O Conflito de Amélia



Capítulo I – O Confronto de Amélia


 


O Sol nascia devagar, lançando um pequeno raio alaranjado no céu ainda azul-manhã. O ar seco indicava que seria mais uma daqueles dias quentes e insuportáveis do verão atual inglês. As ruas estavam vazias, exceto por um cachorro negro mal cuidado que andava estranhamente por ali. Enquanto isso, uma jovem baixa, de cabelos ruivos e bem cuidados, com algumas manchinhas avermelhadas em seu rosto estava olhando para o lado de fora de seu quarto. Com a testa encostada na janela, observava o nascer do Sol e aquele cão. No último verão, boatos envolvendo o bruxo Sirius Black diziam que ele era um animago e que transformava-se em cão. Mas, segundo as notícias do Ministério da Magia, ele teria sido assassinado dentro do próprio Ministério. Era loucura então achar que o bruxo que todos pensaram ser das trevas, até que o Ministro da Magia, Cornélio Fudge, reconhecesse sua inocência, estava caminhando pelas ruas de Londres antes do amanhecer. Devia ser apenas coincidência ou loucura. A jovem não dormia direito há dias.


A jovem ruiva era Suzan Bones, aluna da Lufa-Lufa e estava prestes a começar seu sexto ano na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estava passando o começo das férias com sua tia e madrinha, gostava muito dela e sempre passava uma parte das férias com ela, para lhe fazer companhia já que ela morava só. Sabia tudo sobre o que acontecia no mundo mágico, pois sua tia, Amélia Bones, trabalhava no Departamento de Aplicação das Leis Mágicas no Ministério da Magia. Pensou em descer até a cozinha e perguntar a sua tia se Sirius Black tinha mesmo morrido por mãos de Comensais da Morte no Ministério, mas decidiu que não era uma decisão sábia a ser tomar. Além do mais, só de pensar que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornara ao poder juntamente com seus seguidores e já fizera suas vítimas apavorava Suzan de uma forma sem igual. Não conseguira dormir naquela noite. Nem nas anteriores. As notícias que ouvia de sua tia e lia no Profeta Diário a assustavam, principalmente as da última noite. Trouxas foram mortos sem piedade em lugar não muito longe dali. A ponte Broakdale foi derrubada por Comensais da Morte e havia ainda o uso dos Gigantes... “Gigantes! Por Merlin, o que é isso?” Pensou Suzan. Sua tia, Amélia a tranqüilizava, embora tivesse uma expressão preocupada e cansada em seu rosto.


 – Não se preocupe querida, lembre-se que existem pessoas lutando contra todos esses acontecimentos provocados por Você-Sabe-Quem – dizia ela depois da expressão amedrontada da sobrinha – A Ordem da Fênix está tentando colocar as coisas no lugar...
Mas isso não a tranqüilizava em nada. Grande parte de sua família participou da Ordem da Fênix na primeira vez que Lord Voldemort estava em seu auge e todos foram mortos, inclusive seu tio Edgar Bones, irmão de Amélia. Amélia participou, assim como participa desta vez, disfarçadamente, apenas transmitindo informações de dentro do Ministério ou agilizando algum pequeno problema para os membros da ordem quando necessário. A participação de sua madrinha na OD a preocupava, mas Suzan sabia que sua ela não deixaria de lutar contra o lorde das trevas. Ela mesma queria lutar e por isso havia entrado na Armada de Dumbledore no ano anterior, organização paralela liderada por Harry Potter, o menino que sobreviveu, para ensinar a outros alunos encantamentos para defesa. A AD foi de muita utilidade para Suzan e todos os outros alunos, já que sua professora de Defesa Contra as Artes das Trevas era a fria e idiota Dolores Umbridge, que não lhes permitia usar a varinha em suas aulas e de quem sua mãe falava muito mal. Dolores e Amélia conheciam – se do Ministério e, segundo Amélia “aquele pequeno sapo em forma de mulher não tem noção do que é ser uma pessoa, eu acho.”


Por todos esses motivos Suzan não dormira. Pensava em como seria de agora em diante e lembrava – se do passado. Preocupações que antes considerava extremamente importantes, agora em fúteis, ficando para um segundo plano. Não se importava mais se atingiria ou não seus NOM’s para se trabalhar no Ministério, como sua madrinha, no Departamento de Aplicação das Leis Mágicas. Não se importava mais em quais seriam os novos livros de Herbologia ou os horários das aulas. Tudo o que pensava agora era na segurança de sua mãe e na sua própria segurança. Amélia, uma mulher um pouco mais alta do que Suzan, de cabelos curtos e acinzentados e que sempre tivera um rosto jovial, agora aparentava ter vinte anos mais e tudo graças aos últimos acontecimentos.
                O Sol já estava pintando as nuvens no céu de dourado quando Suzan ouviu sua mãe lhe chamando. – Ei, Su, o café está pronto! – gritou Amélia Bones do andar de baixo. A jovem então tirou os olhos da janela, o cão já não estava mais lá, e então saiu de seu quarto que agora enchia-se de luz, lentamente. Viu de relance que algumas edições do Profeta estavam jogadas em cima da escrivaninha. – preciso organizar isso – ela pensou pela oitava vez naquela semana, mas sempre deixava pra depois. Desceu as escadas rapidamente e foi direto para a cozinha – Bom dia! – saudou Suzan, tentando animar sua tia. Olhando ao redor, Suzan viu que na mesa havia omeletes generosamente preparadas e suco de abóbora numa jarra posta no centro. – Bom dia, querida! – respondeu ela, sentada numa cadeira. Suzan sentou –se de frente para ela, comeu um bocado das omeletes, bebeu alguns goles do suco de abóbora, tentando parecer animada. Amélia, entretanto, comia rápida e silenciosamente, parecendo mais preocupada do que de costume. Suzan não podia lutar contra os fatos e precisava saber o que afligia sua mãe. – Algum problema ? – ela perguntou depois de algum tempo. – Hã? Ah, hm, eu não posso falar agora, estou atrasada – respondeu Amélia levantando – se da mesa. – Mas,... – tentou interromper Suzan, mas a bruxa já estava caminhando em sua direção, dando – lhe um beijo na testa e saindo pela porta da sala. A jovem seguiu sua madrinha até a porta, por onde a viu sair e dar alguns passos até a esquina onde aparatou, Suzan sabia, para um lugar próximo ao Ministério da Magia onde seguiria até aqueles vasos sanitários que eram a entrada do prédio.


Ela ficou ali, por alguns instantes, olhando para o local onde a bruxa de cabelos curtos estava a pouco, como se conseguisse vê-la ainda. Suzan não sabia bem o porquê, mas essa preocupação acima do normal de sua tia passava uma sensação esquisita, um frio na barriga que ela não sabia explicar. Suzan caminhou de volta para a casa, subiu as escadas lentamente e chegou ao quarto. A luz do Sol que penetrava pela janela agora banhava praticamente toda a extensão do lugar, aquecendo o ambiente, tornando – o acolhedor. Ela passou pelas edições de Profetas que ainda estavam espalhadas sem dar atenção a eles e se jogou em sua cama. Qual era o motivo de tanta preocupação por parte de sua mãe? Será que algo havia acontecido e ela não queria lhe contar? Ela nunca havia escondido nada. Seria alguma coisa da qual ela, Suzan, devia ser protegida? Mas ela não queria ser protegida, ela queria saber, queria lutar, queria proteger a sua tia, a única bruxa ainda viva em sua família, além de sua mãe. Esses pensamentos giravam e tomavam conta da cabeça da jovem bruxa. Ela queria ficar acordada o tempo inteiro, imaginando possibilidades, cogitando hipóteses mas o cansaço pela falta de horas de sono a dominaram e então, ela adormeceu.


Era um dia como este, quente, ensolarado e seco. Uma rua tortuosa, suja e mal cuidada podia ser vista contorcendo-se abaixo do céu azul e com poucas nuvens. Por ela, uma mulher de meia altura, com cabelos curtos acinzentados caminhava apressada. Parecia preocupada, com medo, olhava para todas as direções várias vezes a cada metro que avançava. Talvez esperasse por algo ou alguém... Houve então um estalo e três figuras encapuzadas surgiram do ar no fim da rua. A mulher que caminhava rapidamente parou de repente, olhando na direção das figuras. Ouviu-se então uma risada aguda vinda de uma das figuras encapuzadas. Era uma mulher de cabelos negros embaraçados, olhos frios, alta e magra. Sua voz era fina, de arrepiar os cabelos.


- Que surpresa encontrá-la por aqui, Bones– disse a bruxa encapuzada num tom sarcástico. – Não posso dizer o mesmo, Lestrange – respondeu Amélia friamente. – Então sabia que nós viríamos atrás de você depois do que aconteceu, não é? – inquiriu a bruxa magra com sua voz arrepiante. Os dois acompanhantes de Bellatrix Lestrange puxaram suas varinhas nesse momento. Crabbe e Goyle, o primeiro alto e magro de olhos negros e o segundo mais baixo e gordo, de olhos verdes oceano, eram os outros dois. – Depois de me negar a se juntar a vocês e ainda deixar o cretino do Peglow em coma, por ter me feito esse singelo convite? – disse Amélia também puxando sua varinha – Era tudo questão de tempo. A risada de Bellatrix Lestrange ecoou pela rua pela segunda vez após ouvir a bruxa de cabelos acinzentados. – E ainda tem a coragem de repetir? – a voz estridente era ouvida – Bom, então você sabe o porquê de estarmos aqui. Chega de conversa – irritou-se Bellatrix - vamos pegá-la.


A varinha de Bellatrix foi puxada rapidamente. Ela lançou um feitiço rápido em direção a Amélia que o deteve com um gesto da varinha. Mais dois jatos de luz vieram em sua direção, mas ela desviou de ambos facilmente. Era uma grande bruxa. Aponto sua varinha para o bruxo mais baixo – Estupefaça! – ela gritou. O jato de luz vermelha atingiu Goyle bem no rosto e o homem caiu com um baque no chão. Antes que Crabbe pudesse ver o que tinha acontecido – Spak Ervitis! – tinha bradado Amélia. Uma forte onda de choque passou por toda a extensão do corpo alto e magro do bruxo que tremeu e ajoelhou-se no chão incapaz de continuar. Bellatrix riu-se da incompetência de seus ajudantes e correu em direção à Amélia Bones. Um jato de luz verde passou próximo do rosto de Amélia e acertou a janela de uma casa no fim da rua. A Janela explodiu em vários pedaços. A varinha de Amélia moveu-se rapidamente e lançou o feitiço o qual era especialista. – Orbis! – berrou a bruxa, mas a comensal da morte foi mais rápida e com um giro da varinha repeliu o feitiço de volta para sua adversária – Reverte Imperio! – soou a voz fina e fria de Bellatrix. Com o golpe, Amélia Bones caiu no chão, inconsciente, com os olhos fechados, em coma. O riso alto da bruxa das trevas invadiu o lugar desabitado. – Achou que eu era o incompetente que você azarou, não é? – rosnou ela – Mestiça suja, agora você vai ter o que merece!


Então, um clarão de luz verde encheu a rua e foi direto em direção ao rosto da bruxa de cabelos curtos caída no chão sem sentidos. Sua pele ficou branca como a neve. A expressão de terror estampada em seu rosto. Uma gargalhada alta e fina foi escutada.


                Suzan acordou de um salto. O rosto estava pálido, encharcado de suor e as mãos tremiam levemente. Não era a primeira vez que ela sonhava com o assassinato de sua madrinha e tia. E na última semana o sonho se repetiu noite após noite, por isso ela não queria e nem conseguia mais dormir. O quarto já tinha pouca luz natural o iluminando. Devia ter adormecido por muito tempo, provavelmente graças às poucas horas dormidas nas últimas semanas. O crepúsculo estava tornando-se real naquele momento. Cerrou os olhos para observar melhor o quarto. Logo sua tia estaria ali e Suzan perceberia que fora tudo mais um pesadelo e mais nada.


A menina levantou da cama e foi em direção a janela. Era incrível como a paisagem tinha mudado tão rapidamente. Agora, algumas nuvens já enchiam o céu e um tom de roxo banhava o que antes era azul clarinho. Mas a rua lá fora estava ainda mais deserta do que antes, já que nem o cão negro e malcuidado rondava por ali. Suzan pretendia esperar por Amélia o tempo que fosse necessário, olhando pela janela e ir correndo recebê-la quando estivesse entrando pela porta da frente. No entanto, não demorou muito para que Suzan a avistasse caminhando apressadamente pela rua em direção a casa onde morava. Suzan pulou em direção a porta do seu quarto e abriu - a rapidamente, pronta para irromper escadaria abaixo e ir encontrar sua mãe, mas ela, com uma velocidade incrível já tinha entrado em casa. Havia algo estranho com ela, pois sua varinha estava em punho firmemente, sua expressão, como de costume nos últimos dias, preocupada, e agora com um leve ar alarmado. Antes de Suzan conseguir formular alguma pergunta sobre o porquê de sua mãe estar com a varinha erguida dentro de casa, Amélia Bones apontou a varinha para sua filha rapidamente – Incarcerous – sussurrou ela.  Cordas apareceram no ar e prenderam Suzan com muita força. Sem entender o que acontecia, ela tentava se livrar as cordas. – O que é isso? Porque está fazendo isso? – perguntou Suzan. – Silêncio! – disse Amélia quase de forma inaudível apontando a varinha mais uma vez para sua filha que então se calou, mesmo mexendo os lábios e fazendo um esforço enorme para gritar. Nada fazia sentido. Sua tia a tinha amarrado com cordas e a deixado sem fala, sem dizer sequer uma palavra de explicação. Será que... Não, não podia ser. Ela não podia estar sob a maldição Imperius. Suzan estava ali, na saída de seu quarto, presa, sem fala, olhando fixamente para sua mãe que agora subia as escadas apressadamente mas tentando fazer o menos de barulho possível. Ao alcançar Suzan, ela a pegou nos braços e a colocou em cima da cama. Uma explosão foi ouvida na porta da frente lá embaixo e o som de vozes chegava até os ouvido das duas. – Um dia, você irá me agradecer por isso – sussurrou quase choramingando Amélia Bones para Suzan e então, com um toque da varinha em sua sobrinha, Amélia deixou-a invisível, usando o feitiço de desilusionar. Suzan ficou apavorada pois sabia o que estava acontecendo. Comensais da Morte estavam atrás de sua madrinha e ela não queria que Suzan entrasse na briga, correndo riscos, por isso a tinha amarrado, a deixado sem fala e invisível. Ela estava protegendo Suzan. Mas Suzan não queria deixar ela lutar sozinha, ela queria lutar também e se tivesse que morrer para salvar sua mãe, ela o faria. Entretanto, na situação em que se encontrava, era impossível fazer qualquer coisa, já que não conseguia nem alcançar a varinha em seu bolso. Os barulhos vindos do andar de baixo estavam cada vez mais altos e os passos dos Comensais se aproximavam. Uma voz fria e aguda chegou até o quarto fazendo Suzan congelar – Vamos olhar lá em cima! Os passos rápidos e pesados se apressaram até a porta do quarto. Amélia Bones apontou a varinha em direção à porta, esperando pelo seu adversário que surgiria a qualquer momento. Outra explosão foi ouvida e a porta voou até se chocar contra a parede, próxima a Suzan. O homem encapuzado mal teve tempo de ver o que ou quem estava dentro do quarto porque um jato de luz vermelha acertou em cheio seu rosto e ele caiu duramente para trás e foi rolando escada abaixo.


- Ela está lá em cima! – gritou a comensal com a mesma voz fria e aguda. Uma segunda figura encapuzada começou a subir as escadas, mas logo viu-se outro jorro de luz vermelha e ele também caiu para trás e acabou em cima do outro comensal caído no pé da escada. Suzan sabia que sua mãe estava fazendo um grande trabalho, mas sabia também que a última comensal provavelmente era mais forte e ágil do que seus companheiros. Os passos dela se aproximaram devagar da escadaria. Era mais cuidadosa também. – Não acha que vai ser tão fácil assim agora, não é Amélia? – disse a comensal. Um jato de luz verde cortou a escuridão que invadia os aposentos da casa iluminando o caminho que percorreu até atingir o armário do quarto de Suzan. Amélia se precipitou para fora do quarto, com a varinha em punho. O feitiço estupore lançado por ela não acertou a comensal que riu. A mãe de Suzan parou antes de descer as escadas, não deveria ter revelado sua posição. Voltou para o quarto o mais rápido que pode, de frente para a escadaria, mas, quando adentrou no aposento escuro outro jato de luz verde voou em direção a ela. A maldição a atingiu bem no meio da face. Agora nada  importava mais, porque sua tia estava perdendo a cor, empalidecendo. Por um segundo, os olhos de Amélia Bones e os de sua sobrinha se encontraram, ambos cheios de lágrimas, embora não fosse possível ver os olhos de Susan. Então, o brilho dos olhos de Amélia se esvaiu assim como toda a felicidade que ainda restavam em Suzan, enquanto seu corpo caia quase lentamente no chão. Uma gargalhada aguda e fria dominou o ar. Lágrimas escorriam silenciosas pelo rosto da jovem invisível e amarrada em cima de uma cama. Sua cabeça girava enlouquecidamente sem saber o que fazer, sem saber como seria a vida agora, sem sua mãe, sem ninguém. É o fim, ela pensava. É o fim.


 


PS.: Postarei o próximo capítulo em breve, assim que estiver terminado e revisado. Obrigado pela Leitura! ;)


 

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