Capítulo único.



Era uma tarde calma, com sol, e algumas nuvens. Nos corredores do castelo, alunos andavam de um lado pro outro. Um grupo, em especial, se destacava: quatro meninos conversando animadamente; os marotos. Eram conhecidos assim: James, Sirius, Remo e Peter, e é claro que eles adoravam esse apelido.
 


- Até mais! Vejo vocês mais tarde, preciso devolver um livro na biblioteca. Nos encontramos na sala comunal.


- Biblioteca?! Desde quando você lê livros James? – perguntou o mais alto dos quatro.


- Livros não, meu caro almofadinhas, UM livro apenas, é sobre quadribol, eu tinha que ler... você sabe, sou um apanhador!


- O melhor, diga-se de passagem!


-Obrigado, rabicho. – riu o garoto.

-Então, até logo pontas! – disse o mais comportado do grupo.


Assim, eles se separaram e James entrou em uma sala repleta de livros, e com mesas redondas; a poeira reluzia com os reflexos de sol entrando pelas janelas e o cheiro de pergaminho predominando.


 Ele se dirigiu até Irma Prince e lhe entregou o livro ‘Quadribol: Através dos séculos’. A bibliotecária o examinou com desconfiança e, por fim concluiu que não havia nenhum dano.


Então, James se virou para a saída e viu de supetão; havia alguém ali, alguém que não percebera antes. Era uma garota, estava debruçada sobre livros, parecia que estava dormindo. Ele a reconheceu imediatamente, seus cabelos acaju estavam cobrindo seu rosto: era Lily Evans.


Ficou estranhamente contente por tê-la encontrado ali. Sentiu vontade de ir até sua mesa e a olhar mais de perto, e foi o que fez: caminhou sorrateiramente, para não acordá-la, mas quando chegou perto, ouviu algo que não esperava. Lily não estava dormindo, ela estava chorando...


Surpreso, ele não ousou fazer barulho.  A cena o comovia e ele não desejou ter vindo ao seu encontro, era muito triste ver Lily ali, desamparada e sozinha. Pensou no que fazer, mas já era tarde demais para recuar.


Quando se virou para saída, ansioso para ir embora, ouviu uma voz embargada e abafada:


- O que você veio fazer aqui, Potter? – James sentiu o olhar da ruiva, quis matar sua curiosidade. Virou-se, hesitante.


- E-eu estava devolvendo um livro que tinha pegado emprestado, mas já estava indo embora. N-não quis te incomodar, Evans. – James não sabia o que dizer para a garota, seu choro o havia pegado desprevenido.


- Se quiser saber mesmo estou acabada, são tantos deveres que eu não sei o que fazer, os N.I.E.M’s estão chegando e eu me sinto sobrecarregada. Não sei se vou conseguir... – a garota não pareceu ouvir sua resposta, sua voz estava desanimada e chorosa.


- O-o que não vai conseguir? – perguntou James curioso, mas ainda com um certo receio de ser repreendido. Era estranho que Lily não o atacasse com quatro pedras


- Ah... Potter, minha vida está um caco, estou sempre atrasada para alguma aula, não consigo prestar atenção nas aulas e parece que os dias são tão curtos, nunca consigo dar conta de estudar... – ela segurou um livro contra o peito e chorou silenciosamente.


O garoto ouviu seu desabafo com atenção, sabia que era uma das raras vezes que a garota não o desprezaria como geralmente fizera. Sentou-se do seu lado, paciente.


Ela falou sobre todas as suas preocupações, seus medos com os tão temidos exames. Lily falava como se não houvesse ninguém para ouvi-la, falava compulsivamente como se tivesse esperado anos por essa oportunidade de ser apenas ouvida e não questionada.


O tempo pareceu congelar e, enquanto a garota falava James não conseguia parar de olhar para os olhos verde-vivo que estavam inchados e vermelhos, e se perguntando por que eles estavam assim, sabia que só os N.I.E.M’s não a deixariam nesse estado, sabia que havia alguma coisa a mais que a preocupava e, de fato, estava certo.


Em dado momento, Lily já não falava mais dos exames e sim, da sua própria família. Percebendo isso, James prestou mais atenção. Essa era a exata razão do choro tão incomum na biblioteca.


-E tem a minha irmã, Petúnia, ela me odeia. Ela me odeia porque eu sou assim, porque sou uma bruxa!– e então ela chorou... desabou em lágrimas pesadas, sua dor era tão grande que James não suportou olhá-la. Aos soluços, continuou – Mas, me diga Po-Potter, me di-diga se EU TENHO CULPA! Eu não pedi i-isso pedi? – Pela primeira vez, Lily tinha se virado pra o garoto, procurando resposta.


Não aguentando mais tanto sofrimento, o garoto a abraçou desejando tirar toda a sua mágoa, desejando que parasse de chorar, queria protegê-la e consolá-la. Queria que soubesse que ele estava ali, que ele sempre estivera ali para ela. Tinha medo que com o ato, Lily o batesse e o expulsasse da biblioteca, mas para sua surpresa, ela não o fez. Os dois ficaram abraçados, em silêncio. Lily já parara de chorar, mas não se desvencilhou dos braços de James e ele, por outro lado desejou que aquele momento jamais acabasse. Ficaram ali, na biblioteca vazia...  apenas ouvindo o silêncio de seus corações.


Então, Irma Prince veio ao encontro dos dois:


- Sinto dizer a vocês, mas infelizmente a biblioteca vai fechar. Vão para a sala comunal de suas casas, por favor.


Lily e James estavam tão absortos que não a ouviram da primeira vez. A bibliotecária os chamou novamente e eles ‘acordaram’, finalmente. O tempo voltou a andar.


Nenhum dos dois disse sequer uma palavra sobre o ocorrido. Lily limpou seu rosto com as vestes e se separou de James, aparentemente chocada com que tinha acontecido. James também estava quieto, olhando para Lily, se levantou da cadeira e arrumou seus óculos. Seu semblante era de incredulidade. ‘Eu realmente abracei Lily Evans e não apanhei por isso?’
 


Depois de um minuto de silêncio, o garoto ouviu um sussurro quase inaudível:


-Obrigada, James... por você sabe, ter ficado aqui, comigo.


E, pela primeira vez em sua vida, ela o havia chamado pelo nome. Estava o agradecendo, estava sendo gentil. Isso o deixou animado e feliz, incrivelmente feliz e, afinal não conseguiu esconder o sorriso.


-Não foi nada, quero dizer, acho que certas coisas estão acima de qualquer briguinha tola, Evans...


Ela sorriu e ele sorriu mais ainda. Os seus lindos olhos verdes o encaravam e brilhavam. James corou. Seu coração pulava.


- Me chame de Lily... por favor. – sua voz era baixa e hesitante. Ela não olhava para James. Ela é tão bonita, pensou ele.


Por fim, eles arrumaram os livros de volta, nos lugares corretos. Lily arrumou sua mochila e James a esperou e olhava-a com imenso afeto, agora começando a compreender um pouco mais a vida daquela de quem gostava mais do qualquer outra.


 


Deixaram a biblioteca, sob protestos de Irma Prince sobre como eram demorados. Andaram de volta pelos corredores desertos e chegaram ao retrato da mulher gorda sem dizer nem uma sílaba sequer e entraram na sala comunal que também estava vazia. Então Lily disse, para quebrar o gelo:


-Sabe, você não é tão idiota quanto aparente ser, Potter... – sua afeição era sincera e ela estava feliz, tão diferente de algumas horas atrás.


-Todos dizem isso... – James estava com um ar brincalhão de superioridade. Estava radiante por dentro.


Eles se entreolharam, esperando mais alguma palavra, algum assunto. James disse, finalmente, depois de certo tempo de constrangimento:


-Então... boa noite Lily. Até amanhã.


- Boa noite... James. Obrigada mais uma vez... – Dessa vez, ela corou. O garoto ficou a fitá-la, por alguns segundos.


 


Lily já subira para seu dormitório e ele já estava indo para o seu próprio, incrivelmente satisfeito, com um sorriso no rosto. A ruiva, de agora em diante, o olharia com outros olhos.


 


 


 


FIM

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