Noite Fria e Conturbada







Capítulo IV







Noite Fria e Conturbada














Gina assim que chegou ao castelo foi verificar o estado do campo de Quadribol. Infelizmente, com a tempestade que agora havia começado, seria impossível treinar mais um pouco. No fundo, tudo o que ela queria era um bom banho e uma comida quentinha. Amanhã não seria nada fácil, mesmo sendo uma pré-seleção informal.

Harry explicou para todos que apesar das vagas serem muitas, e os inscritos serem em maior número ainda, seria impossível encaixar todos no time, portanto haveria apenas uma pré-seleção no Domingo, para Segunda-feira começarem os testes de verdade. Amanhã ele apenas observaria a prática de vôo e quem realmente se agüentava por um bom tempo em cima da vassoura. Sexta-feira ele havia planejado de formar dois times sem apanhadores e colocar o pessoal para jogar pra ver quem realmente tem talento.

Chegando no Salão Comunal, Gina deu mais uma olhada no recado que Harry havia deixado no quadro de avisos e subiu para se aprontar para o jantar. Ela havia se divertido muito, principalmente com Harry, mas ficar ao lado dele era ao mesmo tempo se sentir insegura e infantil. “Não sei o que anda acontecendo comigo... Eu não sou mais a Gina de antigamente... Eu tenho que esquecer! Ficar ao lado dele machuca demais”.

Gina desceu para jantar e se sentou ao lado de Colin Creevey, um bom amigo e colega de sala. Ele estava falando dos garotos, que como ele, ficaram no castelo dessa vez para treinar um pouco mais, quando finalmente Rony e Harry chegaram causando reboliço geral na mesa grifinória. A essa altura todos comentavam do confronto de Harry e Draco, e quem havia ficado pra trás queria saber de tudo nos mínimos detalhes.







Harry subiu correndo para tomar um bom banho quente, enquanto Rony ainda investia numa tentativa frustrada de fazer as pazes com Mione. Assim que ficou pronto, ele se sentou num cantinho confortável do salão comunal, meio escondido do pessoal que entrava e saia sem parar. Desde que havia se tornado capitão do time da casa, ele não tivera mais sossego.

Falar em público ou para muitas pessoas nunca fora o seu forte. Harry sempre fora tímido e reservado, mas desde que marcou os testes, era muito requisitado. Por um lado ele tinha pouco tempo para pensar naquilo que o fazia sofrer, por outro lado, ele não tinha mais tempo para colocar suas idéias em ordens. Às vezes se sentia invadido pelos outros, principalmente os mais novos, que chegavam sem avisar e o enchiam de perguntas que ele tinha de responder milhares de vezes sempre com a mesma educação.

Harry sabia que alguma coisa havia mudado dentro de si desde a morte de seu padrinho, mas um turbilhão de acontecimentos o atropelou e ele simplesmente tinha de seguir sua vida, senão nunca poderia dar conta de cumprir com a profecia. E agora com Rony e Mione juntos, ele não se sentia no direito de pedir um pouco de atenção... mesmo porque ele não poderia contar para eles tudo o que estava se passando dentro de sua cabeça.

Harry ficou ali por cerca de meia hora, olhando todos que passavam, até avistar Gina, que parecia meio absorta em seus pensamentos. Ela leu o seu recado no quadro de avisos e subiu para a torre feminina. Logo Rony desceu, meio cabisbaixo, ainda secando os cabelos com a varinha. Ele avistou Harry no fundo do Salão e balançou os ombros como se quisesse dizer “É, não deu... Mione ainda está brava.” Harry esboçou um sorriso cordial, mas por um lado isso não era tão ruim. “Sei que é meio egoísta da minha parte, mas às vezes é bom quando eles brigam...” pensou Harry, ajeitando-se na poltrona, um pouco mais animado. “Ai! Que pensamento cruel... Rony é meu amigo... Mione também...”.

– Como ela está? –perguntou Harry meio envergonhado pelos seus maus pensamentos.

– Irredutível... Pior que a minha mãe. Sei que ela acha errado eu fazer esses testes malucos e vender essas “porcarias” para os alunos... Mas é por uma boa causa. Se ninguém gostasse dos logros do Fred e Jorge, eles não comprariam... Às vezes eu acho que não a entendo!

– Não é pra entender... –retrucou Harry em tom divertido. –Vamos dar uma volta, quem sabe Mione não muda de idéia e desce pra jantar? Eu preciso mesmo falar com você!

– Eu também, cara! Sabe, os testes de amanhã são até que bem fáceis, mas na Segunda-feira vai ser complicado! Você não pode me dar umas dicas?

– Ah... Não seria justo com os outros, né? Você é meu amigo, todos iam sair falando por ai que eu só te coloquei no time porque você é meu camarada! –disse Harry meio decepcionado.

Harry queria muito ser capitão do time, quem sabe até ter uma taça com o seu nome exposto bem ao lado da taça do seu pai no armário de troféus, mas desde que ele assumiu esse cargo todos passaram a vê-lo apenas como o capitão do time da casa. Não que ele não tivesse orgulho disso, mas era revoltante ver o próprio amigo pedindo dicas e conselhos. Harry precisava conversar com alguém, mas ninguém parecia estar disposto ou interessado... nem mesmo seu melhor amigo.

Os dois deram umas voltas pelo castelo conversando banalidades, na maior parte do tempo Rony falava de Mione, o que causava uma ponta de ciúmes em Harry. Tudo estava confuso na sua cabeça, até mesmo ciúmes dos seus amigos ele tinha... era tão estranho não poder falar com ninguém, não poder passar tudo isso a limpo, apenas ficar remoendo seus pensamentos enquanto ele disfarçava sorrisos e uma boa vontade inexistentes em seu coração.

Harry adentrou o Salão Principal morrendo de fome, dá porta ele sentia o cheirinho de frango assado com purê de batatas, e estava disposto a comer um boi quando, chegando em sua mesa, ele e seu amigo foram recebidos por uma ovação dos colegas que queriam saber mais sobre o confronto com Draco.







“Por que Rony é tão difícil às vezes?!?” pensou Mione deitada na sua cama. “Por que eu tenho sempre que falar milhares de vezes!?! Eu não precisaria ser tão turrona se ele fosse menos teimoso! Eu vou ter uma conversinha com aqueles gêmeos!” continuava ela, ainda em conflito consigo mesma.

Hermione queria descer, fazer as pazes e grudar no pescoço de Rony para enchê-lo de beijos... mas ela sabia que se o fizesse, logo ele estaria de novo fazendo suas experiências com aqueles produtos malucos inventados pelos gêmeos. Não que ela não achasse divertido às vezes poder matar a aula e ficar o resto da tarde na beira do lago fazendo nada, mas isso não era certo!

Mione continuava brigando consigo mesma, morrendo de vontade de descer e fartar-se no banquete, mas ela não podia dar o braço a torcer. Quem sabe mais tarde ela não desceria e faria uma visitinha para Dobby na cozinha às escondidas. Há muito tempo eles não se falavam, vez ou outra ele aparecia para colocar mais lenha na lareira ou arrumar os quartos, mas ela nunca tinha tempo para conversar com seu elfo amigo. “É isso mesmo! Mais tarde eu vou até a cozinha...” disse ela para si mesma enquanto saltava da cama para pegar um livro de poções avançadas.

Por incrível que pareça, Poções havia se tornado uma das suas matérias prediletas desde que tirou “Excede as Expectativas” na disciplina do sempre amargo e ranzinza Prof. Snape. Desde o começo do ano ela começou a se dedicar com verdadeiro afinco a essa matéria e era a melhor garota da sua série... Infelizmente o melhor aluno era Draco, o que lhe rendia algumas horas no laboratório do Prof. Snape preparando infusões e extratos enquanto ouvia brincadeiras infantis e injurias daqueles dois sonserinos... repugnantes.

Mas todo o seu sacrifício valia à pena, principalmente quando ela via a cara de nojo que o professor fazia toda vez que ele a via realizando uma poção extremamente difícil com perfeição. No fundo, ela sabia que para ele era inaceitável uma sangue-ruim ser tão competente num assunto em que ele era o melhor.







– Conta pra gente como foi! –gritou Lino Jordan numa das extremidades da mesa.

– Quem sabe depois, lá no Salão Comunal... –retrucou Harry displicente. –Agora é hora do jantar...

– Não tem problema! É bom que esses sonserinos nos ouçam mesmo! –disse Neville na ponta inversa.

Tantas foram as insistências que mal Harry conseguiu se sentar, ele foi obrigado a se levantar e contar para todos como aconteceu. No começo até tentou fingir entusiasmo, mas era difícil falar com toda a escola te ouvindo, e por um momento Harry até pensou em desistir... Mas quando avistou ao longe o cara-de-doninha de contorcendo de raiva, ai é que ele mudou sua entonação e até exagerou um pouquinho nos detalhes.

– Vocês tinham que ver a cara dele quando Crabble e Goyle tentaram segurá-lo! Ele tava vermelho de raiva! Parecia que ia chorar feito uma mulherzinha! –Harry fez uma pausa para que todos pudessem rir. –E depois eu disse “Oh! Desculpe-me Malfoy! Não quis ofender os seus sentimentos também... Não chore, ta? Quem sabe o seu papai um dia saia de Azkaban...” ai ele se revoltou e puxou a varinha, mas quando ele viu, a minha já estava empunhada bem nas fuças dele! –completou ele brandindo a sua varinha no ar.

– É isso ai, Harry!!! –gritou uma menininha do segundo ano.

– Mas quando ele xingou os meus amigos eu quase perdi a razão... Só que ai eu tive de segurar o Rony, não é mesmo, cara?

– É... –retrucou o amigo meio acanhado.

– Foi quando eu olhei para trás e vi que toda a A.D. estava a minha volta, com varinhas em punho! Todos os sonserinos recuaram porque sabiam com quem estavam se metendo! Então Malfoy ficou roxo de raiva e saiu com o rabo entre as pernas!!! Foi muito legal...

– E quando é que a gente vai se reunir de novo? –perguntou da mesa atrás dele Cho Chang, inesperadamente, deixando Harry desconcertado.

– A gente não vai se reunir de novo... –falou Harry muito encabulado, seguido por muitas pessoas que lamentavam a sua declaração. –Eu gosto dessa professora de DCAT... Ela é competente e muito atenciosa... A Armada surgiu porque precisávamos fazer alguma coisa contra aquela sapa velha da Umbridge! –tentou se explicar. –Mas a A.D. ainda existe, e assim que for necessário, a gente vai se reunir e combater esse mal que ronda Hogwarts... isso eu prometo!

Assim que ele acabou, todos aplaudiram e continuaram comentando... O que antes era apenas um burburinho agora havia se tornado uma intensa barulheira e isso estava incomodando a todos. Os professores não gostaram muito da bagunça e pediram silêncio, o que foi um alívio para Harry que finalmente pode aproveitar o banquete.

Por um lado era bom poder provocar o Malfoy e humilhá-lo em público, pois ele também era responsável pelo que havia acontecido ao seu padrinho... Ele é quem escolheu ficar do lado de Umbridge... Draco também era filho de Lúcio, então ele e Belatrix eram sangue do mesmo sangue imundo...

Por outro lado, Harry ficava com a consciência pesada ao fazer isso, pois além de descer ao mesmo nível de Malfoy, passara também a fazer o mesmo jogo sujo. Ele sabia que não estava certo, mas ele não podia deixar Malfoy sair por cima, não desta vez... Às vezes Harry chegava a sentir pena de Draco, “mas somos nós que fazemos nossas escolhas...”, e se Malfoy era tão amargo e solitário quanto Harry imaginava que ele fosse, ele é quem escolhia ser assim.









“Maldito Potter!” disse Draco na mesa da Sonserina, mal começara a degustar da sua refeição e chega o estraga-prazeres para tirar-lhe o apetite. Draco ficou se roendo de ódio, e antes mesmo que Harry terminasse seu discurso para o salão inteiro, Malfoy se retirou derrotado para o salão comunal da Sonserina. Ele não estava fugindo, apenas não poderia ficar sentado lá em sua mesa enquanto observava o “Santo-Potter” fazer pouco caso da sua pessoa.

“As coisas mudaram por aqui, meu pai... e só o senhor não percebe isso.” pensou ele enquanto se jogava numa das poltronas de couro preto do Salão Comunal Sonserino. “Olhe só o preço que eu tenho que pagar pela sua sobrevivência... Até que ponto eu devo me rebaixar para poder satisfazer os seus caprichos...” continuou ele, absorto em seus pensamentos, sem perceber que uma lágrima angustiada escorria pelo seu rosto pálido e contraído de raiva.

“Draco” disse uma voz sussurrada ao longe. Ela era muito familiar, e não poderia vir de outro lugar senão do espelho que ganhara aquela tarde.

– Pai? É o senhor? –perguntou ele tirando o embrulho do bolso.

– É claro! Ande logo, tenho de ser breve! A qualquer hora um guarda pode aparecer aqui e até lá eu já devo ter terminado de passar a mensagem a você!

– Pai, eu não quero fazer parte disso... O senhor me prometeu que nunca me envolveria nisso! –retrucou ele finalmente com o espelho em mãos.

Pai e filho se estranharam. Draco não reconhecia mais o ar prepotente e austero que sempre fizera parte da personalidade imutável de seu pai, ele estava abatido, olheiras profundas e um olhar quase insano. Por sua vez, Lúcio não reconhecia mais Draco, talvez depois de tanto tempo longe, o filho tivesse se tornado um fraco, parecia relutante em aceitar o seu destino. O fato é que ele havia visto uma lágrima escorrer-lhe pelo rosto e isso era inaceitável.

– Andou chorando? Desde quando você chora, Draco? Você sabe que quem chora é perdedor... e perdedores nunca conseguem chegar ao lugar nenhum! Quem chora é fraco! Fraco porque não consegue fazer aquilo que é necessário para se vencer! Você é sangue do meu sangue, e os Malfoy não choram! Os Malfoy nunca se arrependem! Os Malfoy...

– ...nunca abaixam a cabeça nem olham para trás! –completou Draco recobrando suas forças. –Eu entendi, meu pai. Diga então qual é a mensagem...

– A Weasley-pobretona ainda é amiga do Potter?

– Acho que sim... Eu os vi hoje andando de braços dados em Hogsmead.

– Sim... muito propício. O Lord quer descobrir um meio de invadi-la e apoderar-se dela mais uma vez... Ele precisa entrar em seus pensamentos, descobrir alguma coisa, alguma brecha... e você é quem vai ser encarregado de investigá-la!

– Quê!?! –exclamou Draco. –Eu vou ter de ficar vigiando aquela idiota?!?

– Não... Você terá de fazer ainda mais: você tem que fazer parte da vida e dos pensamentos dela!

– Por que eu?!? –continuou Draco a reclamar.

– Porque a nossa família sempre foi leal aos desígnios e propósitos do Lord das Trevas. É bom que você aprenda desde já a aceitar uma ordem sem questioná-la, senão Ele pode te considerar incapaz ou desnecessário e dar cabo da sua vida sem pensar duas vezes. Um bom comensal não pergunta “por quê”, ele simplesmente executa as ordens do seu mestre. –disse Lúcio num tom ríspido.

– Mas eu não sou comensal...

– Ainda... –completou o pai com uma risada fria e contida. –Tenho que ir agora! E não se esqueça, se precisar de auxílio, fale com Severo... ele está a par de tudo e já sabe como ajudá-lo!

– Tudo bem... –disse Draco resignado.

– ...Bem, cuide da sua mãe por mim, certo? –falou Lúcio num tom saudoso quase afável antes de sumir do espelho.

Draco ficou absorto em seus pensamentos. “O que ele quis dizer com ainda? Eu não vou servir ao Lord das Trevas! Eu sou um Malfoy, não abaixo a cabeça e nem olho pra trás! Eu não vou me submeter aos propósitos dele...” continuou Draco, ainda em conflito, quando se levantou do sofá e foi para o seu quarto. “Aquele Potter nem me dá mais o direito de comer em paz! Mais tarde eu vou ter de dar um pulo na cozinha e ver se me preparam algo para comer.”









“Harry está ficando tão prepotente... Tudo bem que era do Draco que ele estava falando, mas ele nunca foi assim! Nunca foi exibicionista e metido... Tem algo de errado com ele... Será que era disse que a mamãe estava falando lá na Toca?” pensou Gina, enquanto tentava pegar no sono. Lembrava-se de uma conversa que sua mãe tivera com seu pai durante as férias. Ela sempre via alguém da Ordem entrando e saindo, mas, como sempre, ficava de fora dos assuntos importantes. Mas sua mãe houvera dito que os lados iam começar a se definir, e quem estava indeciso ia finalmente definir de que lado estava... “Será que ela falava de Harry?” foi o pensamento que ficou em sua mente até que Gina finalmente conseguiu pegar no sono.



Na mesma torre, num dormitório um pouco acima, uma outra jovem resolvia como faria para descer até a cozinha sem ser descoberta. Não se lembrava de nenhum feitiço que pudesse ajudá-la e por um momento desejou que Harry estivesse por perto. A fome era tanta que ela tomou coragem e desceu até o Salão Comunal e quando estava se aproximando no quadro da mulher gorda, ela viu ele se abrir e se escondeu atrás de uma poltrona. “Quem será que está chegando?”

– Você não vem? –disse uma voz familiar vindo do retrato.

– Harry, que susto você me deu!!! –esbravejou baixinho. –O que você está fazendo à essa hora fora da cama? –perguntou ela recobrando o tom inquisitório de sempre.

– Eu é que lhe pergunto, o que a senhorita esta fazendo fora da cama? –riu ele, removendo a capa da cabeça.

– Eu to morrendo de fome e quero muito ir para a cozinha, mesmo por que ainda não falei com Dobby sobre aquele nosso assunto. Quem sabe ele não viu nada? Os elfos domésticos tem acesso a todos os túneis e passagens secretas, eles podem muito bem ter visto algo e nem saberem direito o que viram... –disse ela se aproximando.

– Muito bem pensado! Façamos o seguinte, fique com a capa que eu me viro com o mapa, afinal, eu só vou à torre de astronomia, não é muito longe daqui, nem é movimentado... Já o caminho até a cozinha é incerto e você pode acabar encontrando o Pirraça!

– Muito obrigada! –disse ela sorridente, beijando-lhe a face e pegando a capa do amigo.

– Errr... Ta bom então, boa sorte na sua jornada! –completou ele, dando passagem à amiga que desapareceu sobre a capa de invisibilidade.









“Por que o Harry anda tão estranho?” indagava Rony em sua cama. “O cara não quer nem falar mais sobre Quadribol comigo... Fica me cortando, evita falar da Mione... Será que ele ainda tem ciúmes da gente? Acho que a Mione estava errada, Harry nunca sentiria isso! Ele é o meu melhor amigo!” continuava ele ainda relutante em acreditar nos conselhos de Hermione. “As mulheres são tão complicadas... Eu nunca sei quando a Mione vai pular no meu pescoço para me beijar ou me esganar! Elas pensam demais!” prosseguia ele, sem conseguir pregar o olho. “Ele anda tão calado, fica se isolando... Não quer mais estar com a gente... Mione diz que é ciúme, mas eu sei que ele gosta da minha irmã, só não quer admitir... Eu nem fico mais encanado com isso! Mas se ele continuar indeciso assim, vai acabar magoando ela, ai sim eu vou ficar bravo...” pensava ele quando foi interrompido por um barulho que vinha da cama ao lado.

Ele abriu de leve o cortinado de sua cama e viu Harry apanhando a capa e o mapa do Maroto do fundo do baú. Depois se cobriu com ela e rapidamente saiu do quarto. “Lá vai ele mais uma vez, numa aventura solitária... nem passou pela sua cabeça me chamar! O que será que eu fiz para ele ficar assim? Será que é porque nós estamos juntos? Não! Não pode ser isso!” sussurrou Rony em sua cama, virando para o outro lado, tentando desta vez esquecer os pensamentos que perturbavam a sua mente.







“Por que ela me beijou?” pensou Harry enquanto analisava o mapa. “Pelo menos ela não está brava comigo... Quem sabe até aparece amanhã no campo para me dar uma força... ou então para dar uma força a ele...” indagava Harry enquanto seguia até a Torre de Astronomia. “Luna por aqui à essa hora?” assustou-se ele ao ver o nome dela no mapa, seguindo rapidamente até onde ele se encontrava. Ele rapidamente se recostou numa parede ao lado de uma armadura, esperou ela passar por ele para seguir seus passos. “Será ela a responsável pelas coisas estranhas que estão acontecendo no castelo?” ele se perguntava enquanto seguia ela até a torre.

Ela subiu até o terraço, olhou para os lados como se estivesse procurando alguma coisa, depois achou uma mochila, foi correndo até ela e a abriu, causando uma explosão, seguida de um mal cheiro, que Harry reconheceu como sendo uma bomba de bosta. Ele viu o nome do Pirraça subindo até o local, seguido pelo zelador e sua gata horrorosa. Prevendo o que ia acontecer, Harry correu até Luna e tampou sua boca, evitando que ela gritasse. Depois a arrastou para trás de uma estante cheia de livros que ficava num canto da torre, ao lado dos mapas, e a manteve calada até que o poltergheist apareceu.

Pirraça parecia se divertir muito com a bagunça e a carniça que estava no lugar, depois pegou a bolsa da jovem e a virou de cabeça para baixo, jogando todo o seu conteúdo no chão. Logo o zelador Filch apareceu para ver que bagunça era aquela, seguida pela sua gata que parecia saber a exata localização dos dois jovens.Tudo estava se passando tão rápido que Harry nem percebeu a lágrima quente que escorria pela mão que segurava a boca de Luna.

– Limpe tudo isso imediatamente, seu fantasma maluco! Amanhã bem cedo eu vou passar aqui, e se essa bagunça ainda estiver no chão, eu vou falar com o próprio diretor, você me ouviu?!?

Pirraça apenas respondeu com uma sonora gargalhada, depois continuou a brincar com o material de Luna Lovegood e arremessar sobre o velho turrão e sua gata os cadernos e livros da menina, e estes saíram às pressas dali, seguidos pelo fantasma mais irritante de toda escola.

– Salvos pelo Pirraça! –disse Harry finalmente soltando a garota.

– Olhe só o que fizeram com o meu material! –disse ela chorosa, recolhendo tudo às pressas.

Harry observava a cena penalizado: Luna agachada no chão, recolhendo os seus livros e penas enquanto chorava sobre os restos mortais de sua bolsa. Depois ela simplesmente desistiu, abraçou os seus joelhos e se pôs a chorar com vontade. Sem saber direito o que fazer, Harry recolheu todo o material e usou um feitiço para reparar os estragos causados pela bomba de bosta. O cheiro ainda permaneceria por alguns dias, mas pelo menos ele pode colocar tudo no seu devido lugar.

Vendo que ela não parava de chorar, ele se agachou ao lado dela e a abraçou.Assim eles ficaram por um bom tempo... Tempo esse que ele não viu passar.









Já na cozinha, Hermione foi recebida pelos elfos com muito carinho. Mas isso só aconteceu porque Dumbledore, no final do ano, explicou as verdadeiras intenções dela quando tricotava para os elfos meias, gorros e cachecóis. Agora que não se sentiam mais ameaçados por ela, os elfos passaram a tratá-la com a mesma solicitude com que tratavam todos os outros alunos.

– Onde está Dobby? Eu preciso falar com ele... –disse ela enquanto era carregada para uma das mesas e era servida pelos elfos.

– Eu estou aqui! –disse Dobby ao longe, que vinha apressado ao seu encontro com uma bandeja de pães doces.

Ele vinha com dois cachecóis de tons diferentes e meias desiguais. Hermione riu da combinação inusitada do amiguinho e cumprimentou-o com a mesma cordialidade com que ele o fez.

– Diga ao Dobby o que a senhorita deseja que Dobby fica feliz em servi-la! –disse ele num tom quase choroso de tanta alegria.

– Eu to morrendo de fome! Será que você não tem um leite quentinho e um bolo de chocolate por ai? –perguntou ela educadamente.

Logo todos os elfos estavam correndo de um lado para o outro, trazendo o copo de leite e tirando do forno um bolo que ficou pronto quase que instantaneamente. Enquanto se servia de uma grossa fatia, Hermione perguntava a Dobby sobre os fatos estranhos que estavam acontecendo no castelo.

– Na noite retrasada, quando aquelas coisas estranhas aconteceram, você por um acaso não teria visto por ai quem estava rondando os corredores do castelo? Eu sei que Dumbledore andou conversando com os fantasmas, e como você sabe de tudo que acontece por ai...

– Dobby não pode falar! Mestre pediu! Dobby sabe que... Não! Dobby mau! Dobby mau! –disse ele batendo com a cabeça com força nos pés da mesa, fazendo com que o copo esparramasse um pouco de leite sobre a mesa.

– Pare Dobby! Pare já com isso, é uma ordem! –disse ela assustada, tentando conter o pobre elfo. –Você não precisa me dizer nada... Mas é bom saber que você está de olho... Você sabe que Harry anda estranho, e eu estou muito preocupada com ele.

– Mas não é com ele que a senhorita deveria se preocupar, não... –disse Dobby num sussurro, fazendo com que ela se aproximasse. –É com...

Nesse momento adentrou a cozinha um visitante inesperado, que não foi recebido com tanto zelo pelos elfos domésticos quanto Hermione. Alguns elfos mantiveram distância, Dobby até se encolheu debaixo da mesa. Percebendo o medo do seu amigo elfo, ela sussurrou para ele debaixo da mesa:

– Vá embora agora, é uma ordem! Continuamos nossa conversa outro dia...

– Sim! –disse ele desaparecendo com um estalar de dedos.

– O que é que você faz aqui, Malfoy? –disse ela num tom ríspido e ao mesmo tempo surpreso.

– Eu é que te pergunto, Granger sangue-ru... –ele fez uma pausa e continuou mais displicente. –Bem, acho que Filch ia adorar saber quem é que anda por ai à noite, pelos corredores do castelo...

– E ai você vai contar para ele? Hahaha! E fazer como da outra vez, quando você acabou também de detenção comigo e com o Harry? Eu percebo que você continua tão sensato quanto antes... É algumas coisas não mudam mesmo, não é, Sr. Malfoy?

– Só estava brincando, Srta. Granger... Eu também não pude jantar hoje, graças ao seu amiguinho, o Santo-Potter! Talvez por isso o meu humor esteja mais cáustico do que de costume...

– Ah! Eu soube o que aconteceu durante o jantar de hoje... –disse ela num tom irônico quase divertido. –Pena que eu não pude comparecer para aplaudi-lo também...

– Vamos parar por aqui, Srta. Granger. Eu prometo que vou segurar minha língua...

– Língua esta que é bifurcada e venenosa... –completou ela mordaz.

– E a senhorita tenta me poupar dos seus comentários sórdidos, afinal, só vim aqui porque não pude jantar direito, e agora eu só quero fazer uma boa refeição em paz...

– Combinado então! –disse ela finalmente.











– Calma, Luna! Está tudo bem agora... –disse Harry aflito com o choro convulsivo da menina.

– Não está tudo bem! –disse ela se desvencilhando dele. –Olhe só para isso! Olhe só para mim! Não está nada bem, não vê?

– As coisas vão melhorar, confie em mim... –continuou ele se levantando do chão.

– Eles nunca param de me perseguir... Eu não entendo por quê! Já estou começando a ficar cansada disso aqui! Já não basta agüentar todas as brincadeiras, os apelidos, meu material que some, as azarações, as injúrias...

– Eu não sabia que era tão ruim assim... –disse ele um pouco envergonhado.

Harry por um momento sentiu-se muito mal por pensar tanto nos seus problemas, que agora pareciam demasiado pequenos perto dos dela. Por outro lado, Harry viu em Luna uma aliada, alguém com que pudesse se abrir, talvez pelos dois passarem por coisas tão difíceis, ou por terem perdido pessoas queridas, por terem visto a morte tão de perto... “Talvez ela seja alguém confiável... Talvez eu tenha finalmente achado alguém com quem eu possa me abrir...” pensou ele, ainda muito confuso com tudo o que havia acontecido.

– O que você estava fazendo aqui há essa hora? –perguntou ele curioso, afinal, tinha que checar todos os fatos.

– À noite, depois do jantar, quando fui procurar minha mochila, encontrei no seu lugar esse bilhete... Olhe você mesmo!

Lummos! –disse ele iluminando o papel para que pudesse ler. –“Procurando sua mochila? Venha até a Torre de Astronomia à meia-noite.” –leu em voz alta o bilhete e continuou. –Bem, agora eu compreendo.

– É sempre assim! Todo dia a mesma coisa... ou alguém me azara ou some algum material meu. Outro dia foi um livro da biblioteca, levei uma bronca da Madame Pince. Ontem mesmo, na aula de poção, algum engraçadinho colocou um ingrediente a mais no meu caldeirão e ele explodiu! É claro que o professor Snape não pensou duas vezes antes de me dar um castigo. Eu tive que limpar o laboratório inteiro sem magia... Depois dizem por ai que eu sou um desastre!

– Bem, eu nunca tive que passar por isso, mas eu sei bem como é ser injustiçado, ou até mesmo ser apontado por ai...

– Mas ninguém te chama de Di-Lua ou então azara você bem na frente dos professores...

– Mas você não tem alguém como o Malfoy no seu pé a todo tempo! –disse ele num tom divertido.

– É... mas eu tenho dezenas de pessoas que ficam em cima de mim esperando a próxima chance de me derrubar... – ela completou rindo.

– Tudo bem, eu admito que você seja um pouco mais azarada que eu, mas você não tem o destino do mundo mágico nas suas mãos, tem?!?

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