A Casa de Patrick Goudin



Alvo e Rose olhavam um para o outro com expressões horrorizadas, como aquele livro poderia ter ido parar no malão de Alvo? Não tinha lógica! É fato que o garoto havia arrumado sua bagagem as presas, mas aquele livro não teria passado despercebido aos seus olhos, ele não havia colocado ele ali dentro, mas então quem havia colocado? E como?!


_O que vocês estão esperando para descer? _ dessa vez era Gina em pessoa quem esmurrava a porta.


_Nós já estamos indo mamãe! _ disse Alvo dando um jeito de esconder o livro.


_Acho bom! _ completou ela em seguida descendo as escadas com passos ruidosos.


_O que vamos fazer? _ perguntou Rose.


_Bem... Eu vou levar o livro.


_Você ficou maluco?!


_E o que você acha que eu devo fazer? Deixa-lo aqui no meu quarto?


_Não Alvo, eu acho que você deveria contar para os nossos pais o que está acontecendo.


_Eu não sei...


_Pense bem Alvo, quem melhor do que eles para nos ajudar?


_Vamos descer, tudo bem? Se não formos logo, minha mãe vai nos esfolar vivos, quando chegarmos à França agente decide o que fazer.


_Tudo bem... _ disse a garota meio a contragosto.


 


_Até que enfim! _ disse Gina quando eles finalmente retornaram a cozinha _ Está tudo aí? Ótimo, vamos andando então.


O grupo acompanhado de uma grande quantidade de bagagens se encaminhou para a lareira, Rony já estava pegando uma pitada de pó de flu de um saquinho quando Hermione o deteve.


_Nem pensar _ disse ela _ eu faço isso.


Rony resmungou algo e se encaminhou para a lareira onde os outros já estavam exprimidos.


_Estão todos prontos? Muito bem, então vamos lá: Estação Bochedelè! _ disse ela jogando uma pitada de pó de flu e entrando na lareira. Pela segunda vez no dia Alvo fazia aquela incomoda viagem, mas dessa vez sem saber ao certo qual era o seu destino; o trajeto demorou mais do que o habitual e o garoto já começava a sentir enjoado quando eles finalmente chegaram.


_Ah! Já era tempo! _ disse Rony deixando a lareira _ Acho que estou passando mal.


_O que você esperava? Você comeu feito um porco!


_Onde nós estamos? _ perguntou Tiago.


_Na parte interditada da estação Bochedelè, essa chaminé tem sido usada por muitos bruxos como entrada na França.


Alvo viu que o lugar realmente parecia abandonado; o piso já acumulava alguns dedos de poeira, as paredes estavam descascadas e as janelas quebradas estavam bloqueadas com pedaços de madeira.


_O que vamos fazer agora mamãe? _ perguntou Rose.


_Nós vamos sair da estação e alugar um carro, seu pai irá dirigir até a casa em que iremos passar o natal.


_Essa vai ser a parte divertida! _ disse Rony esfregando as mãos.


Eles atravessaram aquele aposento semi-destruído e chegaram até uma porta que estava obstruída, Hermione usou um feitiço e eles sorrateiramente atravessaram a passagem que levava até a outra parte da estação. Muitos trouxas estavam espalhados pelas plataformas a espera de seus trens, o tempo estava tão feio quanto no Reino Unido, a neblina espessa tomava conta do ambiente enquanto uma garoa fina incomodava os transeuntes.


_Onde nós vamos arrumar um carro? _ perguntou Alvo.


_Me disseram que existe uma concessionária ao lado da estação.


_Eu vou confirmar com aquele sujeito _ disse Rony indo na direção de um homem de meia idade baixo e rechonchudo com usava um sobretudo preto e um chapéu de coco. _ Ei amigo, o senhor sabe onde eu posso encontrar um carro para alugar?


_ Comme? _ disse o homem olhando intrigado para o Rony.


_E o sujeito não fala nossa língua... Eu... _ continuou Rony falando alto e devagar ao mesmo tempo em que fazia gestos eloqüentes com as mãos _ quero... Um carro! Sabe? Carro! Beep-beep!


_Pardon, monsieur! Mais je ne comprends pás.


_Carro! _ berrou Rony no ouvido do homem como se ele fosse surdo.


_Ah! Deixe que eu resolvo isso Rony _ disse Hermione _ Bonjour, nous aimerions louer une voiture.


O homem soltou uma exclamação de entendimento e indicou o caminho para a concessionária.


_Onde você aprendeu a falar francês? _ perguntou Gina


_E por acaso existe alguma coisa que Mione não saiba? _ disse Rony seguido de um discreto sorriso de satisfação da sua esposa.


Eles andaram por toda a antiga estação e atravessaram um portão enferrujado na lateral que os levou até uma estradinha de terra com uma construção velha e antiquada no final; era a concessionária.


Eles foram recebidos por um vendedor alto, magro e com um bigode fino que parecia meio sonolento, escolheram um carro antigo e marrom que não parecia muito confiável, mas era o melhor que havia a disposição.


_Como eu vou dirigir essa coisa? _ disse Rony _ O volante está no lado errado!


Hermione apelou para um feitiçozinho e logo o carro estava com o volante à moda inglesa e com espaço suficiente para acomodar os “nove” viajantes (levando em conta o Doni) e suas bagagens confortavelmente.


_Vamos lá então! _ disse Rony girando a ignição do carro que roncou alto e arrancou depois de alguma resistência. Eles viajaram por uma estrada de chão lamacenta que era rodeada por pastos sem graça até perder de vista, delimitados por cercas de arame farpado, Alvo teve uma sensação estranha, era como se ele já tivesse estado naquele lugar...


_Você está bem? _ perguntou Rose.


_Sim, eu só acho que...


_Será que ainda falta muito? _ perguntou Gina que estava no banco do carona anormalmente grande, ao lado de Hermione.


_Segundo o mapa nós já estamos chegando _ disse Hermione que estava com um velho pergaminho na frente do rosto.


_Acho bom! _ disse Rony _ Não está sendo tarefa simples controlar o carro nessa estrada!


Eles continuaram por mais alguns minutos até que avistaram uma casa em ruínas, as paredes estavam desabando, as janelas quebradas e o portão da frente destruído; uma árvore seca se postava no quintal morto, era uma visão muito melancólica, mas apesar do estado precário, a chaminé da casa ainda soltava uma fina fumaça teimosa que parecia desafiar a chuva que caía sem trégua.


_É aqui?! _ perguntou Rony horrorizado.


_Acho que não _ disse Hermione voltando a consultar o mapa _ eles disseram que a casa estava em bom estado, vamos seguir a estrada mais um pouco.


Alvo olhou para aquela cena deprimente mais uma vez, a sensação de que já tinha estado naquele lugar estava mais forte, mas como poderia ser? Ele nunca havia estado na França. A não ser que... É claro! Ele já tinha estado naquela casa, mas não havia chegado ali por vias convencionais, com um arrepio ele se lembrou que aquele havia sido o lugar onde ele havia encontrado a Chave de Gáia, o lugar onde ele havia visto seu pai praticamente morto.


 


Eles seguiram viagem e logo aquela casa não passava de um vulto agourento, apesar dos outros não terem estado com Alvo naquele lugar, todos pareciam um pouco tristes, ninguém estava falando e a viagem se tornou ainda mais deprimente.


_Olha lá! _ disse Hermione _ Eu acho que a casa é aquela.


A noite já havia caído e a única coisa que eles conseguiram ver foi uma imponente sombra à frente, parecia ser uma construção muito grande, Rony seguiu controlando o carro com esforço e logo eles alcançaram uma ponte de madeira que não parecia muito segura.


_E agora? _ disse ele _ Será que ela está firme?


Hermione e Gina encararam a ponte com certo receio, estava muito escuro e era impossível ver o que havia em baixo dela, apenas era audível o som de água passando com muita força.


_Será que ainda está muito longe? _ disse Gina_ Nós poderíamos ir andando.


_Debaixo dessa chuva?! _ disse Tiago _ Acelere logo o carro tio Rony, não pode ser tão perigoso assim e além do mais, uma aventurazinha viria bem a calhar.


_Pare de falar bobagens Tiago! _ disse Gina.


_A casa não pode estar muito longe agora _ disse Hermione forçando a vista para enxergar alguma coisa da construção que estava em algum ponto à frente _ acho que é uma boa idéia irmos andando.


_Mas e a bagagem? _ insistiu Tiago _ Nós não vamos conseguir carregar tudo isso com esse chão lamacento.


_Eu levo a bagagem _ disse Rony _ vocês descem e eu atravesso a ponte com o carro.


_Então eu fico com o senhor _ disse Tiago.


_De jeito nenhum! _ disse Gina _ Você desce!


_Você tem certeza Rony? _ perguntou Hermione olhando preocupada para  o marido.


_Está tudo bem, o pior que pode acontecer é eu ser forçado a tomar um banho! _ disse Rony, mas Hermione não achou graça nenhuma da piada.


_Então está bem _ disse Hermione finalmente _ mas eu vou estar atenta, qualquer emergência eu faço algum feitiço para ajudar.


_E eu não sei disso? _ disse Rony _ Com você por perto nada pode me acontecer! _ completou ele beijando a esposa.


_Vamos resolver isso então _ disse Gina _ vamos garotos, todos para fora do carro!


Não foi nada agradável sair do veículo naquele tempo feio, a chuva havia ficado mais forte e o frio estava cortante. Alvo sentiu o corpo inteiro tremer descontroladamente assim que botou o pé em “terra firme”, a verdade é o chão estava escorregadio feito sabão, Hugo Weasley chegou mesmo a desabar na lama logo nos primeiros passos para a satisfação de Tiago que gargalhou com vontade.


_Pare com isso! _ disse Gina ao filho enquanto Hermione colocava Hugo de pé _ Vamos atravessar então, todos fiquem juntos!


Gina e Hermione acenderam as varinhas e guiaram os filhos pelo caminho. Apesar da luz, a neblina continuava tomando conta de tudo e era impossível enxergar muitos passos à frente; Gina tomou a dianteira do grupo e logo colocou o primeiro pé na ponte.


_Ela parece firme! _ disse ela aliviada. Então todos começaram a travessia, Hermione foi fechando o cortejo. Alvo viu no início que a ponte realmente parecia muito segura, mas à medida que eles foram avançando; o garoto pode ouvir as tábuas rangendo aos seus pés, o barulho da correnteza era muito assustador e ele nem queria pensar no que aconteceria se a ponte cedesse. Para a sua satisfação, eles completaram a travessia sem maiores problemas, então o grupo se virou para acompanhar Rony atravessando com o carro.


_Será que isso vai dar certo? – disse Hermione preocupada.


_Fique tranqüila _ disse Gina _ ele vai ficar bem.


Realmente o carro começou a travessia com facilidade e parecia que nada de mal iria acontecer... Parecia. De repente o carro parou de forma estranha, eles podiam ouvir o ronco do motor o que significava que Rony continuava pisando no pedal do acelerador, mas o carro simplesmente não saia do lugar.


_Rony! _ gritou Hermione fazendo menção de voltar para a ponte.


_Espere! _ disse Gina segurando a amiga.


Rony continuava forçando o carro que misteriosamente não saia do lugar, devido ao piso escorregadio, o veículo começou a patinar ameaçando despencar da ponte.


_O QUÊ?! _ Berrou Rony assustado de sua posição nada confortável, ele parecia ter visto alguma coisa.


_O que está acontecendo? _ disse Hermione


_PAPAI! _ gritou Rose com as mãos sobre o rosto.


_Fique calma Rose _ disse Gina _ ei... O que é aquilo?


A mulher apontou para as rodas do carro, elas pareciam estar amarradas, algo que lembrava cipó havia enrolado os pneus e estava começando a se espalhar pelo carro.


_O que é aquilo? _ perguntou Gina horrorizada.


_Aquilo é Diabo de Forescer _ respondeu Hermione branca feito giz.


_Diabo do que?


Mas Hermione já não a ouvia mais, havia avançado decidida em direção a ponte, apontou a varinha para os “cipós” e berrou:


_Finalle Foricillus! _ um jato dourado saiu da ponta de sua varinha e se transformou em várias flechas incandescentes que atacaram as criaturas. Algumas delas recuaram, mas a maioria pareceu ficar ainda mais nervosa, elas começaram a puxar o carro para o abismo. Hermione voltou a atacar com mais intensidade, logo Gina se juntou a ela e aprendeu o feitiço com uma rapidez surpreendente, elas continuaram atacando até finalmente todos os Diabos de Forescer recuarem, com um feitiço de levitação Hermione conseguiu trazer o carro de volta para a superfície da ponte; Rony acelerou o carro o mais rápido que pode e só parou quando estava seguro em terra firme.


_O q-quê foi aquilo? _ perguntou ele que parecia em choque.


_Nós conversamos depois _ disse Hermione _ vamos chegar logo nessa casa.


Todos voltaram para dentro do carro e depois de alguns minutos finalmente alcançaram a entrada. Eles desceram e viram que se tratava de um verdadeiro casarão, com uma fachada que apesar de camuflada pela escuridão, parecia ser muito bela. Gina tirou uma chave do bolso e a testou na reluzente fechadura dourada que abriu com um estalo. Eles então se viram num amplo cômodo com piso de mármore branco, grandes luminárias de cristal e uma intrigante escadaria xadrez.


_Vamos subir juntos _ disse Hermione _ lá em cima cada um encontre um quarto, deixe suas bagagens e volte para o corredor imediatamente!


Assim eles fizeram, Alvo e Rose viraram no primeiro corredor à esquerda e encontraram duas portas.


_Nós nos vemos daqui a pouco _ disse Rose abrindo a primeira delas.


_Tudo bem _ disse Alvo indo na direção da outra. O quarto parecia muito confortável e acolhedor, havia uma cama de casal coberta com um lençol vermelho, vários vasos de planta sobre colunas gregas, belas pinturas de pessoas em traje medieval, uma lareira onde crepitava um fogo revigorante e um grande guarda-roupa com um brasão circular na porta.


_Uau! _ disse Doni que como Alvo já esperava, continuava o seguindo _ Que lugar maneiro! Eu não me importaria de morar aqui.


_Mesmo tendo que atravessar aquela ponte todos os dias?


_Bem, tudo tem o seu preço!


Alvo caminhou até o guarda-roupa com a intenção de acomodar sua bagagem, abriu a porta e viu que ele estava vazio, exceto num dos últimos compartimentos onde havia uma estranha bacia, Alvo viu que dentro dela se projetavam imagens, como se fosse um filme...


_Uma penseira! _ disse Alvo.


_Uma o quê? _ perguntou Doni coçando a cabeça.


_Penseira. É um objeto que serve para guardar pensamentos.


_Hum... Que legal! Na minha cidade agente guarda os pensamentos na cabeça mesmo.


Alvo olhou o objeto com mais atenção, ele nunca havia visto uma penseira, apenas ouvira falar, ele percebeu que no lado do objeto havia um pergaminho sujo dobrado, Alvo o pegou:


 


 


 


 


Olá estranho! Eu não sei como você chegou aqui, mas devo avisar que não foi uma boa idéia, todas as pessoas que passaram por esta maldita casa tiveram suas vidas desgraçadas, eu, por exemplo, passei grande parte da vida aqui, até que tive um final trágico. Se você quiser saber mais sobre a minha história dê uma olhada nessa penseira, pode ser a última coisa que você vai fazer na vida mesmo!


 


 


                                                                            Patrick Goudin


 


 


 


 


Alvo olhou curioso para a penseira, deveria ele entrar nela? Poderia ser perigoso... Mas controlar a curiosidade nunca havia sido uma das virtudes do garoto...


 


 

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