O apartamento revirado



—Capítulo 2—


O apartamento revirado


 


      


Com algum esforço o garoto conseguiu deixar todo o apartamento em ordem. Era bom agora poder contar com o auxílio da varinha, uma vez que havia completado dezessete anos no ultimo mês de Março. A noite já caia do lado de fora quando a ultima roupa foi dobrada e bem guardada em seu armário.


Estava saindo do banho quando ouviu o telefone tocar ao longe. Com a toalha enrolada na cintura, saiu em busca do telefone, até encontrar-lo embaixo de algumas almofadas.


—Alô?


—Pedro? —Era a voz de Ashley do outro lado do telefone. —Duh! Claro que é você! Esqueci que você mora sozinho.


Pedro revirou os olhos mas riu de leve. Pegou o gancho do telefone e levou-o mais para perto do sofá, sentando-se sobre seu braço.


—Então...aconteceu algo? —Perguntou o garoto, rapidamente mudando o tom de sua voz.


—Não, não! Está tudo bem. —Apressou-se à dizer a garota. —Só queria saber se você chegou bem em casa.


—Eu estou bem. Não tinha nenhum Comensal me esperando na esquina. —Disse Pedro, sorrindo de canto, com um ar divertido na voz. —Você ainda está em Londres?


—Não, não. Meu pai estava me esperando na estação. —Disse Ashley, casualmente. —Ele parecia apressado, mas eu entendo ele. Sempre se preocupou muito comigo.


—Sei... —Disse Pedro, deixando um instante a frase no ar. —é, deve ser isso mesmo.


Ashley ainda não sabia, e o garoto não tinha coragem de contar-la, que seu pai, Eric Delacour era, na verdade, um Comensal da Morte. Um braço de Voldemort no Ministério Francês. Pedro sabia o quanto Ashley era apegada ao pai e, por mais que devesse alertar-la, talvez ela estivesse em maior segurança sem saber de nada. Afinal, Eric faria tudo para proteger-la, certo?


—Bem, eu tenho que ir. Ainda tenho que ligar pra Lilá. —Murmurou Ashley, a voz um pouco mais pesada do que de costume. —Promete que me manda noticias sempre que puder? —Perguntou num tom choroso.


—Eu vou tentar, Ash... —Murmurou Pedro, tentando parecer tranqüilo. —Não se preocupe, ok? Trate de cuidar de você primeiro.


—Tá...se cuida por favor, tá? —Disse Ashley, ainda com aquele tom de voz pesado. Logo em seguida o telefone ficou mudo.


Pedro ficou um instante sentado, com o telefone ainda em mãos. Ele não parava de pensar em seus amigos. Será que ainda iria ver-los mais uma vez? Ele tinha certeza de que não seria mais o mesmo. As coisas mudaram desde que ele conhecera todos, anos atrás. Não sabia agora como a guerra iria afetar-los.


O pio de sua coruja chamou sua atenção. Olhou para o lado e viu Chronus empoleirada no batente da janela, bicando o vidro para que pudesse sair. Pedro colocou o telefone no gancho e pôs sobre a mesinha ao lado do sofá. Foi até a janela e abriu-a para a coruja.


—Volte apenas pela manhã, ok? E tome cuidado para não ser seguida. Boa caçada!


A coruja abriu as grandes asas e piou baixinho antes de ganhar os céus. Ficou observando-o até que ele se mesclasse com a noite. Com um novo suspiro, Pedro fechou a janela. Deu um toque com a varinha e viu o vidro tremer de leve enquanto se tornava imperturbável. Deixou a varinha sobre a mesa em frente ao sofá e foi até seu quarto. Largou-se sobre o colchão mole e desconfortável, até pegar no sono.


 


 


 


Abriu os olhos quando sentiu que estava deitado em algo duro. Levantou-se com um gemido dolorido, jurando que havia caído da cama durante o sono. Tateou em busca do colchão mas não achou nada. Franziu a testa e olhou ao redor.


Não estava mais em seu apartamento na periferia de Londres. Estava no que parecia ser um velho casebre, simples, porém bastante aconchegante. Caminhou lentamente pela pequena cozinha, com um fogão de lenha, uma mesa para quatro, enfeitada com flores no centro.


—Não acha que já é o bastante, Pedro? —Uma voz doce e risonha chamou sua atenção. Seu olhar virou-se rapidamente até a sala.


—Ah, mama! Mas o papai nem tá em casa ainda! —Exclamou uma voz infantil, em resposta.


Pedro caminhou, pé ante pé, até a sala. Era, assim como a cozinha, um ambiente bem simples, mas aconchegante. Havia dois sofás e uma cadeira de balanço, onde se sentava uma mulher de cabelos castanhos assim como seus olhos, que eram da cor do chocolate. O fogo crepitava na lareira alegremente.


Um aperto doloroso bateu em seu peito. Já havia vivido aquela cena antes. Não apenas em outros sonhos, mas também pessoalmente. Olhou para o tapete felpudo onde um garotinho de cabelos negros e arrepiados e olhos tão castanhos quanto os da mulher brincava com seus blocos de montar.


—O papai vai chegar logo e você ainda nem arrumou essa bagunça! —Disse a mulher, mas não havia repreensão em sua voz. A criança Ravenclaw virou-se para a mulher, dirigindo-lhe seu mais largo sorriso infantil.


—O papai me ajuda quando chegar! —E, meio inocentemente, jogou os bloquinhos para cima. A mulher riu, protegendo-se dos blocos que caiam com as mãos.


—Quero ver se o Diego vai mesmo arrumar isso tudo. —Sorriu a mulher, balançando a cabeça negativamente.


Um forte estampido, seguido de uma explosão chamou a atenção dos três. Através da janela, recortando o breu da noite, erguiam-se enormes labaredas. O crepitar da madeira juntou-se à gritos de pânico, agonia e dor. Rapidamente a mulher levantou-se e pegou o filho nos braços. O pequeno Pedro olhava para a janela, apavorado.


A porta abriu-se num golpe só.Um homem de cabelos negros, bagunçados, olhos bastante azuis e feições idênticas às do Pedro mais velho que observava toda a cena com o coração apertando, como se uma mão de ferro o esmagasse.


—Diego! —Exclamou a mulher. —O que está acontecendo?!


—Comensais, Selene! —Bradou o homem, puxando a varinha e fechando a porta rapidamente. —Comensais da Morte estão aqui!


—Oh, Merlin! —Exclamou Selene, levando uma das mãos até a boca, enquanto seu rosto era banhado de lagrimas. —Mas eu pensei...Voldemort não existe mais! Eles deviam...eles...


—Eles querem vingar seu mestre, Selene... —Murmurou Diego, correndo pela sala com um ar atônito. Enfeitiçava cada janela da casa. Apesar disso, podiam-se ouvir mais estampidos altos e novas explosões, somando-se aos gritos horripilantes que atravessavam as paredes.


—Oh meu Deus, Diego! O que vamos fazer?! —Dizia Selene, as lagrimas descendo sem controle por seu rosto. O pequeno Pedro chorava também, baixinho, como se não quisesse incomodar os pais.


Diego Ravenclaw não respondeu. Quando fechou todas as cortinas da casa, correu até a lareira, apagando o fogo. Mais do que rapidamente foi até o armário na sala e abriu uma gaveta, revirando rapidamente todas as toalhas de mesa que havia ali dentro. Por fim, pegou uma capa fina, que parecia ser feitas de fios de água. Olhou demoradamente para a capa à sua frente, antes de olhar para Selene e para o filho.


—O velho Alvo tinha razão quando disse que poderíamos precisar disso. —Desviou seu olhar para o filho, que escondia o rosto no ombro da mãe.


—Isso é uma...


—Sim...é uma capa de invisibilidade. —Murmurou Diego, vendo que suas mãos não eram visíveis. —Era do Potter. O Dumbledore estava com ela na noite de sua morte. Me entregou, dizendo que poderíamos precisar dela.


—Você está pensando em... —Começou Selene, mas logo sua voz morreu e seu olhar assumiu um ar agoniado. —Ah não! Não Diego! Não podemos deixar ele sozinho! Ele é só uma criança! Nós podemos dar um jeito!


—Não tem outro jeito, Selene... —Murmurou Diego, num tom de voz lúgubre. —Eles lançaram um feitiço anti-aparatação no vilarejo. E não podemos enfrentar-los sozinhos. Estão em maior número.


Selene olhou para o marido por um instante, os olhos vermelhos e o rosto manchado por lagrimas que rolavam sem controle. Por fim, fechou os olhos com força e apertou o filho contra o peito, soltando um guincho agoniado, como se estivesse sendo torturada. Diego caminhou até ela e acariciou seu rosto, limpando as lagrimas que também molhavam o seu rosto.


—Precisamos fazer isso, querida... —Murmurou o homem, encarando os olhos incrivelmente avermelhados de Selene. A mulher balançou a cabeça positivamente e afastou um pouco o filho do corpo, olhando em seus olhos.


—Me...meu anjo... —Disse Selene, a voz tremula, assim como todo seu corpo. —A...a mamãe te ama..viu? Acima de tudo...


—O que tá acontecendo, mamãe? —Perguntou um choroso Pedro, olhando perdido do pai para a mãe e logo em seguida olhando para a porta, onde podia ouvir um estrondo ainda mais próximo de sua casa.


—Vamos... —Murmurou Diego, pegando o filho das mãos da esposa. A mulher ainda tentou segurar a criança em seus braços, mas logo deixou-a ir. Abraçou o próprio corpo e desabou no sofá, chorando ainda mais.


O pequeno ainda esticou as mãos na direção da mãe, como se quisesse voltar para ela, mas acabou indo com o pai, sem resistência. Diego colocou-o no chão, na quina da parede, entre a parede e um armário contendo os pratos e copos da casa. Abaixou-se até que seus olhos ficassem na mesma linha, passando a mão por seu rosto.


—Hey campeão...posso te pedir algo? —Murmurou Diego, limpando as lagrimas do rosto do filho, tentando controlar as próprias. O pequeno olhou para o pai, tremendo, e balançou a cabeça positivamente. —Vão...chegar umas pessoas...para “visitar” o papai e a mamãe. Eu quero que você, por NADA nesse mundo, saia daqui ok? Nem fale nada. Tá?


—Tá... —Respondeu Pedro, resignado, ainda choroso. —Papai, depois que as pessoas que vem visitar vocês for embora...a gente vai brincar, né?


Pedro viu nos olhos do pai a agonia dele. Com um suspiro demorado, Diego beijou a testa do filho e tirou alguns cabelinhos da frente de seus olhos.


—Lembre-se...nós sempre vamos te amar... —E cobriu o garoto com a capa de invisibilidade.


As batidas na janela acordaram o garoto. Uma fraca e tênue luz de verão entrava por entre as cortinas. Sentia-se ofegante e agoniado, com um aperto no peito. Passou as mãos pelo rosto e só então notou que estava chorando. Limpou o rosto com o lençol e, só quando ouviu novas batidas foi que lembrou o motivo de ter acordado daquele maldito pesadelo.


—Já vai...já vai... —Disse Pedro, com sua voz rouca.


Abriu a cortina e destrancou a janela, levantando-a. Chronus olhou para ele, parecendo não muito feliz com a demora. Pulou para dentro, carregando um rato no bico e voou para sua gaiola, mal-humorada.


—Bom dia para você também. —Disse Pedro, com uma ligeira ironia em sua voz. Fechou a janela mais uma vez e caminhou para seu guarda-roupa.


Como todo inicio de verão, teria que ir ao mercado reabastecer a geladeira para os três meses que viriam por aí. Puxou algumas roupas do guarda-roupa e uma toalha e trancou-se no banheiro.


Mesmo enquanto a água caia sobre seu corpo, as imagens do sonho continuavam correndo em sua mente mesclando-se às lembranças recentes da batalha em Hogwarts. Flashes verdes e gritos de medo e dor ecoavam por seus ouvidos, deixando o garoto meio atordoado. Por fim, fechou o registro e apoiou o corpo na parede. Fechou as mãos lentamente, como se quisesse gravar os dedos fortemente no azulejo azul. Viu a ponta dos dedos deslizarem pela superfície lisa e apertou fortemente as mãos, fazendo os nós dos dedos embranquecerem.


Saiu bruscamente do Box, empurrando a porta com força. Puxou a toalha e começou a enxugar-se. Parou um instante para olhar-se no espelho. Estava tão diferente do garotinho do sonho. Queria saber se seus pais teriam orgulho dele hoje. Com o coração apertado, fechou os olhos por um instante. Quando voltou a abrir-los, a imagem de Bellatrix Lestrange lhe encarava com um ar zombeteiro através do espelho. Trincando os dentes com força, socou o espelho com força, despedaçando-o.


—Merda... —Resmungou Pedro, dando dois passos para trás. Um pedaço de vidro havia cortado sua mão entre o dedo médio e o indicador.


Enrolando a mão em papel higiênico, correu até a sala em busca de sua varinha. Pegou-a sobre a mesinha baixa em frente ao sofá e sentou-se nele. Foi murmurando alguns feitiços para retirar os pedaços de vidro que havia perfurado sua pele. Por fim, flexionou os dedos lentamente, deixando a mão ser envolta por uma aura alaranjada enquanto o ferimento ia fechando lentamente.


Bellatrix Lestrange. Era ela que comandava os comensais restantes naquela noite. Foi ela quem, pessoalmente, derrubou os feitiços lançados por seu pai e a porta da casa. Foi ela quem cuidou da morte de seus pais. E era ela o motivo principal de Pedro continuar vivo. A única razão forte o suficiente para manter-lo lutando.


Vingança...


Tentando espanar os últimos sete anos e o desejo incontrolável, e quase venenoso, de vingança de sua mente, levantou-se e voltou ao banheiro. Aquilo teria que esperar o fim das compras.


 


 


 


Era um pouco mais de meio-dia quando o garoto decidiu dar uma pausa nas compras para almoçar. O prédio velho e encardido que todos pareciam ignorar continuava ali, no mesmo lugar de antes, na Rua Charing Cross. Andando casualmente, cruzou a porta do bar, sem que nenhum trouxa notasse.


O lado de dentro estava pior do que a ultima vez que se lembrara. Não havia o habitual movimento. As cadeiras estavam completamente vazias e viradas por sobre as mesas. O pobre barman Tom, um homem careca e de aparência murcha, sem dentes, estava encostado no balcão, limpando tristemente um copo já limpo. Nem ergueu a cabeça quando o garoto entrou.


Pedro depositou as sacolas sobre a mesa e caminhou lentamente pelo bar. Haviam grandes cartazes de aspecto oficial, contendo instruções para os bruxos sobre como lidar com os Comensais da Morte. Haviam também, apregoados nas paredes, cartazes com o rosto dos fugitivos de Azkaban. Parou um instante diante do retrato encardido de uma mulher que, um dia, parecia ter sido muito bonita, mas a loucura havia distorcido seu rosto. Tinha cabelos negro e olhos cinzentos e inexpressivos. Por um instante sentiu vontade de arrancar aquele maldito cartaz da parede e destroçar a foto de Bellatrix, como se assim estivesse atingindo a verdadeira.


—Ahm...posso ajudar? —Perguntou um inseguro Tom. Pedro virou-se para encarar o barman, que olhava com certa tristeza no olhar.


—Desculpe. Só pensei em passar aqui para comer algo. Mas parece que o bar está fechado. —Disse Pedro, olhando uma ultima vez para a foto de Bellatrix antes de virar-se completamente para o barman.


—Não estamos fechados. —Murmurou Tom, ainda naquele tom lúgubre. —Apenas não temos mais movimento. Ninguém se arrisca à sair de casa. Ainda mais depois da morte do Dumbledore.


O Barman soltou um suspiro demorado e voltou a limpar distraidamente o copo. O garoto repetiu o gesto de Tom e abaixou o olhar, fitando os próprios pés. Era claro que a morte de Dumbledore só iria piorar o clima no mundo bruxo. Desde o ano passado, quando veio à tona o retorno de Voldemort, os bruxos procuravam agir com mais cautela e evitavam locais com grande concentração de bruxos. Agora, com a morte do velho diretor de Hogwarts...


—Então, o que vai querer comer?


Arrancado de seus pensamentos, Pedro voltou-se para Tom, com as sobrancelhas erguidas, como se não entendesse o que ele queria dizer. Após alguns instantes tentando reentrar na atmosfera da conversa, conseguiu pescar algo do seu objetivo inicial. Pigarreou desconcertado, antes de voltar até a mesa onde tinha deixado suas sacolas.


—Hmm...bife com batatas...por favor.


 


 


 


Era um pouco mais de quatro da tarde quando o garoto retornou à seu apartamento. Sacolas com comida enlatada, uma grande quantidade de alimentos não perecíveis e de fácil preparo. Por mais que apreciasse passar horas na cozinha preparando um bom prato, sabia que não teria tempo para isso durante aquelas férias. Havia também uma quantidade considerável de líquidos e produtos de limpeza.


Cumprimentou o velho e meio-surdo proprietário do prédio na passagem pela portaria e subiu as escadas lentamente. No primeiro andar largou tudo no chão e usou magia para carregar os pacotes. Parou diante de sua porta e girou a chave, empurrando-a com o ombro para que ela desemperrar-se.


—Tenho que concertar essa porta... —Resmungou Pedro, empurrando mais uma vez até que a porta cedeu.


A porta abriu-se com um rangido pesado. Fez um movimento rápido com a varinha e todas as compras voaram rapidamente para o lado de dentro do apartamento. De cabeça baixa, guardando a chave no bolso, entrou no local e fechou a porta com um chute forte.


—Chronus! Voltei! —Gritou pela ave, enquanto terminava de fechar a porta. —Trouxe da ração que voc...


No momento em que ergueu o olhar, sentiu seu queixo cair. Seu apartamento estava inteiramente revirado. A porta da geladeira estava aberta e o leite ainda vazava no chão. Os talheres estavam jogados no chão, assim como vários pratos quebrados. Na sala o sofá havia sido rasgado e seu preenchimento quase todo retirado. A TV havia sido jogada sobre a mesinha que ficava de frente para o sofá, quebrando sua tela e o tampo da mesa ao meio.


Ainda atônito, o garoto caminhou tremulo até o quarto. O recinto era uma profusão de paginas de livros, pergaminhos e penas. Os tinteiros haviam sido atirados sobre sua cama, derramando tinta negra nos lençóis. Chronus estava empoleirada no espaldar da cama, parecendo agitada. O armário com roupas e seu malão estavam abertos e todas as suas roupas jogadas no chão. No banheiro o espelho quebrado havia sido arrancado e atirado no chão.


Nada havia sido roubado. Apoiou-se no vão da porta do quarto, o olhar ainda estarrecido na cena. A TV estava quebrada no chão, os Galeões de Ouro, Sicles de Prata e Nuques de bronze estavam atirados no chão junto com as roupas e o dinheiro trouxa. Correu rapidamente até o malão e suspirou aliviado. A espada de Ravenclaw ainda estava repousada ali, dentro de sua bainha.


—Merlin... —Sussurrou, deixando o corpo cair pesadamente na cama. A coruja abriu as asas e voou até ele, pousando em seu ombro, mordendo sua orelha insistentemente. —Ai, Chronus! Pára! —Afastou um pouco  coruja com a mão, ligeiramente irritado. —Quem fez isso?


O som de passos pesados pisoteando e quebrando vidro chamou sua atenção. Levantou-se de um salto, já empunhando a varinha, apontando na direção do banheiro.


—Oras, oras, oras... —Murmurou uma voz sarcástica e carregada de maldade. Era um homem de aparência pesada, usando vestes negras e uma longa capa da mesma cor. Usava uma mascara que representava o ódio. Girava a varinha entre os dedos, enquanto parava próximo à cama. —pensei que fosse demorar mais, Ravenclaw.


—Comensal da Morte... —Murmurou Pedro, dando dois passos para trás, ainda empunhando a varinha. —o que quer aqui?


—Você sabe bem o que quero aqui, Ravenclaw... —O comensal vociferou e havia algo no timbre de voz dele que lembrava alguém.


—Não faço a menor idéia do que está falando. —Pedro deu mais um passo para trás e olhou para o chão. Ergueu as sobrancelhas antes de voltar a olhar para o comensal.


—Acho que vou ter que te forçar a falar... —Disse o comensal e um ar de um riso sinistro apoderou-se de sua voz. Acompanhou o movimento do rapaz, dando um passo em sua direção. —Quem sabe se eu começar com um cruciat...


Accio tapete! —Bradou Pedro, apontando a varinha para os pés do Comensal. O tapete no qual ele acabara de pisar voou de seus pés na direção de Pedro, fazendo-o perder o equilíbrio e tropeçar vários passos para trás. —Estupefaça!


—Protego! —Bradou de volta o Comensal, conseguindo desviar o feitiço apesar do desequilíbrio. Girou a varinha rapidamente na direção, lançando um jorro luzes laranjas em sua direção. Pedro abaixou-se a tempo, enquanto o feitiço despedaçava a janela atrás dele.


—Diffindo! —Gritou Pedro, apontando a varinha para o rosto do comensal. Com um “crack” alto, a mascara dele partiu-se ao meio. O homem ainda tentou segurar, mas a metade e baixo caiu e despedaçou-se. É claro que ele já conhecia aquela voz. —Amico Carrow.


—Surpreso em me ver, Ravenclaw? —O comensal soltou uma risada desdenhosa e jogou a outra metade da mascara longe.


—Confesso que sim. Não pensei que fosse querer levar outra surra em tão pouco tempo. —Disse Pedro, com um ar de ironia em sua voz. —Mas pare de enrolar. O que você quer aqui?


—Você quem está de enrolando, Ravenclaw! —Vociferou Amico, fechando a cara. —Não se faça de imbecil, ou eu terei que arrancar a resposta da pior maneira!


—Então é melhor ir pensando em outra forma, porque eu não sei do que diabos você está falando! —Bradou Pedro, erguendo a varinha mais uma vez. —Flipendo!


Um jorro de luz laranja voou na direção do comensal. Amico girou a varinha e lançou outro feitiço, bloqueando o do garoto. Aproveitando o movimento, girou a varinha mais uma e lançou um novo feitiço. Pedro deu um passo para o lado e desviou por pouco do ataque. Sentiu a bochecha formigar e logo em seguida o sangue escorrer por seu rosto.


—Está pronto para desistir, garotinho? —Riu-se Amico, com um ar de escárnio na voz. Com um gesto simples, Pedro passou o rosto pela mão e limpou o sangue.


—Nem se eu soubesse o que você quer de mim eu iria desistir, Carrow... —Murmurou, erguendo rapidamente a varinha na direção do homem. —Encarcerous!


Cordas prateadas partiram de sua varinha como cobras atacando e rapidamente se enrolaram nos pés do Comensal que desequilibrou-se novamente e caiu no chão. Em movimentos rápidos, Pedro venceu a distância entre os dois e colocou o pé sobre o peito do homem, impedindo-o de levantar.


—Antes que eu mande o Chronus para o Ministério... —Murmurou Pedro, de uma forma até venenosa, aproximando o rosto do de Amico. —o que você quer comigo?


—Você sabe...não seja idiota... —Murmurou o comensal, ligeiramente ofegante. Pedro franziu a testa e balançou a cabeça negativamente, indicando que não. —O Diadema...só pode estar com você.


—Tá maluco? —Pedro franziu a testa. —E eu lá tenho cara de quem usa diadema?


—Só pode estar com você. Você é o renegado. Todos iriam achar que você era o ultimo em quem pensaríamos.


—Olha, eu não sei do que você está falando. Não sei que maldito diadem...


Avada Kedavra!


Num movimento de puro reflexo, Pedro conseguiu dar um passo para trás. Quase em câmera lenta ele viu o feitiço da morte passar à sua frente, menos de dois centímetros de seu nariz. O feitiço explodiu o teto, fazendo parte desmoronar em pedaços de reboco, tijolo e fogo. Saltou para trás a tempo de desviar, mas não viu quando Amico levantou-se. Sentiu uma forte pancada no rosto e caiu para trás. O cheiro ferroso do sangue encheu seu nariz. Passou a mão pelo rosto e sentiu aquela substância pastosa melar seus dedos de vermelho.


—Acho que agora você sabe que eu não estou para brincadeiras, Ravenclaw. —Murmurou Amico, limpando o pó das vestes. Ultrapassou os escombros do teto e o fogo que já começava a se alastrar, indo na direção do garoto. —Se você não está com o diário, então não é mais necessário.


E ergueu a varinha na direção do teto. Pedro quase pôde ver o brilho verde que se acumulava lentamente na ponta. Apoiou-se nos cotovelos e ficou observando o Comensal descer a varinha em sua direção.


Num movimento rápido, acumulou ar nos pulmões e esticou as mãos na direção do corredor. Quando soltou o ar pelos lábios, fez um movimento como se puxasse uma barra de ferro. O fogo no corredor acumulou-se em um único ponto e disparou em uma rajada na direção de Amico. O comensal foi jogado para frente, enquanto o fogo explodia para os lados, alastrando-se pelo quarto.


—Chronus, rápido! —Apontou a varinha para uma janela que abriu-se violentamente. —Avise à alguém que tem um comensal aqui.


A grande coruja negra abriu as asas e rapidamente saiu voando para fora do quarto. O garoto virou-se rapidamente para amarrar o comensal...


Ele já não estava lá. Olhou ao redor tentando encontrar-lo, mas não havia vestígio dele em canto nenhum. O fogo começava a alastrar-se rapidamente, espalhando uma fumaça negra pelo local. Tapou o nariz com a mão, na tentativa de não inalar a fumaça que já impregnava todo o apartamento.


—Ah, merda... —Murmurou baixinho, atravessando as chamas sem grandes dificuldades.


As roupas que haviam sido espalhadas pelo chão já eram incineradas e aumentavam ainda mais o fogo. Correu na direção do malão que já começava a pegar fogo e retirou a espada de dentro, prendendo na cintura. Sem muito esforço, empurrou o armário que se desmanchou em milhares de pedaços de madeira logo em seguida. Jogou algumas roupas ainda intactas sobre os ombros e o álbum com a foto de seus pais. Enrolou-o entre as roupas e saiu correndo pelo corredor que já era consumido pelas chamas.


Na sala o fogo já começava a subir pelas paredes e incendiar o sofá. Largou as roupas intactas e de lado, junto com o álbum e parou de frente ao corredor em chamas.


Mais uma vez, prendeu a respiração, só que dessa vez nãos soltou. Estendeu as mãos na direção das chamas. Por um instante o fogo paralisou, como se tivesse sido congelado, mas logo voltou a balançar-se, como se um intenso vendaval o jogasse para cima do garoto. As primeiras chamas penetraram na pele do garoto, puxando o restante como uma grande corrente. Lentamente o corpo do garoto foi absorvendo todo o fogo do local. Sua pele ficou ganhou um tom avermelhado como se ele tivesse levado muito sol. Suas veias ficaram saltadas e em brasa. Fechou os olhos com força enquanto sua boca enchia com fumaça que escapava por entre os dentes.


Logo, todo o fogo havia se apagado. Por um instante o garoto seguiu parado na mesma posição, com o corpo travado, até que seu corpo voltou a normalizar. Sua pele transpirou loucamente como se ele tivesse em uma sauna e uma grande sede acometeu-lhe. Deixou o corpo cair um pouco para frente antes de jogar-se no sofá. A estrutura rangeu por um instante antes que se desmanchasse em pedaços de tecido, espuma e madeira queimada. Sem forças para levantar, o garoto fechou os olhos, esperando que a dor em suas juntas parasse logo.

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