#capítulo três



Capítulo Três
Ou
But It Might Not Be Here Where I Feel Safe


Dragões?, indagou a si mesma. Mas eles existiam? Fogo? Por que o fogo? O Fogo inundava seu corpo. Estava muito quente ali.


O Sol batia amplamente no rosto tranqüilo da Princesa, como ouro banhando uma peça de mármore. O gramado, outrora úmido e perfumado, já aniquilara seu cheiro típico e o orvalho tinha se evaporado, tornando assim a relva mínima, seca.


Lily Evans não sabia por que diabos sonhava. Há dias não sonhava. Tinha que sonhar justo no meio do nada, em cima de grama, não de sua cama? Era injusto. Lily, acostumada ao conforto, sentia falta de mimos e das damas de companhia ao seu redor. Marlene, ainda que estivesse ali, não estava exercendo seu trabalho bem feito. Marlene, fora do castelo, estava se revelando apenas mais uma menina. E Lily não queria aquilo. Precisava ser tratada como sempre. Levaria tempo para se acostumar a ser quem ela não era (mas desejava ser).


Dorcas, que acordara visivelmente mal-humorada (claro que seu humor típico era sempre ruim, mas aquela manhã estava tensa), andava de um lado para outro, olhando feio para James Potter.


- Ao menos você não matou a nossa Princesa – ela disse aos arrancos.


James riu. Olhou para Lily adormecida ao seu lado, quase como uma criança em um berço.


- Ela é também a minha Princesa. Somos do mesmo Vale, lembra? – ele lhe perguntou com as sobrancelhas arqueadas.


- Você é diferente.


- O que tem que diferente em mim?


- Você é errado. Quis matá-la.


- Mas agora não posso.


- Duvido. Não acredito em você.


- Não estou lhe implorando nada.


- Está vendo? Como Lily pôde acreditar em você?


- Pergunte a ela. Eu estou apenas agradecido por alguém ser levemente bondoso comigo.


- Lily não está sendo bondosa com você. Provavelmente está com pena de você, pois perdeu seus pais.


- Isso não afeta a minha auto-estima.


- Você é um estúpido mesmo, hum.


- Garota, para mim, de verdade, tanto faz. Não ligo para sua opinião – James deu de ombros, irritado.


- Pois deveria – aconselhou-o Dorcas.


O silêncio se apossou dos dois. Ambos fervendo de raiva, olhando cada qual para um canto. Dorcas não o suportava; James a julgava uma metida.


- Acha que Marlene demorará? – James indagou.


- Espero que não – a morena fechou a cara.


A mando de James, Marlene tinha ido à busca de um pedaço de água. Um pequeno rio ou um riacho. Ele podia ouvir a correnteza de arrastar metro por metro. Deveria haver água por ali. O cantil estava quase esvaziado e necessitava de reposição.


James, ainda que não estivesse mais querendo permanecer naquele perímetro, não podia esconder que achava um ótimo passatempo fitar a Princesa enquanto dormia profundamente, completamente encolhida sobre o gramado amarelado.


As horas se passavam tão violentamente quanto um javali enfurecido. O Sol já tinha aparecido há tempo, e quanto mais ficassem ali, James analisava, menos seriam as chances de chegarem ao Rio do Pó inteiros. Por aquelas terras, ele mais do que ninguém, sabia que existiam seqüestradores de verdade. Não que ele fosse um deles, jamais. Sua profissão estava junto aos Cavaleiros. Lutava por honra e desejava que os outros fizessem o mesmo. Este era seu futuro; o destino o fizera prisioneiro de uma causa sem limites, sem motivos. Luta era luta. Rebeliões eram lutas. Defender o que era do povo era luta. Tudo se resumia à luta. Era uma forma de sobreviver. Era uma forma de ser lembrado.


Às vezes apenas desejava ficar em um canto escuro, esperando que ninguém o visse, que passasse despercebido.


Mas ser Cavaleiro estava em seu sangue. Estava naquela por vingança, por justiça, por amor.


E ninguém tiraria aquilo dele.


Cresceu sentindo raiva, sentindo necessidade de diminuir os pesadelos e almejando ficar cara a cara com o inimigo. Então, ser Cavaleiro era bom. Era o que sabia fazer de melhor. Era seu dom. Assim como Lily estava predestinada a ser Rainha. Estava igualmente em seu sangue. Nascera principesca. O pai de James, tal como o filho, não era de se ligar por pouco. Não apreciava o sedentarismo, e odiara ter de viver por anos no Rio do Pó. Gostava da liberdade, de sair pelo Vale e conquistá-lo.


Depois que dragões moribundos e cuspidores de bolas inflamadas se dissolveram na mente confusa de Lily, esta, coitadinha, tão absorta e estagnada, acordou em um galope. O ar lhe invadiu os pulmões como se quisesse a afogar e a Princesa, enfim, despertou. As mãos contraídas se soltaram uma da outra e foram, instintivamente, para seu peito. Piscou por alguns segundos, até seus olhos conseguirem focar o que estava ao seu redor.


Tocos de árvores, relva rala, flores, formigas, Dorcas, James, uma bolsa e árvores por todos os lados. 


Tudo estava no lugar... exceto por...


- Marlene? – a Princesa inquiriu para o vento, sentando-se desorganizada das idéias.


- Foi procurar água – James lhe disse, sorrindo mínimo.


Afinal a última despertara, o que significava que podiam permanecer a caminhar para onde quer que Marlene os estivesse guiando.


- Como assim?


- Água, Lily. O cantil está quase vazio – Dorcas lhe explicou, usando seu tom muito grave, exatamente quando estava elevadamente impaciente.


- Ah – Lily respondeu, sentindo-se ainda cansada. Tentando ajeitar rapidamente o cabelo, que carregava pequenos galhinhos, olhou para James. Ele parecia calmo e despreocupado. Teriam acabado, enfim, as ameaças?


- Esperaremos Marlene voltar e recomeçaremos, está bem? – ele lhe informou.


- Achas que estamos perto?


- Nem imagino, Princesa – ele lhe respondeu.


Lily focou o Vale, inexpressiva. Precisava voltar para a segurança.


Dorcas logo sentou ao lado da amiga, mostrando-se irritadiça. Alfinetou James com o olhar e cruzou os braços, erguendo o queixo, como se mostrasse que fosse melhor do que ele.


- Não acredito que confia nele – murmurou para Lily.


Lily, que não estava se sentindo bem já que estava com fome, inspirou levemente, deixando o ar morno se acoplar em seus pulmões, acalmando-a.


- Ele está tão perdido quanto nós – sussurrou a Princesa.


- Duvido. Ele é Cavaleiro, certo? Cavaleiros sempre sabem onde estão. Aposto que é só uma armadilha.


- Que tipo de armadilha?


- Não penso como um Cavaleiro.


Lily, disfarçadamente, olhou para James. Ele não aparentava periculosidade nenhuma. Tinha uma espada, era verdade, mas não tinha ousado usá-la contra uma das garotas. Seu rosto estava sereno e longe, como se estivesse divagando furiosamente. Talvez estivesse pensando em um plano de como tirá-los dali.


- Achas mesmo que Marlene sabe para onde está nos levando? – Lily perguntou a Dorcas.


- Sinceramente? Não.


- Ela foi colocada no castelo muito pequena. Possivelmente com sete ou oito anos. Como pode saber o caminho de volta para casa?


- Quem sabe ela acha que temos um plano para afastar o Cavaleiro e só está enganando-o.


Lily riu. James a encarou, distraído.


- Tu achas? – perguntou incrédula.


- Não sei. Ela nunca foi muito esperta, foi?


- Ela é quando quer – Lily comentou.


- Isso é impossível. Digo, ela chegar até o Rio do Pó. Eu mesma nunca ouvi falar sobre ele – Dorcas disse.


- Bem, nem eu. Mas só porque...


- Você é Princesa. Não pode sair do castelo.


- É.


A Princesa esticou as costas, alongando-se. Dormir da terra era doloroso.


- Estás bem? –James lhe perguntou, franzindo a testa.


- Por que quer saber? – Dorcas rebateu.


Lily fez uma cara feia para Dorcas.


- Estou bem, não se preocupes – a Princesa respondeu gentilmente.


James lhe sorriu, assentindo educado. Continuou a revolver a grama, entediado.


- Pelos olhos do Rei! Vocês não vão acreditar! – Marlene surgiu por entre arbustos carregando o cantil de Drocas. Sua aparência estava miserável. Seus olhos vermelhos piscavam pesadamente e seus cabelos estavam embaraçados e ensebados. Pelo visto caminhara muito, pois suas pernas tremelicavam não suportando mais nenhum passo.


- O quê? Deu de cara com um dragão? – Dorcas perguntou.


- Não! Existe mesmo um rio por aqui! – o sorriso radiante de Marlene parecia prestes a explodir seu rosto.


- Mesmo? – James pulou da terra, animado – Fica longe?


- Tive que andar bastante, mas porque meus passos são pequenos – Marlene respondeu.


- Ah! – exclamou Lily – Água! Dê-me um pouco! – estendeu as mãos, desesperada.


- Tem muito mais de onde tirei – Marlene sorriu para a Princesa e lhe passou o cantil.


- Deus é misericordioso – James falou.


- Espero que Ele seja com você também – Dorcas comentou acidamente.


- Minha mãe diz que consegue se comunicar com Ele – Lily disse.


- Eu não acredito que Ele exista.


- Menfis também consegue – James disse.


- Aposto como ele é um charlatão – Dorcas opinou.


- Menfis? – James riu.


- Ele não deveria ser morto?


- E se ele gosta de ser quem é? – Lily inquiriu.


- Como ele pode gostar de ser um mentiroso?


- Por que ele seria um mentiroso?


- Ora, essa coisa de magia não existe – Dorcas riu.


Lily se contraiu, instintivamente.


Aparentemente o povoado não necessitava de motivos para matar. Não precisava realmente acreditar naquilo.


- E se existisse? – Lily perguntou hesitante.


- Bem, continuaria não acreditando – a outra deu de ombros.


- Você vai acreditar no momento em que chegarmos até Menfis – James reagiu sério.


- Como sabe?


- Simplesmente sei.


Dorcas olhou para as outras meninas, com cara de deboche.


- Aposto como não mudará a minha opinião – fincou de novo ela.


- Veremos.


Lily, não mais suportando a troca palavras, pigarreou.


- É melhor continuarmos. Temos que achar o Rio – disse.


- E a água? – Marlene perguntou.


- Está perto de casa?


- Que casa?


- Rio do Pó, Marlene – Lily explicou, tentada a revirar os olhos.


- Ah. Pelo que me lembro, as coníferas têm de terminar, aí logo enxergaremos mais relva e uma torre.


- Uma torre?


- Quando os Gaalas se instalaram por aqui, construíram uma marca. A Torre – James explanou.


- Como que para demonstrar a conquista? – Lily quis saber.


- Exatamente – confirmou o Cavaleiro.


- Espertos.


- Covardes – Dorcas julgou, com os olhos frios – Tiraram nossas terras.


- Mas nosso povo as recuperou – James disse.


- Quando foi isso? – Marlene ficou curiosa.


- Há mais de quatro décadas – respondeu o jovem.


- Achas que eles tomaram a terra novamente? – Lily franziu a testa, tornando-se preocupada.


- A do Rio do Pó? – James questionou.


- É.


- De modo algum! Menfis não deixaria.


- Ele mora só?


- Creio que sim. As poucas famílias que restaram depois que minha mãe morreu migraram para outros Vales – James, como o conhecedor mais fiel da história, lhe contou.


- Como ele resiste ao Rio? – Marlene fez uma careta.


- Ele é um Mago – disse simplesmente.


- Ah – as três falaram juntas.


- Acho que agora é melhor andarmos. O Sol já se revelou há tempos. Se continuarmos parando toda hora, acabaremos demorando mais – Lily conduziu.


- Tens razão – James concordou, mas pousou os olhos em Marlene:- E agora? – perguntou-lhe, cheio de dúvidas.


- A floresta de pinhas morre ao Leste, para lá – Marlene apontou em direção ao Sol, ainda baixo.


- Perfeitamente – murmurou ele.


Dorcas levantou-se da relva, deu umas palmadas no vestido e olhou para o horizonte.


Por que os caminhos nunca terminavam?


Caminhar, mesmo depois de horas (imperfeitas) de sono, não era maravilhoso. Estavam a cada passo mais perto do destino final, era claro, no entanto, para a Princesa, tão acostumada a percorrer pequenas distâncias, aquilo era inusitado e difícil. O vestido enlameado e esfiapado na barra a impedia de andar de forma certa, pois sempre escorregava no pano quente, rasgando-o ou sujando-o ainda mais.


As meninas não eram muito de questionar. Marlene ficava apenas feliz por estar tentando ajudar, mesmo que no fundo soubesse que talvez aquele rapaz não fosse o melhor Cavaleiro do Vale. Dorcas, mesmo contra a vontade, caminhava por pura curiosidade. Queria salvar a Princesa, mas não sabia por que, exatamente, repudiava tanto James Potter. Garotas sonhavam que um dia Cavaleiros as fossem salvar. E James, mesmo sem ter sido propriamente convidado para fazê-lo, estava salvando a Princesa. A relação dos dois não era a das mais harmônicas. Lily já tinha deixado evidente que confiava nele, mas ele, porém, não sabia se podia confiar naquela menina. Ela carregava algum segredo que o intrigava. Por que ele não conseguia nem pensar em matá-la? Tal ato o fazia encher de culpa. Por quê?


Lily, tomando mais um gole de água, franziu a testa. Parou, de repente.


- O que foi? – James perguntou, olhando-a. Quase tinham se esbarrado, mas ele tinha saltado para longe no mesmo instante.


- Não sei. Você escutou isso? – ela passou seus olhos verdes por todos, preocupada. Atarraxou novamente a garrafa e entregou-a a Dorcas, que logo a devolveu para dentro da bolsa de couro.


- O quê? – Marlene e Dorcas se alarmaram, começando a olhar ao redor, mas tudo o que avistavam eram arbustos e flores e árvores.


- Não sei. Parece alguém andando perto de nós – disse.


O estalo retornou.


- Ouviram?


- Deve ser algum animal – respondeu Dorcas, tentando fingir calma.  


- Um urso?


- É.


- UM URSO? – gritou Marlene, agora rodeando alguns metros, desesperada – E eu vou ficar aqui parada para ser devorada por um urso? – questionou.


- Sempre achei que ursos gostassem mais de salmões do que de pessoas – brincou James.


- Eu não vou fic... – Marlene recomeçou.


Nisto, ouviram um bufo.


Não parecia ser de animais.


- Ai! – berrou Dorcas ao tropeçar e cair por conta de uma raiz exposta.


- Você está b...


- AI MEU DEUS! – ofegou Lily, permitindo-se deixar a tranqüilidade de lado.


- PRINCESA! – Dorcas, Marlene e James correram.


A espada quase atravessou o crânio de Lily.


Então, por entre um tronco, um homem baixo e gordo se revelou.


- Ora, ora, ora – disse ele.


- Quem é você? – a voz de Lily saiu falhada.


- Largue-a imediatamente! – Dorcas mandou.


- Tire suas mãos imundas dela! – rosnou James, empunhando também sua espada e aproximando-se dos dois.


Lily queria livrar-se dos dedos rechonchudos que agarraram sua garganta, deixando-a sem fôlego, mas cada movimento parecia ser paralisado, como se o homem soubesse o que ela pretendia.


Apavorada, tentou não chorar.


Nunca esteve tão aterrorizada. Nem mesmo na noite anterior. Presa por aqueles dedos, ela sabia que morreria. Era bem mais fácil morrer estando debilitada e desprovida de armas.


- Ou o quê? – o gordinho riu roucamente.


Seus cabelos cor de rato dançavam sobre a testa suada e seus dentes muito amarelos mostravam-se por entre os lábios, como um cão enraivecido.


- Potter, faça alguma coisa! – Dorcas gritou com urgência na voz.


James, ignorando o medo, avançou mais um pouco.


O que deveria fazer com aquele demônio de posse da Princesa? O que poderia fazer que não ameaçasse a vida dela?


- O que queres? – perguntou secamente.


- Já não deixei isso claro, garoto? – o outro riu.


James focou bem o homem e arregalou os olhos.


- Espere... eu o conheço! – deixou escapar.


- Conhece-me, não? Acho que sim. Deves mesmo lembrar de mim.


- Claro! Você também me aprisionou! – disse James, com o tom de surpresa rasgando a garganta.


- O quê? – Lily perguntou com o pouco ar que lhe restava.


- Por sua vida, é melhor largá-la – James avisou.


- Ou o...


Não houve tempo. A espada empunhada e rente à pele do pescoço de Lily já tinha voado a metros dali. Desarmado, fora mais fácil agarrar a Princesa para seus braços e puxá-la daquele contraventor.


- Mas por Artemis! Por que eu sempre consigo falhar? – o homem perguntou para si mesmo, louco de raiva, correndo em direção a James, que logo jogou Lily no chão com brutalidade.


Lily escorou-se na terra que resvalava, mas estava bem. Arquejava e sentia-se com muito calor, como se o Sol a estivesse desfazendo. Tirou os cabelos dos olhos e pôde ver o fim da espada de James designada para o homem loiro- acastanhado.


- Seja lá o que pretendes, é melhor voltares de onde vieste, senhor – James disse com os olhos extravasando ódio.


- Rá. Achas mesmo que consegue me vencer? Tu és apenas um garoto!


- Mas vejo que tua espada não está junto a ti – comentou James.


O homem contorceu a face.


- Ainda terei a Princesa para mim! – ele disse, antes de se embrenhar por entre as árvores novamente.


A espada dele jazia perdida a metros dali e não foi recuperada.


- Lily? – James chamou, tentando localizá-la.


Olhou para o chão. Ela parecia lívida de medo.


Estendeu uma das mãos, oferecendo-a para a menina.


- Obrigada – agradeceu ela.


Estando todos de pé, hesitantes recomeçaram o trajeto.


Estariam, em algum momento, a salvos?


- Por Artemis, quem era aquele? – Marlene sussurrou.


- Alguém que claramente me quer morta – Lily respondeu.


- Tua família também deve a ele? – James perguntou inocente e com voz de surpresa.


Ela olhou-o fulminante.


- Como saberei? – disse aos arrancos.


- Vejo que nem todos amam tua família – observou ele.


- Não digas do que não sabes, Cavaleiro – Lily o repreendeu.


- Achas que ele apenas a quer?


- Queria-me para quê?


- Bem, teu castelo está sendo bombardeado. Quem sabe ele só almejava tesouros – James franziu levemente a testa, pensativo.


- Tesouros? – Lily riu descrente – Achas que guardo tesouros nas vestes?


- Não. Mas ele, aparentemente, acha.


- Não carrego tesouro algum comigo! – Lily se exasperou.


- Quem sabe o império de tua família esteja ruindo – arriscou James.


- Meu império nunca ruinará! Eu ainda serei Rainha dessas terras! – Lily falou decidida.


Esquecera-se, por segundos, por que odiava tanto aquilo tudo.


- Então é melhor correr, porque pode ser que amanhã não estarás tão a salvo – James disse.


- Tenho a ti.


- Pode ser que eu já não esteja mais aqui para te proteger – ajeitou ele.


Lily sentiu um baque surdo no coração. Ela não poderia ficar sem proteção.


- Mas... estamos juntos nessa – gaguejou ela.


- Sei que sim. Tivemos sorte desta vez por sermos abordados por apenas um malfeitor. Números, às vezes, vencem batalhas.


- James... – Lily olhou bem para ele.


Averiguou se as meninas estavam escutando. Ao que tudo indicava, elas tinham parado em algum ponto, pois não estavam mais junto a eles, mas a Princesa podia ouvir as vozes cansadas de ambas.


- Hm? – ele fez.


- Sabes que confio em ti.


James riu nervoso.


- Lembra-se? Jurei protegê-la.


- Sim, e eu não lhe dei nada em troca.


- Bem, talvez tenha dado. A sua presença.


- Muitos me julgam erroneamente. Acham que preciso me acostumar a ser uma Princesa.


- Mas tu és uma Princesa.


- Exato. Sou, mas não me comporto como tal – Lily disse.


- Talvez não precises se comportar como tal.


- Não é isso que a Rainha me diz todas as noites.


- Talvez ela só esteja com medo.


- De quê?


- Que você deixe de ser a menina que ela quer que seja.


- Mas eu não sou.


- Não precisas ser.


- Se não preciso como irei governar meu Vale?


- Às vezes, quando olhamos uma coisa com boa vontade, podemos nos surpreender.


- E...?


- Tu não és ruim. És uma Princesa do teu próprio modo. Não deves seguir regras para ser alguém que não aceitas – ele disse.


- Não sei se minha mãe concordaria com isso.


- Tentei ser Cavaleiro. Um bom Cavaleiro.


- Não és bom nisso? – Lily o interrompeu.


- Se fosse, não estaria aqui.


 Lily sorriu.


- Mas se não foste bom, agora eu não estaria aqui conversando contigo – Lily lembrou-lhe.


- Bem observado. Mas isso não é tudo. Tentei ser algo que julguei querer ser a mando de outra pessoa.


- Teu pai? – Lily sussurrou.


- Exato. Bem, ele não me disse para seguir isso, pois eu não tinha mais do que dois anos quando ele morreu... ainda assim, por conta dele, cegado pelo ódio e talvez pela vingança, transformei-me em um Cavaleiro.


- Achas que faria tudo diferente se tivesse tido outras escolhas?


- Creio que sim.


- Mas não posso mudar minha escolha – a Princesa disse.


- Não podes renunciar?


- Se o fizesse meu legado jamais se perpetuará por entre os moradores.


- Queres ser lembrada?


- Quero. Não por ter sido apenas uma Rainha, mas por ter sido uma Rainha justa e boa.


- Tu já és uma Princesa justa e boa – comentou James.


- Tu achas?


- Se não fosse, não teria confiado a tua vida a mim – Lily disse.


- Verdade – pausou – Acho, então, que lhe devo algo.


- Não quero nada teu.


- E se eu também lhe fizer uma promessa?


- Que tipo de promessa? – ele hesitou.


- Hm... posso lhe prometer que independentemente do que lhe acontecer, honrarei a teu pai.


- Mas tu nem o conheceu.


- Mas conheço a ti. Não quer que a honra de teu pai seja feita?


- É o que tenho buscado todos esses anos, Princesa. Mas não creio que devo colocar em risco a tua vida por isso.


- Você está colocando a tua vida em risco por mim, James.


- Bem, sou um Cavaleiro. Minha vida sempre está em risco em nome de algo ou de alguém – James riu.


- Quero isso.


- Não posso lhe conceder tal promessa, minha jovem.


- Então devo retirar o teu direito de morrer por mim, caso precises?


James abriu e fechou os lábios. Escolhas eram sempre difíceis.


- Não seria melhor se prometer que honraremos juntos meu pai?


- Tenho risco de vida nisso?


- Creio que sim.


- Fechado. Eu prometo que honraremos juntos teu pai – Lily finalizou a conversa.


- Quer saber de um segredo?


- Quero.


- Estou começando a gostar de você.


Lily nada respondeu.


O Cavaleiro não podia estar se apaixonando por ela. Rezou para que James apenas estivesse brincando, porque caso contrário, não queria estar viva para saber da verdade. Era melhor morrer a condenar alguém por seu pecado.


:::

N/a: Hohou. É, escrevi bem rapidinho esse capítulo. Finalmente a inspiração está voltando *-* Espero, então, que tenham aproveitado. E que, se possível, comentem, pois são os comentários que me fazem escrever e postar (:

Nina H.


17/01/2011

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