Recrutados



—Capítulo 14—


Recrutados


 


      


O primeiro dia de novembro chegou com um frio cortante, com muito vento. As ruas de Hampshire estavam quase vazias. As pessoas procuravam abrigar-se rapidamente em alguma loja ou café, tentando escapar daquele clima.


O The Alliance não era exceção. O local estava abarrotado e barulhento. Pessoas se juntavam em grupos bem fechados, conversando com as cabeças juntas enquanto tomavam cerveja. As janelas estavam embaçadas pelo frio. Estava sentado numa mesa mais ao fundo, o corpo curvado para frente. Segurava entre as mãos uma xícara de café fumegante. Seu rosto era oculto pela cortina de cabelo que caia pelos lados, mas seu olhar estava fixo na porta, apesar de, por vezes, a visão estar bloqueada pelos ocupantes.


Uma sineta tocou em algum lugar por trás do balcão, indicando que alguém havia entrado. Um grupo de marinheiros com canecas de cerveja passou na sua frente, impedindo sua visão. Rangendo os dentes com raiva, tentou esticar o pescoço para ver quem havia chegado, mas os marinheiros pareciam sempre se esticar de alguma forma para impedir sua visão.


—Não precisa dessa ginástica toda. —Disse uma voz ao seu lado. Pedro virou-se rapidamente, levando a mão até a varinha, por instinto. —Não se preocupe. Somos nós.


Apesar do capuz que cobria seus rostos, Pedro pode ver os olhos de Soana fixos nos seus. Virou o olhar para a garota ao seu lado. Também escondia o rosto num capuz, mas parecia fazer questão de não olhar para ele. Pedro fitou-a demoradamente, com as sobrancelhas baixas, antes de voltar a olhar para Soana.


—Sentem-se.


Com um ‘obrigado’ um pouco de má vontade, Soana puxou uma cadeira e sentou-se. Morgan, em silêncio, imitou a companheira, ainda mantendo o olhar num ponto qualquer, sem olhar para o irmão. Pedro fitou-a demoradamente, como se esperasse algum gesto vindo dela. Por fim, com um suspiro demorado, voltou a olhar para frente, fitando Soana.


—Então. O que tem a me falar? —Perguntou com as sobrancelhas baixas.


Soana fitou-o demoradamente, como se avaliasse bem o garoto. Por fim, enfiou a mão no bolso e retirou a varinha. Murmurou dois feitiços que Pedro não compreendeu, antes de voltar a guarda-la. Gradualmente, os sons ao seu redor foram diminuindo, até não passarem de um leve zumbido.


—Pronto. Assim podemos conversar melhor. —Disse Soana, pondo as mãos sobre a mesa. —Não sou muito fã de barulhos e não podemos ser ouvidos.


—Então porque num lugar tão movimentado? —Perguntou Pedro, erguendo as sobrancelhas.


—Não imaginei que estaria tão movimentado assim. E de toda forma, é bom. —Olhou para a multidão por cima do ombro, antes de voltar a olhar para ele. —Assim vai ser difícil alguém nos ver.


Pedro concordou e fitou a garota à sua frente demoradamente. Seu olhar estava baixo e era difícil dizer o que pensava, mas parecia pesar as palavras. Por fim, com um suspiro pesado, voltou a olhar para ele, um vinco surgindo em sua testa.


—Provavelmente você nunca ouviu falar. E talvez seja até difícil de acreditar no que vou dizer. —Abaixou ainda mais as sobrancelhas antes de tamborilar os dedos nervosamente na mesa. —Após o fim da guerra...muitos Comensais começaram a atacar famílias bruxas que lutaram contra o Lorde das Trevas. Matavam todos os que podiam. Menos seus filhos mais novos.


—E...por que? —Perguntou Pedro, não conseguindo evitar olhar para a irmã, que ainda o evitava.


—Um grupo de extermínio. Uma força secreta. Eles queriam formar bruxos e bruxas com os ideais deles. Maquinas de matar. Sem sentimentos, sem relações familiares. Eles chamam de Recrutados. —Disse Soana, abaixando o olhar, uma sombra passando por sobre eles. —Irônico, porque ninguém foi recrutado. Todos foram levados sem nenhuma opção.


—Então a Morgan... —Disse Pedro, olhando para a irmã com as sobrancelhas ligeiramente erguidas.


—Sim...a Morgan, assim como eu...somos filhas de bruxos que lutaram contra o Lorde das Trevas no passado. Fomos criadas acreditando não termos famílias.


—E...como descobriu tudo isso? —Perguntou Pedro, voltando a olhar para Soana.


—Mês passado, quando a Morgan saiu como uma louca atrás de você, nosso superior me chamou, ordenando que fosse atrás dela e a matasse. —Disse Soana, olhando por um instante para a companheira, antes de voltar a olhar para o garoto à frente. —Quando lhe perguntei porque, me disse apenas que ela sabia de mais. Então, quando cheguei ao apartamento onde vocês estavam, ouvi tudo sobre você ser irmão dela. E então tudo começou a fazer sentido. Depois que levei a Morgan para um lugar seguro, consegui retornar à base. Me infiltrei nos arquivos e consegui alguns dados. Só confirmou o que eu já sabia.


Pedro olhou para Soana em silêncio. Como um quebra-cabeça que se monta lentamente em sua cabeça, tudo foi fazendo sentido. O modo como Morgan agia. Sua insistência e sua raiva em não aceitar que era sua irmã.


Não se preocupe Diego. Eu vou cuidar de sua filhinha”.


A frase de Bellatrix espocou em seus ouvidos como um tiro. Sentiu as mãos fecharem com mais força no assoalho da mesa, como se fosse quebra-lo. Por fim, relaxou o corpo lentamente, encostando-se na cadeira e fitando as duas à sua frente.


—Sei que é difícil de acreditar. —Disse Soana, olhando diretamente nos olhos do garoto, como se tentasse adivinhar o que ele pensava. —Nem eu acredito completamente. É...bem, a minha vida inteira...e eu descobri que foi tudo uma mentira.


—Onde...onde fica a base? —Perguntou Pedro, tentando puxar algum outro assunto para ter tempo de ordenar seus pensamentos.


—Mesmo que eu lhe dissesse, de nada adiantaria. —Disse Soana, abaixando as sobrancelhas ainda mais, antes de olhar para a mesa. —O local inteiro é protegido pelo feitiço Fidelius. Apenas os Comensais de mais confiança tem acesso ao local. E, claro, os próprios Recrutados.


—E quem é o fiel do segredo? —Murmurou Pedro, os olhos fechados. Não precisava ouvir a resposta, em sua mente ele já sabia bem o nome do fiel.


—Bellatrix Lestrange. —Respondeu Soana, com um tom sombrio. —Foi ela quem começou tudo.


Pedro balançou a cabeça de forma positiva. Não sabia com o que concordava. Sua mente girava de uma forma confusa ao redor daquele assunto. A voz de Bellatrix, sua risada enquanto segurava Morgan ainda bebê nos braços. Imaginou outras centenas de crianças recém órfãs, sendo levadas para algum canto sombrio por Bellatrix, que ria maldosamente. Sacodiu a cabeça e deu um pequeno soco na mesa, voltando a olhar para as duas.


—É tudo o que eu tenho a dizer. —Murmurou Soana, olhando para ele antes de olhar para Morgan. —Creio que agora vocês dois precisem conversar.


Morgan ergueu o olhar aterrorizada e tentou deter Soana, mas esta já se afastavam por entre os ocupantes do bar, na direção da porta. Por um instante Pedro pensou que ela levantaria e iria atrás da outra, mas Morgan permaneceu parada, ainda olhando para o lado, a mão firmemente apoiada à mesa como se fosse levantar. Por fim, soltou um suspiro e um xingamento, voltando a sentar-se normalmente na cadeira, ainda evitando olhar para Pedro.


Por um tempo que ele não soube dizer quanto, ficaram ali, em silêncio. Morgan seguia olhando para as próprias pernas, como se achasse os cadarços de seu sapato algo realmente interessante, enquanto ele fitava ela, tentando ver um pouco de seu rosto oculto pela sombra do capuz.


—Então... —Murmurou ela, pigarreando e tentando tirar aquela rouquidão da voz. —você é mesmo meu irmão.


—É, sou. —Disse Pedro, encolhendo os ombros de leve.


—Hm. —Resumiu-se ela, ainda olhando para o chão. Mordeu nervosamente o lábio inferior, antes de voltar a falar, batendo a perna impacientemente no chão. —Foi...foi mal ter tentado te matar...sabe...antes.


—Tudo bem. Não tem problema. —Pedro tentou sorrir, mas descobriu que era mais difícil do que imaginava.


—E...hmm...sua barriga? —Perguntou Morgan, pigarreando mais uma vez. —O ferimento? Já...já está melhor?


—Já sim, não se preocupe. Só vai ficar uma cicatriz. —Encolheu os ombros e deu um sorriso tímido. —Algumas garotas até gostam.


Ouviu um barulho estranho vindo de Morgan e imaginou que fosse o esboço de uma risada. Então, silêncio mais uma vez. Por um bom tempo apenas ouviam a balburdia geral no bar. Brindes sendo feitos, risadas, piadas, discussões acaloradas, pedidos gritados de longe. Morgan continuava batendo o pé no chão nervosamente.  Por fim, quando já parecia que ia abrir um buraco no chão, bateu o pé com força e virou-se para Pedro, o olhar decidido. Haviam lagrimas manchando seu rosto em linhas grossas. Os olhos dela fizeram os do irmão e ele sentiu-se incomodado com aquela intensidade.


—Por que? —Perguntou ela, a voz agora fraca. Pedro franziu a testa e inclinou a cabeça para o lado, sem entender. —Por que eles escolheram proteger você e não a mim?


—Nã-não foi bem assim, Morgan...


—Como não?! Então eu passei todos os anos da minha vida aprendendo a ser uma Comensal da Morte cruel e sem sentimentos porque quis?! Porque achei que seria legal?!


— Não, eu não disse isso! —Protestou Pedro, balançando a cabeça negativamente. —Eu só quis dizer que...


—Que o que?! Que enquanto você estava protegido por...sei lá o que!...eu estava sendo levada por Bellatrix para longe? —Perguntou Morgan, com certa fúria. Parecia que a descoberta havia feito crescer em seu peito quinze anos de fúria, frustração e tristeza.


—Não foi assim que aconteceu, Morgan. —Disse Pedro, sentindo-se repentinamente cansado.


—Ah é?! E como foi que aconteceu? Ahm?! Eu estava segura cercada por sei lá quantos feitiços possíveis e ainda assim Bellatrix conseguiu me levar?!


—Sim. —Murmurou Pedro, uma sombra passando por sobre seus olhos.


Morgan calou-se, surpresa com a resposta. Esperava que ele negasse e começasse a contar alguma história fantásticas, mas aquilo pegou-a de surpresa. Pedro aproveitou do estupor dela para falar.


—Quando Bellatrix matou nossos pais, eu fiquei em choque. E por isso não vi muita coisa do que aconteceu depois. Mas recentemente encontrei uma memória deixada para trás na mansão Lestrange. —Disse Pedro, enfiando uma mão no bolso e retirando um pequeno relicário com uma substância que não se definia entre i liquido e o gasoso, branco perolado. —Nossos pais haviam colocado as mais diversas proteções ao seu redor. Mas...com a morte deles...alguns feitiços se desfizeram...e os que permaneceram foram ficando fracos, eu acho...Bellatrix não teve nenhum problema para chegar até você.


—Mas e voc...


—Eu tinha três anos, Morgan. Estava em choque pela morte dos nossos pais, embaixo de uma capa de invisibilidade. —Murmurou Pedro, abaixando as sobrancelhas e fitando a irmã demoradamente. —O que esperava que eu fizesse contra uma bruxa adulta e insana?


O silêncio mais uma vez pairou sobre eles, dessa vez mais pesado. Morgan abaixou o olhar mais uma vez e fitou os próprios joelhos. Não parecia pensar. Apenas não queria encarar o irmão mais uma vez. Com um suspiro demorado, Pedro deixou o relicário sobre a mesa e empurrou em sua direção. Enfiou a mão dentro do casaco e retirou um álbum velho, de capa de couro de dragão, azul, com o símbolo de Ravenclaw, em tinta bronze, já bastante desgastado.


—O que é isso? —Perguntou Morgan, enquanto ele empurrava o álbum em sua direção.


—É um presente. —Murmurou Pedro, olhando para o álbum como se fosse a coisa mais valiosa que ele tivesse em sua vida, antes de voltar a olhar para a irmã. —Um álbum de fotos de nossos pais. Tem algumas fotos nossas, mas a maioria é deles. Hogwarts, casamento, algumas do dia a dia.


—Mas...por que está me dando isso? —Murmurou Morgan e pela primeira sua voz não saiu confiante. Vacilou como uma criança que prende o choro.


—Eu passei quinze anos com ele. Eu tenho cada foto memorizada. Cada sorriso, cada traço. Você não deve lembrar deles. Achei que, bem...você gostaria.


Constrangida, Morgan abriu a capa. A primeira foto mostrava um casal abraçado à beira do lago. A garota sorria abertamente, mas o rapaz parecia mais comedido. Um tentáculo saia por trás deles, balançando-se como se acenasse para a foto. Passou a ponta do dedo suavemente pela foto, observando cada traço e reconhecendo ali um pouco de si. Fechou a pagina e olhou para Pedro, parecendo confusa.


—O...obrigada...


—Não precisa agradecer. —Disse Pedro, encolhendo os ombros. —É o mínimo que eu posso fazer, afinal.


Mais uma vez o silêncio caiu sobre eles. Morgan alisava a capa do álbum com a ponta dos dedos. Pedro fitava a irmã como se esperasse alguma pergunta ou algum comentário. Como o silêncio não era rompido, soltou um suspiro demorado e olhou para a rua.


—Quer dar um passeio ou algo assim?


Morgan ergueu o olhar e fitou o irmão antes de olhar para a janela. Por um instante pareceu considerar a proposta. Porém, balançou a cabeça negativamente e voltou a olhar para ele.


—Não é seguro. Nem para mim nem para você. Eu preciso continuar fugindo com Soana. —Disse a garota, guardando o álbum dentro do casaco.


—Mas...voltaremos a nos ver? —Perguntou Pedro, olhando fixamente para a irmã.


—Ah, por favor. Você sabe como essa cara de cachorrinho perdido me irrita. —Morgan revirou os olhos e soltou um suspiro demorado. —Quando tudo isso acabar...sim.


Pedro esboçou um sorriso e murmurou um “ótimo”, ainda olhando para a irmã. Quando sentiu que iam mergulhar em mais um daqueles silêncios, Morgan murmurou um “desculpe” e levantou-se. Pedro levantou quase no mesmo instante e segurou ela pelo cotovelo, fazendo a garota virar-se novamente para ele.


—Posso...te dar um abraço? —Perguntou um tanto receoso, soltando o braço da irmã.


A garota fez uma careta meio estranha, mas virou-se para ele. Por um instante Pedro viu em seus olhos o conflito de sua mente. Tudo o que aprendera a vida inteira parecia estar confrontando com os últimos acontecimentos. Não conseguia amolecer tão fácil quanto gostaria, mas não podia negar que o fato de ainda ter uma família viva mexesse com ela. Por fim, abaixou o olhar e balançou a cabeça positivamente. Pedro sorriu de leve e aproximou-se da irmã. Receoso, passou os braços ao redor de seu corpo e abraçou-a. Sem saber o que fazer, Morgan seguiu rígida. Aos poucos, encostou a cabeça no peito do irmão e retribuiu o abraço.


 


 


A porta abriu com um rangido de leve. Mal havia fechado ela novamente quando ouviu o tropel de passos indo em sua direção. Não demorou muito e Sophia chegou até a porta do quarto, os cabelos molhados como se tivesse acabado de sair do banho. Segurava a varinha firmemente em mãos e apontava em sua direção, um olhar inquisidor. Pedro suspirou pesadamente e ergueu as mãos em sinal de rendição.


—Meu nome é Pedro Jude Ravenclaw, sou da casa Corvinal, minha forma animaga é uma águia e tenho uma irmã chamada Morgan.


Pedro pôde ver que ainda havia um pouco de desconfiança nos olhos da prima, que logo foi se desfazendo. Largou a varinha sobre a cama e correu até o primo, abraçando-o com força pelo pescoço.


—Fiquei preocupada. Pensei que podia ser uma armadilha. —Disse a garota, afundando o rosto no ombro do primo, abraçando-o com mais força. —Foi tudo bem?


—Sim, foi tudo certo. —Murmurou Pedro, apoiando o queixo no ombro da prima e abraçando-a pela cintura. —Mas você está me sufocando, Soh.


—Ah, desculpa! —Exclamou a garota, afastando-se rapidamente, corando profundamente. Deu dois passos para trás e pigarreou, passando a mão pelos cabelos. —Mas então, como foi lá?


—Soana me explicou tudo. E depois eu conversei com a Morgan. Ela está mais calma. —Disse Pedro, tirando o casaco e pondo sobre uma das camas. —Onde está a Gillian?


—Foi comprar alguma coisa para comer. Disse que não aguentava mais ficar trancada nesse quarto. —Disse Sophia, encolhendo os ombros e seguindo o primo com o olhar. Pedro parou um instante e lançou um olhar preocupado para a prima, que tratou de acalma-lo. —Ela foi disfarçada. Não se preocupe.


Com um suspiro demorado, o garoto sentou-se na cama, apoiando o corpo sobre os joelhos. Seu olhar estava perdido sobre o móvel onde se encontravam as mochilas dos três e a TV velha quebrada. Mas não era ali que sua mente estava focada. Pensava nas palavras de Soana. Na frase de Bellatrix quando levara Morgan consigo. Um castelo imaginário cheio de mascarados misteriosos, filhos de antigos combatentes. E principalmente o rosto de Morgan que ia e vinha entre a frieza assassina e a confusão de uma garota perdida.


—Você está bem? —Murmurou Sophia, sentando ao seu lado. Pedro permaneceu olhando para frente por um tempo antes de olhar de canto para a prima.


—Eu só estou pensando...


—No que? —Perguntou a garota, pondo a mão em seu ombro e apertando de leve.


—Em tudo o que aconteceu. Na Morgan. Em tudo o que a Soana falou. —Disse Pedro, soltando um suspiro demorado e afundando o rosto nas mãos. —Estou pensando que já se fazem quatro meses que partimos e eu não faço ideia de para onde vamos.


—Não fique assim...não é culpa sua... —Disse Sophia, sem esconder aquele tom de piedade que irritou um pouco o garoto. —vai dar tudo certo.


E, com um ultimo apertão no ombro do primo, Sophia levantou-se. Ouviu os passos da prima se distanciarem até a porta do banheiro bater. Então, jogou-se para trás, com os braços abertos, olhando para o teto. Queria muito acreditar que tudo daria mesmo certo.


 


 


 


A pequena chama azulada crepitava e dançava ao sabor do vento. Iluminava o rosto de Morgan de uma maneira um tanto fúnebre. A garota estava sentada de frente para a pequena chama, os olhos refletindo o fogo azulado. Aberto sobre suas pernas estava o álbum dado por Pedro. Passava os olhos pelos dois ocupantes da maioria das fotos. Sentia uma pontada no coração quando reconhecia em seu pai e sua mãe alguma semelhança com ela. Desde o formato do rosto até os dedos.


—Você tem sorte. —Disse Soana, aproximando-se. Morgan fechou rapidamente o álbum e pôs de lado, ficando série. —Não precisa ficar assim. Não estamos mais no Quartel.


—Eu sei. —Disse Morgan, amuada. —E não sei qual a sorte que eu tenho.


—Você tem um irmão. E está aprendendo um pouco do seu passado. Sobre seus pais.


—Mortos. —Disse Morgan, soltando um bufo irritado. —Do que adianta?


—Você reclama de mais, garota. —Disse Soana, balançando a cabeça negativamente. —Vá dormir um pouco, eu fico de guarda.


Por um instante, Morgan pensou em relutar, mas desistiu. Queria mesmo ficar sozinha. Então, com um ‘boa noite’ resignado, levantou-se e foi até o local onde estavam acampadas. Era uma floresta. As folhas já haviam caído por completo das árvores, o que deixava o céu nublado de novembro completamente a mostra. Estavam numa clareira onde algumas pedras estavam distribuídas. Escolheu um lugar bem escondido entre duas pedras e acomodou-se. Puxou a varinha do bolso e murmurou “lumus”. Abriu o álbum mais uma vez e, ignorando o fato de que agora era procurada pelos seus antigos companheiros, pôs-se a comtemplar o rosto sorridente de seus pais na festa de formatura.


 

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