou por entre as grades do portãozinho e arranhou a porta de entrada. Ninguém atendeu – ele não ficou surpreso, era uma raposa.


         Ele jogou o corpo contra a porta algumas vezes, parecia mais com uma batida de porta. Alguém atrás da porta gritou:


- Já vai, já vai! – Harry não soube como, devia ser por ser raposa, mas ouviu a voz feminina dizer – Quem poderia achar essa casa, achei que estivesse sob o Fidelius...


         Quando a mulher atrás da porta abriu, Harry tentou lembrar a si mesmo que estava com fome e sede, precisava de alguém para lhe dar comida.


         Mas era difícil na gritar, ou ganir, o que fosse.


         A mulher a sua frente era ruiva, de olhos verdes, pele alva e bochechas coradas.


         E era Lílian, a mulher do seu sonho.

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