Parte I - Reabilitação



 


(Talvez eu precise de uma reabilitação)

Or maybe just need some sleep.

(Ou talvez eu só precise dormir um pouco.)

Abriu os olhos assustada. Um barulho alto a acordara de forma repentina. Ela se sentou na cama, os olhos semi-serrados pelo sono e pela luz excessiva que vinha da janela recém-aberta. Olhou ao redor, localizando imediatamente a origem do barulho: uma jovem de longos cabelos ruivos revirava seu guarda-roupa de maneira nada silenciosa.

- Você não mora mais aqui... – gemeu, voltando a se deitar e tapando a luz com o travesseiro. – O que está fazendo com minhas roupas? – perguntou com a voz abafada.

- Procurando algo para usar no almoço com os pais do James. – respondeu Lily Evans, sua melhor amiga desde que se lembrava, sem desviar sua atenção do enorme armário.  – Nós vamos contar que estamos noivos. E eu pensei que você gostasse das minhas visitas. 

- Não nos domingos de manhã em que eu estou de ressaca. – resmungou, revirando os olhos para o tom dramático da amiga. Jogou as cobertas para o lado e se levantou da cama, para voltar a se sentar logo em seguida. O movimento brusco a deixara tonta, e ela percebeu que sua cabeça latejava horrivelmente. Preferiu não imaginar como estaria sua aparência quando se olhasse no espelho.

- Você está sempre de ressaca nos domingos de manhã. – acusou Lily. – E aliás, não está exatamente de manhã, já são meio dia. – ela finalmente se virou, segurando junto ao corpo um vestido trouxa, verde-claro com alguns detalhes delicados em renda branca, longo demais para que Marlene McKinnon sequer considerasse usá-lo. – O que acha?

- Você disse meio-dia? – perguntou Lene, esfregando os olhos e finalmente se levantando. – Droga, tenho um almoço com Sitius daqui a uma hora. – despiu a blusa da noite anterior e jogou-a no chão antes de se enrolar com um roupão roxo peludo. – E nem pense em usar isso. Você já está noiva aos 19 anos, se for vestida assim os pais do James vão pensar que você fez voto de castidade e que eles nunca terão netos.

- O que sugere então? – Devo ir vestida de madame trottoir* para chocá-los de uma vez? – perguntou ela em uma ironia irritada.

- Por que não? – riu as morenas, observando com desgosto suas olheiras no espelho e decidindo ficar de óculos escuros o resto do dia. – É como eu pretendo ir encontrar Sirius. – ela deu um sorriso malicioso, que por sinal lembrava muito a expressão habitual de uns certos marotos. 

Maybe I need some rehab,


(Talvez eu precise de uma reabilitação)


Or maybe just need some sleep.


(Ou talvez eu só precise dormir um pouco.)


Abriu os olhos assustada. Um barulho alto a acordara de forma repentina. Ela se sentou na cama, os olhos semi-serrados pelo sono e pela luz excessiva que vinha da janela recém-aberta. Olhou ao redor, localizando imediatamente a origem do barulho: uma jovem de longos cabelos ruivos revirava seu guarda-roupa de maneira nada silenciosa.


- Você não mora mais aqui... – gemeu, voltando a se deitar e tapando a luz com o travesseiro. – O que está fazendo com minhas roupas? – perguntou com a voz abafada.


- Procurando algo para usar no almoço com os pais do James. – respondeu Lily Evans, sua melhor amiga desde que se lembrava, sem desviar sua atenção do enorme armário.  – Nós vamos contar que estamos noivos. E eu pensei que você gostasse das minhas visitas. 


- Não nos domingos de manhã em que eu estou de ressaca. – resmungou, revirando os olhos para o tom dramático da amiga. Jogou as cobertas para o lado e se levantou da cama, para voltar a se sentar logo em seguida. O movimento brusco a deixara tonta, e ela percebeu que sua cabeça latejava horrivelmente. Preferiu não imaginar como estaria sua aparência quando se olhasse no espelho.


- Você está sempre de ressaca nos domingos de manhã. – acusou Lily. – E aliás, não está exatamente de manhã, já são meio dia. – ela finalmente se virou, segurando junto ao corpo um vestido trouxa, verde-claro com alguns detalhes delicados em renda branca, longo demais para que Marlene McKinnon sequer considerasse usá-lo. – O que acha?


- Você disse meio-dia? – perguntou Lene, esfregando os olhos e finalmente se levantando. – Droga, tenho um almoço com Sirius daqui a uma hora. – despiu a blusa da noite anterior e jogou-a no chão antes de se enrolar com um roupão roxo peludo. – E nem pense em usar isso. Você já está noiva aos 19 anos, se for vestida assim os pais do James vão pensar que você fez voto de castidade e que eles nunca terão netos.


- O que sugere então? – Devo ir vestida de madame trottoir* para chocá-los de uma vez? – perguntou ela em uma ironia irritada.


- Por que não? – riu a morena, observando com desgosto suas olheiras no espelho e decidindo ficar de óculos escuros o resto do dia. – É como eu pretendo ir encontrar Sirius. – ela deu um sorriso malicioso, que por sinal lembrava muito a expressão habitual de uns certos marotos. 


 I got a sick obsession,


(Eu tenho uma obsessão doentia,)


I’m seeing it in my dreams.


(Estou vendo nos meus sonhos.)


 


Sua boca se abria em um perfeito “O” de surpresa. Não ousava nem piscar os olhos, temendo que se o fizesse a visão magnífica se dissolvesse. 


Que Sirius Black teve muitas mulheres não era surpresa para ninguém. Ele fazia o tipo galinha incorrigível, com um charme galanteador e ligeiramente arrogante que levava à loucura aquelas que tinham uma queda pelo tipo bad boy. E, pela segurança com que lidava com seus relacionamentos – para não chamar de “indiferença” – Sirius sabia de sua capacidade, e tirava grande proveito dela.


Ainda assim, não se faziam muitas mulheres como Marlene McKinnon, e nada o preparara para a visão de seu corpo molhado, o vestido branco colado ao seu corpo curvilíneo e os cabelos escuros caindo pelo seu rosto de pele muito branca, com seus olhos azuis profundos o encarando e os lábios vermelhos cheios, se abrindo convidativos...


- Eu acho que ele dormiu mesmo. – a voz de Peter chegou até ele, parecendo vir de muito longe, enquanto os lábios vermelhos se aproximavam. 


- Chuta ele para descobrir. – James falou, e sua voz já parecia mais clara que a de Peter. – Se ele reagir na hora, está acordado. Se ele se assustar antes de revidar, está dormindo.


- Nem pense nisso, Rabicho. – falou Sirius, abrindo os olhos. Peter olhou-o assustado, e ele se irritou por ter sido retirado contra sua vontade de um sonho tão...interessante. – Que horas são?


- Uma da tarde.  – respondeu James, olhando seu reflexo no espelho do teto que Sirius mandara instalar em seu apartamento no Beco Diagonal. Ele ajeitou os olhos e passou a mão pelo cabelo, arrepiando-o, antes de se virar para Sirius. – Você não devia estar indo se encontrar com a Lene?


- Conhecendo-a bem, ainda tenho mais meia hora antes que ela chegue lá. – respondeu ele se levantando. Já se vestira, é claro, mas preferiu não ficar como um idiota esperando-a por quarenta minutos enquanto fumava descontroladamente, e acabara cochilando enquanto enrolava para sair. – Mas por via das dúvidas, é melhor eu ir andando. Tenho certeza que ela não vai ficar esperando um segundo se eu me atrasar mais do que ela.


- Qual é a desse almoço, afinal? – perguntou James curioso. – Vocês não tinham decidido serem amiguinhos e essa coisa toda?


- Claro. – ele deu de ombros e sorriu. – Mas por que eu deveria me contentar com isso?


- Porque se envolver com a Lene fode com sua razão, talvez? – ironizou James, com as sobrancelhas arqueadas.


- Ao contrário, Pontas. – respondeu Sirius calmamente, se perguntando no íntimo se o amigo não estava certo. – A Lene roubou minha razão. Eu só quero tomá-la de volta.


Não fazia idéia do que queria dizer com isso, e pela cara de James não era o único, mas foi a única explicação que deu antes de aparatar.


I’m looking down every alley


(Estou procurando em cada viela)


I’m making us desperate


(Estou nos deixando desesperados)


 


- A verdade é que eu sou apaixonada por você, Six, mas eu não sei se eu te amo. – ela explicava calmamente, tragando devagar o cigarro que tirara das mãos dele. – Na verdade, talvez eu até te odeie, considerando o quanto você me fez mal. 


- Então... estamos terminando? – perguntou ele, não conseguindo ocultar o quanto a idéia lhe parecia patética e infundada. Para começar, ela estava terminando exatamente o quê? Não estavam namorando, como ela não cansava de lembrá-lo.


- Algo assim. Mas sempre podemos continuar amigos, eu não saberia ficar sem falar com você.


Amigos? Elas abia muito bem que isso era uma palhaçada. A tensão sexual e o desejo insaciável entre eles parecia emitir faíscas quando se aproximavam. Sirius nem mesmo se lembrava qual fora a última vez que olhara para Lene sem sentir vontade de arrancar suas roupas. 


Sabia muito bem que não tinha sido um “não-namorado” modelo, mas Lene sempre o compreendera melhor que ninguém. Sabia quando ele precisava de espaço, sabia que quando ele discutia arrogantemente deveria simplesmente ignorar, porque eram só ciúmes mal-canalizados, e sabia quando refreá-lo e quando acompanhá-lo no porre. No geral, ele tinha se comportado como um idiota nos últimos dias, sumindo após as discussões e voltando bêbado para um segundo hound, mas não era por isso que Lene era a melhor? Só ela ria em sua cara e não o levava à sério, apontando o dedo em sua fuça enquanto o chamava de infeliz e decadente, exatamente quando ele precisava ouvir.


E é claro que essas horas eram seguidas de sexo elevado ao nível onze, depois do qual nenhum deles parecia se lembrar do motivo da briga.


- Amigos? – repetiu ele, meio paralisado com a hilariedade da idéia. – Do tipo que tem benefícios? – perguntou, mais para não ficar mudo pelo choque do que qualquer outra coisa.


 - Não. Do tipo comum. – respondeu ela secamente.



- Por que? – ele conseguiu soltar.


- Bom, você tem sido basicamente um babaca, Six. – ela falou sorrindo. – E eu não posso aceitar todo esse problema como parte de você para sempre. Está me desgastando, e desgastando meus sentimentos por você. 


- E os meus sentimentos por você? – ele arriscou, numa tentativa falha de seu tom mais galanteador. 


Para a sua surpresa, algumas lágrimas soltas escorreram dos olhos dela, mas Lene ainda sorria quando respondeu.


- Quando você decidir que está crescido o suficiente para demonstrá-los, talvez sejam um fator a se considerar. 



Cause I’m staying all night hoping


(Porque estou ficando acordada à noite inteira)


And hitting my head against the wall.


(E batendo minha cabeça contra a parede.)


 


- Brunch**? – Lene gargalhou, afastando os cabelos escuros do rosto. – Qual foi a última vez que você acordou cedo num domingo? Em Hogwarts?


- Na verdade, uns três meses atrás. – respondeu ele, fingidamente pensativo.


- Sem chance, Black. – falou ela, e ele arqueou a sobrancelha ao som do seu sobrenome. – Qual é a probabilidade de qualquer um de nós sair daqui antes das cinco?


Ele olhou ao redor. A sala de estar espaçosa do apartamento que Lily e James agora dividiam em Londres estava superlotada. No dia anterior, James a pedira em casamento e ela aceitara, dando um motivo para Sirius imediatamente começar a planejar uma festa de noivado para os dois amigos. Naturalmente, seu apartamento era pequeno demais para comportar tantas pessoas, por isso os convidados – que iam desde ex-colegas barulhentos de Hogwarts até os membros mais velhos da Ordem da Fênix – se esbarravam na sala do casal, onde a música alta e a enorme quantidade de álcool disfarçavam a ausência quase total de comida, esquecida por Sirius. O relógio já marcava três da manhã, e a comemoração ainda estava à todo vapor.


- O que me diz de um almoço, então? – falou ele, sorrindo de forma segura.


- E por que eu deveria almoçar com você? – ela perguntou na defensiva, virando o restante de uísque de fogo do copo que segurava.


- Porque eu quero conversar com você. – Sirius respondeu, assumindo um tom mais sério. – Você disse que continuaríamos amigos, não é? Amigos almoçam juntos.


É claro que ele ainda não ia acrescentar que não pretendia de forma alguma continuar com essa história de amigos, porque os últimos quatro meses sem ela tinham sido uma droga, e ele estava com saudades. Não, tudo à seu tempo.


-  Amanhã às treze no Seasons. – decretou ela, em tom de derrota. – Nem pense em se atrasar.


 


*Trottoir (lê-se trrotuá, em francês) ao pé da letra, significa passeio à pé, mas essa palavra assume uma versão pejorativa se referindo às prostitutas e travestis franceses que ficam passeando pelas calçadas (geralmente vestidas de forma particularmente vulgar) à procura de clientes. Esse significado assumiu grandes proporções e a palavra ficou conhecida por esse sentido. 


*Brunch, para quem não sabe, é uma espécie de segundo café da manhã, que se realiza quase na hora do almoço (breakfast + lunch), um costume que na realidade é típico dos estadunidenses. 

N/A:  Acho que a fic vai ficar pequenininha, estou prevendo umas três partes, todas praticamente do mesmo tamanho. Espero que gostem, e as críticas construtivas são bem-vindas!:*


 


 


 


 

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