Reputação - short fic



- Eu preciso recuperá-la.


 


Hermione ouviu, pela segunda vez, esta frase, seus olhos presos no imenso céu alaranjado. Respirou fundo, apreciando o belo final de tarde. O final de mais um dia. Mas não um dia qualquer...


 


- Granger... Por favor... - a voz do rapaz era firme, mas a garota pode identificar, em seu tom, o quão difícil aquilo estava sendo para ele. Não era para menos... Malfoys jamais pedem 'por favor'...


 


Afastou os olhos da janela e os pousou no loiro à sua frente. Ele não havia mudado muita coisa desde a última vez que o vira, no baile de formatura. A respeito do seu jeito de ser, Hermione podia, com facilidade, afirmar que Draco Malfoy continuava praticamente o mesmo. Arrogante. Orgulhoso. Prepotente. Contudo, o loiro estava se esforçando para demonstrar o contrário, afinal, precisava da ajuda da morena e sabia que nenhuma dessas suas características o iriam favorecer.


 


Fisicamente, não. Fisicamente, Draco Malfoy era outra pessoa...


 


Alguns centímetros mais alto, alçando quase os 1,90m de Rony. Os braços magrelos ganharam forma, assim como o tórax tornara-se mais definido. Hermione podia dizer isso apenas de olhar como a camisa social branca caía-lhe como uma luva sobre o peito largo, as mangas dobradas um pouco abaixo do cotovelo apenas...


 


O nariz fino e levemente arrebitado continuava o mesmo, assim como o contorno dos lábios e o sorriso impecavelmente branco. Contudo, havia um quê de diferente. Algo que transformara o rosto do antigo sonserino esnobe para um rosto mais maduro, de homem...


 


Os olhos azuis acinzentados, que sempre atraíram a morena, apesar dela sempre ter negado tal fato, estavam também diferentes. Não havia o brilho do misterioso jovem que ela conhecera em Hogwarts... As belas íris traziam consigo a tristeza do que foram os cinco últimos anos na vida do rapaz. E ela sabia como eles haviam sido difíceis. Não havia alguém no mundo bruxo que não soubesse...


 


A garota abaixou os olhos para a pasta de documentos que estivera examinando antes do loiro entrar, mas sem realmente vê-la. Estava com muitas coisas na cabeça no presente momento para que um simples relatório pudesse chamar-lhe a atenção. Respirou fundo novamente, em silêncio...


 


- Granger? - Draco questionou mais uma vez, um leve tom de impaciência, que não fora adequadamente escondido, deixando-se transparecer - Sua resposta?


 


Hermione sorriu discretamente, sabendo que ele deveria estar se revirando por dentro de tanta ansiedade. Era típico dele querer ter controle sobre tudo. Quem estava no controle agora, porém, era ela.


 


- Por que eu? - quis saber, erguendo os olhos e pousando-os nos dele.


 


Sim, ele iria responder suas perguntas primeiro. Todavia, ela já tinha sua resposta para a proposta que lhe era oferecida.


 


Ele se ajeitou na cadeira, desconfortavelmente.


 


- Porque você é a melhor. - disse, meio a contragosto - E, pra que isso dê certo, eu preciso do melhor no assunto. Ou da melhor, pra ser mais preciso.


 


Um novo sorriso de canto de boca. Ela gostou de ouvi-lo admitir tal fato.


 


- O que tem em mente? - a morena quis saber, apoiando um braço na cadeira e o queixo num dos dedos.


 


O loiro recostou-se no assento, parecendo mais aliviado pela possibilidade de poder discutir o assunto e pela agora possível aceitação da garota.


 


- Primeiro, o casamento. - disse, mais calmo - Segundo, seu ingresso nos negócios Malfoy. Terceiro, a recuperação da minha reputação e, se possível, de preferência, da minha fortuna também.


 


Hermione coçou a lateral de seu pescoço e a nuca com uma unha, mania que tinha sempre que precisava pensar a respeito de um assunto que requeresse toda a sua atenção. E este era um deles, afinal, ela bem sabia que a família Malfoy, desde o final da guerra contra as forças das Trevas, havia perdido praticamente tudo, inclusive sua reputação. Esta última era o motivo mais forte de Draco ter ido ao seu escritório pedir-lhe ajuda. Sua reputação. A morena bem sabia o quanto ele prezava por ela...


 


- Estou disposto a fazer o que você disser. - Draco explicou, meio relutante, porém decidido - Você ditará as regras, Granger. Só você pode salvar meu nome a essa altura do campeonato.


 


Hermione revirou os olhos e riu, sem se conter.


 


- E o que eu ganho com isso? – ela perguntou, arqueando uma sobrancelha perfeitamente tracejada, cruzando os braços junto ao peito, um leve tom de deboche em sua voz.


 


O rapaz respirou fundo, mordendo o lábio inferior por um instante. Nervosismo ou irritação? A morena jamais soube dizer...


 


- Metade da minha fortuna. - disse, torcendo uma mão na outra por debaixo da mesa de vidro - A que você conseguir recuperar ou, se der tudo errado, o que me restou dela.


 


Hermione analisou a situação mentalmente e sorriu, bondosamente, pela primeira vez. Ele deveria estar bastante desesperado para fazer uma proposta desse tipo...


 


Tornou a olhar o céu lá fora, agora escuro pela noite que chegara. A lua brilhava ao longe, a noite estava estrelada. Um suspiro escapou de seus lábios e ela recostou a cabeça em sua cadeira, sem pensar em nada por um instante.


 


A voz do loiro, porém, a tirou de seu transe.


 


- Entendo se não quiser. - Draco disse, depressa - Ninguém iria querer... - murmurou baixinho, como se aquilo fosse um pensamento que houvesse lhe escapado - Você tem a sua própria reputação a zelar. É... foi estupidez minha pensar... - e calou-se por um instante, meneando a cabeça. Pôs-se de pé e acenou brevemente com a cabeça - Desculpe ter tomado seu tempo, Granger.


 


Hermione deixou-o dar três passos e então o chamou.


 


- Malfoy. - disse, pondo-se de pé, arrumando alguns papéis, pondo algumas coisas na bolsa vermelho-escuro - Não seja tão apressado!


 


Atravessou o escritório, colocou a bolsa no ombro direito. Passou pelo sonserino, que a olhava, confuso, e disse:


 


- Vamos, você vai me levar pra jantar. - explicou, soltando os cabelos do coque em que estavam presos, deixando-os cair pelos ombros - E sorria! Precisaremos de testemunhas para explicar como tudo começou.


 


Abriu a porta, um sorriso encantador nos lábios. Draco a seguiu momentos depois, ainda sem acreditar direito na sorte que tivera.


 


 


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Ele sabia que ela estava se arriscando. Muito. Um preço muito alto. Ao contrário dele, que já havia perdido praticamente tudo, inclusive seu nome, Hermione era respeitada em todo o mundo bruxo, tendo conseguido, por conta de seu excelente trabalho, uma boa segurança financeira. Ela era esperta e ele sabia disso. Sabia que também só ela poderia ajudá-lo. Porém, não entendia bem o porquê dela tê-lo aceitado fazer.


 


- Você não está comendo. - ouviu-a dizer, do outro lado da mesa para dois, a testa franzida - Que foi? Não gostou da comida?


 


- Não é isso. - Draco disse, sem jeito, levando aos lábios a taça de vinho tinto, involuntariamente - Só que... - apoiou a taça de volta a mesa - ... não entendo... porque você...


 


- Não tente entender. - ela o cortou, rispidamente. Em seguida, respirou fundo, arrependida - Desculpe-me pela grosseria. - disse, paciente - Mas isso não é algo que você possa entender sozinho.


 


Draco a fitou fixamente, atraído pelo mistério que ela escondia.


 


- Me conta. - disse, levando o garfo com um pouco do ravióli ao sugo à boca - Acredito que o seu problema não pode ser pior do que o meu. - e riu, fazendo piada da própria desgraça.


 


Hermione bebericou do vinho, pensativa.


 


Olhou à sua volta e sorriu discretamente. Todos no restaurante estavam olhando para o casal. Alguns fingiam que não olhavam. Outros, porém, encaravam, surpresos, a mesa em que os dois se encontravam, à varanda do lugar. Seu sorriso se ampliou e ela se aproximou do loiro, falando baixinho.


 


- Já está funcionando. - disse, satisfeita consigo mesmo.


 


Draco olhou rapidamente e entendeu o que ela queria dizer. Porém, não era isso que o atraía no momento. E, afinal, sempre soube que ela era competente e que a ida dos dois a um restaurante não passava de uma estratégia para que começassem a serem visto juntos.


 


- Me conta. - tornou a pedir, aproximando-se dela, ficando reclinados um na direção do outro por sobre a mesa, olhares presos.


 


Hermione quebrou a corrente que os unia pouco tempo depois, tempo o suficiente para que mais burburinhos houvessem surgido no local. "A sociedade bruxa é tão previsível..." pensou, sorrindo para o loiro, da mesma maneira que sorrira na saída de seu escritório, para que os funcionários pensassem algo mais do que realmente havia.


 


Comeu um pouco da massa antes de responder.


 


- Com a guerra. - disse, num tom que tentou parecer ser displicente e indiferente, mas que em seu interior sabia ela ser completamente o oposto - Com a guerra você perdeu muitas coisas. - disse, indicando o loiro com um leve aceno de mão e um sorriso bobo que não deixaria transparecer aos presentes o conteúdo sério daquela conversa - Bem... eu perdi uma coisa só. - disse, bebericando o vinho - Ou melhor dizendo, uma pessoa só. Rony.


 


Deu uma pausa e tornou a sorrir. Draco entendeu que ela estava tentando se recompor para não estragar o disfarce. Decidiu prestar mais atenção do que antes, pois aquele assunto, ficara evidente para ele, era mais complicado para ela do que ela fazia transparecer. Talvez, mais doloroso...


 


- Quase ninguém sabe, a não ser a família. - ela continuou, pausadamente, fazendo o máximo de esforço para a voz não tremer - Ele... - olhou para o próprio prato, mas Draco sabia que ela via mais além - ... perdeu a lucidez... depois de ser torturado... - tornou a fitá-lo, um sorriso nos lábios. O loiro, porém, percebeu que o olhar da morena tornara-se opaco, sem brilho.


 


- Sinto muito. - disse, um nó na garganta. Conteve o súbito impulso de tocar-lhe a mão que encontrava-se sobre a mesa, numa tentativa que, sabia ele, seria inútil de tentar confortá-la. Impulso este que o assustou.


 


Hermione tornou a sorrir, baixinho.


 


- Vou ajudá-lo por um simples motivo. - explicou, respirando fundo. Fechou os olhos por um breve instante, como se o que fosse revelar agora fosse um segredo do qual ninguém poderia saber - Vou ajudá-lo porque você também vai me ajudar. Involuntariamente... - disse, os olhos já abertos, meio sem jeito - ... mas vai.


 


- Como? - ele murmurou e se surpreendeu por não ter ficado ofendido ao saber que estava sendo usado assim como a estava usando.


 


Hermione ponderou por um instante, escolhendo as melhor palavras.


 


- Você se lembra do Miguel Corner, que era da Corvinal? - Draco fez que sim com a cabeça, confuso - Então... - Hermione continuou, brincando com a comida enquanto conversava - Ele e eu nos formamos juntos no Instituto de Curanderia e Medi-Bruxaria de Paris. - explicou, pacientemente - E, bem, apesar de termos motivos diferentes para termos nos tornado curandeiros, o Miguel aceitou me ajudar a tentar trazer o Rony de volta. Fora a família, ele é o único que sabe, bem... que sabia... - e deixou a frase no ar.


 


Draco entendeu e acenou afirmativamente com a cabeça. Hermione decidiu continuar.


 


- Bom, nós dois já viemos pesquisando e fazendo alguns avanços há cerca de quase dois anos sobre o assunto. - disse, novamente o tom de indiferença fortemente impregnado em sua voz - E temos obtido até algum sucesso, muito graças, digamos, a minha... - e ela sorriu, encabulada - ... influência no Departamento de Mistérios..., sabe..., as coisas que posso descobrir por lá sendo a vice-chefe do departamento... e que eu acabo contando..., sem ninguém saber, para o Miguel... - sorriu, sem jeito, as bochechas adquirindo um leve tom rosado - O Miguel também, sendo ele uma das pessoas mais brilhantes que eu conheço... e tão prestativo... - a admiração transparecia na face da morena - Acredito que estejamos bem perto de descobrir uma cura... para o problema do Rony. - disse, paciente - Porém, nos falta uma coisa e é aí que você entra, Malfoy.


 


- E o que falta a vocês? - Draco quis saber, curiosíssimo.


 


- Verba. - a morena explicou e o loiro riu, sem se conter.


 


- Desculpe. – disse ele, ainda sorrindo - Mas acho que você falou com a pessoa errada!


 


Hermione, porém, negou com um aceno de cabeça.


 


- Entenda. - disse, pacientemente - Eu não posso gastar tudo o que tenho, pois minha vida é por demais pública para esse assunto ficar escondido por mais tempo. Imagine se eu gastar mais do que já gasto! É muito difícil enganar o departamento financeiro do ministério! Não sei como consegui sigilo até agora! - bebericou do vinho - Tão pouco posso pedir mais do Miguel, ele já faz demais por mim. - um suspiro - Agora, você... - começou, e sua voz continha um quê de animação que Draco não entendeu bem o motivo - ... com o nosso casamento e a recuperação da sua fortuna... Eu vou dispor de um capital que poderá concluir as minhas pesquisas e, ainda assim, manter em segredo esse assunto tão pessoal. Por isso eu também preciso de você. - disse, meio sem graça - Eu preciso recuperar o seu dinheiro para poder usá-lo para curar o Rony. Quem sabe outras pessoas também! - e ela imaginou os pais do seu amigo Neville, que se encontravam na mesma situação que o ruivo Weasley.


 


Draco processou aquilo por alguns instantes, sem conseguir definir ao certo o que estava sentindo. Raiva por ser usado? Não, ele estava fazendo o mesmo com ela. Raiva porque perderia uma parcela de sua fortuna? Não, afinal, se ela não recuperasse seu dinheiro, ele mesmo não teria uma fortuna para chamar de sua. Estranheza? Sim, era isso. Riu, sem graça. Os motivos dela eram tão nobres enquanto os seus, tão egoístas.


 


- Só você mesma. - limitou-se a dizer, sorvendo o final de seu vinho e erguendo o dedo para pedir a conta.


 


- Desculpe-me a franqueza. - Hermione disse, dando de ombros - Mas melhor você saber agora do que depois.


 


Draco pagou a conta, deixando uma boa gorjeta para o atendente, pôs-se de pé e estendeu a mão para que Hermione caminhasse ao seu lado. A morena sorriu e agradeceu com um aceno de cabeça.


 


Assim que saíram do restaurante, ela o puxou pela camisa, discretamente, parando a um lado da calçada, um tanto nervosa.


 


- Entendo se você não quiser... - mas Draco a silenciou, pondo um dedo nos lábios dela.


 


A atitude do loiro pegou os dois de surpresa e Draco afastou a mão no mesmo instante, enfiando-a no bolso da calça, o punho fechado. Sua pele parecia estar pegando fogo depois do breve contato...


 


- Olha. - disse, ainda sem jeito pelo que acabara de acontecer - Esquece. - disse, tentando parecer calmo - Seus motivos são muito melhores do que o meu. Eu não lhe devo nada, bom, deverei se você conseguir me ajudar. O que você fará com... o dinheiro... - baixou o tom para que nenhum dos transeuntes o ouvisse - ... não é problema meu. Espero apenas que consiga. - disse, sendo sincero, outra coisa que o pegou de surpresa.


 


Hermione piscou algumas vezes, pois estava certa de que ele daria para trás, orgulhoso que era.


 


- Bom... - gaguejou, ainda aturdida - Então... acredito que temos... er... um acordo... certo?


 


Draco assentiu, seu olhar preso ao dela. Hermione sorriu, satisfeita.


 


- Como faremos isso? - o loiro quis saber, mais aliviado.


 


- Vamos almoçar amanhã, você me pega no escritório. - ela disse, pacientemente, arquitetando tudo em sua cabeça - Depois, na sexta, você passa lá no departamento de Mistérios, as 18:00 hrs, pra me pegar, pois terei uma reunião e terei que ir lá pra sede. Vai ser uma boa chance de nos verem juntos no Ministério. Depois... uhm... vamos saindo aos poucos pra que os boatos comecem a se confirmarem. Depois, podemos fingir um namoro, um noivado rápido e por fim nos casamos. - ela riu com a idéia - Enquanto isso, você me atualiza da situação das suas empresas, dos seus bens, me dê relatórios para eu já ir podendo agir por debaixo dos panos. Quando nos casarmos, vai ficar mais fácil eu coordenar tudo, mas, enquanto isso, vou te auxiliando, dizendo tudo o que tem que fazer. Tudo bem assim? - ela perguntou, uma sobrancelha erguida.


 


- Por mim. - ele sorriu, satisfeito - Onde quer ir almoçar amanhã?


 


Hermione deu de ombros.


 


- Sei lá, tanto faz. - disse, sorrindo - Desde que seja um lugar onde conhecidos possam nos ver e, principalmente, falar de nós.


 


- Beco Diagonal? - o loiro sugeriu, animado com o planejamento.


 


- Perfeito. - a morena concordou. No minuto seguinte, porém, fez uma careta, meio em dúvida.


 


- Que foi? - Draco quis saber, preocupado que ela fosse dar pra trás.


 


- Sua mãe. - ela respondeu, ainda fazendo uma careta - Pra isso dar certo, eu terei que conhecê-la e...


 


- Relaxa quanto a isso, Granger. - o rapaz disse, novamente aliviado - Dona Narcisa já sabe o que eu pretendia fazer e não vai fazer nenhuma objeção ao que você disser. Ela quer, tanto quanto eu, recuperar nossa fortuna e nossa reputação.


 


- Hermione. - ela disse, paciente.


 


- Uhm? - ele murmurou, sem entender.


 


A morena revirou os olhos, achando graça.


 


- Pra isso dar certo, você terá que deixar de me chamar de Granger e passar a me chamar de Hermione. - explicou.


 


- Ah, tá. - ele fez, coçando a nuca. Seus cabelos loiros estavam um pouco maiores do que na época de Hogwarts, os fios sedosos pendendo sobre as íris acinzentadas - Tudo bem...er... Hermione. - disse, sentindo uma sensação estranha ao pronunciar o nome da garota.


 


- E eu vou ter que te chamar de Draco, ok? - ela tornou a explicar, no que ele assentiu.


 


- Tudo bem, tudo bem. - disse, e algo lhe passou pela cabeça – Espera aí. - disse, de repente - Mas e os seus amigos? O Potter, os Weasley...? O que eles vão achar de tudo isso?


 


O corpo da morena ficou rígido e Hermione mordeu o lábio inferior antes de responder, com mais força do que deveria.


 


- Entenda uma coisa, Draco. - disse, aproximando-se alguns centímetros, falando quase num sussurro - Apesar de eu ter meus motivos para te ajudar, isso não quer dizer que todos concordem com as minhas atitudes. O Harry... - e uma expressão de nojo surgiu em sua face no mesmo instante em que o nome do moreno foi pronunciado - Bem, ele não concorda que eu passe todo o meu tempo tentando ajudar o Rony. Ele acha..., apesar de gostar do Rony como irmão, ele acha que isso é uma causa sem fim e que eu não deveria perder minha vida para tentar salvar a dele! – desabafou, visivelmente irritada - A Gina concorda cegamente com ele e, bem, o senhor e a senhora Weasley, ao mesmo tempo em que têm esperanças que eu vá conseguir salvar o filho deles um dia, eles têm seus receios de que eu possa acabar enlouquecendo junto.


 


Draco piscou algumas vezes diante da sinceridade da garota.


 


- Por isso.. - ela continuou - ... eu meio que não estou me importando muito com o que eles vão pensar. Eu quero salvar o meu amigo. Rony sempre foi tudo pra mim... - disse, e seus olhos ficaram marejados - Meu melhor amigo, meu primeiro amor, meu salvador... - disse, e uma lágrima escorreu, solitária, pela face da jovem - Eu não posso simplesmente não fazer nada, entende? Então, como o Miguel costuma dizer, eu liguei o ‘dane-se’ e segui em frente!


 


O loiro assentiu com a cabeça, lutando contra o embrulho que surgira em sua garganta. Definitivamente, Hermione era diferente de todas as garotas que já conhecera.


 


- Bom, mas, então, estamos acertados assim. - ela finalizou, sorrindo, limpando o rosto com a palma da mão - Você passa amanhã pra me pegar?


 


Ele tornou a assentir com a cabeça, sem, porém, dizer nada.


 


- Adorei a noite, Draco. - disse, e sorriu bobamente para ele, afastando uma mecha que lhe caía sobre os olhos.


 


Em seguida, afastou-se. Acenou com uma das mãos e aparatou para o seu apartamento.


 


Draco fez o mesmo, ainda confuso e atordoado.


 


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- Não. - ele disse, sério, a irritação presente em sua voz.


 


Hermione fechou os olhos por um breve instante, o contar de uma respiração sua. Ele não tinha esse direito.


 


- Não vou deixar você se destruir. - Harry disse, firme.


 


Hermione passou a olhá-lo atentamente, o olhar estreito.


 


- Pelo que eu saiba, não estou lhe pedindo coisa alguma. - retrucou, a voz tranquila, porém tão firme quando a do moreno.


 


O rapaz à sua frente fechou os punhos no mesmo instante, tentando, ao que parecia, controlar a sua raiva.


 


- Hermione, por Merlin. - o moreno disse, meneando a cabeça - Seja razoável!


 


Seja razoável... como se ela já não tivesse ouvido isto tantas vezes...


 


A garota limitou-se a erguer uma sobrancelha, de maneira desafiadora, instigando-o a prosseguir. Foi o que ele fez.


 


- Estamos falando do Malfoy. - ele continuou, asco em sua voz - Por Merlin, você não sabe como ele é? Na fama que ele tem? No que ele se tornou?!


 


Hermione revirou os olhos, cansada daquele blá blá blá.


 


- Olha só, Harry, eu vou ser bem clara com você até mesmo porque eu não vou repetir essa conversa. - disse, pacientemente decidida - Não me interessa o que as pessoas dizem sobre ele. Você e eu bem sabemos como a sociedade, seja ela bruxa ou trouxa, adora falar.


 


- Como assim não te interessa?! - o rapaz retrucou, cortando-a de pronto - Você enlouqueceu, Hermione?! Está disposta a jogar tudo pros ares por conta do Malfoy, é? Perder tudo o que já conquistou com tanto esforço e dedicação por conta de um babaca qualquer, falido e mal falado?!


 


A garota respirou fundo e analisou cada palavra, cada expressão de Harry. Nem de longe ele se parecia com o rapaz meigo e carinhoso da época de escola...


 


- O que foi, exatamente, que eu conquistei? - disse, porém de maneira retórica - Um bom emprego? Segurança financeira? Uma carreira promissora e reconhecida? - respondeu a própria pergunta, sentindo um incômodo no peito - Ser a segunda na linha de chefia do Departamento de Mistérios? - continuou, sorrindo, ironicamente - Bom, se é a isso que se refere, parabéns para mim, eu consegui mesmo tudo isso... - um novo sorriso afetado - Bom, Harry, infelizmente para você, não vejo como as minhas conquistas podem ser afetadas pelo meu relacionamento com Draco Malfoy. - explicou, sabendo que o que dizia seria uma mentira, mas, se era para mentir, faria-o perfeitamente - Vou continuar sendo a exímia profissional que sempre fui e serei reconhecida pelo meu trabalho, não se preocupe. Bom... se isso é o que realmente o preocupa a ponto de trazê-lo a Liverpool para questionar as minhas decisões, não é mesmo? - terminou, séria, o olhar fixo no rapaz.


 


Harry se remexeu na cadeira, desconfortável.


 


- Você não se importa de ficar mau falada? - ele quis saber, sua voz um misto de curiosidade e preocupação - De ser vista com ele? Não se importa com o que as pessoas podem vir a pensar de você? Que esse seu envolvimento com ele pode vir a lhe trazer muitos prejuízos?! - questionou, visivelmente ressentido.


 


- Como já disse... - a garota respondeu, pacientemente - O povo adora falar. - fulminou-o com as íris castanhas - E, Harry, sinceramente, eu não me importo com o que eles falem. Contudo... - seu olhar se intensificou, adquirindo um brilho estranho enquanto fitava o moreno - Acredito que o verdadeiro problema, aqui, é o que você está pensando de mim. Ou não é verdade que você está muito incomodado com o fato de eu e o Malfoy estarmos nos relacionando?


 


O rapaz pigarreou, tentando desobstruir a garganta.


 


- Eu me preocupo com você. - ele explicou, depois de uns minutos - Sempre me preocupei. E, se você quer realmente saber, eu não estou gostando nada disso! - devolveu o olhar ferino da amiga - Não gosto do Malfoy e, na minha opinião, você está fazendo tudo isso apenas para chamar a atenção, já que todos nós somos contra essa sua eterna fixação pelo Rony, estando ele no estado que está!


 


Hermione virou a cabeça para a janela e riu pelo nariz, não acreditando no que acabara de ouvir. Ele havia mudado, disso ela já sabia. Porém, a morena jamais esperara que ele fosse ser tão canalha quanto estava sendo.


 


- Três coisas. - disse, erguendo três dedos - Primeira: agradeço sua preocupação, mas a dispenso. - estava séria, magoada - Segunda: em nenhum momento, pedi para que você gostasse do Draco. Eu tô pouco me importando se você gosta dele ou não. - Harry tornou a se remexer na cadeira, uma careta na face - E terceira: não quero chamar a atenção de ninguém, Harry. Eu não sou mais criança. - disse, friamente - Meu problema com o Rony é exatamente isso: meu problema com o Rony. - frisou cada palavra - Em momento algum o nome Harry James Potter surgiu no meio. Sendo assim, agradeço sua vinda, mas, se me der licença, tenho mais o que fazer. - disse, apontando para os diversos documentos sobre sua mesa - Tenha um bom dia.


 


O rapaz se levantou, uma expressão de nojo na face.


 


- Você está ficando igualzinha a ele. - disse, seco, antes de sair da sala.


 


Hermione recostou-se no respaldar da cadeira assim que a porta bateu. Cerrou os punhos com raiva. Sabia que seria assim, mas tivera a esperança, a mínima esperança, de que ele não se intrometesse. Era sua vida, ninguém melhor do que ela para geri-la. Seria mal falada? Sabia que sim. E daí? Seu propósito era muito maior do que um simples boato a respeito dela. Tinha a oportunidade de ajudar seu melhor amigo e assumiria os riscos que fossem necessários. Salvaria Rony e isso era o suficiente para mantê-la firme em sua decisão.


 


- Com licença. - sua secretária apareceu por uma fresta na porta - Senhorita Granger, o senhor Miguel Corner está aqui e pede para vê-la.


 


- Mande-o entrar. - a morena disse, pondo-se de pé.


 


Assim que o rapaz entrou e a secretária os deixou a sós, Hermione saiu correndo e se jogou nos braços dele.


 


- Ah, Miguel! - disse, abraçando-o fortemente.


 


O rapaz sorriu, devolvendo o abraço com a mesma intensidade.


 


- Vi quando o Harry saiu. - disse, rindo, afastando-a alguns centímetros, mas ainda a segurando pelos braços – Furioso! - sorriu - Você está bem?


 


- Uhum. - ela fez que sim, respirando fundo - E você? O que faz aqui? E Anita?


 


- Terminamos. - o moreno explicou, num tom casual - Ela me traiu.


 


Hermione ficou boquiaberta, mas tratou logo de se recompor.


 


- Sinto muito. - disse, sendo sincera.


 


- Não se preocupe. - ele replicou, dando de ombros - Deveria ter desconfiado, mas enfim... E você? Como está lidando com Malfoy?


 


A garota riu, revirando os olhos.


 


- Até que não está sendo tão difícil. - disse, sentando-se num sofá preto que havia na sala, o rapaz sentando-se ao seu lado - Ele está bem... receptivo. - explicou, tornando a sorrir - Tranquilo. Bem disposto a obedecer. É até engraçado, pois dá pra ver que isso é contra a natureza dele, mas ele tem tentado cooperar.


 


Miguel riu, segurando as mãos da morena nas suas.


 


- Queria ver. - disse, achando graça - Deve ser hilário um Malfoy manso e obediente.


 


Os dois riram por um tempo. Hermione se sentia bem assim. Com Miguel, tudo era mais fácil. Ele entendia seus motivos, sabia de toda a verdade sobre seu relacionamento com Draco Malfoy. Era o único que sabia o que estava realmente acontecendo. Mesmo assim, não questionava, não reclamava. Não julgava. Apenas seguia ao seu lado, como sempre fora desde a Escola de Curanderia. Amigo e companheiro. Um novo Rony... com algumas diferenças...


 


- Então. - ele disse, cutucando-a no nariz com um dedo - Quando vai me apresentar a ele?


 


A morena respirou fundo, pensativa.


 


- No sábado. - disse, coçando a nuca - Combinamos de ir passear no beco diagonal. Eu tenho que ir à Floreios e Borrões comprar uns livros novos e ele vai comigo. Vai estar cheio, pois é o último fim de semana antes da volta às aulas em Hogwarts, e nós achamos que seria um excelente lugar para ele finalmente me pedir em namoro. Você sabe, já estamos saindo há umas três semanas... Nada melhor do que assumirmos um compromisso sério num local onde todos poderão nos ver juntos, agindo como um casal.


 


Miguel riu e apertou a bochecha da morena.


 


- Uhmmm... - murmurou, divertido - Hermione Granger namorando Draco Malfoy... - zombou, num tom maroto - Vai ter direito a beijo na boca, vai???


 


Hermione revirou os olhos, mas sorrindo.


 


- Já demos alguns beijinhos. - explicou, pacientemente, mas corando - No Ministério, nas vezes em que tive de ir lá e ele foi com o pretexto de me buscar. No beco diagonal mesmo, também...


 


- Beijo-beijo ou selinho? - ele quis saber, encostando sua fronte na dela.


 


Hermione suspirou, vencida.


 


- Selinho. - disse, fazendo uma careta - Não havia necessidade de um beijo propriamente dito.


 


Miguel tornou a rir, seus dentes brancos formando um lindo sorriso.


 


- Assim não tem graça! - comentou, zombeteiro - Qual a vantagem de ganhar um presente se você não pode abrir o pacote?


 


A garota o cutucou, fingindo-se de zangada.


 


- Qual é, Mione? - ele brincou - Aproveita e dá uns pegas no Malfoy. Vai te fazer bem. - e piscou, seus olhos azuis brilhando sem cessar.


 


- Há! - ela fez, dando-lhe a língua.


 


Miguel aproveitou e a beijou de surpresa.


 


- Doido! - Hermione se afastou e bateu de leve em sua cabeça - Já imaginou se alguém entra? Como fica o meu disfarce???


 


O moreno riu, dando de ombros.


 


- Como foi beijar o Malfoy? - quis saber, curioso, acariciando a palma da mão da garota.


 


Hermione parou para pensar.


 


- Estranho. - disse, depois de uns segundos - É tudo muito... estranho entre nós. Quando ele pega a minha mão, me abraça, até mesmo quando faz uma gentileza, como puxar a cadeira no restaurante ou abrir a porta do carro dele... - fez uma careta - É muito estranho! - concluiu, rindo ao final.


 


- Éééé..., Lizzie Bennet... Mas acho melhor você ir acabando com seu preconceito com relação ao Malfoy. - explicou, tranquilamente - Afinal, daqui a pouco ele vai pôr o anel da escravidão na sua mão e tchau tchau vida de solteira. - alfinetou, provocativo - A senhorita se tornará a senhora Draco Malfoy e passará a ser exclusiva de seu maridinho.


 


- Eca! - Hermione se arrepiou toda - Pode ir parando de me agourar!


 


- Cara, Mionezita, pensa só. - e ele ergueu as mãos, pintando a cena que descrevia - Vocês dois na mesma casa, no mesmo quarto, dividindo os mesmos lençóis...


 


- Pára! - ela pediu, corando sem querer - Não vamos... - e baixou o tom - ... dormir no mesmo quarto!


 


Miguel deixou o queixo cair, parecendo chocado.


 


- Hermione! - reclamou, sério - Deixa de ser boba e aproveita a vida!


 


- Posso muito bem aproveitá-la de outro modo. - disse e beijou o rapaz rapidamente.


 


O moreno gostou daquilo.


 


- Falando nisso... - disse, fazendo um biquinho - Por um acaso o Malfoy sabe...? - e indicou os dois com um dedo.


 


Hermione assentiu.


 


- Expliquei uma noite dessas. - disse, resumindo o assunto - Tínhamos que saber mais sobre um e o outro e eu contei. Disse que tínhamos nos tornado amigos quando havíamos estudado juntos em Paris, mas que tínhamos uma amizade colorida. - sorriu - Ele ficou muito surpreso com isso, diria que chocado.


 


- Amigos com benefícios... – Miguel brincou – Mas não era pra menos. - o moreno concordou - Sendo você a senhorita certinha de Hogwarts... - tornou a cutucá-la no nariz - Mas enfim, Lizzie Bennet, tenho que ir.Vou visitar meus pais e, depois, procurar um apartamento pra ficar enquanto faço algumas pesquisas aqui. Passei só pra te dar um oi mesmo e um beijinho.


 


- Você pode ficar no meu apartamento, se quiser. - a morena disse, uma sobrancelha levantada, um tom malicioso na voz - Ninguém irá desconfiar, afinal, já moramos juntos em Paris, não seria a primeira vez que isso acontece. Além do mais, somos amigos, pra vias de fato. - brincou - Ah, e pára de me chamar assim! - ela pediu, tornando a cutucá-lo - Odeio quando me chama de Elizabeth Bennet!


 


- Lizzie Bennet. - Miguel tornou a dizer, roubando-lhe mais um beijo - Lizzie Bennet, Lizzie Bennet, Lizzie Bennet!


 


Hermione mostrou-lhe a língua e ele riu com gosto.


 


- Domingo, 10:30, Floreios e Borrões. - disse, tornando a abraçá-lo.


 


- Pode deixar. - e, dando mais um beijo na amiga, um beijo de língua, despediu-se.


 


Hermione viu-o partir, alegre. Com Miguel, quem é que precisava de Harry???


 


 


************************************************************************************


 


Draco encontrava-se no andar superior da loja, as costas apoiadas no corrimão da escada. Olhou para o relógio, nervoso. Ela estava atrasada. E Hermione nunca se atrasara...


 


O sino da porta de entrada soou e ele se voltou para ver quem entrava. Apenas mais um casal com o filho para fazer as compras do material escolar de Hogwarts.


 


Mais uma, duas, três badaladas. Nada de Hermione.


 


O loiro avançou pela loja, seus olhos percorrendo as lombadas dos livros empilhados pelas estantes. Nada que chamasse sua atenção o bastante...


 


Dirigiu-se até a próxima seção, sem saber direito do que se tratava. Riu quando se deparou com o letreiro "Curanderia e Medibruxaria". Parece que a fixação de Hermione estava despertando um segredo antigo que se encontrava silenciado em seu interior. Afinal, jamais confessara a alguém, mas sempre pensara em se tornar um curandeiro. Todavia, pensou com desgosto, seu futuro havia se tornado nublado o suficiente para destruir seu sonho de criança.


 


Burburinho de risadas atrás de si chamaram sua atenção e o rapaz se voltou para ver o que era. Encontrou um casal que ria abertamente, aparentemente de algo muito engraçado.


 


- Oi! - Hermione disse, sorridente, aproximando-se dele e envolvendo seu braço esquerdo no direito dele - Desculpe a demora, mas esse daqui me obrigou a parar no 'Empório de Corujas' pra olhar todas as aves e decidir que não iria comprar nenhuma delas no final das contas.


 


- Nenhuma me agradou! - o rapaz reclamou, ainda rindo, fingindo-se de inocente - Que culpa eu tenho se meu gosto é alto demais?


 


Os dois continuaram rindo e Draco sentiu-se desconfortável por toda aquela alegria ao seu redor. Não estava acostumado a conviver com gente que sabia rir das pequenas coisas da vida. Sentiu-se pior ao ver que Hermione ria a ponto de ter lágrimas nos olhos. Ela estava realmente se divertindo. Ela jamais rira assim nas três semanas em que se encontravam juntos...


 


- Draco, não sei se você... Pára! - ela pediu, batendo no braço do moreno, rindo mais ainda enquanto ele imitava a expressão de raiva da vendedora do 'Empório' - Esse idiota aqui não parece, mas é o Miguel Corner, ex-aluno da Corvinal!


 


Os dois apertaram brevemente as mãos. Draco sério, Miguel sorrindo.


 


- Muito bem, vou deixar os dois pombinhos a sós. - Miguel disse, entrando na seção em que Draco encontrava-se parado na porta - Comportem-se!


 


- Peraí, criatura! - Hermione afastou-se um pouco de Draco e pôs a mão no bolso traseiro da calça jeans que usava - Toma. - entregou uma pequena lista ao moreno - Procura esses pra mim, pooooor favor... - pediu, fazendo um biquinho.


 


- E o que eu ganho com isso? - o rapaz perguntou, uma sobrancelha erguida.


 


Hermione ergueu a mesma sobrancelha, mirando-o fixamente. Miguel riu e entrou na seção de livros, um sorriso estampando o belo rosto.


 


Draco observou aquilo tudo sem pronunciar uma única palavra. Era estranho para ele pensar que Hermione Granger pudesse ter uma amizade colorida com alguém. Mais estranho ainda era pensar que ela estava tenho uma amizade colorida enquanto fingia estar interessada nele.


 


- Tudo bem? - Hermione perguntou, vendo que, no semblante do loiro, havia um quê de transtorno enquanto este acompanhava Miguel Corner com o olhar .


 


- Uhum. - ele assentiu, voltando-se para ela.


 


Olhou-a de cima a baixo rapidamente e sorriu.


 


- Está muito bonita. - elogiou-a, sendo sincero.


 


A morena fez uma pequena mesura, sorrindo, acreditando que o elogio não passava de um simples galanteio para convencer duas senhoras que passavam por detrás deles naquele instante, visivelmente prestando atenção no casal.


 


- Você também. - ela devolveu o elogio, avaliando como a calça jeans escura realmente lhe caia muito bem com a camisa cinza e a jaqueta de couro preta.


 


Draco estendeu-lhe a mão e a garota enlaçou seus dedos nos dele, como já era de costume entre os dois. Ambos não sabiam, porém, que o formigamento que sentiam devido ao toque um do outro era mútuo.


 


Caminharam pela loja, observando os livros, conversando trivialidades. Ela contou-lhe sua semana brevemente. Ele explicou que seus negócios estavam começando a entrar nos eixos, graças às dicas que ela havia lhe dado.


 


Pararam a um canto, onde não havia compradores. Porém, quem se encontrasse no andar de baixo da loja poderia ter uma boa visão do casal, o que era perfeito para ambos.


 


Draco fitou a morena, que acenou discretamente com a cabeça. O loiro respirou fundo, analisando cada expressão da grifinória.


 


Sem saber o porquê, retirou do bolso da calça uma pequena caixinha, que havia acabado de comprar assim que chegara ao beco diagonal.


 


Hermione o fitou, sem entender. Aquilo não era o que haviam combinado no dia anterior.


 


- Achei a sua cara. - ele disse, honesto novamente, balançando a caixinha no ar. Detestava aquilo, mas estar perto da morena fazia-o querer ser sincero, sem nem mesmo saber o motivo.


 


Hermione pegou a caixa e a abriu. Dentro, havia um cordão de prata com um pequenino pingente em forma de leão. A morena sorriu sem se conter.


 


Ergueu o olhar para agradecer ao loiro, mas ficou quieta. Não sabia que ele estava tão próximo, seus rostos a poucos centímetros um do outro. Sentiu algumas borboletas voando em seu ventre e a voz de Miguel ecoou em sua cabeça. "Deixa de ser boba e aproveita a vida!"...


 


- Obrigada. - forçou-se a dizer e constatou, para seu embaraço, que sua voz não estava tão segura quando há poucos minutos - Não precisava, no entanto. Você sabe...


 


- Sei. - ele assentiu, engolindo em seco - Mas eu quis.


 


Hermione assentiu com a cabeça, sem dizer nada.


 


As íris castanhas se perderam no mar em tempestade que eram os olhos dele. Constatou que havia um brilho em seu olhar que antes não existia e se perguntou qual o motivo daquilo tudo. Queria saber... Como queria...


 


- Hermione. - ele murmurou e a garota se surpreendeu quando a ponta dos dedos dele tocaram a pele de sua bochecha, traçando em seguida a lateral de seu rosto, parando na curva de seu pescoço - Você quer namorar comigo?


 


A grifinória abriu os lábios, afinal, sabia o que dizer. Mas não conseguiu. Engoliu em seco, buscando a voz que se perdera. Precisou de alguns segundos até conseguir pronunciar um simples 'Uhum'.


 


Draco sorriu e ela não entendeu o motivo. Mas também não queria entender. Novamente as palavras de Miguel ecooaram em sua mente e ela fez algo que jamais pensara fazer. Eliminou a distância entre eles e uniu seus lábios aos dele.


 


Nos poucos selinhos que deram, fora Draco quem sempre tomara a iniciativa, claro, sendo instruído pela morena em onde e quando seria o momento certo.


 


Não houve instrução nesse momento. Ela simplesmente o beijou.


 


Draco intensificou o aperto no pescoço dela, mas de uma maneira gentil. Sua outra mão a puxou pela cintura, colando os corpos um ao outro. Hermione segurou-lhe a face com uma das mãos e pressionou seus lábios mais ainda contra os dele. Como homem, Draco reagiu...


 


A morena sentiu a língua dele traçar-lhe, pela primeira vez, o contorno dos seus lábios. Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao sentir os dedos dele irem de encontro com a pele exposta de sua coluna, por conta da leve subida de sua camiseta.


 


Seus dedos desceram pela nuca do loiro, arranhando-o delicadamente com suas unhas bem feitas. Seria sua imaginação ou ele havia sorrido por entre o beijo?


 


Ambos puxaram as faces um do outro ao mesmo tempo, aprofundando o que era o primeiro beijo deles. Primeiro beijo como um casal de namorados. Primeiro beijo de verdade entre eles...


 


Os sentidos governavam suas mentes mais do que a própria razão. Deixaram-se levar aonde jamais estiveram...


 


De repente, o corpo de Hermione ficou rígido e Draco enrijeceu seus músculos em sintonia com a reação dela. A morena corou fortemente e riu, sem querer.


 


- Que foi? - ele quis saber, sério, ainda segurando-a em seus braços.


 


Hermione tentou conter o riso, mas não conseguiu. Esse era um de seus defeitos: rir quando ficava nervosa.


 


- Que foi??? - ele repetiu, ficando irritado por ela não lhe responder.


 


A morena revirou os olhos e respirou fundo, ficando mais vermelha. Sem jeito e tentando ser o mais discreta possível, apontou para baixo, para a mão de Draco.


 


O loiro ficou pálido e afastou a mão rapidamente, como se houvesse recebido um choque.


 


- De-desculpe! - gaguejou, suas bochechas readquirindo a cor que haviam perdido, mas num tom que beirava o roxo de vergonha - Eu não... não me dei conta que...


 


- Esquece! - Hermione riu e escondeu a face no peito do loiro, para que ele não a visse corar mais ainda - Tá tudo bem... - murmurou, o som de sua voz saindo abafado.


 


Draco respirou fundo e ela sentiu o peito largo dele subir e descer. Era uma sensação estranhamente gostosa. Não se lembrava de ter sentido isso das vezes em que estivera recostada no peito de Miguel.


 


Riu mais um pouco, ainda sem se afastar dele. Os braços de Draco agora encontravam-se envolvendo-a pelo meio de sua coluna, um lugar bem mais seguro do que onde estivera a mão dele a pouco... Riu novamente. Como ele não sentira sua mão descer até a sua... Um arrepio a tomou de surpresa e ele apertou o abraço, inconscientemente.


 


Um pigarrear atraiu a atenção dos dois e eles se voltaram para a direita.


 


- Desculpe interromper. - Miguel disse, sorrindo marotamente, uma pilha de livros nas mãos - Mas eu já vou indo.


 


Seu olhar e o de Hermione se cruzaram e ele conteve o riso. Finalmente ela decidira seguir os seus conselhos!


 


- Vamos com você. - a morena explicou, afastando-se um pouco do loiro - Afinal de contas, esses livros são meus!


 


Os três desceram as escadas e entraram na fila do caixa. Miguel estava parado na frente, segurando todos os livros, seus e os de Hermione, ao mesmo tempo em que olhava, inquisitivamente, para a amiga.


 


A jovem corou mais um pouco e o bicou algumas vezes para que ele andasse, pois a fila diminuía conforme as pessoas eram atendidas.


 


Draco, sem saber o porquê, permaneceu atrás de Hermione, o braço esquerdo envolto na cintura da morena, prendendo-a a si.


 


Por que estava sendo tão possessivo? Por que estava com uma súbita raiva de Miguel ter voltado de Paris? Por que estava tão irritado com as reações que seu corpo tivera ao contato com o corpo de Hermione? Por que estava perdendo o seu tempo fazendo essas indagações inúteis???


 


Uma atendente chamou o próximo e Miguel se dirigiu a ela, os livros nas mãos.


 


- Não! - Hermione sentenciou, séria, pegando os seus de volta - Esses são meus!


 


Miguel revirou os olhos, paciente como sempre. Sabia que a morena detestava que pagassem suas coisas.


 


Um novo caixa e Hermione se dirigiu até ele, Draco em suas costas.


 


- São 7 galões, 16 sicles e 23 nuques. - o jovem rapaz, de não mais que dezenove anos, disse, sorridente.


 


- Aqui. - Draco entregou-lhe um punhado de moedas.


 


- Draco, não! - Hermione disse, entregando a bolsa com suas moedas nas mãos do atendente – Aqui.


 


- Hermione, relaxa. - o loiro respondeu, revirando os olhos, e, voltando-se para o rapaz - Pague daí mesmo.


 


- Não! - a morena tornou a repetir, fazendo um bico de emburrada.


 


Draco fez uma careta e ignorou-a por completo. Olhou incisivamente para o jovem, que parecia se divertir com a briguinha do casal.


 


- Estamos com pressa, se não se importa. - disse, sério, retirando a bolsa de Hermione das mãos dele e devolvendo-a para sua dona.


 


Hermione bufou, irritada.


 


- Não há necessidade disso! - enfatizou, cruzando os braços junto ao peito. Aquilo não fazia parte do acordo deles.


 


- Isso não vai me deixar nem um pouco mais pobre. - o rapaz brincou, pegando as sacolas que lhe eram estendidas - Não com você fazendo os milagres que anda fazendo. - murmurou ao pé do ouvido dela, para que somente Hermione pudesse ouvi-lo.


 


A morena teve um outro arrepio e o xingou baixinho. Draco riu e a puxou para fora da loja, segurando-lhe uma das mãos.


 


Do lado de fora, Hermione parou ao lado de Miguel, que sorria, e não se conteve.


 


- Você é um idiota! - resmungou, séria - Realmente, não havia necessidade disso, Malfoy!


 


- Relaxa, cara. - Miguel disse, antes que o loiro pudesse responder - Ela fica completamente possessa quando alguém quer ou paga alguma coisa pra ela. - e cutucou a amiga na cintura, obrigando-a a se contorcer - Independente demais pro meu gosto. - zombou.


 


- Idiota! - ela disse para o moreno, que ria.


 


Draco teve novamente a sensação de estranheza e se pegou desejando que Miguel não tivesse voltado. Porém, sabia que ele iria ficar bastante tempo em Londres, afinal, estaria trabalhando com Hermione numa busca para a cura de Ronald Weasley. Sentiu uma raiva inexplicável ao imaginar os dois juntos. Pior, morando juntos...


 


- Bem, vou-me indo. - o rapaz disse, calmamente. "Já não era sem tempo", o loiro pensou - Tenho que me encontrar com uns amigos que também atuam nessa área da mente humana. Beijocas, Mione! - e abraçou a morena, erguendo-a alguns centímetros no ar.


 


- Te vejo em casa. - ela disse, meio ofegante, depois do abraço de urso que recebera.


 


- Draco. - Miguel estendeu a mão, sorridente.


 


- Corner. - Draco enfatizou o sobrenome, apertando-lhe a mão, com mais força do que necessário.


 


Miguel conteve um novo riso. Piscou para Hermione, murmurando “Corner” de forma debochada e se afastou, caminhando na direção da entrada do beco diagonal.


 


- Uhm... = murmurou - Acho que vou implicar mais um pouco com a vendedora do 'Empório'. - disse, e Hermione começou a rir.


 


Draco bufou ante a provocação.


 


- Bom. - disse, depois que Miguel se fora - Quer ir aonde agora?


 


Hermione deu de ombros, visivelmente feliz. O loiro teve uma súbita idéia.


 


- Estamos indo aonde? - a garota quis saber, andando ao lado do rapaz, de mãos dadas.


 


- Florean Fortescue. - Draco disse, indicando com a cabeça a sorveteria apinhada de estudantes - Gosta de sorvete, certo?


 


- Uhmmmmm... - a morena fez, ampliando seu sorriso. O loiro riu da espontaneidade dela.


 


- Espere aqui. - disse, pondo as sacolas sobre uma mesinha alta, que acabara de ser esvaziada por um casal com o filho de mais ou menos cinco anos de idade.


 


Draco entrou na loja e Hermione sentou-se a sombra do enorme guarda-sol azul elétrico. Olhava para o céu, sentindo-se feliz como há muito não se sentia, quando o agora namorado voltou com duas taças de sorvete.


 


- O seu. - Hermione recebeu o sundae de chocolate com calda de chocolate e biscoito, muda.


 


Draco a fitou, sem entender.


 


- Como você sabia? - ela perguntou, surpresa, apontando para o sorvete.


 


O loiro riu ao compreender.


 


- Você me disse que gostava de chocolate, lembra? - ela assentiu ao recordar a conversa que tiveram uma noite sobre gostos - Então, eu apenas assumi que isso se aplicava aos sorvetes também. Por quê? Errei? - perguntou, agora preocupado.


 


- Não, não. - Hermione apressou-se em dizer, levando à boca uma colherada considerável - Adoro! - e sorriu novamente.


 


Draco meneou a cabeça e provou seu sorvete. Seu favorito: menta com pedaços de chocolate e nozes.


 


- Posso? - Hermione quis saber, mordendo o lábio inferior, apontando para a taça dele.


 


O rapaz ofereceu um pouco com a própria colher, levando-a aos lábios da morena. Hermione provou e assentiu com a cabeça, satisfeita.


 


- Muito bom! - concordou, voltando a comer o seu.


 


- Eu sei. - Draco roubou uma colherada do dela, piscando marotamente - Tenho muito bom gosto.


 


Hermione deu-lhe a língua e ele riu, achando graça.


 


Na rua, todos que passavam por ali os observavam, uns discretamente, outros nem tanto. Quem olhava de fora, via um casal alegre e sorridente, desfrutando de uma manhã ensolarada de sábado. Era engraçado visualizar a cena, afinal, a sociedade bruxa jamais esperara que a bem sucedida Hermione Granger, cuja reputação era impecável e motivo de inveja para muitos, pudesse acabar se envolvendo com um ex-quase-comensal da morte, cujo pai morrera em Azkaban pelos crimes que cometera e cuja fortuna fora praticamente dizimada por dívidas e dívidas desconhecidas até pouco tempo.


 


- Mione? - uma voz familiar atraiu a atenção da morena, que se voltou para ver quem era.


 


- Neville! - sua voz saiu mais alto do que ela pretendera, mas Hermione não estava nem um pouco se importando.


 


Levantou-se e foi abraçar o antigo companheiro de Casa, que retribuiu o abraço com um sincero sorriso no rosto arredondado.


 


- Viu, eu disse que era ela, sua besta! - Luna, que continuava a mesma, disse, fazendo um bico para o rapaz ao seu lado.


 


- Luna! - Hermione tornou a exclamar, abraçando a loirinha fortemente.


 


- Saudades de você, sua ingrata! - a corvinal disse, séria, afastando-se um pouco da amiga - Despareceu desde Hogwarts! Tudo bem que eu ainda tive que voltar para terminar o último ano lá, mas, poxa... Precisava ter ido pra tão longe? Pra Paris?!


 


- Paris nem é tão longe de Londres, Luna Lovegood! - a outra disse, debochada - Mas grande coisa, quando eu voltei, qual não foi a minha surpresa em saber que a senhorita tinha se mudado pra Tailândia. Pra Tailândia! - enfatizou - Isso, sim, que é longe!


 


Luna simplesmente sorriu, seu sorriso sincero e cativante, dando de ombros.


 


- Quis mudar um pouco os ares, só isso. - disse, defendendo-se - Mas quando eu voltei e fui te procurar, você nunca estava. Tava sempre ocupada, abarrotada de trabalho... Aposto que nem soube que eu me casei.


 


A boca da grifinória se escancarou em assombro.


 


- Você se casou??? - exclamou, abobada.


 


- Não. - a loirinha disse, rindo - Mas se tivesse, você não saberia, viu?


 


Neville e Draco riram, sem se conterem.


 


Luna, então, voltou-se para o sonserino, olhando-o atentamente.


 


- Como vai, Malfoy? - perguntou, educadamente - Soube que você anda muito com a minha amiga, ultimamente. Estão namorando, certo?


 


Draco e Hermione trocaram um olhar, cúmplices. Ali estava a prova de como a sociedade era previsível. Se até mesmo a Luna estava sabendo dos boatos...


 


- Claro que ele tem andado comigo, Luna. - Hermione interveio, enlaçando sua mão na do loiro - Namorados fazem isso, ou estou muito enganada?


 


A reação dos amigos de escola foi engraçada. Enquanto Neville ficara branco e rígido, Luna estampara um largo sorriso, piscando diversas vezes, diante da confirmação do fato .


 


- Eu sabia que vocês ainda iam ficar juntos. - a loirinha comentou, sentindo-se vitoriosa - Eu sempre disse, mas ninguém em Hogwarts me levou a sério. Bom, ninguém em Hogwarts me levava realmente a sério... - ela murmurou, como se aquilo fosse um pensamento que deixara escapar - Mas, enfim, eu sabia que você dois iam dar em alguma coisa. Era muita implicância pra não haver nada escondido por debaixo dos panos!


 


Dessa vez foram Draco e Hermione quem foram pegos de surpresa. Os dois se encararam, mas nenhum soube o que dizer. Luna ignorou o fato ou não o deve ter percebido, pois continuou a fazer seus comentários.


 


Hermione soube que a amiga embarcaria no dia seguinte para Hogwarts, juntamente com Neville. Os dois se tornaram professores da antiga escola. Ele, de Herbologia, visto a professora Sprout ter se aposentado, e ela, de...


 


- Adivinhação?! - Hermione exclamou, novamente chocada - Desde quando você tem visões, Luna?


 


- Não tenho. - a corvinal disse, sincera - Mas a Trelawney disse que tenho potencial, então, por que não arriscar?


 


Draco escondeu a face na nuca da namorada, tentando conter o riso. Hermione cutucou-o de leve, pois assim era mais difícil dela mesma conter o próprio riso.


 


Despediram-se alguns minutos depois, Neville e Luna dirigindo-se para a Floreios e Borrões. Draco e Hermione esperaram os dois estarem longe o suficiente para poderem rir à vontade.


 


- Adivinhação... - a morena repetiu, meneando a cabeça - Só a Di-Lua mesmo!


 


O loiro pegou as duas taças de sorvete e as levou para dentro da loja, pois o doce já havia derretido. Voltou com outras duas, perfeitamente intactas.


 


- Depois me diz quanto foi. - Hermione disse, lambendo a parte de trás de sua colher.


 


Draco revirou os olhos e a ignorou.


 


Decidida a agradar Draco pelo bom comportamento dele e pelo fato de ele ter pago por seus livros, Hermione o levou, por volta das 13 horas, a um café que ela gostava muito, onde poderiam almoçar tranquilamente. Com a desculpa de que iria ao banheiro, aproveitou para acordar todos os detalhes com o garçom que os atenderia, deixando bastante claro que ela seria a responsável pelo pagamento da conta.


 


O sonserino teve de admitir que gostara daquele dia. Estava sendo completamente diferente dos dias que passara nos últimos cinco anos. Estava se divertindo e duvidava que Hermione estivesse fingindo que se divertia também apenas para provar a sociedade que eles eram um casal feliz. Aquele sorriso não poderia ser forçado... Ou poderia?


 


Saíram do beco diagonal por volta das seis horas da tarde, logo depois de avistarem o pôr-do-sol. Inconscientemente, observaram o sol se por no horizonte de mãos dadas, apesar de não haver ninguém perto deles que pudesse prestar atenção neste pequeno detalhe.


 


Combinaram de se ver no dia seguinte, quando ele a levaria para jantar com sua mãe. Seria a primeira vez que Hermione entraria na mansão Malfoy como uma convidada.


 


Draco a deixou na porta de seu apartamento, relutante por ir. Mal sabia ele que ela também estava relutante em deixá-lo partir...


 


 


************************************************************************************


 


Seis meses já haviam se passado desde aquela tarde na Floreios e Borrões. Draco, agora, encontrava-se sentado no sofá do apartamento da morena, trajando um smoking preto.


 


- Anda, Hermione, não vai deixar o coitado esperando para sempre, vai?! - Miguel berrou do outro sofá, usando uma calça velha e uma camiseta azul.


 


- Já vou, já vou!!! - a morena berrou do quarto, nervosa.


 


Os dois rapazes riram.


 


Draco já se acostumara com a constante presença de Miguel Corner. Não que gostasse do fato de ele continuar morando com Hermione ou da possibilidade da amizade colorida entre eles ter permanecido a mesma, embora ele jamais fosse perguntar isso a ela. Mas Miguel demonstrou ser uma pessoa fácil de se lidar e até mesmo divertida quando não estava, claro, roubando selinhos de Hermione na frente de Draco apenas para provocá-lo.


 


- Que droga, que droga, que droga!!! - Hermione reclamou, caminhando até o sofá, a saia do longo vestido segura de um lado pela mão - Perdi meu brinco de pérola!


 


- Uuuuhm... - Miguel murmurou, pensativo, enquanto observava como Draco fitava a morena de cima a baixo, visivelmente atraído - Seria, por um acaso... esse daqui? - e retirou do bolso o pequeno objeto que fazia par com o que já estava na orelha da morena.


 


- Ai, seu perfeito idiota! - ela reclamou, irritada - avançando sobre - Me devolve isso JÁ!


 


Miguel se esquivou e a derrubou no sofá, começando a fazer-lhe cócegas. Hermione bufava e ria ao mesmo tempo.


 


- Vai estragar meu vestido, seu retardado! - arfava, sem conseguir parar de rir.


 


Draco observava a cena, o monstrinho do ciúme correndo todo seu ser.


 


Miguel, depois de se divertir, soltou-a, estendo o brinco na direção da grifinória. Hermione o arrancou das mãos do rapaz, um bico enorme.


 


- Desculpe-me. - disse, voltando-se para Draco - Mas eu demorei procurando isso. - disse, pondo o brinco, voltando a olhar ferina para Miguel.


 


O jovem riu mais ainda, ignorando a raiva da amiga.


 


- Comportem-se! - disse, dando um beijo na testa da amiga, despedindo-se - Não façam nada que eu não faria!


 


Hermione bufou mais um pouco e saiu do apartamento, irritada. Draco seguiu atrás dela, em silêncio.


 


Era engraçado pensar como as coisas funcionavam nessa vida. Há cinco anos, desde o final da grande guerra, Draco vem tentando recuperar sua fortuna, sua reputação, reerguer os negócios que as empresas Malfoy tinham, restabelecer o prestígio que o nome de sua família tinha na sociedade bruxa. Tudo em vão...


 


Contudo, foi ele se unir a Hermione Granger para sua vida dar uma virada de 360 graus. Parte de sua fortuna já havia sido recuperada, graças ao excelente trabalho de administração da grifinória. Mais contratos haviam sido assinados, recuperara a confiança de investidores e antigos parceiros... Acreditava que, em pouco mais de um ano, sua fortuna encontrar-se-ia de volta ao que era antes das dívidas feitas por seu pai, se não maior.


 


Recuperara, também, sua reputação. Claro que ainda havia uma grande parcela dos bruxos que o via com desconfiança. Porém, ser aceito por Hermione praticamente fora uma porta de entrada para que ele voltasse ao convívio social. A boa reputação dela e a crescente carreira no departamento de Mistérios, além dos conhecimentos de Curanderia, serviam como espelho para as demais pessoas. Afinal, se Hermione era capaz de acreditar nele, por que não os demais?


 


- Você está quieto. - a morena murmurou, assim que o loiro estacionara o carro.


 


Draco respirou fundo. Viera pensativo a viagem toda, sequer reparara nisso.


 


- Algum problema? - Hermione questionou, voltando-se para ele, curiosa e... seria preocupação no olhar dela?


 


- Nenhum. - Draco disse, retirando o cinto e a fitando - Estava apenas pensando em como a minha vida mudou desde que eu entrei no seu escritório aquele dia.


 


A garota assentiu com a cabeça, quieta.


 


O silêncio entre os dois pesou e, novamente, as íris castanhas tornaram a se perder no azul do olhar de Draco.


 


Hermione sentiu seu ventre se contorcer. Lembranças daquela tarde no beco diagonal invadiram sua mente e ela tornou a sentir borboletas voando em seu interior. Lembrara do beijo que haviam dado na Floreios e Borrões. Lembrou-se que, desde então, jamais tornaram a ficar tão íntimos desse jeito...


 


Draco deixou seus instintos falarem mais alto e reclinou-se na direção da morena. Suas mãos formigavam e ele ansiava e muito por mais um contato com aqueles lábios vermelhos. Um contato que não fosse um mero selinho ou um beijo um pouco mais demorado para convencer os presentes. Ali não havia presentes. Havia apenas ele e ela. Draco e Hermione. Um homem e uma mulher...


 


Hermione mal fechara os olhos ao sentir o toque de Draco em seu pescoço quando uma voz masculina a fez sobressaltar-se. O manobrista batia com um dedo no vidro da janela, querendo estacionar o carro.


 


- Filho da... - Draco murmurou, baixinho, saindo do carro.


 


O manobrista não entendeu bem a raiva do motorista, afinal, por conta do vidro escuro do jaguar preto, ele mesmo não vira o que estava acontecendo dentro do veículo.


 


Draco enfiou as chaves na mão do homem e saiu, indo se encontrar com Hermione, que o esperava na calçada.


 


"Nem tive tempo de abrir a porta pra ela!" pensou, com raiva do funcionário. Pegou a mão da morena e entrou no prédio.


 


Aquela seria mais uma das inúmeras recepções a que Draco tivera que acompanhar Hermione. Como seu namorado, tinha de ir aonde ela fosse. E, como vice-chefe do Departamento de Mistérios, ela era convidada assídua de recepções...


 


Subiram até a cobertura, assinaram a lista de presença. Cumprimentaram alguns presentes, acenaram para outros. Sentaram-se a uma mesa perto da amurada, ainda vazia.


 


- Vou precisar da sua ajuda. - Hermione disse, a luz do seu olhar um tanto fosca. Revirou os olhos, pedindo paciência - Vamos dividir essa mesa com Harry e Gina. - disse, cabisbaixa - Além de Tonks e Remo.


 


Draco entendeu a tristeza no olhar da morena. Acariciou a bochecha dela com um dedo e sorriu, suave.


 


- Vai dar tudo certo. - prometeu. "Nem que eu tenha que espancá-los para isso." pensou, mas não disse.


 


Pouco tempo depois, os dois casais chegaram. Tonks sentou-se ao lado de Hermione e Draco teve o desprazer de sentar ao lado de Harry.


 


Pelo que o loiro pode perceber, a relação entre eles estava bastante abalada. Harry trocou poucas palavras com Hermione, limitando-se a falar o necessário e a encará-los, com raiva, pressupôs, pelo restante da noite. Gina seguia a linha do marido, embora aparentasse querer falar mais do que fazia.


 


Draco agradeceu por sua prima estar ali. Sempre bem humorada e divertida, a auror conversava com Hermione como se nada de diferente houvesse em seu relacionamento com Draco. Talvez, Draco pensou, Tonks fosse tão compreensiva por ela mesma ter sofrido muitos preconceitos quando se apaixonou e casou com o lobisomem Remo Lupin.


 


- E então? - ela perguntou, num certo momento da noite - Quando acontecerá o bendito casamento de vocês?


 


Draco sentiu a mão de Hermione apertar a sua com força por debaixo da mesa. Ela estava tensa e ele duvidava que ela tivesse conhecimento do que estava fazendo.


 


- Está cedo ainda. - ele respondeu, vendo Harry se remexer na cadeira ao seu lado - Não queremos apressar as coisas.


 


- Mas isso vai acontecer, não vai? - a prima quis saber, curiosa - Vocês formam um casal tão bonitinho juntos! - e apertou uma bochecha de cada um - Merecem ser felizes.


 


Hermione sorriu e seus músculos relaxaram um pouco.


 


- Seremos. - Draco disse, bebericando um pouco do seu whisky de fogo, envolvendo os ombros da morena com um dos braços - E eu não consigo deixar essa garota nem por todo ouro desse mundo.


 


A grifinória o fitou, em silêncio. Não sabia bem o porquê, mas desejou que aquelas palavras fossem sinceras de algum jeito. Que ele jamais a deixasse... Afinal, já havia se acostumado às ironias e deboches dele, ao ar de arrogante que tinha de vez em quando, ao modo como seu nariz empinava quando sabia estar certo...


 


A noite terminou por volta das 3 horas da manhã. Hermione retirou as chaves da mão de Draco e se dirigiu para o banco do motorista. Draco riu. Não estava bêbado; havia bebido bem pouco para falar a verdade. Riu novamente ao entrar no lado do carona. Jamais deixara alguém dirigir seu carro. Hermione seria a primeira.


 


E ela dirigia bem. E rápido. Não houvera um momento em que o velocímetro estivera abaixo dos 100 km/h. Para sua surpresa, ela o levara para casa.


 


Fitou-a, com incredulidade, uma sobrancelha erguida. Hermione revirou os olhos e meneou a cabeça, sorrindo.


 


- Trago seu carro amanhã de manhã, juro. - disse, pacientemente - Ou hoje, mais tarde. - explicou, olhando para o relógio no painel do carro.


 


Draco continuou ali, parado, sem fazer menção de sair. A morena respirou fundo, fazendo uma careta.


 


- Anda, Draco, facilita! - disse, a cabeça recostada no banco - Juro que não vou bater com seu amado carrinho!


 


Dessa vez foi ele quem revirou os olhos e riu. Recostou a própria cabeça no banco, seu olhar preso ao dela.


 


- Me faz um favor? - pediu, a voz serena.


 


Hermione abaixou os ombros e suspirou.


 


- Faço. - disse, sem pensar - Se for pra você sair desse carro e me deixar ir dormir, faço qualquer coisa!


 


Um sorriso de canto de boca brotou nos lábios do sonserino.


 


- Vem comigo. - disse, a voz rouca saindo quase um sussurro - Dorme comigo essa noite.


 


As mãos de Hermione começarão a tremer e ela enterrou os dedos fundo no banco para que ele não percebesse. Piscou uma, duas, três vezes, sem nada dizer.


 


- Vem. - ele tornou a pedir, acariciando o pescoço dela com um dedo - Dorme aqui hoje...


 


Hermione engoliu em seco e fechou os olhos, sabendo que mais um pouco e perderia a linha de raciocínio.


 


- Sei que vai parecer... estúpido. - disse, forçando os olhos a se abrirem e a encararem o loiro à sua frente - Mas... aonde... especificamente falando...?


 


A risada dele ecoou no carro como música para seus ouvidos.


 


- Especificamente falando... - ele repetiu as palavras dela, aproximando-se e beijando a curva do maxilar da morena - ... no meu quarto... - a lateral da boca - ... ao meu lado... - o lóbulo da orelha - ... na minha cama...


 


Hermione jamais admitiria, mas aquilo fora o suficiente para que tivesse um orgasmo.


 


Draco continuou a percorrer o pescoço e a nuca dela com seus lábios, ora mordendo a pele da morena, ora beijando-a...


 


- Draco... - ela murmurou, porém já rendida - Isso não está certo... - disse, sua respiração descompassada, seu corpo todo mole.


 


- Não... - ele murmurou ao pé do ouvido e Hermione fechou os olhos com força - Algo nunca esteve tão certo em toda a minha vida...


 


- Sua mãe... - a morena se apegou ao último apelo que tinha.


 


O loiro sorriu, capturando os lábios de Hermione com os seus, sugando-os sem nenhum pudor.


 


- Foi visitar a tia Andrômeda. - disse, sorrindo - Só volta em dois dias.


 


E a grifinória perdeu a batalha, deixando-se levar...


 


 


************************************************************************************


 


Miguel estava muito próximo de encontrar uma cura para a perda de lucidez de Rony. Ele sabia disso e nunca estivera tão animado quanto agora.


 


Olhou pela janelinha da porta de entrada e deixou um leve suspiro escapar-lhe os olhos. Hermione sempre vinha ver o amigo, antes do trabalho. Era algo que já fazia parte de sua rotina. Aparatar de Liverpool todo dia de manhã. Visitar Rony. Voltar para trabalhar...


 


Tinha admiração pela garra da jovem de apenas 21 anos. Tão devota, tão carinhosa...


 


Hermione saiu dez minutos depois, como sempre, lágrimas nos olhos. Aparataram juntos num beco perto do escritório dela.


 


Estudaram e estudaram os avanços que já haviam feito. O dinheiro de Malfoy havia ajudado e muito em viagens e pesquisas, além de experimentos.


 


Saíram tarde da noite, quase onze horas. Aparataram juntos no apartamento da morena. Draco já a esperava.


 


- Precisamos conversar. - disse, um tanto agoniado.


 


Seguiram juntos para o quarto, deixando Miguel sozinho na sala.


 


Draco a empurrou contra a parede e a beijou intensamente.


 


Um beijo urgente, como todos os que se seguiram desde aquela noite em que passaram juntos, depois da recepção, há quase três meses.


 


Sentaram-se juntos na cama, ofegantes.


 


- Que foi? - Hermione quis saber, apreensiva - Alguma coisa deu errado?


 


Draco sorriu pelas constantes preocupações dela. Sentia que aquilo era verdadeiro, que ela realmente se preocupava com ele. Como se gostasse dele de verdade. Como se não fosse nenhum fingimento o que faziam...


 


Respirou fundo, seus olhos presos aos dela. Segurou-lhe o queixo entre os dedos, puxando-a mais para si. Disse o que tinha de dizer. O que era combinado. Mas também o que era verdadeiro.


 


- Casa comigo. - não era um pedido; também não era uma ordem. Esperava apenas uma confirmação do que ele sabia que iria acontecer mais cedo ou mais tarde.


 


Hermione sorriu e tornou a beijá-lo por vontade própria, tomando a iniciativa. Para Draco, era melhor do que um 'sim' dito em palavras.


 


Em cinco meses, realizou-se uma cerimônia pequena. Draco insistiu para que Hermione se casasse na Igreja, de véu e grinalda. Ela não queria, afinal, sabia que, mais dia menos dia, iriam se separar. A dor daquele pensamento afetava-a mais do que a possibilidade de jamais descobrir a cura para o sofrimento de seu melhor amigo.


 


Parentes e melhores amigos, apenas. Sem festa. Hermione não queria. Draco insistiu em pelo menos levá-la para viajar e a morena não teve como negar.


 


Visitaram a França, Alemanha, Itália. Suíça, Áustria. Holanda, Bélgica...


 


Estavam na Grécia comemorando a recuperação da fortuna de Draco. Da recuperação de sua boa reputação. Comemoravam o descobrimento da cura para o problema do Rony. Comemoravam um mês de casados...


 


Quando voltaram à Inglaterra, Hermione desmaiou ao ver o melhor amigo chamando-a pelo nome. Rony se lembrara de tudo...


 


Foi uma noite de festa na Toca. A senhora Weasley estava com os olhos inchados de tanto chorar. Até mesmo o senhor Weasley encontrava-se abalado.


 


Os pais de Neville também estavam lá, ao lado do filho. Mãe e filho abraçados, sem se desgrudar um minuto sequer...


 


Gina e Harry, assim como todos os demais, pediram perdão. Hermione aceitou, mais por educação do que por vontade própria. Não queria estragar a noite. Tampouco, porém, conseguiria esquecer o que havia passado. A amizade de antes jamais retornaria...


 


Foi embora quase de manhãzinha, para o apartamento que Draco comprara para os dois. Narcisa continuaria a morar na mansão Malfoy.


 


Miguel, por sua vez, pediu transferência para o hospital St. Mungus, passando a morar definitivamente em Londres. Ele e Hermione dividiram os créditos da descoberta perante a sociedade bruxa. Diversos casos foram solucionados graças aos dois. Ele continuou a morar no apartamento dela.


 


Os negócios de Draco estavam de volta a pleno vapor. O sonserino encontrava-se mais rico do que jamais estivera. Passara a ser chamado para reuniões sociais, eventos e tudo o mais, independentemente do fato de estar casado com Hermione. Procuravam agora Draco Malfoy, não o marido da agora chefe do Departamento de Mistérios.


 


Já estavam casados há seis meses. Draco decidiu seguir seu sonho e foi para Paris estudar. Hermione pediu as férias que tinha em atraso e foi com ele...


 


Draco chegou uma noite e encontrou Hermione sentada no sofá, as penas cruzadas juntos ao corpo, vislumbrando algo que ele não podia ver.


 


Caminhou até o sofá, sentou-se ao seu lado. Percebeu que ela estava com lágrimas nos olhos. Há quanto tempo estivera chorando?


 


- Que foi? - perguntou, pondo uma mecha dos cabelos dela por detrás da orelha - Quê que aconteceu? Mione?


 


A morena respirou fundo, fechando os olhos para conter a nova onda de lágrimas que ameaçavam extravasar por sua face. Voltou-se para ele e viu a preocupação estampada em seu rosto. Teve uma esperança...


 


- Draco. - disse, a voz embargada - Sei que eu nunca disse isso antes. Nunca dissemos. - lembrou de todo este tempo em que estavam juntos - Mas... Eu não estou te pedindo nada em troca, mas... - um soluço - Droga, eu... Eu... Eu me apaixonei por você. - disse, abaixando o rosto, sem conseguir encará-lo - Me apaixonei de verdade... - sua voz agora era praticamente um sussurro.


 


- Você... me ama? - ele perguntou, sem se conter. Seu corpo todo tremia.


 


Hermione afundou o rosto nos joelhos, chorando copiosamente.


 


- Amo. - disse, tristemente - Amo muito... Droga!


 


Draco a puxou para si, para o seu peito e a abraçou fortemente. Hermione ergueu a cabeça, sem entender.


 


- Também te amo, sua boba. - disse, um sorriso carinhoso nos lábios - Te amo há muito tempo...


 


As íris castanhas adquiriram um brilho diferente, assim como as íris azuis. Finalmente eles haviam dito o que há muito queriam dizer...


 


Hermione acordou no dia seguinte com o café na cama. Draco decidira falta às aulas para ficar com ela. Seu verdadeiro amor. Seu único amor. A mulher que salvara sua vida em todos os sentidos possíveis e imagináveis.


 


- Tenho que te dizer uma coisa. - ela disse, meio receosa, rejeitando o café e puxando para si uma xícara de chá - Não fique bravo, por favor. Juro que não planejei nada... Nem tive culpa! A culpa, em tese, é toda sua! Você que começou com isso...


 


Draco a fitou, confuso. Hermione pegou a mão dele e a levou à sua barriga. O rapaz arregalou os olhos, incrédulo.


 


- Um mês. - disse, não contendo um sorriso.


 


O loiro sentiu todas as emoções ao mesmo tempo sem, contudo, saber direito o que estava sentindo em cada momento. Seria pai. Ele seria pai... De um filho dela... Ele teria um filho com Hermione...


 


- Por que não me contou antes? - quis saber, ainda em estado de choque.


 


A morena deu de ombros, nervosa.


 


- Tive medo que você não aceitasse. - foi a resposta sincera - Que dissesse que eu estava inventando isso para tirar mais dinheiro de você ou que dissesse que esse filho não é seu, mas do Miguel...


 


Draco entreabriu os lábios, mas não soube o que dizer. Hermione entendeu o que ele queria perguntar, mas que ele jamais falaria.


 


- Nunca mais. - disse, pausadamente - Desde a primeira vez em que dormi com você. Desde aquela vez em que eu aceitei sair do seu carro e ir dormir na mansão Malfoy.


 


Ela nunca mais dormira com Miguel. Draco não conteve o sorriso de alegria.


 


Deitou-a na cama e se jogou por cima dela, cobrindo a face da morena de beijos.


 


- Menino ou menina? - quis saber, curioso.


 


Hermione o fitou, mordendo o lábio inferior. Já sabia o sexo. Claro que sabia, assim que soube que estava grávida, foi a primeira coisa que perguntou ao seu curandeiro particular. Para sua sorte, no mundo bruxo, é possível descobrir o sexo do bebê assim que a mulher descobre estar grávida.


 


- Hein, hein?! - ele pediu, cutucando-a na barriga, fazendo-a sentir cócegas - Diz vai!


 


- O que você prefere? - ela perguntou, fazendo um bico.


 


Draco ficou pensativo.


 


- Os dois têm suas vantagens e desvantagens. - disse, meneando a cabeça - Se for menino, vou poder levá-lo para os jogos de quadribol, comprar a primeira vassoura... mas, se for que nem eu fui quando criança, vai se meter em muitas confusões. - os dois riram, achando graça - Se for menina, na certa será linda que nem você! - Hermione corou violentamente - Será estudiosa e tudo mais, mas vai me dar um trabalho com os garotos... Terei que contratar um trasgo de segurança para que não fuja de madrugada...


 


Hermione riu mais ainda.


 


- Faremos o seguinte. - disse, acariciando a face do amado - Você pode assumir o papel de trasgo de segurança e cuidar da nossa menina enquanto eu levo nosso filho aos jogos de quadribol, pode ser?


 


O queixo de Draco caiu.


 


- Gêmeos? - murmurou, e ela assentiu com a cabeça.


 


Draco rolou na cama, encarando o teto do quarto.


 


- Hei... - a morena subiu no peito dele e viu que ele tinha os olhos marejados - Seu bobo... - disse, depositando um beijo na bochecha dele.


 


Draco voltou-se para ela, sério.


 


- Eu devo minha vida a você. - explicou, a voz embargada - Além de recuperar a minha reputação e a minha fortuna, você me deu uma vida nova. Amor, carinho... Uma família... - foi dizendo, emocionado - Eu nem sei o que seria de mim sem você, Hermione.


 


- Ah, eu sei. - ela disse, adotando o tom que ele costumava usar quando estava certo sobre algo - Sei muito bem aonde o senhor estaria... - ela o cutucou, fazendo-o rir - Bom, mas pense por um lado. Graças a Deus você estava falido e mal falado! - comentou, sorridente - Do contrário, você jamais teria entrado na minha sala, pedindo a minha ajuda.


 


Ele assentiu com a cabeça. Em seguida, aproximou-se dela e beijou-lhe os lábios, demoradamente, carinhosamente.


 


- Te amo. - disse, satisfeito por poder dizer aquilo - Te amo, te amo te amo.. Minha Elizabeth Bennet...


 


Hermione se afastou e fez uma careta.


 


- Ah, você também não!!!


 


E Draco riu, voltando a beijá-la apaixonadamente...


 


************************************************************************************


 


N/A.: Para quem não leu Austen e não sabe, Elizabeth Bennet é a personagem principal de Orgulho e Preconceito que bate de frente com Mr. Darcy (meu sonho de consumo!) por ele ser arrogante e orgulhoso, é praticamente a ovelha negra da família e se decepciona com um milico por quem se encantara. Todavia, é forte, inteligente, e se descobre apaixonada por Darcy, com  quem se casa. Acho-a muito parecida com a minha Hermione, por isso o apelido =D

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Comentários (8)

  • Cíntia Maria Gomes Leite

    Adorei a fanfic. Me emocionou bastante,gostei da maneira como escreve.

    2013-02-15
  • GabriielaMalfoy

    Incrível como em um capítulo apenas, vc consegue me emocionar *w* Saabe, eu queria continuação kkk' eu sempre quero saber mais.. ¬¬ Parabéens de verdade, fic mto mto mto linda :D 

    2012-04-23
  • Maris Malfoy

    omg que fic mais perfeita, parabéns, ta linda, linda, linda, linda, linda *-*

    2012-02-27
  • Katie Black

    MARAVILHOSA!!! Muito PERFEITA!!! A sua fic é incrível, e você também, é uma ótimaaa autora! Tô lendo várias fics suas e tô amandoo! Bjs:**

    2012-01-03
  • Angel_Slytherin

    Simplesmente perfeita!! Parabéns, adorei a fic! *--* BeijosAngel_S

    2012-01-01
  • hcm

    Cara, como eu queria te abraçar neste exato momento, QUE FIC MAIS PERFEITA!! Parabéns, vc escreve muito bem!

    2011-11-21
  • luisa pires ferreira

    ai deuses essa fic É PERFEITA eu ameeeeeeeeeei ameeeeeeeeeeei mesmo de vdd eu nunca comento fics desse site que ue nao amo 

    2011-11-04
  • Mohrod

    ah, cara, EU PRECISO RELER ESSA FIC, ela é TÃO PERFEITA!!!

    2011-03-22
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